segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

TREM BOM É ESPERANÇA!

   
A natureza aqui é África!

   28 de dezembro. Enquanto a chuvinha cai por aqui, em Floripa, aposto que pelas terras de Beagá (Belo Horizonte-MG) estão a pedir pelo amor de Deus que ouse tombar... Estive por lá durante umas duas semanas... quanta tristeza! Secura e nada de São Pedro dar o ar da graça. Rezas continuam por lá.

   Mas até que de um jeito ou de outro Minas deu um jeito de ir pra além das geraes... a dupla sertaneja Danilo Reis e Rafael mostrou competência na última edição do The Voice Brasil. Não aguentei e por mais que não concorde com ligações telefônicas para tais situações... toda a família participou das votações. Valeu a pena, pois são lindas e novas vozes nos ares musicais.

   O tempo é de esperança... Foi o que me deu a entender após assistir uma programação no Canal Brasil, no Documentário sobre MAZZAROPI (1912-1981). O cineasta, ator, produtor e disseminador da cultura popular através de suas fitas cinematográficas, a história do interior (do campo), o questionamento social, e muito mais presente em suas deliciosas comédias. Provavelmente assisti todas. Os cinemas em Beagá ficavam com longas filas.

   Um dos comentaristas fez uma análise a respeito da proposta dos filmes de Mazzaropi, sempre terminavam com um final feliz. E disse que ele era um homem que corria atrás da esperança com a intenção de encontrar alguma coisa. Ao ouvir a palavra esperança fiquei atenta ao comentário. 

   Mais tarde ao assistir a TV Cultura, Repórter Eco, finalizaram o programa com um dito de Ariano Suassuna: "Os otimistas são uns bobos, os pessimistas uns chatos; bom mesmo é ser um realista esperançoso." Ah! Eu gostei tanto! Que segui no canal vendo As aves do paraíso, numa alusão aos belos pássaros da ilha ecológica de Nova Guiné fotografados e filmados por um fotógrafo japonês apaixonado por pássaros. Que magnífica a natureza e os belos passos da dança de sedução para a conquista da fêmea, como no caso do pássaro strapia (?? não tenho certeza se o nome é esse???) com seu enorme rabo de penas brancas e o corpo multicor, a depender de como se posiciona.

   Sei lá! Só sei que a palavra esperança sempre me ronda e com a chegada de novo ano, anda me espreitando em pensamento, em música, por todo o lado... Eh trem bom!!!! 

   

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CIRCUNSTÂNCIAS

   

   Desde segunda feira eu pelejo (adoro esta palavra!), pelejando mesmo com outras preferências no caminho, e a escrita noutro plano. Também têm outros poréns... a idade faz que se fique mais lenta e o tempo de envolvimento numa tarefa parece se alonga. 

   Já estamos à porta... 2015! Como voa o tempo. Dias desses eu afoita com a mudança pra Floripa, agora já quase fazendo aniversário. Foi uma mudança planejada, mas ao mesmo tempo sentida como brusca... nova terra, diferentes necessidades, questionamentos diversos e de "pinga" complicações amorosas. Quem diria uma mudança poderia trazer até isso, brigas conjugais.

   Foi ano difícil no quesito. Transformações para todos os envolvidos e consequentemente isso mexe com todo um arcabouço que estava formado e acomodado numa zona de conforto. Bom, em que vai se desembocar... o tempo dirá!

   Qual casamento não tem crise. Uma vez assisti palestra do Flávio Gikovatte, disse que enquanto houver discussões e brigas é porque o amor ainda ronda... pra dizer a verdade já estou cansando da desculpa. Mas isso é algo que vai se refazendo e refazendo, remendando até onde possível... 

   Por outro lado andei em outra área, a fazer oficinas de literatura que me ampliaram a capacidade perceptiva e crítica - muito a trabalhar para melhorar textos. Nos dias 4 e 5 fiz oficina criativa no SESC com o escritor e poeta Manoel Ricardo de Lima e não tenho outra coisa a dizer que ótima. Aprendi questões conceituais da literatura, como procedimentos, anotações, circunstâncias, que tornaram para mim bons referenciais para a arte de produção de textos.

   O professor pontuou frases interessantes que fazem a gente refletir: "O ato de anotar ajuda a inventar"; "Sempre é possível mentir"; "A gente inventa pouco"; " O trabalho do escritor é descongelar o mundo"; "O corpo precisa mais de risco na hora de escrever"; "Que tipo de circulação no ato de escrever eu provoco"; Só pode produzir pensamento aquele que está em movimento"... e muito mais que não consegui anotar (de tão atenta!).

   Achei interessante a colocação dele sobre a escritora Elza Morante de que existem três tipos de personagens possíveis para se escrever:

   1) O calcanhar de Aquiles. Realidade viva, fresca, nova e absolutamente natural;

   2) Dom Quixote. A realidade não o satisfaz e lhe inspira repugnância, e ele procura salvação na ficção;

   3) Hamlet. Também a ele a realidade inspira a repugnância, mas não encontra salvação, e no final decide não ser.

   Colocou que já para Borges existe apenas o homem que sai de casa e o que volta para casa. Fiquei tomada por suas exemplificações. Olhar fixo!

   Citou diversos autores durante sua sessão mágica: Mário Faustino, Walter Benjamin, João Cabral de Melo Neto, Elza Morante, Jorge Luis Borges, Cesar Aira, Francisco Alvim, Franz Kafka, Guerard Aguir, Antônio Bandeira (pintor, brasileiro, viveu em Paris), Simone Cartaneo (poeta que morreu jovem - 1974-2009), Maria Gabriela Lhansol, José Assunción Silva, Augusto de Campos, Stela do Patrocínio, Agota Kristof, Silvina Rodrigues Lopes, Manoel Bandeira (considerado o poeta da circunstância), Paul Éluard, Orestes Barbosa (cantor), Carlito Azevedo, Felipe Nepomuceno, dentre outros... como ele disse "Ler é uma "lida""... bom trabalho a quem interessar...


