caminhada firme
sob luzes do farol
no qual
me enfronho
ANOITECER
deixa eu te respirar
enquanto vida existe
abraços a leve brisa
a beira mar
cheirando a peixe
enquanto puder
deixa eu te sondar
no íntimo de mim
cavacar com mãos
sôfregas e urgentes
labirinto em construção
impõe como branda
suave como deve ser
gado humilde
preso em pasto
no fundo mais fundo
voraz chifre
cornu
transgride a cornucópia
artigos parágrafos incisos
empurram goela abaixo
falsa modéstia
falsa vestimenta
abundantia
de podres poderes
da fofoca ao profano
na cabeça de tolos
na assembléia eleita
enfileirada de chifres
vestindo-se ovelhas
molha o coração
orvalhado de frieza
embotado em si mesmo
nessa dor mente ciente
mente
sobrevivente às margens
de lodo e gosma
sem sobra de nada
amarga
mente
feito barco a velas
desenhado no céu
vapt vupt
e como anda depressa
a vida
a ser vivida
Dela
ninguém
sai vivo
esqueci de novo
um clarão, branco lacunar
baila frente a mente
como se no Japão
lanternas amarelas em tons "cheguei"
pregassem peças pecadoras
não respeita ninguém
será veio pra ficar?
duradouro?
branco?
o negrume da realidade
cristaliza cabeças cãs
se se perde a ilusão
a vontade de amar
a crença no compartilhar
é quando:
sozinho.
Foram-se todos
já não se vê ostra prateada
nem o brincar com bolas de neve
forasteiro de mim
encontro o destino.
Existe palavra secreta da vida?
é possível sonhar...
Ser humano é
espantar-se
com o ser humano.
como vida de gente
desprende lama, pedras
se transforma em sete quedas
ou pororoca
buscando no passado
entendimento do curso
arranca pingos
cachoeiras
enchentes
rasgo em pedra
cicatrizes pelo caminho
que nunca
é o mesmo
Eu tenho que ir!
A vida é tão complicada
Não!
A vida é simples
complicada sou eu
tenho que ir
encontrar rios
velejar águas
o fundo, onde está?
A vida é amarga
a vida é doce
agridoce
a vida é surpreendente
tchau!
Quero dormir até tarde
não me acorde!
Boa noite.
vem o amanhã florescer
no transformar de gestos
no aceite de gostos
cada hora com su' aura
vezes enfumaçada e turva
noutras tão vivaz e pura
nem criança em candura
que trazes algozes notas?
acabrunhados tons cinzas
no devir de névoas viventes
a cortar o silêncio errantes
inverno
sintomas
de quando
quando a
primavera
chegar
quando o
sol
raiar
tarde cai
cinzenta a
emolumentar
a
paisagem
figuras em transe
perene
lembrança
quadro na moldura
pendurado na parede
mofando em armário
enfeite em cristaleira
natureza morta
déjà vu
Somos bosta.
de repente essa clareza
descerra verdadeira
no caminho entre a casa
e o fora dela
o demoníaco
se apodera de mim
que dizer
a respeito do mundo
Viver é a tônica
numa relação
escancaradamente humana
aglutina o impensado
a surpresa a voracidade
pelo novo inovador.
O sair da rasa cotidianidade
às raias do que surgir
apego não mais
a rotina já o é em demasia.
Vamos às tecituras do surpreender
porque o desconhecido
a partir da palavra
Ah! Como fascina!
quero dormir!
abandonar-me em névoas
sonolentos embalos
sonhar campos e
céus e sóis e nuvens
quero descansar
ao remanso do mar
jogada ao léu
lado a outro
neste devaneio
não quero acordar!
daçá-la?
hora mágica
tonteia
que é isso?
que prende?
que pune?
é para ser libertador
amor-
daçada completamente
na dor de amar
talvez encontrássemos a verdade
o amor que move céus e terras!
Pouco a pouco
privados de luz
transformados em algo inerte
alheios à ordem divina do universo.
