descobri MACHU PICCHU


 O que ela pretende ao viajar para o Peru?

         Foi como ele descreveu o que pensou a respeito da viagem que planejei ao Peru. Desejo antigo satisfeito agora, aos sessenta. Especificamente MACHU PICCHU. Mas me disse só em Cusco.  Surpreendendo-se a cada instante, a cada virar de olhos. A máquina fotográfica em ação. A paisagem ancestral domina a cena e deixa boquiaberto o descrente.

Museu no centro de Cusco, ruínas protegidas
         Quanto a mim, curto programar. Adoro o antes, durante e o depois da viagem. Roteiro por minha conta. Pesquiso, reviro informações, escarafuncho blogs, e me delicio na angústia saudável, de preparar todos os passos até a finalização — volta pra casa.

         Com a ajuda de blogs salvadores:


e dicas incríveis de bons viajantes, armei o esquema para uma viagem de oito dias. Desconsiderando o primeiro e o último (assim, dez dias), que seriam passados em aeroportos, em conexão. Parte cansativa da viagem, mas vale o sacrifício.


Machu Picchu é sempre viagem. é encontrar a alma peregrina nas montanhas santas do Peru.” Ronald Claver escritor. 

          Então, conto as peripécias.


A llama rindo de mim
         A viagem começa por CUSCO, três diárias, dica de amigo peruano. E a partir de lá o desenrolar da aventura.  Testando a resistência nas sagradas terras peruanas, onde a época ideal de se conhecer é de abril a setembro. Fomos em maio de 2016.

Chegando a Cusco obedeci integralmente à dica  respeitar a altitude, 3.300m. No hotel logo nos ofereceram o famoso chá de coca para sentir alívio. 

No primeiro dia — descanso. Senti o estômago enjoado, dor de cabeça, um leve mal estar geral. Neste dia, comida leve, frutas, muita água (todos os dias) e nada de bebida alcoólica. O marido nada sentiu. A dica foi ótima porque descansamos um dia para nos sete nem pensar.

Saímos para conhecer um pouco a cidade de Cusco, mapa na mão e dicas do rapaz do hotel. Nos hospedamos próximo ao Mercado Central de San Pedro (vale conhecer). Ao invés de seguir rumo ao Centro Histórico, e sua praça principal, Plaza de Armas, erramos o caminho e fomos direto pela rua lateral do mercado.

Andamos mais de um quarteirão e vimos a verdadeira Cusco, os populares cidadãos locais vendendo suas quitandas ao ar livre, na maioria mulheres com roupas típicas e algumas com filhos pequenos às costas, e na própria calçada ofertas diversas: comida; carne de cuy (limpo e pronto para assar),  em português seria o porquinho da índia; diversos tipos de grãos de chollos (milho) etc. Em contradição com o espaço da Plaza de Armas, este pedaço mostra a pobreza, a dificuldade do povo na luta pela sobrevivência.

No segundo dia acordamos sem pressa. Bom café da manhã. Recuperada da energia gasta durante a viagem e do incômodo mal estar do dia anterior.

Saímos às 9 hs rumo a Plaza de Armas e por conta de conhecer a cidade que foi capital do império Inca.

Atravessamos o Portal
a caminho da Plaza de Armas
A manhã fria e no decorrer do dia com muito sol até fim de tarde. Depois das 18 hs recomeça a friagem. Todos os dias foram assim. Roupa pesada exigida para a noite e durante o dia, roupas leves, mas próprias para frio. Afinal é outono.

Ficamos deslumbrados com a história, com a arquitetura, com a ancestralidade em cada porta de museu, de catedral, 

de desenhos Incas típicos com seus deuses, sua marca, seu trajeto. 

       A cidade, num vale, rodeada por montanhas esverdeadas ou no puro granito. Surpreendeu a nós.





Fomos orientados que no trajeto encontraríamos diversos serviços de turismo, para contratar o city tour às localidades arqueológicas de Cusco e Vale Sagrado (fora da cidade de Cusco). Fechamos os dois passeios para os dois dias seguintes, após pesquisa de preços.


Andamos dia inteiro por Cusco. A parte antiga é muito bonita e rústica. Ficamos encantados pela cidade, seu povo e suas particularidades, o jeito alegre, além do mais comemoravam a data de aniversário da cidade, então por todo lado, danças típicas com crianças, jovens, adultos e muita música, com as la zampoña e la quena (da família das flautas).


