sábado, 31 de dezembro de 2011

TEMPO

   Acabei de receber por e-mail este belo poema do Carlos Drumond de Andrade (mineiro, de Itabira):


" TEMPO





Carlos Drummond de Andrade


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.


Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.


Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente.


Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.


Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.


Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.


Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente.


Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE! "

Seria muito atrevimento de minha parte escrever algo hoje... O poema sintetiza todos os nossos desejos, não é mesmo! Até mais!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

PROJETO DE VIDA II

   Aqui estou eu avaliando os projetos feitos para o ano que passou, e analisando os que se tornaram realidade e os que não saíram do papel. 

   É... Fim de ano serve também para tais reflexões e análises. Temos muitos desejos, mas o que é possível ser feito??? Não é prudente traçar muitas metas e depois nos decepcionarmos.  O ideal são, no máximo, três (3) objetivos (metas) por área, assim estaremos energizados e atentos para a busca de sua realização. E o mais importante é o equilíbrio entre as diversas áreas existentes (todas as áreas devem estar presentes) e não o enfoque exagerado em apenas uma delas.

   Como está no artigo do "Projeto de Vida", publicado anteriormente, as metas que queremos alcançar devem ser escritas. E, às vezes, lidas, revisadas (sempre que necessário). 

   As áreas são muitas: área familiar; área de saude; área profissional, área educacional; área cultural; área de lazer; área financeira; área pessoal; área religiosa, filosófica, altruísta...etc. Cada um pode até eleger outras que são importantes do seu ponto de vista e não estão aqui elencadas. Mas uma coisa é fundamental: não mais que três objetivos por área. 

   Após definida a área, em uma simples tabela, coloque quais os objetivos; e para cada objetivo, quais ações (passos) são necessárias para alcançá-los; defina os prazos (factíveis) e os pontos facilitadores e dificultadores para o alcance do resultado (faça uma auto-análise: o que, pelo meu perfil, vou atingir com mais rapidez ou com dificuldade???) e esteja atento.

   Até parece que preciso ensinar o padre (pai) nosso ao vigário, não é! Com certeza é você que pode me ensinar outra metodologia mais prática para os projetos de vida... Vai, me conta... Estou sempre pronta para assimilar novas práticas... Desde que ... Coerentes.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ESPERANÇA

  Não pensei que fosse postar algo bem no dia do Natal, mas aqui estou eu... Descrevendo como está sendo este dia. Na verdade o significado do dia é apenas simbólico (isso, pra mim).

   Neste dia sinto um misto de alegria e tristeza que não consigo expressar bem o que seja. A alegria pela reunião da família, pelo encontro, pelos sorrisos, enfim pelo lado positivo da vida.

   A tristeza, por entender que há tanto por construir e que fazemos tão pouco. Quantas pessoas estão sofrendo por diversos motivos: pela falta de um ente querido; pela guerra constante no mundo; pela frieza dos donos do poder; pelas doenças existentes; pela fome dos miseráveis; e até mesmo aquela tristeza inexplicável (quem a sente saberá do que eu estou falando). Poderia continuar a noite inteira a descrever "n" motivos... Porque afinal de contas natal não é só consumo, não é só risos e descontração; não é só marketing; ...

   Hoje, por estar meio assim, assim... Gosto de ficar no meu canto, nem pensar em sair... Quero apenas ficar quietinha em casa... E deixar fluir tais sentimentos tão contraditórios, e respeitar que nem tudo tem uma explicação concreta, óbvia.

   Bom, presumo que tais mistos de sentimentos sempre estarão presentes em  data tão significativa... É momento de rever o que demos conta, lidar com a nossa realidade, às vezes, tão banal, ... Mas... Ter uma certeza fundamental e que  é a mola mestra da nossa sobrevivência - "ESPERANÇA". O que faríamos sem ela não é mesmo! 

sábado, 24 de dezembro de 2011

PROJETO DE VIDA

   Hoje, durante comemoração festiva, fiquei a pensar sobre quais as perspectivas almejadas para 2012. Nesses momentos, fazemos algumas pausas para reflexão, o que nos ajuda a ir em frente para um fazer mais eficaz.

   Qual será o projeto de vida para 2012??? É salutar colocar no papel aqueles projetos que valem a pena um investimento durante o ano e com prazos definidos (que podem ser de curto, médio ou de longos prazos; e isso em qualquer idade). E ao final do ano, poder avaliar se o planejamento feito foi realizado, e se não; o que precisa continuar sendo encaminhado.

  Quais situações interferem (para o bem e para o mal) no alcance de determinado projeto - ter um olhar arguto para tais momentos pode impedir que nos sabotemos (coisa que fazemos com frequência) e refaçamos o rumo, o foco. Situações como: melhor administração do tempo; evitar as tarefas inacabadas (começar algo e parar no meio do caminho); definir objetivos de forma clara, traçando metas factíveis; disciplina na ação do dia a dia; conhecimento de si mesmo, como elemento que facilitará uma análise de suas qualidades e deficiências; vontade, determinação, persistência, oportunidade ...


   Quem se arrisca ao planejamento de vida tem grande vantagem, pois a vida passa a fazer sentido. E este sentido é dado quando se é responsável pelos próprios sonhos e se parte para a ação. Ser dono da própria vida significa  traçar o próprio destino (claro, no que depende de nós). 


   Aquele que navega sem rumo, sem objetivos, perde tempo. É como um barco à deriva, cheio de lodaçal e sujeira, que o tempo vai impregnando e depois se torna impossível de limpar. Queremos isso para a nossa vida???? Acredito muito no que uma amiga disse: "se não se faz nada, o ano passa do mesmo jeito; e aquele tempo não volta mais ... É tempo perdido" ... A vida continua se esvaindo; e sem projeto a vida empobrece.