   E finalmente, em plena madrugada de quarta feira consigo destrinchar... talvez porque à noite (de terça) assisti um show ao ar livre, no Palácio Cruz e Sousa, de Dança Circular, o que me deixou em harmonia pela deliciosa experiência. Gostei demais!   

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

AMOR E MÚSICA

   

   "Não existe amor sem música"... foi assim que o filme francês A Arte de Amar, de 2011, de Emmanuel Mouret me cativou completamente.

   Não dá para sequer imaginar o que seria da vida sem música... Já pensou então o amor... Eu como uma extrema romântica quanto ao assunto me envolvi, enfronhei-me na película deliciosa que se divertia à minha frente fazendo-me deliciar com as tomadas.


   Vão aparecendo os jogos, o disse me disse, o faz de conta que quer, mas não quer, ou quer? Confusos tropeços na arte da conquista que às vezes dá certo noutras completamente alopradas. Caímos em risos, todos os espectadores. Divertidíssima situação (não quando acontece com a gente, claro!).

   O diretor é muito feliz nas tomadas... como se assemelham à realidade, claro que o colorido que ele dá às situações, com sua irreverência torna o filme uma peça enigmática que não se sabe onde vai parar. Muito gostosa a sensação.

   O filme traz a referência do livro do poeta romano Ovídio, de mesmo nome. O seu manual A Arte de Amar traça as linhas da sedução através de conselhos aos amantes.

   Existe de tudo no filme: a amiga que aceita emprestar o namorado para uma amiga que não faz sexo há muito tempo (sonho? realidade?); outra situação entre uma mulher e um homem que se passa no escuro, porque na realidade não é a mesma mulher com quem armou o encontro. E o sexo entre eles é muito bom, consequentemente, repetem por bom tempo, até a descoberta.

   Dentre as tremendas confusões o que se vê são os sonhos, os desejos, os fantasmas com relação ao sexo fazerem que as relações amorosas tomem caminhos inusitados. Deliciosa comédia amorosa!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CONSIDERAÇÕES FEMININAS

   

   Boa parte das mulheres desempenha um sem número de papéis, muito maior que dos homens – trabalho doméstico, responsabilidades profissionais, cuidados com os filhos, mesmo na dita igualdade ainda bastante desigual – elevando o estresse, a ansiedade e a depressão femininas.

   As cobranças continuam enormes tendo que lidar com a administração do tempo que não corre a seu favor. São tantas regras, cânones masculinos que as mulheres ainda se veem envolvidas, haja energia vital.

   Tem hora que se deixa levar pelo atropelo das horas e se mete a dar conta de três, cinco, dez coisas ao mesmo tempo, sem se permitir parar e respirar mais intensamente... e com isso exaustão aparece para dar um aviso que nem sempre é levado em consideração, como se a mulher esquecesse seu arcabouço real - finita, mortal!

   Daí surgirem sintomas que descuidadamente avaliados, ou relegados a segundo plano, vão dando lugar a extremo cansaço, fadiga e se deixados sem um rumo planejado, vão ganhando em consequências desastrosas para o corpo físico e mental.

   Porque andamos tão rentes às obrigações que desprezamos um olhar mais voltados para nós mesmas, mulheres? 

   Porque tão difícil abrir uma fresta e desviar o olhar para si mesma, mulher?

   Não tem tempo para tanto filosofar... água está no fogo, o filho grita e corre ao socorro, o expediente anda alongado e em casa afazeres ainda esperam... Falo pra quem mesmo? 

   

   




domingo, 16 de novembro de 2014

ATIVISTA A TODO CUSTO...

 
   Assisti um filme bem legal, de grátis, na Fundação BADESC algumas semanas atrás. Levar cultura sem custo para o cidadão. O filme faz parte da mostra de filmes franceses. Este de 2010, Os nomes do amor (Les noms des gens)... do diretor Michel Leclerc.

   Os dois personagens principais, um homem e uma mulher têm histórias de descendência de países em guerra. Cada um deles buscando transpor as barreiras das lembranças e ao mesmo tempo valorizando a significação de pertencer àquelas origens.

   Ela é bem jovem e totalmente livre quanto aos conceitos da liberdade sexual. Não se importa de usar o sexo como pretexto para dominar aqueles que vão contra o seu modelo político. Assim, sente-se engajada às causas que considera serem de bons alvitres para uma sociedade melhor. Fora dos padrões usuais de moças de fino trato, o diretor foca uma personagem que transgride o usual, mas sem ser vulgar. Claro, vai além da preguiçosa realidade felizmente. Sai uma comédia deliciosamente contada por ambos os personagens que sequencialmente a vão vivendo.

   Na história inicial da personagem aparece colocada a questão do abuso sexual sofrido por ela quando criança, pelo professor de piano. Os pais só sabem quando um dia a pedem para tocar uma música. Descobrem que ela não conhece uma nota musical sequer. Ela então conta o que acontecia durante as aulas... isso não aparece falado... apenas aparece os pais e ela abraçados e tristes. Consegue tocar num tema cruel com uma nuance de tristeza e solidariedade. A compreensão através do afeto... que no fundo é o que toda a criança precisa em situações assim.

   Já o homem é um pouco mais velho que ela. Todo introvertido, metódico, tradicional, convencional, comum... o que se quiser dizer do homem obsessivo e preso aos padrões claramente convencionais. Ele tem origem judia mas receia falar sobre isso.

   E essas duas pessoas de tantos contrastes acabam por se apaixonar. Vão através de encontros descobrindo as afinidades sem a questão da posse interferir na relação... pelo menos se tenta... 

   É um filme crítico, ao mesmo tempo que faz rir, com a poesia entremeada aos ares do cotidiano de duas pessoas em busca do amor.   

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

PRIVILÉGIO DE SER OUTRO

   

   Ave! Finalmente consegui sentar para teclar um pouco. Escrevinhar se tornou uma dificuldade nestes últimos meses. Poderia dar um monte de desculpas: processo de mudança, o tênue inverno que se vai (com ele um certo desânimo advindo da época), o violão me tomando tempo maior de investimento (e eu gostando!), algumas leituras, ...