Nos agradou muito as escolas que vimos, enormes, bem construídas, em contraposição com muitas das construções locais mais simples. Só voltamos ao hotel à noite, após o jantar. As opções são muitas de bons restaurantes.
Escola
 O terceiro dia aproveitamos a manhã percorrendo a Plaza de Armas, perguntando os preços das peças artesanais ou roupas. Tudo a base de nuevos soles ou dólares. Impossível a brasileiros medianos. Os Soles quase equiparam aos reais, portanto usei para facilitar, cada 1 sole = 1 real. Como eles usam muito o dólar, achamos tudo muito caro.


O City Tour pelas localidades de Cusco foi das 14 – 19hs. 70 soles por pessoa. O transporte e guia, mais 15 soles/pessoa. Quem não se precaveu, no fim de tarde, nos locais arqueológicos, onde os ventos atiçavam o frio, sofreu. Conhecemos uns brasileiros de São Paulo e um deles (João) penou por estar de bermuda e sem blusa de frio. Mas o lugar compensa qualquer tremor e arrepiado no corpo. As ruínas fazem a gente sentir tudo isso também. É tanta história, tanta beleza construída pelo ser humano no século XV (entre 1450 – 1560). Por isso falam que os Incas pareciam sobrenaturais.
Olha o João... corajoso, de bermuda!
 O passeio foi em Saqsayhuamán, Tambomachay, Pukapukara, Q’enqo. Os trabalhos na pedra para contribuir na junção das peças são verdadeira artesania, arquitetura, beleza escultural.




Muito lindo e não se consegue conceber como foram parar ali. As grutas com construções em pedra, onde se vê lugar para descanso (cama, sofá,...). E ainda sobreviverem aos conquistadores espanhóis, que tudo queriam dilapidar para forçar aculturação a religião cristã.




Nas casas, o povo costuma utilizar nos telhados, dois burritos (touros) com uma cruz, que significam prosperidade e fartura, a cruz mostra que a família é cristã. São muito interessantes as casas, geralmente rústicas, e tom terroso. O colorido das paredes geralmente é dado pelos desenhos representativos da cultura antepassada.
Telhado com simbologia povoado de Cusco
No quarto dia, deixamos o hotel às 8hs levando a bagagem (foi bom usar os mochilões dos filhos), Além do tour pelo Vale Sagrado, ficaríamos na cidade de Ollantaytambo por dois dias.


Vale Sagrado dos Incas. Pisac, Urubamba, Ollantaytambo e se desse tempo Chinchero, Mara e Moray. 70 soles, mais 25 soles para transporte e guia/pessoa. 

Enquanto a viagem ia se desenvolvendo, paravam nas famosas tiendas (feiras) de artesanias próximas a Pisac. 


Comprei o lindo chapéu e saí usando!
Tivemos explicações sobre as lãs de alpaca, lhama e vicunha, suas especificidades, e como atentar para produtos sem o aspecto artesanal. Baby alpaca (primeiro corte do novilho), alpaca, semi-alpaca, misto,... o preço certamente é referencial quando é 100% original e a sensibilidade da peça na mão. Vicunha, então, impossível de tão cara (em dólar).

Gosto mesmo é do colorido dos tecidos, quanta riqueza de cores. Dá vida a aridez do clima seco.
Traje típico. Alpaca. Homem tocando la zampoña
 E aí, pela primeira vez vimos de longe um vale nevado. Estonteante!



 Pisac, numa das montanhas, a descoberta de um cemitério Inca, onde encontraram mais de 3000 esqueletos.
Cemitério Inca
Pisac é uma área arqueológica linda, dá a sensação de amplitude. A área onde os Incas plantavam é completamente estruturada para ampliar a colheita e possibilitar duas ao ano. Aproveitando a incrível inclinação dos montes e as águas que desciam do alto das montanhas. Magnífico.





Almoçamos em Urubamba. Cardápio com mais de 5 a 6 opções, muito bom o restaurante, uma hora reservada a isso.

Chegamos a OLLANTAYTAMBO e nos separamos do grupo (que visitaria o parque em 3 hs.). Era fim de tarde. Sem pressa, tínhamos tempo para descobrir a cidade, seu povo e no outro dia visitar o Parque Arqueológico de Ollantaytambo. A única das cidades Incas a permanecer de pé e a ter descendentes. 2.800m.

Mulher com traje típico do povoado
Assim que chegamos ao hotel fomos orientados a comprar os ingressos do trem (entre 62 e 86 dólares/pessoa) para Machu Picchu (ou Machu Picchu Pueblo, ou Águas Calientes). Compramos apenas a ida já que ficaríamos em Águas Calientes por dois dias.  Ao pagar, o cartão encrencou, não queria finalizar. Eu disse ao moço: "esse trem vai demorar?", com medo do cartão falhar na hora "H". Deu certo, mas o moço ficou confuso com a pergunta, sem entender de que trem eu estava falando... coisa de mineirim...