Ao desviar da luz
decomposição lenta e progressiva
infalível até fundo d'alma.
Perco a capacidade de ser
você me acompanha por orgulho
nos eliminamos da possibilidade de ser humano.
E assim, embotados
seres medíocres
seres ignóbeis, abjetos.
Eu não te procuro
você não me procura
Nós não nos procuramos.
ainda há tempo
amor que fervilha
na LIBERDADE
não alcançada
almejada
mesmo que inda tarde
há tempo
tempo de produzir
transformação
luta dialética
de pouco ser
de pouco fazer
coragem
a ti, a mim
meus irmãos
desejo não grassa
a graça é ação
história
em nossas
mãos
amante desejada
te deixar em trapos, farrapos
amor delirante.
Quero ser pra você
torrente indolente
amor sem regras
a querer mais e mais.
Quero ser pra você
colo abrasador
aconchega seu rosto
cansaço do gozo.
Quero ser pra você
o que quiser que eu seja
na penumbra
que se quer alante.
Quero ser pra você
mais do que sou
transparência de ser
tudo... sabendo não ser.
Ser pra você
amor e desejo!
continua a tê-la
já não tem idade para isto
mas a imaginação
clama em voz alta
reza que não termina rosário
sede que enfrenta desertos
um não sei que que motiva
luta mesmo que sem razão.
surgir do nada
surpreendente
quente
avermelhado
ainda me sentia criança
aos sons de sinos inocentes
raio luminoso
laminado
sol quente
envolvido de cor e brilho
duma tarde outonal
nos brios de
agosto
a todo gosto
num contraste em bem
e mal e bom
cíclicos no domínio
do viver lamurioso
de passos passados.
Ser sua tristeza
de lembranças menores
de vivência sem cor
imiscuindo-se em
cantos nostálgicos do
rancor dor gozo.
Ser sua alegria
desdenhar prazer
expresso na pele
em gestos malabarescos
de um palhaço
que só deseja rir.
MARULHAR DAS ONDAS
ao som de ondas
esvoaçantes na areia
praia sequiosa de desejos
lânguida mão
experimentando movimentos
gemidos em suave som
deixando o prazer
fazer-se por gestos.
Ouça o barulho
barulho que bate
volta e se esvanece
acalenta e enseja um gozo
busca de algo
seguramente seu
a inspirar fome
desejosa de ser
ser inteira
no uso do sentido.
Escuta o ruído
ouvido atento
ao grito solene
de um mar revolto
nada sóbrio
nem tenaz
mas que arde
e queima e sequestra.
Sinta o toque
aveludado a deslizar
ânsia do querer
som lancinante
a esvoaçar em corpo
sussurrar ouvido adentro
mostrar o sobrevivente
em terrenos férteis de
impossibilidades.
não sei se
estarei aqui
amanhã!
Estou sem energia
o lodo da voz
assomou os
meus ouvidos
cansados.
Alquebrada
de visões estonteantes
lúgubres, romanescas.
Quero dormir!
mas quem disse
que do reles
não nasce poesias?
que dores
não são sentidas?
que a musicalidade
anda sem cor?
que amores
não são cor de rosa?
que odores
são ares comuns
e não inspiram
flores nos suores diários?
que não ambiciona
por um bom telhado,
conforto e tranquilidade?
que luta sem perspectiva
acreditando em doces impossibilidades?
Também o reles
é sonhador de campo de trigo.
Minha Adorável Misteriosa
beach
languidez permeada de azuis e
greens
como vai você em ritmo
sunshine?
corpo samboleante em quentes
sands
suor em águas calientes de
salt
desfila na tranquila e quieta
location
nada de sons estridentes aos
ears
excessos somente às brincadeiras
around the beach.
caminhando desgringolado
por estreitas paisagens
sombrio em ébrias nuvens
solitário em mundo de sonho
duas visões se refazem
em nubladas emergências
de luz e opacidade perenes
estreitam a realidade lábil
espectro a espelhar transição
do homem-mulher trajado
delírio em rios profundos
a instalar novos moldes
some e aparece sem escolha
desconcerta a vida reinante
duo vivendo ao mesmo tempo
num tempo ermo desumano.