   ESCOLHAS. Quando feitas significa que tomamos as rédeas da vida e comandamos nosso destino. Faça as suas e projete para 2012. Ele será diferente para você - e pra melhor, tenha certeza disso, pois terá o papel principal. Estou torcendo pra isso!
   

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

FIM DE ANO NA CIDADE

   Ontem, apesar de minha resistência para enfrentar uma ida à cidade por causa da data natalina, não teve jeito.  Mas dá preguiça, tamanha a confusão, aquele monte de gente andando pra lá e pra cá, parecemos todos zumbis, e a pressa??? Quanta correria desnecessária, quanta ansiedade, gente atravessando a rua com sinal fechado para pedestre - uma verdadeira loucura. Realmente, nós somos extremamente mal educados no trânsito como pedestres.

   Comecei um diálogo com uma mulher que estava próxima a mim, pois ficamos horrorizadas com a situação de mães atravessando a rua com seus filhos, enquanto carros e ônibus eram obrigados a frear em cima deles, já que o sinal estava aberto para o tráfego. Falamos de como as pessoas não preservam a própria vida e de seus filhos (que exemplos, hein???); se vale a pena a correria, sofrer danos ou morte no trânsito; se não é preferível gastar um minuto a mais e ir mais relaxado para as tais compras; que a vida já é bastante ansiosa e nós ainda contribuímos para torná-la pior... etc.

   Será que eu era assim também e só estou percebendo isso agora que estou aposentada e mais leve, sem pressa, nem correria??? Ou a ansiedade do século XXI já se expandiu para todos os habitantes... Vá saber!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

DILEMA

   "Você é o que você ama e não quem ama você" esta frase foi dita pelo personagem do Nicholas Cage, no filme ADAPTAÇÃO, de 2002. Vi este filme hoje e me lembrava de muito vagamente já o ter assistido, até ouvir Donald (irmão de Charles), gêmeos vividos por Cage, falar a frase acima. Aí me lembrei de que ela tinha deixado uma marca à época.

   Muito intensa, não é mesmo! Agora vamos ao que penso que ele quis dizer com ela.  Acho que preciso explicar o filme para depois interpretar melhor o que significou aquela frase para mim.

   São dois irmãos gêmeos, com características de personalidade diferentes. Donald é mais extrovertido, tem boas tiradas, é galanteador e recebe de volta os carinhos das mulheres por causa disso; já Charles, é muito tímido, travado, não dá conta de expressar seus sentimentos, bastante introspectivo. Charles tem prazo para escrever um roteiro de filme, de livro escrito pela jornalista interpretada por Meryl Strep, onde é relatada a vivência de um sujeito sui generis que cultivava orquídeas e que ela acompanhou durante algum tempo na coleta de informações.

   E a história do livro e a de Charles vão o tempo todo se entremeando. Nas suas reflexões ele está sempre se analisando, vendo suas dificuldades, de frente para sua baixa-estima e considerando-se incapaz de conseguir atingir seu objetivo - construir o roteiro.

   Tem um momento no filme que desesperado, e acatando dicas de um roteirista famoso, Charles chama o irmão para ajudá-lo na trama. Após ler o original, este tem a impressão de que falta algo... E que Charles deve conhecer a autora para ver se descobre o que não bate com o final que ela instituiu. Ele não tem coragem de enfrentar a situação e desiste. Seu irmão vai em seu lugar e tenta descobrir o que está incógnito.

   Como Donald conclui que o fim não está impresso, eles partem para a observação da jornalista, apesar  da resistência do irmão. Acontece muita confusão, e Charles descobre que na verdade ela usa uma droga advinda da orquídea chamada "orquídea do deserto", muito rara. Ao ser descoberta a jornalista (que está sob efeito da droga) decide que vai matá-lo, pois põe em risco sua imagem. Partem para um pântano na tentativa de matá-lo. 
   
   Charles consegue escapar graças ao irmão e passam a noite naquele local onde acontece o seguinte diálogo: Charles conta que quando jovens, ele (Donald) amava uma garota e que ela ficou rindo dele junto com alguns amigos e isso o torturou. Donald lhe disse que também ouviu o que eles falaram. Charles ficou sem entender e perguntou porque ele não fez nada. Foi então que Donald soltou aquela frase que marcaria o irmão a partir de então - Vocé é o que você ama e não quem ama você. Ele explicou que não importava o que a moça sentia, o mais importante era o que ele sentia e que aquele sentimento pertencia a ele e ninguém tinha o direito de tirá-lo dele. Charles entendeu e ficou agradecido ao irmão por isso. A partir daí consegue se redescobrir e se reconhecer como sujeito, agindo, atuando, tendo a coragem na tentativa, apesar da morte do irmão no decorrer da trama.

   Ninguém tem o direito sobre o nosso sentimento, ele nos pertence e não importa que não seja considerado por outros... Ele tem mesmo é que ser considerado por nós mesmos.  Esta é a nossa força.

   Por isso é que sempre digo a quem queira ouvir: seja você mesmo! Goste de si tal qual é, com todas as qualidades e defeitos!!!...  É fácil falar, né!... Difícil é alcançar tal patamar. Mas a busca do conhecimento de si mesmo (que não é o mesmo que autoconhecimento) torna possível tal proeza e depois venha me dizer se isso não é verdade. Eu vou querer escutar!     

SONHAR

   Li o conto "Pedro y su otro", de Alondra Badano, Revista Panorama, págs. 188 - 200, mar/2011. O conto é lindo, muito triste e mostra a convivência com a sua outra parte (do Pedro). Ele era um esquizofrênico e a autora mostra lindamente a sua vivência em seus dois mundos.