   Estou com postagens começadas e faltando tempo de burilá-las com cuidado para publicação.

   Eis que no domingo assisti a um filme dos anos 90 e ele não me sai da cabeça. Resolvi priorizá-lo então, algum motivo deve ter. O Harrison Ford está em um papel muito instigante no sentido do significado de existência... pelo menos para mim. O filme é Uma Segunda Chance.

  Seu personagem é um advogado bem sucedido que visa apenas o sucesso acima de qualquer ética. Preocupado com aparência frente a uma sociedade interesseira e financista. Na relação familiar o vínculo com a mulher e a filha beiram ao necessário, num estar superficial e pouco envolvimento afetivo. 

   Eis que sai para comprar cigarros e seu futuro dá uma reviravolta surpreendente. O dono da loja de cigarros está sob ameaça de assalto, e, ele não percebe o que está ocorrendo, insiste em ser atendido. Recebe um tiro na região do ombro; continua insistindo e recebe outro tiro na região da cabeça. Consegue fugir dali naquele estado, caindo ao chão logo à saída.

   A única estratégia possível - sobreviver. Assim ele se encontra por bom tempo. Quando se restabelece, as lembranças se foram, não consegue articular palavras, nem ler, nem caminhar etc.

   Um longo período de recuperação, a área afetada do cérebro vai necessitar de tempo e muito trabalho fisioterápico para que novas sinapses sejam possíveis e ainda uma incógnita de qual alcance de sucesso no restabelecimento de habilidades anteriores.

   Um novo homem vai surgindo a partir das tentativas de se reconhecer pessoa, marido, pai, profissional. E é a sua filha que recorre para reaprender a ler e a convivência emocional traz um  ganho a existência. Uma relação de afeto, de tolerância, de respeito vai, dia a dia, intensificando o papel pai-filha.

   Com a mulher se passa semelhante. Acha que não sabe o que fazem um homem e uma mulher na relação afetiva-sexual. Com o carinho incondicional da esposa transpõe a barreira com sucesso. Retorna ao trabalho, apesar da restrita capacidade intelectual do momento. Vai compreendendo aos poucos através das perguntas que tipo de homem era e não gosta do que descobre.

   Atento a tudo que vem vivenciando descobre que a esposa tinha um caso com um amigo do trabalho; descobre que ele próprio tinha uma amante e que iria pedir o divórcio. No trabalho descobre as suas estratégias para vencer acima de tudo e todos.

   Nesse conhecimento estupefato de uma existência pobre, medíocre, sem significado, rompe com o homem que era. Tem uma segunda chance de viver em família, dar valor ao que realmente merece ganhá-lo, ser uma pessoa integral no amplo sentido do conviver.

   Que privilégio deste homem: esqueceu o tipo que era e pode reconhecer-se um homem melhor a partir de fatalidades da vida.  Segunda chance acho que só em filme mesmo! 

sábado, 1 de novembro de 2014

AVENTURAS COM BICICLETA SEM RODINHAS

   

   Semana passada assisti no canal Cultura uma entrevista onde o tema ócio, tédio e stress eram a base, e o profissional convidado (? não anotei o nome, desculpem-me) discorria sobre o que é pior: uma pessoa com tédio, ou uma pessoa com stress... ele foi claro e rápido na resposta. Ninguém merece viver estressado, não vale a pena. Mil vezes preferível o tédio. Por quê? Uma pessoa com stress não encontra tempo de pensar na vida, vegeta, vai levando, sem um momento de reflexão do que faz com a vida.

   Já o tédio, por mais que seja triste, a pessoa entra em sintonia com o vazio, com o nada, um passo para analisar existencialmente o que quer da vida. E inda possível uma transformação.

   Claro, enfatizou que os dois tipos: tanto stress, quanto o tédio, o saudável fosse que nenhuma pessoa sequer sentisse, mas estão aí, que seja então o tédio algo para possibilitar uma mudança.

   Gostei bem da investida sobre o tema. Tanto que associei logo a uma leitura que fiz: sobre a tal bicicleta com rodinhas. O artigo do coach Homero Reis, no Diário Catarinense, domingo passado, onde ele explicita o significado de acomodação (uma bicicleta com rodinhas) ao invés de partir para a mudança, o arriscar-se a fazer diferente, isto é; ter a coragem de tirar as rodinhas da bicicleta e levar alguns tombos até o aprendizado. Afinal, diz... o importante é fazer parte do jogo.

   Eu vi a bicicleta com rodinhas como o tédio ou o stress... acomodação ao papel e dificuldade de vivenciar novos aprendizados.

   Mesmo quando se está velha (ou velho) não se deve associar  a preguiça, a falta do que fazer... não se acomode... aprenda sempre a tirar as rodinhas da bicicleta. Aventuras são necessárias em todas as idades, todos os dias de vida...

domingo, 19 de outubro de 2014

"PERDER TODOS OS DIAS"

   
   Comentei anteriormente sobre tristeza e durante a sequência do filme Flores Raras, de 2013, do diretor Bruno Barreto, o tema está tão presente na vivência das personagens que não resisti comentá-lo.

   O filme é lindo, durante todas as cenas mostra uma leveza, uma delicadeza, ao mesmo tempo uma força emanada da personagem de Glória Pires, no papel de Lota de Macedo Soares, a arquiteta que criou e supervisionou o Jardim do Flamengo, no governo de Carlos Lacerda.

   O filme esmiúça fatos reais a partir de cenas da vida desta arquiteta e sua convivência com a poeta Elizabeth Bishop, uma relação de amor entre duas mulheres nos anos 50. A poeta... ou poetisa, tem uma forte tendência a depressão e melancolia, é extremamente sensível, sofre de alcoolismo, forma que encontra para lidar com sua insegurança, timidez nas questões existencial e amorosa, além, é claro, da sua poesia.

   Elizabeth Bishop é considerada grande poeta, ganhadora de muitos prêmios e de uma sensibilidade para captar o seu cotidiano através de seus poemas. Lindos e que durante as passagens do filme vão aparecendo, compondo de maneira lírica e belíssima a história envolvente, ao mesmo tempo triste drama. 

