quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ENTUSIASTA, O BOM DA VIDA

   

   Último dia de setembro, a primavera deu o toque germinativo com as frentes frias, trazem a chuva necessária ao arejamento de tudo: ar, terra, água e nós, humanos, que respiramos a vida gotejante; isto por estas bandas. Enquanto a minha querida Beagá do coração anda lá sufocante, cada vez mais embrenhada de calores, consequência de desmatamentos que vem sofrendo a tempos. Até o pobre Francisco geme em sua frágil nascente nas terras mineiras da Serra da Canastra. Uai, que trem mais triste, sô!

   Neste setembro assumem as mudanças, novas atividades, visitas esperadas transformando o cotidiano com a conversa jogada fora a quem nos quer ouvir e falar. É bem bom receber visitas. Com isso trazem um pouco do "conversê" mineiro a que sinto saudade.

   Mas me apaixonei por Floripa, meu lugar de escolha para viver e usufruir da beleza natural até que a dona morte dê as caras empapuçadas. Viver na Ilha de Santa Catarina é um privilégio.

   Aproveitei a sexta e sábado últimos para participar de deliciosa oficina de contos no SESC. Tão poucas horas e um aprendizado muito interessante acerca da incrível arte de escrever contos. A partir de imagens o professor instigava os alunos a produzir a escrita e nos entremeios, jogava as dicas fundamentais, porque afinal, não existe receita. Os toques somam na tentativa diária de melhorar textos. Experimentações que na prática ampliam as possibilidades de transformar a realidade, a nossa falta, o eterno vazio que vigora em nós.

   Conselho do professor, escrever, escrever, escrever, colocar no papel, transformando o vazio hereditário que existe em nós. Com a escrita tomamos posse desse oco que poderia redundar em solidão numa vida rica e cheia de gentes, aventuras, lugares exóticos, histórias que transformam o viver dos que aderem a necessidade da escrita.

   Porque afinal, com diz Dalton Trevisan, um bom conto é pico certeiro na veia. Ando correndo atrás da inspiração que é escrever, buscando o bom.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

PESCANDO A PRIMAVERA

   

   Que delícia de segunda feira! Meus ares já estão dando mostras de sair da hibernação que o inverno impõe. O respirar da primavera que sobrevoa faz constatar que a estação traz em seu bojo auréola de vivacidade e luz. Bendita!

   Foi um dia de trabalho normal. Que alegria ser útil, constatar que a psicologia continua a enriquecer encontros. Retornar a ativa após o merecido descanso é salutar e prazeroso. Trabalhar faz bem, principalmente quando ainda por cima pode-se ter flexibilidade e escolha de horários. Muito bom.

   Enquanto isso por aqui, Floripa, o El niño continua a influenciar o ritmo da brisa, que suave roça o rosto, alterando por completo o significado do inverno. Ontem fui à praia e me assustei com a quantidade de gente e um diferencial; muitas, mas muitas pessoas, homens e mulheres, pescando com vara e anzol. Nas camisas estava escrito clube de pescadores. Nunca vi tanta gente preocupada em lançar, recolher e caprichar na isca compenetrada na atividade.

   Fiquei a passear e molhar os pés n'água, claro, quando os pescadores assim o permitiam, pois tive que disputar espaço entre linhas para forçar uma caminhada enérgica. E como valeu, voltei pra casa reabastecida de energia e num pique de agradecer pelo dia. Igualzinho indico pros clientes, a caminhada, dentre outros esportes, alavanca a vontade, faz a respiração tomar o ritmo necessário para o saudável. Excelente.

   Aconteceu uma fatalidade na área que ouvi falar: um casal já maduro praticava exercícios andando de bicicleta pela redondeza e, de repente, o homem cai e não mais se levanta. Triste, claro. Mas achei o modo de morrer tão bom, uma boa morte. Estar praticando exercícios físicos, curtindo um lazer prazeroso e neste néctar se embebedar pra sempre e não voltar. Quantos em camas de hospitais a sofrer, aguardando a derradeira hora, meio a aparelhos limitadores, a situações de resignação que humildemente precisam ser aceitas.

   Me lembrei do filme de animação que assisti chamado Festa no Céu, 2014, de Jorge R. Gutierrez, excelente, e lá a dona morte aparece zombeteira e pregando peça num argumento bem interessante, o triângulo amoroso. Gostei do jeito da heroína, fazendo valer a igualdade de gênero. Vale a pena curtir e com certeza, passar a encarar de forma diferenciada a questão morte na nossa existência. A leveza com relação ao tema traz um aspecto lúdico que dificilmente se consegue em muitas películas.

   As coisas vão acontecendo na vida da gente sem que a gente possa intervir, às vezes, podemos, como meros espectadores, ver e viver a situação inusitada, e só podemos desejar o que diz a música dos Titãs, Epitáfio, pedir que o acaso nos proteja.      

domingo, 13 de setembro de 2015

TODO DIA É DIA DE DANÇAR E REZAR

    

   Estou leve agora, depois de uma semana promissora. Ares de novos compromissos e ocupação do tempo com algo que o mereça. Mesmo assim ainda encontrei prazo para rever o filme com o Richard Gere, Dança Comigo, que revi não sei quantas vezes e o ator, sempre que aparece em algum lance, deixa qualquer uma embasbacada, que delícia, que maravilha é aquela (repara não, coisa de mulher mesmo). 