   Invejei-a em sua escrita. Infelizmente penso que nunca alcançarei essa habilidade de escrever bem. Pelo menos faço com prazer a habilidade de leitura e este é um dos meus maiores prazeres... Poder ler, muito, sempre mais e em cada leitura me sentir impregnada de gozo. Fico feliz com esse sentimento de prazer a cada leitura que faço, não importa de onde venha; sempre me acrescenta e me aconchega. Faz parecer que o mundo é sempre melhor e que é possível sonhar!

HOMEM COMUM

   Já li o livro do Philip Roth, "Homem Comum". Tinha lido críticas a respeito. Não consegui deslanchar muito até a página 42 e o mesmo senti sobre o conteúdo, o que não tornava a leitura nada interessante. Inclusive percebi dois trechos que considerei fracos (será que posso???). Mas continuei a leitura por interesse ao tema - reflexões existenciais sobre a morte e o morrer.
   
   O romance traz a fase da velhice de forma muito pessimista na visão de um homem  de 71 anos de idade, imaturo, vaidoso e que no final da vida se vê solitário. Ele, que na juventude viveu a presença de diversas mulheres, num tipo de vida mais mundana, sem as bases de um sentimento verdadeiro; do qual ele não se deu conta quando o tinha verdadeiramente.

   O livro é triste, melancólico, mas necessária a leitura para uma reflexão sobre o que estamos fazendo com a nossa vida e com o tempo que nos resta "agora".

   Em certos trechos senti como se levasse um "soco", isso mesmo, é muito pesado. Mas o personagem é realmente muito comum, primitivo se pode dizer. Provavelmente a história vista pelo lado da ex-mulher dele "Phoebe" teria sido mais interessante e com mais conteúdo (do meu ponto de vista). Mas essa foi a intenção do autor, não é! Fazendo uma análise dos homens penso que muitos deles seriam enquadrados tal qual o personagem: pobres, sem objetivos, medíocres (como todos nós realmente o somos), egoístas (preocupados apenas com as próprias necessidades). 

   Há! No livro tem uma frase que associei a produção literária: "Os amadores procuram inspiração, os outros arregaçam as mangas e trabalham". Penso que o verdadeiro escritor busca a inspiração no trabalho cotidiano de escrever. Deve ser muito difícil.

   Até me interessei em ler também o livro do Ernest Hemingway onde ele conta sua história, um pouco autobiográfico sobre a vida de escritor,  de 1964, Editora Círculo do Livro. 

Achei interessante no início que o autor fala que iniciou o livro em 1957. Eu tinha apenas um ano de idade, portanto o livro é mais novo do que eu por  pouco tempo. O título é "Paris é uma festa". 

   Parece que o Hemingway faz uma descrição  do seu cotidiano e de suas dificuldades para escrever. Ele escolheu ser escritor e deixou o jornalismo para se dedicar integralmente a esse projeto.

   Achei muito legal as colocações dele sobre o ato de escrever; como funciona; o medo de não ter mais ideias sobre o que escrever; a dependência da escrita para a sua sobrevivência; a sua coragem, às vezes, seu desânimo; seu gosto pelas bebidas e lugares de Paris. Desta vez me permiti até a marcar as partes que me interessaram; alguns lugares que conheci e outros que pretendo conhecer um dia se ainda existem. Quem sabe!

O QUE É DO HOMEM O BICHO NÃO COME

  "O que é do homem o bicho não come." Tal provérbio ficou mais claro para mim há alguns anos atrás. Foi num período de expectativas profissionais quando uma amiga soprou-o pra mim, vendo a ansiedade que tomava conta de mim.
   
   O que ela queria me dizer com aquilo?  O que estava por trás daquele significado que poderia mudar minhas possibilidades de sucesso? Tentei tirar o melhor proveito da situação e corri atrás do desafio, pois o provérbio que diz que "Quem espera sempre alcança" nunca me convenceu.

   Administrei a ansiedade, tracei planos verossímeis, mas tinha de contar também com a intuição e estratégias factíveis - pois inteligência está integrada a toda essa capacidade de conhecimento - é uma verdadeira rede (não podemos desperdiçar nada que possa contribuir para o resultado)! E assim foi...Consegui.

   Você se lembra(do tempo de criança) quando contavam para a gente uma fábula e no final vinham com uma "Moral da história", pois é, é o que estou tentando mostrar aqui. 

   Nada vem de graça (a não ser que seja apadrinhado ou nascido em berço de ouro; ou, como diz Zeca Baleiro em uma de suas músicas "nada vem de graça, nem o pão, nem a cachaça..."). Você tem a obrigação de ser coerente consigo mesmo e traçar o seu caminho com determinação, desejo, raça e o mais importante de tudo                     
    A C R E D I T A R !     É isso mesmo, se não acreditamos em nós a que poderemos brindar... Volto a repetir o Zeca Baleiro "Quero ser o caçador, tô cansado de ser caça..."

  Ser o caçador: construir seu caminho, o que vai exigir todo o CHA completo - C de competência, de conhecimento técnico, de capacidade administrativa; H de habilidades, reforçá-las e com o uso vão ampliando e se solidificando, fortalecendo a confiança em si mesmo e; finalmente A de atitude, forma como age naquele momento, como é necessário atuar, pois isso implica tomar as rédeas de sua vida e saber que está sendo observado todo o tempo. Ou ... Prefere ser caça???

   Isso pra mim passou... Mas pode ajudar a quem está construindo os degraus do sucesso... Nada vem de graça!!! Vá à luta!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

SER FALTANTE

   É... a tal da angústia sempre está a nos espreitar. Aquela dor no peito inexplicável; aquela insatisfação por algo que não sabemos ao certo expressar; aquele incômodo grande que, às vezes, temos de procurar ajuda especializada - psicólogo, para elaborarmos melhor o que nos sucumbe.