   O poema "A Arte de Perder" tem trechos lidos e soa bastante intenso na visão de quem ama e perde o amor de forma tão dolorosa:

"A arte de perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. 
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente 
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero 
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império 
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça 
muito sério.
Elizabeth Bishop"


   Linda descrição de uma triste história de amor. Adorei!
   

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

TRISTEZA E SAMBA

   

   Olha só a poesia na letra da música do Vinicius de Moraes,  O Samba da Benção, composta por ele e Baden Powell. Sinta a beleza da tristeza, do samba, da cadência e me diga... não é que faz falta um bocado de tristeza (como diz o poeta)?



"Samba da Benção
Vinicius de Moraes e Baden Powell

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
senão não se faz um samba não.

Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não.

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração."


   Peguei na rede este link da cantoria do Vinicius. De todas que assisti achei a melhor, já que se escuta de muito, muito perto a voz do poeta: 

   
Estou no treino difícil de tocar esta música no violão, respeitando a cadência, é claro! Mas como é preciso persistência, porque não é fácil, não!

   Esta música do Vinicius me fez pensar no sentimento TRISTEZA, que faz parte do cotidiano de nós humanos. Alguns a sentem de menos e outros tantos demais... como é complexa e única em cada pessoa. Não existe a mesma medida para duas pessoas.

   E quando ela vem e domina, é preciso humildade para aceitá-la, entendê-la, para então, compreender o significado... E lutar... não para domá-la de todo... mas tê-la como companheira dentro do suportável. 

   Recebi um vídeo contendo provérbios e lá consta esse: "A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. Provérbio Espanhol" ... Lutar... Quem têm atividades ocupa o tempo, já que a ociosidade é campo minado em tais situações.

   Como diz o poeta Vinicius... Saravá... numa saudação "Salve sua força", "bem-vindo" ... 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

TER UM TRABALHO E SENTIR PRAZER NAS COISAS QUE FAZ

   
A Sesta - Van Gogh

   Como prometi fazer um resumo da palestra do psicólogo cognitivo Paul Bloom, que participou do Fronteiras do Pensamento, em 27 de agosto de 2014, aqui em Florianópolis, com o tema do seu livro de mesmo nome: O que nos faz bons ou maus, BestSeller, 2014, devo fazê-lo logo, antes que a palestra se vá desaparecendo do meu referencial cerebral.

   O psicólogo trabalha com a Psicologia do Desenvolvimento e faz pesquisas com crianças com o objetivo de descobrir se a criança reconhece o que é bom ou mau, se é correto afirmar que este aprendizado é aprendido a partir da convivência e educação. Como sempre as pessoas dizem que as crianças são más quando pequenas, quis comprovar tal assertiva do senso comum.

   Concluiu após muitas experiências que as crianças têm introjetado a questão do que é bom e do que é mau desde sempre, quer dizer, é inato, mesmo antes de falar e andar, os bebês julgam a bondade e a maldade das ações dos outros, sentem empatia e compaixão, agem para acalmar os que estão angustiados e têm senso rudimentar de justiça, como se estivesse inscrito em seu código genético, e que, prefere o que é considerado bom. 

   Portanto, pode deduzir que uma pessoa, já que as experiências são com crianças, tem na moralidade o aspecto positivo, ao invés do negativo. E que através de sua vivência, pela capacidade de razão e reflexão, vai ampliando sua potencialidade, o que faz dos homens/mulheres mais do que apenas bebês, mas seres com capacidade de julgar a injustiça, transcendendo o sentido de moralidade.

   Foi muito interessante a sua argumentação já que tinha como comprovar, através de experiências, que as capacidades rudimentares de moralidade são inatas do ser humano, desvencilhando da noção errônea de que todas as crianças são más.

   Uma fala dele que gostei muito foi quando perguntado sobre o que julga ser felicidade. A resposta foi que o homem não precisa ser feliz. Que essa felicidade mistificada que tanto se procura não existe. Afirmou que o homem precisa somente de duas coisas na vida: ter um trabalho e sentir prazer nas coisas que faz. O resto, os problemas, ele vai dando conta de resolver durante o trajeto de vida se têm essas duas coisas fundamentais - Ter um trabalho e sentir prazer nas coisas que faz

   O último parágrafo valeu muito. E a questão da moralidade... as experiências continuam ...    

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

NOTURNO-DIURNO

   

   Preciso fazer um texto noturno... eis a orientação do professor de oficina literária. Então vi que era hora de eu deixar a enrolação de lado e tentar um texto, mas no blog. Só que já não há mais noturno e sim diurno... são quase uma da manhã.

   Assunto é que não falta: outubro rosa; o estudo que comprova que o envelhecimento da população só aumenta; a busca pelo trabalho flexível como opção desejada por trinta por cento dos profissionais do século XXI; filmes do Woody Allen - Tudo que você sempre quis saber sobre sexo (mas tinha medo de perguntar), de 1972, uma comédia ou o drama Blue Jasmine, de 2013 que assisti recentemente; show de jazz que me tomou, com uma banda ótima e um violinista melhor ainda; sobre a frase interessante que li na rede:"você não é feliz por causa do casamento, você é que faz feliz o casamento"; ... não, sobre eleições, não... na rede já tem notícia demais, algumas que dão vontade de vomitar, argh!

  Quem sabe deixar de lado o tal texto noturno-diurno e refletir  sobre o texto do Millôr Fernandes:

"Desculpe a meninada, mas fomos nós, da nossa geração, que conquistamos a permissividade. Claro, vocês não têm a menor ideia de como isso era antes. O que se fez, depois de nós, foi apenas atingir a promiscuidade, o ninguém é de ninguém, o não privilegiamento de nenhuma pessoa como ser humano especial (amor). Mas, quando qualquer um vai pra cama com qualquer um, sem nenhum interesse anterior ou posterior (no sentido cronológico!), uma coisa é certa reconquistamos apenas a animalidade. Cachorro faz igualzinho. E não procura psicanalista."

