quinta-feira, 31 de maio de 2018

INVEJA PECADO CAPITAL

   Hemingway Hemingway Hemingway ... Somente o que ouço o professor assobiar no ouvido, quanto a capacidade de escrita leve e direta, habilidade no uso de diálogo e contar uma história nos padrões contemporâneos.

   Adeus às Armas então é o romance que estou encarando. Leio, leio leio e vejo capítulos tão simples, e ao mesmo tempo com capacidade de fazer com que a vontade de continuar lendo permaneça. Nada de rebuscamentos, de complicadores, de argumentos mirabolantes. Então, Meu Deus, por quê a gente não consegue fazer isso. kkkk. Só rindo!

   Cada vez que leio Hemingway surge em mim um misto de inveja e gratidão, de amor e ódio. Sei, sei que é próprio de nós tais sentimentos contraditórios. 

   Nem poderia dizer ser uma inveja boa, dado que não existe inveja boa. Ando, então, perdida entre sentimentos positivos e negativos que pertencem ao cotidiano de todos nós.

   A inveja, a gente sabe de acordo com Freud, trazemos desde o tempo em que o seio da mãe se encontrava disponível para o saciamento. Quando não o estava, a raiva se instalava e as mordidas se faziam presentes na próxima mamada. Até que aprendemos, com a experiência a esperar... ou não.

   No fundo, fica mesmo é a gratidão por ele ter nos deixado tão interessantes experiências de escrita. E ódio também... E amor... Ciúme... Inveja... 

terça-feira, 29 de maio de 2018

TRAVESSURA NA ESTRADA


   Ultimamente deram para valorizar as experiências dos mais velhos. Cada vez ultrapassamos e muito os sessenta e histórias que antes não davam ibope, agora rendem boas risadas e muita aventura.

   Ella e Jonhn é um desses filmes e saí da cinemateca bem alegre com a visão dos casais que são verdadeiramente companheiros até o final. Este filme entrou agora em cartaz e no dia que fui assisti-lo me surpreendi, estava lotado - a maioria da minha idade, claro. Vez ou outra via-se casal jovem ou acompanhante juvenil. Não entendi bem o porquê, pois não vi nenhum marketing a respeito dessa película italiana/francesa de 2017.

    No Brasil a estreia se deu em 2018. E a questão do Alzheimer está presente. Durante ação a gente entende a surpreendente situação em que se vê o doente, num minuto tendo acesso às suas informações cerebrais de forma coerente, e, no minuto seguinte, já não sabe expressar o que quem como onde, completamente alheio ao que acontece ao redor.

   E isso, no filme, ganha o aspecto menos dolorido que a intensificação da doença nos apresenta. É ficção, é sétima arte, burilada a nos fazer ver a realidade de outra forma. Ella e Jonhn fazem os filhos se desesperarem com suas deliciosas travessuras que, no fundo, foram bem urdidas. Entendi, então, porque o cine lotou!

   Como não quero atrapalhar experiência de ninguém, sugiro que não deixem de assistir. Me fez lembrar de Elza e Fred e Amor... O companheirismo é fundamental na velhice... quando não o temos... Amizade supre!  Eu penso. Afinal não são todos que têm o privilégio de relação estável.

COMO NUVEM E FOGO... O AMOR

   É muito difícil amar. A gente comprova no filme Maudie sua vida e sua arte. De história verídica. Assisti na TV. Com a atriz Sally Hawkins, a mesma da Forma da Água. Ela tem uma doença crônica.

   Assistia ao filme e associava às semelhanças existentes na família.  Essa tal doença autoimune continua causando até hoje. Na realidade, essa doença crônica, sem cura, deixa rastros cruéis no corpo e num estágio avançado pode deixar a pessoa sem condição de se locomover.  