   Bom, sou suspeita ao falar sobre isso, mas com certeza, ela se torna mais suportável quando conhecemos a nós mesmos. Porque ela nunca vai deixar de ser uma companhia,  já que somos seres faltantes - e é essa falta que nos torna humanos. Podemos elaborá-la para que sejamos melhores pessoas e estejamos em paz interior e exterior.


   Escrevi certa vez uns poeminhas sobre tal incômodo, tal qual a via na maneira poética de dizer:


1) "MANHA DE ANGÚSTIA


Tento envolvê-la num invólucro
fechando todos os cantinhos
para que não haja espaço
dela fugir de mansinho.


Mas a danada é tinhosa
quer queira quer não
arrebenta   se faz mostrar
tem a força e nada se pode fazer.


Espreita  beira  faceira
ali está ela zombeteira
ri dos artifícios que faço
para me livrar do embaraço."


2) 
     "Feridas
     no canto exponho
     puro masoquismo
     do existir humano."


3) "DOR


Fui circuncidada por ela
desde que do ventre de minha mãe
escapuli (se é que é verdade,
pois com fórceps fui forçada)
ungida desde o nascimento.
Ei-la, a partir de então
marcada em mim pra sempre.


Humana e marcada
até que a morte nos separe.


Permiti sua presença constante
calada  aceitei  e fiz o que se
comprometeu - segui vivendo
corroída  sofrida, mas não concordante
lutava         luto         lutarei
mas com ela ninguém pode
só a morte é sua dissolução.


Marcada para sempre
até que a morte nos separe."


Com um pouco de graça a gente perde o medo e parte para o enfrentamento. Isso é que é vida... 


   





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

POESIA

   Na sexta à noite assisti no Telecine a um filme lindo, muito significativo. O filme se chama POESIA, é de 2010, escrito e dirigido por Lee Chong Dong, um filme coreano. Peguei o filme já iniciado, conta a história de uma velha senhora que vive com o neto (que parece problemático). Ela descobre que está com Alzheimer e recebe o diagnóstico da médica, que a informa que aos poucos ela vai esquecer o seu presente e começar a lembrar  do seu passado. A senhora fala que, às vezes, esquece algumas palavras, que elas lhe fogem. Esta lhe diz que ela vai esquecer primeiro os substantivos (o que é mais importante) e em seguida os verbos.
   
   É lindo e triste o decorrer do filme. Ela faz parte de um grupo de amantes da poesia. Durante todo o tempo ela se esforça para conseguir escrever um poema, mas as palavras lhe fogem. E a gente vê estampada em sua fisionomia o estilo oriental: humildade com a sua realidade, resignação com seu destino e coragem para continuar seguindo dentro de suas possibilidades.

   Depois de um esforço, ela consegue respeitar o ensinamento do professor sobre a arte de fazer um poema: "deixar fluir espontaneamente". Ela, finalmente escreve o poema, que é lido em sala de aula, sem sua presença, pois não compareceu naquele dia. A última cena do filme mostra uma menina em cima de uma ponte, com um grande rio abaixo (local que ela tinha ido tempos atrás) e finalmente a tela escurece e o filme termina. Ela fizera sua última escolha. O diretor soube poetizar lindamente a vida e a morte. Como é complicada a questão da identidade (a perda dela) e a possibilidade(?) de fazer escolhas quando se está com esta doença. Acho que num momento de lucidez ela escolheu a liberdade. 

   No sábado assisti ao filme que eu mais vi na minha vida... Adivinha qual é... AVATAR. Eu simplesmente amo este filme, vi mais de 20 vezes e até em 3ª dimensão, o que é realmente muito bom. Não sei o que vejo neste filme, mas ele me atrai. Será a exuberância dos personagens principais ou a sua paixão, coragem, luta pelo que vale a pena, ou??? Eu realmente acho lindo o amor dos dois, aquele sentimento de se colocar incondicionalmente no lugar do outro e procurar entender como o outro vê, sente e o diretor soube captar tão lindamente e num filme de animação. Todos riem de mim, mas não me canso dele.


03/03/2012
   Precisei fazer este adendo, pois finalmente nesta madrugada revi novamente o filme desde o início e penso que algumas questões que não ficaram claras pra mim, agora estão. Vamos Lá!

  O filme inicia com uma moça morta no rio. No decorrer do filme, descobre-se que ela sofreu abusos sexuais de seis garotos (um deles, o neto problemático da personagem principal) da escola em que estudava. A avó tenta levar o rapaz a pensar nas consequências de seu ato, bem ao estilo oriental. Percebe que não atinge essa finalidade e (não está claro no filme), denuncia o próprio neto, como forma dele pagar por sua inconsequência e auxiliar no seu crescimento como pessoa.

   A poesia que a velha senhora compôs, traz no seu bojo, seus últimos questionamentos e a sua despedida.

   Pronto! Agora está concatenado o texto acima e melhor compreendido. A partir desta releitura pode-se também sentir a fragilidade do ser humano frente a um outro que não contempla os mesmos valores e este se vê horrorizado frente à realidade.

   É realmente belíssimo o filme POESIA. Reafirmo.

EPITÁFIO

     Adoro a música dos Titãs: EPITÁFIO. Faz a gente refletir bastante sobre o que estamos fazendo da nossa vida. E pensando, quem sabe, agimos, não é mesmo? Mas também podemos ver sob outro ângulo... São considerações de uma pessoa que envelheceu, e, nessa época é comum repensarmos o que fizemos, o que podemos melhorar, ou o que remediado está... Sinais do tempo!

   Vou transcrevê-la aqui para você refletir junto comigo, quem sabe nos encontramos para bom papo e filosofamos a respeito.