   Pensando bem, não é preciso dizer mais nada, o Millôr disse tudo, né mesmo!   

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

URGÊNCIA E INVASÃO

   

    Último dia de setembro... as pancadas de chuva umidificam o solo para as belas florescências da primavera. Tô pensando aqui em como devem estar lindos os ipês em Beagá, né! Já por aqui flui uma temperatura amena, em torno de 21 graus, e vi na reportagem que Beagá está com 31 graus... uau! 10 graus de diferença. Ai, que saudade do calorzinho!

    Por essas bandas o tempo só vai melhorar lá pela quinta feira. O negócio é agradecer por se respirar uma umidade saudável que, graças a ela, eliminou em quase 100% meu desconforto nasal, tão comum nas geraes nesta época.

   Outubro já está aí e com as eleições então, o ano vai a galope. Finda com uma urgência e deixa a desejar. Agora mesmo é natal, ano novo rondando a porta.

   Para arejar a mente nada como um pouquinho de poesia e Caio Fernando Abreu me invadiu:


"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida , que me queres assim, porque assim que és..." Caio Fernando Abreu

   Nada como um pingo de poesia para encerrar setembro... mesmo que insatisfeito o desejo... aceitar como tem de ser. 

   Tem hora que um pouco de fantasia arrefece a crueza dos dias. É quase outro dia.

   Bom dia!  

terça-feira, 30 de setembro de 2014

SE PERMITIR SER O QUE SE É

   

   Dias desses assisti uma entrevista com a atriz Cássia Kiss... no sábado, o bate papo com a Angélica. Sempre admirei a atriz e as causas que engajou. E realmente a atriz, para mim, encontra-se num patamar de invejar. A simplicidade, a capacidade de criticar-se a si mesma, de construir novos projetos no decorrer da vida... 

   A atriz disse não ter planejado nada para o futuro, ter preferido que as coisas corressem na perspectiva dos acontecimentos. Claro que colocou adorar o que faz e sempre esforçar para se superar a cada representação, a cada personagem. Sentir um verdadeiro prazer no que faz. 

   Várias falas foram significativas. A fala contendo o desejo de um país mais justo. A que achei interessante foi a definição de que com o envelhecimento, ela nos seus 56 anos, chegou a conclusão de que "a gente tem que ir abrindo mão de certas coisas e buscar a alma...".

   E ainda, se permitir a qualquer coisa na idade em que está. Deu o exemplo do sapato apertando-lhe o pé, no supermercado, e que escolheria andar descalço sem a preocupação com nada ao redor... E com as rugas, a de se assustar às vezes quando se vê no espelho.

   E falando em celebridade, na semana fui assisti o show do bruxo do som, o músico brasileiro Hermeto Pascoal. Uma lenda viva, com suas experimentações musicais. Uma delícia o show dele juntamente com a cantora Aline Morena. Durante o espetáculo... isso, um espetáculo onde tudo acontecia espontaneamente, a música podia surgir do novo, do momento, do sapato jogado dentro do piano fazendo o som emitir nova musicalidade... o músico com seus 78 anos, completamente a vontade, da orquestra clássica a das batidas mais rústicas e em todos os ritmos. Surpreendente a apresentação, fiquei estupefata com a musicalidade contida em objetos inimagináveis... a alquimia do bruxo onde em tudo existe música, basta estar aberto a novas sensações.  

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CONSTRUIR A PRÓPRIA VIDA

   

  Ontem eu caçoei, brinquei sobre como agiria no caso de uma separação. Mas a questão é que deixei incompleto o relato que fiz da história. A minha conhecida ao contar seu relato já estava a cinco anos separada e continuava a expressar aquela intensa dor.

   Claro que todos sabemos que não tem como não vivenciar o luto numa separação, mesmo quando uma pessoa não tem mais ligação afetiva com a outra, passa por tais momentos, afinal deixou para trás uma vivência e de repente a mudança repentina de papel traz certa melancolia, tristeza ou angústia. Até que se restaure, respire fundo e caminhe para novas transformações. O tempo... ah! O tempo.

   Eu cá pra mim tenho definido que o sofrimento eterno não coaduna com o ser humano, estamos em busca do que nos faz sentir bem e não traga excessos de ansiedade. Ficar por muito tempo no marasmo da dor... aí tem... deve-se olhar mais atentamente e buscar o significado.

   Esse tema permeou também minha atenção ao rever o filme do Woody Allen, Interiores, de 1978, que assisti na semana. Toda uma família envolvida às emoções e sentimentos e mesmo, o medo da hereditariedade, no caso da doença mental. O marido conta que não tinha percebido a frieza e distanciamento com que a esposa lidava com o papel de mãe e esposa. Até que chegou a um ponto em que não aguentou mais viver a superficialidade daquela relação, o controle por tudo perfeito demais, num nível que o desestruturava. As filhas já estavam adultas quando informou que estava saindo de casa.

   A esposa, com fragilidade emocional, nunca se restabeleceu daquele incidente e vivia a encenar a volta triunfante do seu homem imaginário, o seu marido, às voltas com a fantasia que a mantinha de pé através de aparente normalidade. E na história se vê todas as filhas trazerem características de comportamentos e atitudes frente uma convivência onde nada é de verdade... aparência.

   Nesse filme o diretor mostra dramaticamente que somos herdeiros e que vamos representando pela vida várias facetas repetitivas de uma história anterior. Como os nossos pais vamos sofrer as consequências que é viver, ser um adulto, e algumas situações fatais estão longe de nos deixar alçar voos apenas embasados em nossas escolhas.

   Vamos nos construindo com a vida!      

LEITURA e REALIDADE

   

   Bateu uma preguiça entre agosto e setembro e escrevi pouco no blog, infelizmente.  Isso é ruim porque assim não me exercito, né! 