CONJETURAS
símplices como o sugar de uma bala
amargo como o fel em seu ardor bilíaco
que se dirá do que enleva o amor?
doces ou cruéis dizeres de todo amante?
o que tem você a oferecer a Ele?
prefere a ousadia do maiúsculo ou um reles
traquejo, um sei que que jorra no peito,
um frio, um grito, o horror espectro na tela
ou jaz para sempre em peito gélido judiado
pela pena de ser apenas humano?
extraordinário receptáculo
cristalino brilho envolve
olhares absortos, em transe
volúpia transgride a pele
estarrece emoção sem dó.
jogos em lances geniais
retratam labirintos vis
vã façanha do grotesco
humano em inundar
a real/fantasiosa história
são ou não contos de araque
de carochinha ou vilanias?
despontam em gotas cruéis
façanha e fel por demais
como sugere Poe em ato.
cheiro. aroma no ar
vapores penetram
nos sons da casa
trabalho de artesã
mãos amorosas
desejosas. arte
arquitetulinária
surpresa. na cozinha
vibrando sabores
desconcertantes
deve-se obedecer
receituários vis
de outras mecenas
diabetiscinais?
Somente Freud explica
que sinto por minha mãe
dor do corte do cordão
despertar sem sua presença.
Foi-se... numa noite escura
rastros em meu coração
nas sombras de sonhos
presença de meus atos.
Sinto o cheiro carinhoso
estar com jeito matreiro
cuidado extremo presente
coragem enfrenta a lida.
Jeito seco e dificultoso
herança de difícil expressão
carinho reprimido
sedenta e fugidia emoção.
menina
imagem apagada
vestida em farrapos
agarrada à boneca
de pano
Pela fresta
inocência
doce sabor
gritos e risos
brincadeiras
junto ao bando
Pela fresta
doce lembrança
de um tempo
místico, tímido
miúda e atrevido
encanto
Pela fresta
mocinha
raquítica, medrosa
olhar assustado
corre pelo mundo
profano
Pela fresta
virgem ingênua
retraída
risos há de ter
candura a palpitar
canto
Pela fresta
ilusão intacta
em fotonovelas
sonhos e planos
aguçando
remansos
Pela fresta
corte fatal
vil paisagem
morte inocência
em traje banal
resvalando
Pela fresta
mulher
carne viva
transita
jogo de cartas
embaçante
Pela fresta
arte teatral
desfia risos
dança o ritual
máscara
personificante
Pela fresta
caminhada
entre perdas
e cantos
ente em combate
sedente
Pela fresta
eureka!
descoberta
do eu
escolha e voz
arfantes
Pela fresta
velhice
sulcos, rugas
risos e cismas
peso a transitar
reinante
Pela fresta
sensatez, brilho
viva à liberdade
de um tempo
azeitado
latente
Pela fresta
muitos risos
diversos risos
contagiantes risos
rio
corrente
Pela fresta
a
atravessar
a
porta!
na solidão da escuridão
em qualquer esquina
como cão sem dono
quem pode dizer que não é
na busca de um dono
na incerteza de ser
cão do próprio destino
abana o rabo
deposita certeza
na incerteza de outro
que também procura
cão domado
estereotipado
para ser dono amado
abanando submissão
sem exclamação!
espera absorto
preso a convenção
do dito de uma nação
abracadabra!
nada de dono
cão abandonado
loucura é saudável
e no seu abandoar-se
procura a si mesmo
espiralados
ponto ao outro
fechada simples!
o paladar pouco aguçado
a receita não saiu como deveria.
Mas para que receita?
apenas o básico se copia
o mágico se constrói
às severas dores de parto
ou horrores de pedras
nos rins.