"EPITÁFIO - Titãs

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer

Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer

Queria ter aceitado.. . As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria... E a dor que traz no coração

Refrão: 
O acaso vai me proteger 
Enquanto eu andar distraido
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se por

Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado... A vida como ela é
A cada um cabe alegrias... E a tristeza que vier

(refrão)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se por"

   Normalmente só lembramos de repensar, de meditar tais coisas quando estamos no entardecer, ou no anoitecer, porquê será? Talvez porque nestas fases estamos fazendo um check list do que valeu a pena ou não, e nos dando novas oportunidades de ver diferente; de agir mais leve; de ser humilde com o "possível" e até mesmo, seletivo e elegendo algo que valha a pena. 

   Essa música me ajuda a ser mais leve e a continuar cumprindo três lemas que trago e procuro colocar em prática: 
não perder tempo falando dos outros;

não ficar reclamando de dinheiro e

agir agora (não perder oportunidades).

   Assim vou seguindo o caminho até a hora chegar... Como ouvi de um cacique entrevistado na Rede Cultura, no Programa Awe: 

"Agora o meu trabalho é doce. Somente esperar a hora chegar." 

   A frase sábia foi dita após ele ter repassado a liderança para outro cacique mais jovem, o que é hábito na tribo. Bom, incorporei a frase do cacique aos  lemas já existentes e estou vivendo a vida mais doce.

AUTOAJUDA

   Li os livros do Roberto Shinyashiki, da Editora Gente, MISTÉRIOS DO CORAÇÃO (escrito em 1990) e AMAR PODE DAR CERTO (DE 1988). A temática dos livros é muito bonita e a capacidade que o autor tem de por no papel alguns sentimentos e angústias nossas é surpreendente.

   Sou suspeita em falar porque penso que sempre tive uma queda por leituras ditas "autoajuda". Gostava de ler na adolescência os artigos de Paulo Gaudêncio, Flávio Gikovate, Marina Colasanti, Marta Suplicy e outros. Desses escritos aproveitava o que considerava fundamental para uso e eles contribuíram na minha formação.

   Voltando ao autor Roberto Shinyashiki, seu primeiro (não sei se foi!) livro "Carícia Essencial" eu li quando jovem e adorei! A importância do toque no afeto, suas dificuldades, etc. E agora, li um capítulo de seu novo livro (dos muitos que ele já publicou) "Os donos do Futuro" e é muito bom!

   O livro "Amar pode dar certo" é lindo. A abordagem sobre o amor, entre um casal, belíssima e significativa. Conseguimos nos ver refletidos ali. E a busca do amor amadurecido que é a questão que nos faz ter esperanças no amanhã. Não é fácil alcançar essa posição, ela não é estável, imutável, é construção diária.

   A forma como o autor fala do amor considero que só possa ser alcançada após muitos anos de convivência e busca do amor compartilhado pelo casal. Somente quando as fases de competição, luta pelo poder, os jogos psicológicos que existem... Somente quando eles já estiverem se dissipado é possível alcançar a proposta do autor. Quando a humildade do outro, o respeito pelas diferenças, a aceitação do outro tal qual é e a alegria de ver o crescimento individual de cada um e a plenitude do estar só, sabendo que o outro está ali quando se precisar - isso gera segurança na vida a dois.  

   As frases que mais gostei foram: "amar pode dar certo"; "amar é o único caminho"; "A maior herança que os pais podem dar a seus filhos é o modelo de seres humanos felizes e de um lar pleno de amor, em que eles possam aprender a desvendar os mistérios da vida. Nossos filhos fazem parte de nosso   tesouro, representando as pedras mais preciosas que temos. Ajudá-los a se transformarem em jóias raras significa ensinar-lhes a melhor escala de valores, o respeito ao próximo e a consciência ética"; "Tenho a convicção de que você nasceu para amar e ser amado, e de que a sua felicidade consiste em realizar essa missão".

   Comecei a ler o "Sem medo de (ser) vencer". Estou meio devagar na leitura, mas estou achando interessante.

   Deixei de lado e li o outro livro dele (o qual só tinha lido um capítulo) "Os donos do futuro". Lindo! Como o autor consegue ser tão natural, parece que está conversando com a gente. Eu gostaria de ter escrito aquilo. Como sempre gostei do autor, sou suspeita, mas agora que terminei "Os donos do futuro", estou pensando em fazer nova leitura para outras reflexões, questões, etc. Amei o texto (acho que poema??) que tinha lá da Cecília Meireles que fala da beleza da simplicidade da vida e a felicidade. Até me inspirou a fazer um, veja o que saiu...

"O simples que me faz feliz

Acordar preguiçosamente
espreguiçar generosamente
energia para o dia.

Abrir a janela
sentir o ar que perpassa
meu corpo  minha alma!

Apreciar o jardim
por mim teriam apenas floríferas
aquelas cores me inundam.

Algazarra dos filhos
entre si
vida de irmãos.

Às 18 em ponto. Ave Maria!
Soam na Igreja do Horto.
Igreja da minha tia...

Aquela bela macarronada
estilo italiano
sugo e manjericão.

Amenizar o cansaço
naquele travesseiro
na delícia da minha cama.

Aumentar o prazer de viver
lua cheia  noite de estrelas
céu muito azul  chuva necessária.

Almejar algo em que acredito
mesmo que outros
nada deem.

Amar  rir  sorrir  cantar
gritar  por língua pra fora
ler  escrever  dançar.

II Parte

A mina d'água jorrando
os peixes na bela Bonito
natureza natural.

A simplicidade
o jeito caboclo de Pena Branca e Xavantinho
o amor Brasil de Boldrin.

A bela canção de Almir Sater
andar devagar
gostar do que se vê.

Auscultar o Gonzaguinha
no fundo da alma
entranhado nas canções.

Aquele pé de valsa
que te agarra pra valer
orgasmo na dança.