   Mas ler não tive preguiça não! Tô lendo o livro do psicólogo cognitivo Paul Bloom, O QUE NOS FAZ BONS OU MAUS, Bestseller, 2014. Fiquei em falta de escrever sobre a palestra que ele ministrou no evento Fronteiras do Conhecimento. Como a palestra foi em inglês e o meu inglês macarrônico, não teve jeito, precisei do tal aparelho de tradução simultânea. E para não escrever nada que tivesse dubiedade (no entendimento da tradução), preferi ler o livro antes de escrever. Ainda na leitura...

   Ao mesmo tempo peguei o livro do escritor Mia Couto, de contos, O Fio das Missangas, Companhia das Letras, 2014. Não aguentei ficar só com leitura descritiva de uma área mais técnica (a da pesquisa do Paul Bloom) e encadeei a literatura no entremeio. E não me arrependi. Que delícia os contos! O livro é de 2004 e reeditado pela Companhia. Não estou conseguindo passar para a frente sem ler e reler cada um daqueles contos, que até o momento em nada me decepcionaram. Quanta maestria na forma de contar uma história, dos seus toques neologistas, da manha moçambiquense se se pode dizer assim. Olha! É de apaixonar e de invejar a habilidade da escrita simples e tão bem delineada fio a fio, em suas missangas... Estou na leitura do Conto A Despedideira e surpreendida em como a sensibilidade aflora por todos os poros (ou melhor seria... todas as palavras?). Lindo!!!

   O conto fala de um amor que se acabou e como a mulher se confronta com a terrível fatalidade. Olha só que linda essa parte do conto na pág 51: "... Dispensei uma vida com esse alguém. Até que ele se foi. Quando me deixou, já não me deixou a mim. Que eu já era outra, habilitada a ser ninguém..." 

   e essa outra na pág. 52: "Nesse pátio em que se estreava meu coração tudo iria, afinal, acabar. Porque ele anunciou tudo nesse poente. Que a paixão dele desbrilhara. Sem mais nada, nem outra mulher havendo. Só isso: a murchidão do que, antes, florescia. Eu insisti, louca de tristeza. Não havia mesmo outra mulher? Não havia. O único intruso era o tempo, que nossa rotina deixara crescer e pesar..."

   e no último parágrafo a gente sente a dimensão da fala da mulher: "Toda a vida acreditei: amor é os dois se duplicarem em um. Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De mais. Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada. Ninguém no plural. Ninguéns."

   Ao ler este conto eu me lembrei de um caso que aconteceu comigo. Tinha um casal que eu admirava muito, eles sempre juntos, ela na garupa da moto ao final do expediente, não se desgrudavam. Um dia, depois de aposentada, encontrei-a e perguntei pelo companheiro. Após pequena pausa ela me contou que tinham se separado há uns cinco anos, pois ele se apaixonou por uma mulher mais jovem. Havia tanta tristeza em sua voz... 

   Ao chegar em casa contei a história para o meu marido. E falei que se isso acontecer comigo... e alguém me perguntar sobre ele, vou responder: morreu!!! rsrsrs

   Não quero saber de ficar choramingando não...  

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

CORRER ATRÁS DOS SONHOS E FAZER ACONTECER !

   

   Eu fiquei tão livre para voar na última postagem... parece ainda tô aterrizando, rsrrsrs. Não consegui pegar o computer para relatar um pouco das outras palestras que assisti. 

   Depois do Mia Couto, no outro dia assisti a palestra do médico neurocientista Miguel Nicolelis, a qual ele intitulou "Muito além do nosso eu".

   Continuei em estado de graça com o desenrolar da história de sua vida, seus projetos, dos quais não abriu mão, tendo que, de certa forma, asilar-se em outro país por ser desacreditado aqui no Brasil. Não quiseram investir em sua pesquisa e segundo ele, acharam que estava louco. Ele é ótimo contador, engraçado, não faz muito o papel do típico cientista todo fechado em seu compenetrado mundo científico. Ele se abre, escancara a vivência, potencializa emoções e acima de tudo, acredita no sonho. Isso que consegui vislumbrar durante a exposição.

   E em mais de trinta anos de investimento no sonho de conseguir que uma pessoa possa usar do comando cerebral para alcançar a capacidade do movimento, no caso de um paraplégico, por exemplo, e novos estudos com o objetivo de diminuir males de outras doenças como Alzheimer e Parkinson, o neurocientista Miguel Nicolelis vai nos explicando a potencialidade que é o nosso cérebro, os avanços tecnológicos e de saúde que a descoberta da potência cérebro poderá engendrar no futuro.

   O cientista  se emociona no relato sobre o planejamento e resultado da pesquisa na qual colocou um prazo para se tornar realidade... eis que após longos anos de trabalho científico pode, em apenas poucos minutos, mostrar ao mundo o maior de todos os avanços na área da robótica e medicina, um paraplégico conseguir, a partir de mensagens cerebrais e uso de um exoesqueleto robótico, ficar de pé e dar o chute inicial na bola na abertura da Copa do Mundo de 2014 (na rede se encontra a respeito).

   Além de tudo o conceituado estudioso apresentou seu lado social e de investimento em ciência no Brasil, num dos municípios do Rio Grande do Norte onde o IDH é considerado medíocre. Fundou um instituto que investe localmente nas áreas de educação e saúde. Maravilhoso o trabalho e a visão deste cientista que de médico e louco vai conseguindo transformar em realidade os sonhos do verdadeiro cidadão - tornar o seu país digno não apenas em futebol, mas em conhecimento e valorização do ser humano. Digno de um Nobel!

   Ainda falta contar da última palestra, a do psicólogo cognitivo Paul Bloom...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

LIVRE PARA VOAR!


   Estou em estado de graça. É assim que me sinto neste momento. Assisti hoje a palestra do escritor Mia Couto intitulada por ele Desemparedar os Pensamentos, que faz parte do programa Fronteiras do Pensamento, patrocinado pela Softplan, Intelbrás e realização da UDESC, aqui em Florianópolis. 