   Sei bem, filme é sonho e naquela hora, deixa eu sonhar rsrsrs. Sei que já comentei a respeito deste filme, nem sei mais o título da postagem, mas penso que não prestei atenção para o que comento agora, quando ele disse à esposa o motivo de ter escondido que fazia dança de salão. Ele disse que era feliz, que tinha um casamento feliz, mas que era infeliz às vezes, sem saber porque, e ela não tinha culpa disso. Com medo de estragar o que era perfeito para ele evitou contar como se sentia.

   Parece que certa insatisfação no trabalho somou-se às questões existenciais e por uma sequência de acontecimentos, adicionaram lenha à fogueira do desejo, do prazer por fazer algo que deixa corpo, mente, coração, em estado de graça.

   Como é complicada a danada da relação a dois. Como não se dialoga nos momentos necessários e quantos silêncios vão se formando, como trabalhos de Sísifo, não conseguem chegar a bom termo sobre "n" interrogações, que vão crescendo, crescendo, e é preciso constante retomada. Como se começo fosse sempre começo, sem fim, sem meio, sem início, ah, que loucura, me perdi.

   Entenderam, espero. É preciso rezar, rezar pedindo socorro para entender o que se passa na cabeça de mulher, de homem, de um casal. Socorro! 

  Nem Sísifo com sua inteligência conseguiu ficar livre do castigo. Nenhuma relação sem diálogo também não. Cria musgo!    

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

BAIXOU O SANTO

   

   Vez em quando leio algumas postagens antigas, sei lá o porquê, acho que para procurar erros ortográficos, dar uma melhorada na linguagem, ou mesmo simples olhadela sem qualquer intenção.

   Começo a ler uma delas e me deparo com algumas perguntas que passo a me fazer. Ou, após a leitura eu me pergunto se fui eu mesma que escrevi, sei lá o quê, o conteúdo, naquele momento, estava servindo para eu me antenar e refletir sobre determinado tema que incomodava. Foi o que aconteceu hoje.

   Estava a cata de erros ortográficos e o título de uma postagem me arrebatou. RETRATO DO ENVELHECIMENTO. Passei à leitura do texto que traz uma riquíssima poesia da Cecília Meireles. De repente tudo, tudo ali descrito é como estou a perceber: a perda do brilho do olhar, as mãos frias, a perda do viço, o riso que não desabrocha, a espontaneidade indo, a não aceitação de que tudo está passando rápido demais, em que espelho eu me perdi etc. 

   Atinei. Meu próprio texto sendo salutar pra mim. Verdade! Naquele momento eu estava a precisar daquelas palavras, pois era como eu me sentia. De vez em quando baixa o santo, a realidade se torna cruel além da conta, as cobranças que se faz... 

   Sei que o envelhecimento, suas marcas, pesaram de repente, me tontearam, e humana me senti entendida nas palavras ali deixadas. Dei um suspiro e me aliviei. Alguém sabia como era estar naquele estágio.

   Nunca é tarde para se prestar atenção em si mesma. E noutras palavras, de outro escritor, me botaram o prumo, "o primeiro amor tem que ser amor por si mesmo". Roberto Assagioli (1888-1974), psiquiatra, fundador da Psicossíntese, no livro "O Ato da Vontade" expressou a importância desse aspecto, muitas vezes, deixado de lado por nós na corrida vida.

   Queremos abarcar o mundo e quando percebemos as forças se esvaem, a gente está cansada, cansada segue em frente. Afinal atrás vem gente. 

   É preciso uma vontade forte, forte mesmo. Voilá!   

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O HOMEM É O LOBO

   

   Chegou setembro! Adoro o mês que inicia a primavera e já vou fazendo contagem regressiva. É verdade que este inverno não está lá essas coisas, não se pode reclamar. Temperaturas acima dos 20 graus e até semana com 30 graus diariamente. País tropical, sabe como é! Apesar do El niño interferir em todos os lugares da terra é provável que até em zonas geladas haja novidade.

   Está muito difícil ultimamente ter inspiração poética com as catástrofes que são de conhecimento. O sofrimento dos refugiados, mortes por descaso político, a crueza no tratamento de pessoas que nada têm, e, mesmo assim, a corrupção e o querer levar vantagem com a desgraça alheia em alta. Somos mesmo o lobo do homem. Fazemos mal a nossa própria raça. Desanimador. Detritos pelo caminho. Não se salva nem governantes que deveriam erguer a tocha da tolerância. Argh, dá nojo.

   A foto daquela criança que foi manchete. Triste, muito triste. Quantos africanos também perderam a vida e de suas crianças nessas travessias. Triste, muito triste que a miséria exista e persista em pleno século XXI e os imperialistas nada forjam para o desaparecimento.

   Forjam barras de ouro, forjam diamantes, o rico petróleo, mas forjar mudanças, ah, longe de acontecer. Vidas ceifadas de dignidade e sob o olhar do mundo mega ultra globalizado. E lideranças... mega ultra cegas globalizadamente?

   "O homem é o lobo do homem". As manchetes estão aí pra ninguém duvidar.