A beleza do sorriso
criança  moço  velho
esperança na criação.

Aurora  esperança
Brasil mais irmão
gente do Brasil."


   Também gostei muito das histórias que ele relata ao descrever determinados assuntos, podem ser bem úteis. Bom, terminado o livro, vamos aos próximos.

sábado, 3 de dezembro de 2011

SONATA PARA UM HOMEM BOM



   Eis a última descrição do dia sobre os filmes que me tocaram:

A VIDA DOS OUTROS


   O filme conta a história do período repressivo da Alemanha e a história começa nos idos de 1984 (tal qual o livro 1984, de George Orwell), onde a polícia perscruta a intimidade de seus moradores/cidadãos, com escutas e espionagens para todo lado, cerceando a liberdade individual e de expressão.


   O filme é lindo! E o personagem mais marcante e que encontra o seu verdadeiro eu é o homem que faz a escuta do que ocorre no apartamento de um escritor de peças de teatro. Ao participar da intimidade daquele casal, ele se dá conta da existência do amor, do companheirismo, da dor existencial de viver num país coercitivo e punidor.


   E é através da música "Sonata para um homem bom" que ele passa por transformações e se humaniza. Uma fala do escritor também contribui para a reflexão; quando, após o término da música, o escritor diz: "Será que um homem que escute esta melodia, bem no fundo de sua alma, não seria um homem bom?..." Parece que esse homem resgata o seu lado bom e realmente faz algo que transforma aquela realidade - não entrega o escritor para as autoridades.


   Tanto o livro 1984 quanto este filme me marcou extremamente. O filme "A Vida dos Outros" sintetiza de forma belíssima, mais esperançosa, um futuro que viria com a queda do muro de Berlim.


   O que me marcou no filme foi o "medo", o medo de viver, de estar sendo vigiado a todo o instante e os personagens souberam transmitir com tamanha beleza. E no final o agradecimento do escritor ao seu antigo algoz - por seu momento de lucidez humana. 


   Valeram as leituras magníficas do livro (um clássico) e do filme.

AO ENTARDECER

Eis outro filme que vi há algum tempo e as marcas que me deixou:

AO ENTARDECER

O filme relata as lembranças de uma velha mulher no leito de morte, nada mais a fazer a não ser esperar a hora. Nesse tempo retornam lembranças da juventude, os sonhos, os desejos de mulher, a esperança por bons tempos, o amor esperado, dentre outras coisas.

Houve uma cena no filme muito interessante: quando a Meryl Strep (Lila na história) responde à amiga (que é a velha mulher hoje, Ann) quando pergunta sobre Harris (que parece ter sido o seu amor que não prosseguiu):

"nós fizemos o que tínhamos que fazer". 

É uma frase interessante para se refletir sobre a vida porque normalmente temos tantas expectativas, sonhamos tantos sonhos, desejamos tanto tantas coisas maravilhosas para o nosso futuro e a realidade está aí e nos diz o que foi possível fazer.

Esse filme me marcou e espero viver bem o tanto quanto a personagem. Lila, a amiga, é mais convencional, formal, tranquila, conformada. Ann tinha grandes expectativas, mais romântica, idealizadora, sonhava ser grande cantora e parece que até ao final da vida estava insatisfeita com o destino, se cobrando muitas coisas.

Foi aquela frase da Lila e o reconhecimento de que ela cantara lindamente em seu casamento e de como tinha sido importante é que fizeram Ann encontrar a paz antes do último suspiro.

 Realmente belíssimo filme; retrata a personagem, que apesar de idosa, ainda encontrava-se numa fase imatura. É triste perceber que se vive tanto e até o fim da vida se vê resquícios de imaturidade emocional em nós.

REFLEXÕES SOBRE A VIDA

         
                 Algumas semanas como aposentada, me prometi que cada dia vivido será melhor que o anterior.

            Peguei o “computer” para descrever um filme nacional que vi dia 07/11/11 e não tinha tido tempo (???) pra registrar. O filme se chama “CHEGA DE SAUDADE”, de 2008, alguns dos atores são: Stepan Necessian, Maria Flor, Cássia Kiss, Beth Faria, Tônia Carrero, Leonardo Villar, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra, etc, dirigido por Laís Bodanski.

O filme retrata momentos de um grupo de terceira idade em um baile, onde todos estão lá com suas dores, seus desejos, suas limitações impostas pela idade, convivendo com os dilemas da vida, e bem ou mal, confidenciando com as pessoas ao redor (garçons, colegas de dança), buscando respostas às questões ainda sem respostas.

            Achei o filme lindo (quanta novidade, sempre que gosto de um filme, o considero lindo), muito triste e meio deprimente para mim que estou chegando aos sessenta e gosto de dançar. Aquele ambiente me mostrou traços superficiais e banais existentes numa casa de dança de terceira idade. Mas também mostrou muitas pessoas carentes de amor; outras mendigando carinho e atenção; reconhecimento como pessoa e decepção por ter que pagar por isso.

            A presença da acompanhante (Maria Flor) do DJ (Paulo Vilhena), muito jovem, aguça, atiça o desejo de um homem maduro (Stepan Necessian), que por um momento revive (ou tem a impressão de poder reviver seu tempo de auge) sensações da juventude.

            Também têm aqueles que estão ali apenas para se divertir. As mulheres me parecem ser as mais carentes (acho que tenho essa percepção porque nós expressamos mais os sentimentos) e numa casa de dança têm que aguardar serem convidadas para o salão, ou ficar ali na expectativa de um convite. Os aspectos passivo e submisso presentes; enquanto para os homens, naquele momento, com o poder de convidar quem for do desejo e agrado, mantêm o papel de poder, de decisão.

