segunda-feira, 22 de maio de 2017

O DESCORTINAR

   Finalmente consegui tirar o olhar das favas políticas replicadas na rede... tanto fuzuê neste Brasilzão que a gente deve admitir, assusta as consequências. Não se sabe como a semana terminará com os imbróglios e corrupções na política. Só vivo pra acompanhar o nonsense real vivenciado pelos cidadãos brasileiros. Não precisa nada fantasmagórico.

   Preciso fazer um corte... a cabeça está pesada! A chuva cai na noite úmida da cidade e o barulho, pelo menos admite, nem tudo está perdido. Resta um pouco de poesia.

   Assim inicia o filme Garota Dinamarquesa, de 2015, soando poesia, beleza panorâmica do início do século XX mostrada em paisagem e vestuário, os desejos revelando-se, dizendo ser possível sim, a mudança. Como sempre, recheada de problemas, rejeições, transtornos, regras cruas da sociedade, relações tumultuadas pelas escolhas. 

   Traz a história verídica de um pintor dinamarquês que ao posar para a esposa, também pintora, começa a ver aflorar o lado feminino, do qual ele mesmo, não atinava. Ao sentir os tecidos fluídos, os calçados femininos, o charme contido nos penteados e maquiagens, as delicadas posturas, vê-se envolto na artimanha do destino e do lado latente - o desejo de ser mulher.

   A esposa detecta muito tarde, já não dá para reverter as sensações vivenciadas no novo estereótipo. O vestir-se mulher transforma a alma do homem com quem se casara, agora importa descobrir o significado de ser mulher. Na trajetória, a que não aceita retornar ao antigo papel, desafia a medicina da época, a operação definitiva de mudança de sexo.

   O enredo vem do diário do pintor, as angústias, as expectativas, a ânsia pelo florescer de uma mulher. A força do desejo é tão grande que abre mão da cautela, mesmo com saúde precária, assume passar a prova final, retirada do órgão masculino que lhe embota a feminilidade. Considerada a primeira experiência de transformação sexual.

   Proeza de mostrar sensibilidade sem toque de preconceito. Lindo filme!   

quarta-feira, 17 de maio de 2017

ANDAR SEM RUMO

   A velha, a maluca beleza, a babel atarantada anda fazendo das suas. Tal qual a história, também ando criando confusões para o meu lado. Acúmulo de ideias, situações, exercícios físicos, obrigações caseiras, e o pique deu uma levantada, estou a mil.

   Aproveitei a onda e fui andar sem rumo. Saímos por aí, pelo considerado vale europeu aqui no Sul de Santa Catarina e fomos conhecer as cidades mais alemãs do estado. Foi bem legal não fazer roteiro (consegui segurar o desejo de ter as etapas definidas) e deixar que a cada cidade o aroma local misturado às raízes culturais nos seduzisse.

   Foram tantas cervejas, chopp, joelho de porco a pururuca, chucrute, cuca, cantoria... fotos das construções enxaimel produzidas pelo marido, quando retornamos é que paramos para respirar novamente o cotidiano. Como foi bom arejar. Costumo dizer, sair do comum tem suas compensações. Outros ares, novas pessoas, histórias interessantes, rastros de todo tipo e o olhar às especificidades fazendo a inspiração brotar do simples convívio. E olha, a poucos quilômetros de casa. 

   Um fim de semana com olhar arguto e a curiosidade pululando em cada esquina. Esse outono vai deixar boas lembranças.