   Na fita, a personagem sofre artrite reumatoide juvenil. O diretor consegue fazer que a gente veja gradativamente a deterioração e as dificuldades geradas nas articulações e ossos. Mulher miudinha e corajosa. Tinha sonhos e os trouxe a realidade. A casa em que morava era colorida, e com mãos frágeis deu vida às paredes, vidros, utensílios, pinturas etc. Começando a comercializar pequenos quadros que ganharam o mundo. Autodidata, escolhia temas arrebatados por seus olhos durante a vida. E nos tons alegres dava a entender que, apesar dos pesares, era feliz por expressar-se no mundo.

   Tanto ela quanto o marido tinham o jeito suis generis de personalidade, que graças à convivência, cada um foi descobrindo a beleza do outro, aquela burilada no dia a dia. O estilo bronco do marido acabava sendo engenhosamente transformado por ela com o cuidado de artesã, aprendiz do viver com deficiência e não se aceitar deficiente.

   Mas acabou que concluí a reflexão sobre o filme com o artigo do psicanalista português, António Coimbra de Matos, numa deliciosa entrevista publicada na Revista Prosa Verso e Arte, através do Face. O link está disponível na rede. Com essa política quanto ao uso da Internet, não sei se poderia colocar aqui. Evitando dor de cabeça repasso caminho.

   Tanto o filme quanto o artigo foram me envolvendo e trazendo ilações na velha cabeça. 

   E no final, ela em paz, sabedora de que foi amada. É de invejar!   

quinta-feira, 10 de maio de 2018

REAL A QUALQUER ENVELHECER


   "...mais seguro do que a relação com os pais, que vemos partirem, cedo demais, para a velhice e a morte..."

   leio no conto de Arthur Schnitzler (1862-1931), Fuga para a escuridão, pág 206, Contos de Amor e Morte, Companhia das Letras, 1996. Não consegui ainda caminhar na leitura. Dentre afazeres, o trecho ficou marcado na mente. Comentei com filha de como a frase é verdadeira ainda no século XXI, por mais que o envelhecimento seja retardado, a gente sente as transformações da idade.

   Pensei comigo que iria rebater, que era pessimismo e exagero de minha parte. Mas não, começou a dizer como percebe que está perdendo os pais para a velhice... cada dia esquecidos do que já contaram, perguntas que se repetem, falhas no ato da linguagem, não lembram nome de ciclano, fulano, disso, daquilo etc etc etc. 

   E continuou... de repente ... ficaram velhos. 

   Que podia fazer. Concordei ipsis litteris. Disse que é o que acontece quando se está vivo, passando dos sessenta, por mais que aparência seja saudável, a pessoa seja dinâmica, sem problemas sérios de saúde... alguma coisa acontece que gira a roda e ela se torna insegura das verdades.

   Pois é, quem não passa por isso já morreu, se vivo está e diz que não, olhar entre quatro paredes... estampado e transparente.

   Levanto da mesa e digo: aos projetos, afinal ainda dá para viajar, ler, dançar, escrever, rir muito ... 

   Sem preconceito desse estágio! Olho no espelho e gosto!

terça-feira, 1 de maio de 2018

QUAL VISÃO?

   Não tem escapatória. Último dia de abril, não há como passar em branco o mês. Confesso, estou em maus lençóis atualmente. A escrita vem tomando dimensão de obrigação. Escrevendo toda semana, mas receosa na postagem de tais textos.

   O uso da ficção tem feito sentir o drama na composição de personagens e a responsabilidade pela elaboração num ritmo coerente, visando escrita limpa, direta e sem tanta explicação. Tal processo tem levado a reflexão sobre a produção.

   A exigência de leitura e mais leitura, a criticidade no processo de feitura, de edição, de compromisso com a língua, a oralidade, faz que impasses interfiram na dinâmica, que se pensa fluente, mas não. Desemboca numa cobrança interna.

   Juntando tudo, ainda existe desculpa para paralisar trabalho. Fuga das ideias e ambiente. Dúvidas e questionamentos despontam como cacho de uva. E juntando o amontoado, faça-se pausa.

   No fundo no fundo é hora de "uma solidão de verdade", plagiando Christian Dunker em Reinvenção da Intimidade, Políticas do Sofrimento Cotidiano.