            Contei para minhas filhas sobre o filme, e como o aspecto da sujeição das pessoas me deprimiu e entristeceu. Ver aquelas pessoas com suas carências retratadas e no período em que estão mais fragilizadas, se sentindo feias, velhas, com rugas e carentes de afeto. Uma de minhas filhas respondeu com uma pergunta: “Isso não acontece em todas as fases da vida?” A verdade é que sempre somos seres carentes; sedentos de amor, carinho, afeto e em qualquer idade. Ali apenas retrata a vida como ela é, não importando a idade, pois com os jovens acontece a mesma coisa, o que muda é o tempo...

            Realmente é mais triste reconhecer tais lacunas quando se está na velhice... Na juventude as possibilidades estão a espreita e a energia poderosa. Como diz o poeta “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Adoro a frase e nunca vi algo mais verdadeiro.

            Ahá! Já ia me esquecendo de  uma das coisas mais interessantes. A cantora do filme é a Elza Soares. Magnífica, aquela voz rouca e vibrante, em nada mudou dos tempos em que fui assisti-la no Chico Mineiro. Continua divina sob o meu ponto de vista. Também adorei a Beth Faria, genial e veste muito bem a personagem. Clarisse Abujamra está excelente e traz misto de submissão e poder. Maria Flor, como sempre, meiga em sua juventude ingênua, e as atrizes Tônia Carrero e Cássia Kiss ampliam os leques de possibilidades na representação feminina. 

             Como já perceberam tenho mania de anotar as impressões sobre filmes que me afetam, que me angustiam, que me fazem parar e refletir sobre caminhos. O bom agora é que estou podendo publicá-las no blog.           

PENSAMENTO SOBRE O TEMPO

   Demorei a fazer nova postagem, heim! É que estava com compromissos e sem tempo... Estranho falar assim, não é? Ainda mais que tenho todo o tempo do mundo; claro, é só uma possibilidade complexa de vislumbrar o tempo.

   Na realidade a coisa não se dá assim de forma tão fácil. O tempo é SUI GENERIS. Tem diversos significados. Depende da postura de quem emite a consideração a favor ou contra. Escrevi nas minhas anotações de 30/09/2009: "ao chegar à minha aula de dança e enquanto esperava minha 1/2 hora, fiquei a folhear uma Revista Cláudia, out/2008, pags. 66 a 71 e o tema 'TEMPO" estava lá inscrito para breves reflexões. Gostei muito do artigo, pois apresentou diversas formas de ver e sentir o tempo... Poeticamente falando (traz Carlos Drumond de Andrade, Caetano Veloso, Einstein, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector), dentre outros que agora não me recordo o nome... Provavelmente sintomas do meu envelhecer... Esquecimento tácito e paulatino ao qual vou me acostumando... Ainda bem que publicado aqui posso também retornar a leitura e lembrar-me sempre. Eis algumas definições lindas para uma reflexão sobre o tempo:


"Para que tanta pressa e tanto receio? O futuro sempre nos chega a uma velocidade de 60 minutos por hora." Albert Einstein;

"Não tenha pressa. Mas não perca tempo." José Saramago;

"Dizem que o tempo muda as coisas, mas na verdade, é você mesmo que tem de mudá-las." Andy Warhol;

" O tempo é apenas o ponto de vista do relógio." Mário Quintana;

"Não há guarda-chuva contra o tempo, rio fluindo sob a casa, correnteza carregando os dias, os cabelos." João Cabral de Melo Neto;

"Tempo é um jeito de a natureza garantir que todas as coisas não aconteçam de uma só vez." Woody Allen;

"Talvez fosse melhor dizer que os tempos são: o presente do passado; o presente do presente; o presente do futuro. E eles estão na alma; não os vejo alhures. O presente do passado é a memória, o presente do presente é a percepção. O presente do futuro é a expectativa." Santo Agostinho;

"Eu já estive em um calendário, mas sempre estou atrasada." Marilyn Monroe;

"O tempo fluindo: passos/ de borracha no tapete,/ lamber de língua de cão/ na face (...)" Carlos Drumond de Andrade;

"A melhor coisa sobre o futuro é que ele acontece apenas uma vez." Abraham Lincoln;

"Meu tempo é quando." Vinicius de Moraes;

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era para sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba?" Renato Russo;

"Compositor de destinos/ tambor de todos os  ritmos (...)/Por seres tão inventivo/ E pareceres contínuo (...)/ És um dos deuses mais lindos/ Tempo tempo tempo Tempo" Caetano Veloso;

"Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa. Esses instantes que decorrem no ar que respiro (...) Quero possuir os átomos do tempo." Clarice Lispector. 


   Também na mesma revista, gostei do artigo "A Alma do Tempo", entrevista feita com o psicanalista junguiano, Roberto Gambini, autor do livro A Voz e o Tempo. Inclusive por causa da leitura é que busquei o livro pra comprar. Eis o que me marcou e trechos:

"Cláudia -  O tempo é o principal maestro da vida?
Roberto Gambini - Ele modifica nossa voz, entendida como a nossa expressão no mundo. Há pessoas, porém, que endurecem com o passar dos anos e não mudam mais. Para que o tempo transforme é preciso deixá-lo agir sobre você.

Cláudia - Foi assim no seu caso?
Roberto Gambini - A passagem do tempo me fez entoar a mesma canção, a minha canção, de modo diferente... Então surgiu uma visão mais profunda e corajosa. Eu tinha menos ilusão e mais precisão. Quem fez isso? O tempo. Ele me impulsionou a jogar fora algumas coisas, fez nascer outras.