Assim é desde a eternidade
histórias de deuses e heróis
de trabalho e de guerra.
Acalanta a calma
deixe-a sombreada e regozijante
oferenda de luz atravessa ar
terra água mar
transforma
angústia em poesia.
que me amortece
me embambece
me instiga ao novo
à mudança.
Que frio é este
na barriga
na ânsia
na briga
por comida.
Não a comida
contida na mesa
mas a falta dela.
Sim, o desejo
o lampejo.
Por pratos de comida
devorados
aos quatro cantos
é preciso além
poesia.
Que mostra
que esconde
que se pode sempre
se quiser
quando quiserem.
E a urgência
mais que profunda
se aprofunda
no mar de desiguais
em extremos.
NOVIDADE DE LA CITÉ
concreto em contraste ao céu
brilho da estrela sol invade
janela através da vidraça
de um lado, projeta desejos
do outro, segredos a desvendar
tantas chances, tantos caminhares
leigo na estrada, apesar dos pesares
teima na curiosidade, imã a guiar
astros, ventos bóreas e nótus,
histórias em ricas construções
eras medievais em sua lide
pássaro em seu voo!
Arco do Triunfo - Paris |
vem alegre em dose ingênua
doce enleio a se concretizar
profana esperança, anseios.
Caminho na franca brisa
vem leve em câmara lenta
dose envolta sem covardia
profana ousadia, galanteios.
Flerte no gozo prazeroso
vem brilhoso no dom de fé
dose especular sem receios
profunda imaginação, semeia...
Não é muito ruim. Não é muito bom.
Há! o envelhecer
constatação em sentinela
presente nas mais simples odes
dias em que percalços se somam
entremeios de assombro,
arroubo? porque não!
Quem disse que tem que ser triste?
mesmo ao som de estralar
ossos e articulações sem óleo pungente
tambores de carmem
a ricochetear ao balanço
sabores da quarta idade.
Há que se aceitar dores
dolores deste tempo.
Escultura em cerâmica PIRACEMA Artista Maria Sílvia Boaventura |
ele não vem!
nos enleios
o futuro
assim
não
embalam doce enleio
Visão de mundo
de ipês em cores luxuriosas
despetalando suas flores.
O concreto toma vida
na avenida que transita horas
chão de asfalto adornado.
Pessoas em transe de afazeres
espíritos ausentes do inusitado
alheias às poesias que gotejam.
A Contorno em graça iluminada
na bucólica alameda exuberante
de lindos ipês que não vergam.
Viva entre as pedras e flores
no burburinho da vida
a primavera exala na Floresta.
Instituto Brennand, Recife - Pernambuco |
estampado aqui o está
mais do que isto que encontras
nem eu o sei o que é
Haverá mais entre as linhas?
Bisbilhote se assim o quiseres
estou nua à tua frente
nas palavras que me habitam
sem as palavras que me transmitem
nada mais que um corpo sem alma!
nada mais que um corpo sem quilates!
FORÇA DO DESTINO
sempre a balouçar sobre transparências
voals de sonhos e possibilidades.
Que forças possuis, destino!
agarra-me de jeito constrangedor
câmbio de caminhos certos e incertos
tropeços de armadilhas diárias
no grande berço da vida.
Que forças possuis, destino!
contraste do sonho desejado
à querela geral em toques febris.
O que queres de mim, destino?
ser possível mundo melhor
risos e olhares de boas intenções
purismo transparente de ser
verdade como instrumento de fé.
Vivo de construir castelos
além dos de areia, sempre comuns
construções de quimeras possíveis
no turbilhão do enfrentamento real.
Vivo realidade de etéreos
esperança nossa de cada dia
do bem do bom do mágico
corações abertos à transformação.
Vivo abduções alienígenas
fugas audazes sem culpa
paraíso de sonho de todos
transita vasto domínio.
Vivo de viver de poesia
na intensidade do desejo
de ser eu mesmo por inteiro
a permear a página em branco.