   Que pessoa linda ele é gente! Como pode alguém com tamanha humildade para aceitar-se como uma pessoa que não sabe e, considerar, ainda bem que não sabe. Combate a arrogância, a prepotência com argumentos tão bem fundamentados que faz a gente se envergonhar perante a aceitação de um sistema vigente sem o questionamento tão necessário. Desestabiliza todo o arcabouço de conhecimentos que a educação clássica insiste em repassar de geração em geração e vai reconstruindo a trajetória verdadeira desde a construção de nossa cultura, indo lá nos primórdios da nossa descendência a partir do homem africano, da cultura egípcia, do monoteísmo, da construção da solidariedade desde o início das comunidades, da dor sentida pelos nossos mortos desde a primitividade e que até hoje perpetuam em nosso senso de sociedade. E vendo nessa reconstrução uma forma de acabar com o nosso medo do outro. O medo exagerado que faz que a pessoa assuma a solidão como padrão de vida, o que é muito triste.

   Na sua fala Mia Couto exemplificou o poeta Ho Chi Minh, um revolucionário e estadista vietnamita, que quando estava preso escreveu versos cheios de ternura. Quando perguntado como conseguiu escrever versos tão lindos dentro daquele lugar, disse que aprendeu a arte de desvalorizar as paredes, elas não existiam. E assim pode criar versos maravilhosos por não aceitar fronteiras. E ele, Mia Couto disse ter assumido tal lema em sua vida: a arte de desvalorizar as paredes e conseguir ser feliz por isso.

   Ele falou tanta coisa tão digna que o lado feminino aflorava em suas falas, a fala do amor, da ternura, da sensibilidade, da intuição, sem deixar de lado o masculino, que se complementam através do raciocínio, do cálculo. ... Que quando pensamos que temos ideias, na verdade são as ideias que tem a gente. Da importância que é estar completamente perdido, assim podemos nos encontrar. Eu sou suspeita de falar (sic) já que adoro sua escrita, pautada no respeito ao ser humano e na luta pelo social.

   E ele tão carinhosamente assinou no livro que levei e para uma leva de pessoas que enfrentava a fila. Muito carismático. Adorei o evento!   

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

SOLTE O LADO CRIANÇA E VIVA!

   

   Hoje eu li um texto da escritora Martha Medeiros intitulado Feliz Aniversário, no Diário Catarinense, pág 18, Donna. Me chamou a atenção quando ela menciona que a gente vai se desfazendo de coisas pelo caminho.

   O texto me trouxe à reflexão sobre esta questão em específico. De como, com a idade, a gente vai deixando de dar importância a determinadas coisas; ou pelo andar da carruagem vamos sendo tragados e a realidade vai se transformando a revelia dos nossos desejos.

   No dia a dia coisas que antes eram importantes com o passar do tempo deixam de pertencer as prioridades. E se vai desfazendo delas, com amadurecimento pessoal ou não, com facilidade ou com dificuldade, o espaço vai se abrindo para que novas experiências surjam.

   Eu falo "coisas" mas também nos desfazemos de... sentimentos, emoções, dores, sorrisos, olhares. 

  Eu me lembrei da música A Noite do Meu Bem que era cantada pela Dolores Duran nos anos 50/60:


"Hoje eu quero a rosa 
mais linda que houver

Quero a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero a paz de
criança dormindo

Quero o abandono de flores
se abrindo

Para enfeitar a noite
do meu bem

Quero a alegria de um
barco voltando

Quero ternura de mãos
se encontrando

Para enfeitar a noite
do meu bem

Hoje eu quero o amor,
o amor mais profundo

Eu quero toda beleza do
mundo

Para enfeitar a noite
do meu bem

Mas como esse bem 
demorou a chegar

Eu já nem sei se terei
no olhar

Toda ternura que eu quero
lhe dar"

  A música me fez associar que com o envelhecimento a gente se desfaz de algo muito importante: que é a criança que precisa continuar existindo em nós para que atinjamos com leveza a sabedoria de que coisas vão se desfazendo pelo caminho...

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

BRUMAS DO INVERNO

   

   E não é que desapareci pelas esquinas da vida... Eh, andei tão pobre de astral que não tive ânimo de abrir o computer por estes tempos. Mas até que me pareceu saudável tal momento... mais de reflexão, pensamentos e pouca emissão de palavras.

   Andei relendo Roland Barthes, AULA, Cultrix, 1978 e Fragmentos de um Discurso Amoroso, Francisco Alves, 1981. No livro Aula, pág. 85, encontrei uma pérola de Bashô, um haicai lindo:

"Bruma e chuva.
Fuji velado. No entanto eu vou
contente."

   E Leyla Perrone-Moisés diz à pág. 87, AULA: "O que diz o haicai é um momento intensamente vivido por "alguém", mas fixado em linguagem sem o peso do sujeito psico-lógico do Ocidente. Nenhuma moral da história. O haicai é, para Barthes, um lugar feliz em que a linguagem descansa do sentido; e neste momento, segundo ele, é o de que ela necessita. Não como uma fuga, mas como uma tomada de fôlego; não para alienar-se, mas para "dar um tempo" ".  

   A gente procura tanto dar sentido a tudo, que se esgota e o haicai vem a propósito, como Barthes disse "Muda a língua, muda o mundo". E a poesia é transformadora neste aspecto.

   Não vivi só de poemas. Também revi filmes interessantes. Ontem mesmo Antes do Pôr do sol, de 2004, me tomou por completo. Parecia que nem tinha assistido outras vezes. Novas leituras e compreensões... talvez pelo estágio em que me encontro... mais atenta!

sábado, 5 de julho de 2014

SONDAR O FUNDO DO RIO


   A sexta se apresentou de forma leve e amena. Pude deleitar-me a perscrutar o norte Literatura sem as agruras da correria da vida. Provável que hoje, por ser o dia e horário do jogo do Brasil com a Colômbia, a placidez das ruas era visível. Acho que só tinha eu pelas bandas, o resto do povo devia estar de olho bem aberto na telinha. Tentei comprar pão - padaria fechada, fui ao supermercado - todos invariavelmente com a tele ligada e os poucos clientes atrevidos. Era como eu me sentia quando o pessoal do supermercado olhava para mim, a alienígena.