  Mas voltando ao assunto, como fomos em maio pudemos arriscar a compra de bilhete lá, algo impossível na alta temporada que vai de junho a agosto. É preciso comprar com muita  antecedência, pois tem um número X de passageiros/trem, e preferencialmente pela internet.

Quinto dia em Ollantaytambo foi divino. A cidade ainda têm casas construídas na época dos Incas e com moradores vivendo nelas. Toda a cidade projetada e construída com canais (vídeo) aproveitando a água que vem das montanhas. Eles eram gênios. Coisa dos deuses.


Veja o vídeo e escute o barulho da água descendo o canal... parece música... mesmo som que os Incas escutavam. Delícia o barulhinho né!

Ollantaytambo vista do parque 

ruela de Ollantaytambo

canais d'água
A cidade de Ollantaytambo é de estilo rústico. Muito turística. Cheia de brasileiros (cadê a crise?) e jovens de todo o mundo. 
Centro de Ollantaytambo. Ao fundo a montanha Pinkuylluna.
Assistimos apresentações típicas. Afinal era domingo e o povoado em festa. Trajes coloridos e a cabeça coberta por máscara de lã, apenas olhos, nariz e boca com aberturas e música (como é valorizada as origens!), incrível.

Aqui a festa das crianças
Estou passando o carro na frente dos bois. Na manhã deste quinto dia fomos ao Parque Arqueológico de Ollantaytambo. Umas 9 hs e já estávamos atravessando o portão de entrada. Tínhamos o ingresso, válido por dois dias. Dispensamos guia. Queríamos a liberdade de subir até o alto por nossa conta e tirar muita fotografia. Escutávamos entre uma parada e outra as instruções para grupos, ouvidos atentos e olhos fascinados. Encerramos a visita às 13 hs. Almoçamos em um dos restaurantes da praça da cidade. Comida deliciosa.
Parque arqueológico de Ollantaytambo. Ao lado a montanha que escalei




Antes de encerrar, caminhe pelo parque e visualize a cidade. O chão trepidante por causa das pedras. Feito pelos Incas. Demais!

       Satisfeitos fomos a segunda etapa, à tarde, subimos a montanha Pinkuylluna, com acesso livre aos aventureiros. Do alto dessa montanha se vê, além de construções arqueológicas, toda a cidade abaixo, construída no vale rodeado de montanhas. A subida é íngreme, até mesmo perigosa. Nem pensava olhar para baixo, queria era aproveitar a energia, assim sem pensar, o mais alto que pudesse. E fomos. Paramos, às vezes, para dar tempo ao pulmão, restaurar o fôlego, e bebendo muita água. Víamos pessoas mais velhas que nós lá no alto, pais com filhos pequenos carregados no pescoço... muita coragem... atrevimento. Qualquer descuido, ou mal estar... não dá nem para pensar.

Eu lá em cima! Maluca
 A cidade vista do alto fez voltar instruções do guia do dia anterior que explicava a estratégia do povoamento Inca. Viver o mais alto possível, de onde pudessem avistar o inimigo. Ollantaytambo sobreviveu aos espanhóis, que sentiam fortes dores de cabeça e não se atreviam a subir. Com a chegada desses, os incas subiam mais alto ainda para se protegerem.

A tarde com festividades e a tradicional disputa de touros. À noite, caminhando para o hotel, rua sem iluminação, lá vem um touro e atrás seu dono gritando "cuidado touro bravo" (veja bem: em espanhol). Com o susto corri para a calçada... só que no escuro não vi que a calçada era bem abaixo do  nível da rua. Quase um tombo feio em pleno passeio turístico. Depois foi só risada pelo "mico". 


No sexto dia fomos de trem para MACHU PICCHU às 7hs da manhã. Muito confortável a viagem, o trem faz em torno de 40 km/h e se pode arriscar fotos. A paisagem natural, onde a vegetação montanhosa dá o tom. Considerado um ecossistema muito frágil e que deve ser cuidado com zelo, já que pode virar deserto.

Duas horas depois estávamos em MACHU PICCHU (ou Águas Calientes, ou Machu Picchu Pueblo). Apenas deixamos a bagagem no hotel (duas diárias) e fomos comprar as passagens de ônibus até o Parque arqueológico de Machu Picchu ( 12 dólares/pessoa. – só a ida) e o boleto de acesso ao parque (142 soles/pessoa) para o outro dia. No parque é limitado o número de visitantes/dia. Quase não achamos mais, por pouco, ufa!