NOITE DE OUTUBRO
latidos de cães ecoam
início de noite lenta
suave movimento
que prediz a cigarra?
por que latem os cães?
soçobra em ondas
mar negro da noite
outubro vislumbra
chegada de fim
ano que ameaça
ir-se ao vento diáfano
Artista Josélio Tupi... Dimensão espiritual e divina! |
tamanha gana
desnecessária
sonar leve
acomoda melhor
corpo e alma
dimensão lírica
potencializa
vozes ancestrais
torrente de leis
expressando
sopro divino.
horas suaves no deleite da tarde
dedos numa escrita incontrolável
expressa sentimentos
inteira e compenetrada
afã de posse de palavras certas(?)
busca amenizadora do trivial e comum
revisita o eterno embalar
poesia a imiscuir-se na roupagem
perpetra ânsia e gozo pelo significante
confronta consigo mesma sendo outra
em trajes de sanidade e loucura.
festa da primorosa data
almas em eterna harmonia
torrente de força e desejo
brinda a vida que se faz autêntica.
eu não sou eu
sou Fernando Pessoa
em sua dubiedade
sou Drumond
na crueza de suas pedras
sou Clarice Lispector
a infundir-se ao fundo de mim
sou Porfírio no seu grito
nu e cru de nossa realidade
incrustada de todos
todos incrustados em mim
assim povoo sonhos
desejos dores verdades
dialogação insistente
diversas vozes.
LUZ PRIMAVERIL
liberar-se energicamente em ondas
sensível aos toques envolventes
ouriça-se e inicia a ordem de posse.
Etapa contagiante estampa cor
veleja na ardente ventania
norteia olfatos e cheiros alvissareiros
perpetua enigmas à flor da pele.
Perfume a não se conter em frasco
débil fragilidade a desgastar-se
vivência etérea comporta ciclos
radiante lide em poderosa corte.
Pequeno ser se deslumbra
entrega-se à instância do prazer
lastra poder ronda espaços
impregna invisível verdade.
Oh, radiante luz me consuma!
ao mais fundo de mim
transparente abdução iluminada
sedente e desejante traje.
LUA AZUL
interrompe meu simples viver
esperança a me balançar
acalantos do viver sonhador
cheia imagem
zomba de mim, pobre humana!
deleita seu gozo em troféu prateado
magnífica a triunfar em biênios
quero-a inteira a me incorporar
ânsia do sentir-me completa
querência do poder absoluto!
TRANSGRESSÃO
que a nós nos parece sempre igual?
como não buscar o indefinível
projeto arduamente almejado e leve?
cheiro de mofo e de guardado
transpira azedo o cotidiano de horas
desdenha sonhos e cantos
exigindo monta atenta vigilância
mudança da energia incorporadora
perfume do ir além de nós
escolha que beira à loucura
ânimos de possibilidades
desejos e vãs descobertas
dialéticas questões alegre leniência.
instável onda latente
fleumática ambienta-se
do sentir fresco, entregue
vem em ondas liberdade
transgredir tal realidade
afronta a totalidade
tornar-se capacidade
energia resvala olhares
sedimenta conceitos reles
movimenta auge teares
aparente constelação.
BOM DIA, VIDA!
mãos sedentas buscam a visão matutina
ruidoso barulho dá a dimensão do esforço.
Bom dia, Vida! aclamação espontânea
Lá fora cores, luz, verde, cantar, ar
lento desenhar de novo dia em projeto.
Bom dia, Vida! pronúncia combativa
energia simbólica e desejada conquista
hoje que foi amanhã e depois será passado.
Bom dia, Vida! indescritível existir
pontua escolhas, decisão finalizada
caminhada em ardência e pontilhados.
Bom dia, Vida! Exala grande maestria
significantes linguagens do olhar
no rosto, espectro fiel da real configuração.
HIBERNAÇÃO
crueza dos oscuros.
abrir-se e fechar-se
visão totêmica, a sós.