   Estou me divertindo, mas é verdade... em plena cidade somente eu a andar pela rua despreocupadamente. Cheguei com as compras e fui para a rede a procura de leitura salutar. Precisava me embebedar de cultura e literatura. Eis que acho o site da tvcultura.com.br no link literatura e aí, fiquei como todos, de olho na telinha. E me apaixonei pela poesia do Carlos Nejar que encontrei por lá, vejam só que linda!

"NOSSA SABEDORIA É A DOS RIOS 



Carlos Nejar

Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
onda a onda.

Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.

E nos moveremos,
rio dentro do rio,
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros."

   O Brasil ganhou, eu ganhei e agora reparto com vocês o momento glorioso de uma emoção, a leitura da linda poesia, pois a emoção do Brasil ter ganho a partida já faz parte do real, enquanto a poesia, é como viver em fantasia lírica.

   É sonhar acordado!

segunda-feira, 30 de junho de 2014

FLORADA EM DESTAQUE

   

   Assisti um clássico brasileiro Floradas na Serra, filme de 1954, baseado no romance de Dinah Silveira de Queiroz e o diretor, o italiano Luciano Salce, onde reconheci os atores Jardel Filho, John Herbert, Cacilda Becker, ainda jovens.

   O filme se passa nas paisagens montanhosas de um vale onde tem um hotel que as pessoas vão para o descanso, buscando a beleza natural e o sossego. No caso da personagem Lucília (Cacilda Becker), cansada da vida society e dos amigos superficiais, ela espera que a solidão dos dias acrescentem novos significados em sua vida caótica e sem graça.

   Mal sabia ela que o local era o preferido por aqueles em tratamento da tuberculose, que à época era o câncer da sociedade, incurável em algumas situações. Todos têm que passar por exames de rotina que incluía a radiografia pulmonar. Descobre ser ela uma portadora da doença, já estando com um dos pulmões tomado. E de simples turista passa a morar naquele lugar para tratamento das sequelas.

   Conhece um homem muito atraente e interessante, Bruno (Jardel Filho), que vai para um sanatório, a ala dos pobres, pois não pode pagar o tratamento. Ele um sonhador, pensa em escrever um romance, desiludido da vida precária. Eles se envolvem e se apaixonam. Ela entusiasmada com o relacionamento aluga uma casa no campo próximo da localidade, onde ele pode escrever seu livro. Bruno se sucumbe ao luxo de uma vida confortável onde o dinheiro pode pagar.

   A doença de Lucília se aprofunda enquanto ele nos próximos três meses será liberado. Ele receoso de novo contágio, ela sabendo-se muito doente e autoestima em crise, além da presença de mulheres esbeltas e saudáveis nos locais que frequentam tudo isso vai deteriorando a relação a dois.

   Acabam por brigar. Lucília percebe que o amor (ou será a paixão?) dele já não existe. Foge da casinha de campo indo parar no alto de uma colina, uma paisagem deslumbrante que reflete a linda florada de primavera local. Exausta e fragilizada, desmaia. É levada de ambulância ao hospital, enquanto Bruno parte, vai embora de trem, terminando assim um romance em que dinheiro, perda da saúde e beleza põem em jogo o amor. 

   Filme trágico, muito triste pro meu gosto, mas belíssimo de conteúdo, paisagens... um drama.

domingo, 22 de junho de 2014

CADA UM LAVANDO AS SUAS MÃOS

   

   Eu ontem vi um filme bem legal na Mostra de Cinema Internacional na TV Cultura, o filme cujo título foi traduzido para o Brasil para Estranhos Normais, Happy Family, do diretor italiano Gabriele Salvatores, lançado em 2011, é uma comédia divertida em que se misturam os personagens do texto e o próprio escritor, que se vê envolvido naquele ambiente da história sem conseguir escapulir à situação, passando a vivenciar as cenas junto com os personagens - faz parte do elenco ao mesmo tempo em que escreve. Muito legal a estratégia, gostosa de assistir, valeu a pena!

   Largando de cena a questão comédia pode-se também tirar ótimas reflexões sobre os relacionamentos. O escritor por exemplo, prefere a solidão para ter tempo para escrever... "para escrever é preciso ter tempo e estar solitário", diz. No decorrer da história mostra-se sem jeito para os envolvimentos amorosos, receoso e inseguro em ter um relacionamento duradouro.

   Outro exemplo interessante é o do casal que o marido está com dias de vida contados devido diagnóstico de doença terminal, mas que não fala com a família sobre o assunto, preferindo o segredo. Toda a situação deixa o marido desorientado e pouco disponível para a esposa, estando os dois há mais de quatro meses sem fazer sexo. 

   Quando o foco da cena é a mulher, para dar sua opinião, ela aguarda uma fala do marido para entender o que está acontecendo, e especifica que está gostando da situação e se acostumando a. Cópia fiel do que vemos muitas vezes na vida real: a dificuldade do diálogo no relacionamento a dois.

   Sempre um achando que o outro tem algo a dizer e esse outro achando o mesmo, aquele chove-não-molha que conhecemos bem (quem passou por um casamento sabe bem o que quer dizer!).... Eu penso que o outro pensa, que eu penso, que ele pensa, que eu penso... por aí afora.

   Além dessa questão, o marido não relaxa, só pensa de forma rígida no trabalho e em fazer mais dinheiro. Não teve tempo de aproveitar a vida, de olhar para fora e ver novas paisagens, se permitir a. Até que resolve viajar com o ex-sogro do filho. E durante o trajeto morre.

   Claro que têm versões no filme direcionadas a outros personagens, mas as citadas foram as que mais me agradaram. Tem a moça que se acha sem graça por não ter bom cheiro, mas o escritor se interessa por ela  e em contrapartida acha que ela tem um perfume maravilhoso... visões distorcidas são o tema. Tem o rapaz com tendência homossexual, mas ainda latente, querendo se casar com uma moça que lhe diz "não" quando da oficialização do noivado, já interessada noutro sujeito. Uma confusão!

   Uma turma completamente neurotizada que vira e mexe a gente vê no dia a dia. Experimenta assistir e veja se não estou com a razão...