Fomos conhecer a cidade. Subida e mais subida, 2.400m. Escadaria que não acaba mais. Haja coração, pulmão, joelho e canela. O povoado de Águas Calientes também é muito interessante e há muitas, muitas tiendas para os aficionados compradores. Almoçamos muito bem, as ofertas de restaurantes são muitas. A cidade tem um jeitão de Arraial d’Ajuda e Morro de São Paulo, na Bahia. Ou até mesmo Ouro Preto e Tiradentes, na minha terra, Minas Gerais. E rodeada por montanhas rochosas de todos os lados.


Deu até para um descanso à tarde e a noite curtir a cidade em festa.

O sétimo dia tcham tcham tcham tcham. Magistral dia. O dia de conhecer a cidade perdida de MACHU PICCHU. Tínhamos instruções para ir bem cedo, porque depois enche de turista e é difícil conseguir boas fotos. Eram umas 8hs quando pegamos o ônibus, que chegam de 10 em 10 minutos e levam em torno de quarenta minutos para chegar lá.

Bem alimentados, pois no parque é proibida a entrada de comida. Apenas água é permitida. Masquei uma folhinha de coca para aguentar o rojão, o marido nem quis. Dispensamos guia. Gostamos mesmo é de nos aventurar por conta própria. E com as explicações dos guias anteriores foi possível entender dali para frente.









louvar a beleza
Subimos a montanha ao lado da cidadela e tiramos fotos de cima. Subimos o máximo que conseguimos e deixando fôlego para destrinchar a cidade perdida dos Incas, MACHU PICCHU, quando descermos.
Atrevida, próximo ao penhasco no alto da montanha
Pelas fotos se vê. A magia transcende as fotografias. Mágico mesmo. Você vê arquitetura engenharia cálculo estética estratégia e fica imaginando lá naquele tempo, homens mulheres crianças. Plantando cozinhando brincando fazendo comércio trocas etc. Não precisa falar mais. As fotografias imprimem, tatuam as marcas que ficarão para sempre nesta peregrinação.

Almoçamos às 14hs no restaurante do hotel próximo ao parque. Vale a pena. Ótimo cardápio e algumas bebidas disponíveis.

Descemos a pé de volta a cidade seguindo trilha indicada que leva em torno de 1 hora. As escadarias largas e a vegetação nativa encantam. Mas haja resistência. Fomos atrevidos no enfrentamento da descida que parecia não acabar mais. Próximos à cidade a panturrilha dava sinais de estresse, bem dolorida. Os velhos aqui estão terríveis. Andarilhos ao pé da letra.
Trilha 

Pregados (cansados) chegamos ao hotel. Finalizando, nada como a fonte termal pra relaxar. 10 soles o banho, 1 sole para guarda volume. Haja escadaria até chegar lá. Foi um delicioso relaxamento. Tchau!

Oitavo dia – Tínhamos planejado fazer o tour para Chinchero, Mara e Moray e de lá desembarcar em Cusco. Mas após visitação a MACHU PICCHU tudo ficou insignificante. A magnanimidade sobrepujou e nos sentimos realizados. Desistimos. Agora nos permitíamos o cansaço do corpo.

         Pegamos o trem de volta de Machu Picchu até Ollantaytambo, às 8:53 hs (mesmo valor ida). Duas horas de viagem. E após, um transporte tipo van, por 8 soles/pessoa até Cusco. Chegamos às 14 hs. A cidade em festa e ruas fechadas ao trânsito. Foi difícil a chegada ao hotel carregando mochilões. De tão exaustos só saímos do hotel para lanche rápido.  Às 4 hs da manhã embarcamos de Cusco para Lima, rumo Brasil.

       Viagem perfeita. Se tivesse que modificar algo, seria mais 1 dia em Cusco para o tour a Mara, Moray e Chinchero. Valeu muito a pena ficar hospedados em Ollantaytambo e Águas Calientes por dois dias (ouvimos de alguns que nessas cidades não se têm o que fazer, grande engano), e pudemos sentir o pulsar da cidade, compreender sem pressa o significado da especial herança Inca, além de aproveitar a noite e as festas típicas. Com fotos do marido dá para sentir um pouco a magia envolta. Nota dez para esse destino. 

Agora estou aqui, no depois da viagem, contando a peregrinação majestosa – descobri MACHU PICCHU. Apenas pequena janela diante da imensidão de novidades.  A rica história dos peruanos e a descendência Inca, com a valorização da Pachamama (mãe terra, que tudo nos dá), das águas e do sol, formando visão holística das necessidades humanas de sobrevivência naquela terra sagrada e venerada pelo povo. Parabéns povo peruano pela lição de culto aos ancestrais. Fiquei maravilhada com a história Inca.
MACHU PICCHU janela para a natureza

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