ESTAR NUMA MANHÃ DE INVERNO
RITMOS DA NOITE
às gargalhadas, a gritar
a contar, a cantarolar
sons de todas as linguagens.
Algumas urgentes de medo
outras atrozes e galopes
aquelas transmitem um doar
gemidos de todas as espécies vêm.
Solidão da noite multiplica
todas as notas estremecem
sintonia macabra e escura
amedronta almas em aragens.
FILHOTE
corações que batem em diversidade de compassos... no tempo.
SER DIFERENTE
a quem nos olha disfarçadamente
diretamente
enviesadamente
que seja! que queira!
depende do desejo, do despeite
Uau!
pra que disfarçar
realces do olhar
verdadeiro olhar
pra que ligar
pelo lance do outro
seja você mesmo
com todas as dores
e seus fundos amores
que você não diz
nem a si mesmo
prefere o que corrói
que sangra
que transmuta
no seu corpo
pobre, humano, doente!
DECIFRE
linhame indecifrável
marcada condição
que subjaz em outro
cada canto da casa
deixa no ar
o exalar perfumoso.
Angélica transpira
cheirosa e doce
aroma essencial
enfeitiça olfatos.
Mulher expande
levemente
inebriada catarse.
Adocica detalhes
perfume delicado
florisbela cativa.
ANGELICAL (PRIMEIRA VERSÃO)
bairro de minha infância, das peraltices
das brincadeiras na praça, dos jogos
a deliciar o momento da criançada.
Rua Salinas, primeira estação
o beco, o cortiço do Seu Manoel,
vidas em trânsito, crianças eletrizantes
pobreza ao derredor e muita falação.
Rua Professor Raimundo Nonato
barraco mui simples e amado
historietas de cinco criaturinhas
despontando para a vida que acena.
Mãe com jeito protetor
animal arisco protege sua prole
bravura destemida em índole nortista
sensível no coração de grande mulher.
O pai, longe, labor bem distante
toque narcísico de sua existência
permeia as terras das Geraes,
amoroso no jeito doce de ser.
Gritaria da turma na "gran" barroca
buraco fundo, terra rosada
restos de construção, cacos de vidro,
criançada em auge aposta que voa.
Festas animadas na casa simples
reunião dos verdadeiros amigos,
Titia e Almir, risadas em êxtase
borbulhar dos infantes.
Jogos de baralho, casa do Zé Moreira
fumaça embaçante dos cigarros no ar
gritos entusiasmados... TRUCO!
meninada a comer bananada, a farrear.
Caminho para a escola, descida
chororô da mais nova
caminho de brita, casas amigas
caminho de volta, subida.
Sandoval de Azevedo... feijão azedo
Dona Ondina com sua braveza
Professora Natália com sua brandura
tirou o melhor de mim... E eu me achei!
RANCHO QUE DÓI FUNDO
e que o passado vive em mim
(sintomas de quem envelhece),
passado de minha infância
tempos de pura inocência
que vivi em Congo do Soco
pedaço da querida Barão de Cocais.
Ai, que saudade me dá!
Das terras vermelhas, dos caminhos
que levavam à Fazenda Rancho Fundo,
terras dos avós, a perder de vista
delicioso riacho a trepidar
meu coração a palpitar...
nas alegres travessuras que fazia lá.
Ai, que saudade me dá!
Do grande moinho a cantarolar
envolvendo as águas de modo circular,
da gigante máquina de moagem de cana
preparando a doce e escura garapa,
tacho de cobre, melado de rapadura
salpica borbulhas, tão quente está.
Ai, que saudade me dá!
Dos alqueires com plantação
escondidos entre montanhas virgens
vistos pelo olhar infante
mundo tão vasto, sem vizinhos
na estrada, cobras de vidro encontrar
à noite, fogueira, causos de arrepiar.
Ai, que saudade me dá!