Cláudia - Esse tempo tem uma qualidade diferente?
Robeto Gambini - Sim, é um tempo de conexão. Não é um período em que fiquei de braços cruzados. Descobri que a raiz da palavra ofício, que uso para definir minha profissão, é ophicium, termo agrícola para cuidar da terra. O tempo de conexão é isso: cultivar o que quero que germine. Meu livro é a resposta para perguntas que fiz a mim mesmo: como foram esses 30 anos como terapeuta? O que é a cura? Quais são as promessas de uma terapia? Só posso me basear naquilo que vivi e observei. Vi que o tempo trabalha sobre a árvore, e ela vira árvore. Eu quero ser como uma árvore.

Cláudia - A relação com a temporalidade depende das fases da vida?
Roberto Gambini - Sim. Na primeira fase da vida, corro junto com o tempo, não quero que ele me pegue. É como se eu fosse o primeiro da maratona: o tempo está no meu calcanhar e quero vencer a prova. Depois dos 40, 50 anos, devo deixar o tempo passar à minha frente. Não tenho mais medo dele e digo: "passa, tempo, passa, porque você me transforma e eu não fujo de você," Sei que meu tempo vai acabar um dia. Então, paro de correr dele e começo a contemplar as experiências acumuladas. Nessa fase, o grande objetivo é silenciar a mente para aguçar a percepção imediata. As mulheres que fazem isso envelhecem sem desespero e não dissimulam nada. Elas são íntegras, dizem a verdade e têm uma sabedoria estável diante da vida.

Cláudia - Há conflito permanente entre ação e contemplação?
Roberto Gambini - Sim, mas a obsessão pela ação é inútil se não houver uma conexão. É o caso de quem fica atrás de muita diversão, ou mesmo de religião, achando que está fazendo alguma coisa - pois a ação é supervalorizada hoje em dia. No entanto, essa questão também tem a ver com a idade. Não acho que quem tem 20 anos deve passar o dia contemplando, mas quem tem mais de 40, 50 ... Precisa encontrar tempo para ficar quieta, prestar atenção, olhar o que acontece em volta. Porque vivemos de uma maneira maluca, somos condicionados a nunca parar de acumular. Juntamos de tudo: dinheiro, experiência, conhecimento, sons, doenças, palavras, marcas, traumas... Chega uma hora em que temos que fazer a curva, começar a abrir mão, jogar fora o que não serve, dispensar. E também nos esvaziar de um monte de vozes, de discursos, de saberes. Isso serviu para nos trazer até aqui, mas é preciso se abrir para outras percepções, pois o acúmulo atrapalha. Eu observo minha pilha de coisas como se aquilo fosse a vida... mas a vida não é só isso. Ao nos darmos conta disso, mudamos a nossa inserção no tempo.

Cláudia - O motivo pelo qual se busca terapia mudou ao longo dos anos?
Roberto Gambini - Sim, as pessoas podem até chegar ao consultório pelas mesmas razões: perda, conflito familiar ou amoroso, mas isso está na superfície. Em uma camada mais profunda, o que mudou é que muitas esperanças do passado acabaram, porém o medo do futuro é enorme. Com os avanços tecnológicos, as pessoas agora têm a chance de viver mais e querem isso, e a pergunta atual é: como vou me virar neste mundo com tantas incertezas? Isso causa uma espécie de pânico rebaixado, que vem a ser um temor contido, do qual ninguém fala abertamente, mas que está sempre presente.

Cláudia - O que fazer?
Roberto Gambini - Lembrar quais são os valores fundamentais para a manutenção da vida, que é o nosso bem comum, supremo e finito. Lembrar que a transformação está nas pequenas ações, baseadas no amor, na tolerância, na paz, na ética. O que digo não tem nada de inovador, mas são esses valores que têm o poder de organizar o mundo confuso e criar novas posturas para enfrentar cada momento de incerteza.

Cláudia - A solidão é uma queixa típica do século 21?
Roberto Gambini - As pessoas sentem a necessidade de encontrar alguém que as conheça de verdade. Isso vem antes do desejo de ter companhia, de pertencer a um grupo, de ter parceiros para acasalar, até de serem amadas. Acho que a solidão é o estado de quem não tem ninguém que se interesse por conhecê-lo. O terapeuta , a cada sessão, faz isso, e nessa relação a pessoa, solitária ou não, também se conhece. Essa troca é de amor, que pode criticar e apontar falhas, mas não julga.
...
Cláudia - Quais são os desafios hoje?
Roberto Gambini  - Lidar com o tempo, ter prontidão para agir agora. Deixamos de viver o presente por estarmos apegados demais ao passado; sem permissão para renovar. Ou ocupados em projetar e acumular coisas para viver num futuro ilusório. Mas é preciso ser honesto hoje, porque as mudanças acontecem agora. Se quero fazer algo construtivo e amoroso, tem que ser já: esse é o antídoto para muitos sofrimentos.

..."
   
   Mas tais questões me levam ao questionamento "Porquê não posso descrever meu modo de ver e imaginar o tempo? neste instante me veio a mente o poema, meio estilo concreto (??) que saiu de repente, repentinamente:

"TEMPO

SEM TEMPO

COM TEMPO

TEMPERO

TEM TEMPO

EM TEMPO

CONTEMPLO

MEU TEMPO

TEMPESTUOSO TEMPO."

   Eh no fundo gostaria de ter uma definição do tempo, no caminhar maduro e integrado ao conhecimento existencial, vejo o tempo como oportunidade... Um fazer determinado, objetivo querido e construído a partir do querer ser!" A-D-O-R-E-I    minha conceituação e viva o tempo!

   Finalizando, repasso o pensamento de Aristóteles, filósofo grego, publicado no Jornal Gazeta do Povo/Paraná, em 28/11/11, que não deixa de mostrar o papel do tempo na vida das pessoas: 

"Considero mais valente aquele que vence seus desejos do que aquele que vence seus inimigos; pois a vitória mais difícil é a vitória sobre si mesmo."