Da tão desejada festa em família,
festa dos aniversários de vovó,
família a cantarolar,
petiscos a saborear,
hinos de alegria e graça
no arrasta pé, sem hora de acabar.
Ai, que saudade me dá!
Da Estrela D'alva no céu a despontar!
na presença do que me consome
lastra por todo o meu corpo e irriga
cada componente de minha teia.
De rica essência e numa constância
acelerada, dando ares às pontadas
de meu fragilizado sistema
transgredido em seu interior nó.
Canção asfixiante e dolorida dor
martelada em tons vorazes urgentes
escondida entre os quatro ventos em dó.
Agonizante segredo enredado
entre meus seios volumosos e ofegantes
cantarolando tão mística voz.
LUZES CÂMERA AÇÃO
AGRESTES
queima a planta do pé
de rostos molhados de rios
num sol a sol a sofrer
trincas do chão poeirado
marcas do destino malvado
daquelas terras e gentes agrestes
selvagens na maneira de ser
o sertão vai virar mar, seu doutor?
esperança sempre rebate no peito
daquela nação deserdada
perdida no vasto mundo
que não é só de Raimundos...
nem de Zés ou outros quaisquer
é terra de sofrimento quente
a marcar as peles das gentes.
mas para ter sabor
custa muito elaborar.
Procura-se por ela
e na hora H
ela se esvai, não condiz
com a necessidade.
Noutra hora significa uma coisa
e sai uma outra.
Eis o que me aconteceu:
Estava olhando uma siriema
a palavra saiu
"siriguela"...
risos gerais e a constatação
de que palavra evocada
pode sair falhada.
Mero esquecimento
envelhecimento
ou lapsos banais...
Só sei que dela preciso
pra adoçar o navegar
com mais e melhores risos.
na busca e no encontro
quem fala fundo
toques sui generis.
Dor que nos acomete
sempre expondo fundo
ardor profundo
toques ipsis literis.
Simples e complexo no seu viver
toques mágicos a dizer
singela condição do ser.
Ouça que tem ele a dizer
espere um pouco o calar
no silêncio seu pronunciar.
AMOR LOUCO
CRISE???
tão pobre!
tão sem graça!
Que lançamos mão do ideal.
do nobre.
da grande graça.
Mas tal fantasia não supre o que é normal.
coerente.
a real graça.
Será que há tempo de viver em real,
e interessante
graça???
Seja simplesmente integral!
surpreendente!
com risos na praça!
Por que cantar o amor?
Por que procurar o amor?
Por que sofrer por amor?
Insondáveis porquês
sem respostas palpáveis
apenas dores inconsoláveis
de um peito sentidor.
Será o amor para poucos?
O que será para mim?
Tão subjetivo, tão diferente!
Vive-se na sua busca
como agulha no palheiro
aos esperançosos: avante!
cai cai pela manhã
embala sono preguiçoso
acalenta sonhos ao despertar.
Vem, chuva, vem fininha!
cantarolar ritmos aos meus ouvidos
nesta manha ociosa
alegra meu acordar.
Aconchego de coberta fina
e cantiga de ninar
me deixam dengosa
com moleza de levantar.
Vem, chuva, vem fininha!
adentra chão sedento
para vida gostosa
dos breves germinares.
MOMENTO
forte fala nas batidas
entoa sons orquestrados
num batuque natural.
Noite de mudanças
passar das horas a tiquetaquear:
não deixe a oportunidade passar...
Nada de querelar.
Dicionário diz coisas
todo tipo de entrada
manha da doce poesia
das palavras que existem lá.
O riso voltou!
Quem sabe retorna também
chamas ainda guardadas
espontaneidade loquaz.
SER MULHER
pessoa como qualquer
ACADEMIA FÍSICA
incomoda aos ouvidos.
Arranhar de passos rápidos
correm nas esteiras.
Rapazes ocupados
olham narcisos no espelho.
Pessoas maduras e ativas
saúdam a disposição.
Criançada em farra
faz festa na piscina.
Uma greta e a imagem deslumbrante
majestosa lua cheia
emoldura a etapa de exercícios
que parece não findar.
Em plena academia
hipnotizada pela joia no ar.
PENSE
a primeira delas
sofrida e resignada
pela perda de seu filho
nas mulheres da minoria
sacrificadas em seus rostos
lutas diárias
que teimam em não cessar
nas mulheres assassinadas
por seus pares animalescos
feras famintas
aniquilam o homem civilizado
nas mulheres famintas
a zelar pelos filhos raquíticos
olhares doces e maternais
na crueza que teima em não cessar
nas mulheres do lar
a dedicarem suas vidas
naquele pedacinho de mundo
sem nunca acordar
nas mulheres lascivas
que do deleite sobrevivem
sem o carinho daqueles
que teimam ali estar sem cessar
nas mulheres trabalhadoras
mães ausentes dos lares
buscando o pão das crianças
cotidiano suado
nas mulheres diversas
cidadãs do mundo
sem respeito sem dignidade
dor que teima em não cessar
nas mulheres aguerridas
luta teimosa sem cessar
sem nunca deixar de acreditar
na justiça e bem-estar.
DOMINGO DE VERÃO
desenhos no céu anil
o sol forte contrasta com o relógio
vento não para de agitar
O inesperado tem charme
inspira novas possibilidades
avante ir em frente
não deixe a vida te levar
A construção nunca termina
obra inacabada até a morte
veja só que sorte
poder vivenciar
Começo? fim?
nunca se sabe!
Por enquanto hoje...
levar a vida a valsar.
FIM DE TARDE
jatos de água
germinando possibilidades
Pensativa imagino detalhes
jogo por trás das cortinas
janela e suas grades
Disperso na rotina
caminha entre afazeres
da falta do discurso ativo
Silêncio moroso
invade e colore
nuances de fim de tarde
Vento invade e espanta
repassa as páginas do livro
numa leitura dinâmica.
CISMA
esquecimento premeditado
simplesmente para ferir.
Fingir que não é nada
que o dia não importa
sinais repetitivos
algo termina.
Isso, que acontece com a gente
acontece por acontecer
ou por
deixar acontecer?
buscando bons ventos:
é natural.
use,
BANHO DE CHUVA
É doce de se escutar
O silêncio insiste.
CHORORÔ
Sinto seu gosto salgado
em qualquer lugar fazer de seu.
MANHA DE ANGÚSTIA
Esperançar
renasça em mim
que vivo
cada dia
a soluçar
vida
que existe para ser vivida e sentida presente
às vezes aos trancos e barrancos, ao atropelo
mas vivida por inteiro
com momentos contagiantes ou
não, intensa e cheia de novidades ou
não, mas vida de esperança e crença
no seu potencial, na sua capacidade
criadora
na energia vital
que reflete o poder existente em cada um
e que move este mundo cão, mas mesmo assim bão!alcancei tal estágio
talvez a idade favoreça
talvez a idade seja salutar
achar graça até do que deixa a gente sem graça
e sentir feliz apenas com a graça
de estar presente
no acontecer da vida
pronta para o que der e vier
velha moça
de riso coquete
no rodagira
do giramundo
Revisão
em 27/01/2021
rir
de si mesma
que terei querido dizer
rir
de si mesma
pesquiso
em torno
e me pergunto
será
a idade salutar?
o
envelhecer escancara
a
realidade em si
o
que realmente sou.
antes
no
bem ou mal juvenil
sustentei
outra
eu
de mentira
fui socialmente apreciável
aceita
no
espelho grupal
ao
qual optei adaptar-me
moldar-me
lancei
mão de arte e manha
defeito visto era negado
defeito à sombra mascarado
defeitos
visto e negado
eram
mascarados.
o
que realmente sou?
envelheci
aceitei defeitos
ri de ter escondido
algo
tão banal
escancarado
imaginado que
não tivessem acesso
como
é tola a vacuidade
dos vinte anos
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