POEMAS... NATURALMENTE

SURDINA
15/05/2018
quero o poema escondido em seu olhar
esse que encontra o meu
Ela se vê
a doçura não a estampa
dois olhos negros
vibrante e sobrenatural
olho de hepatite


dança da amizade
02/05/2020

amizade é dança
entre duas bailarinas
o dia está alegre
se faz festa
noutro existe tristeza
a dança se interrompe
mas o sentimento amigo
se tem fibra
sobrevive
somos as bailarinas
que se chateiam
e se amam (a si mesma e a outra)
mas na firmeza da amizade
vão além
dançar as danças que valem

Quantas margens tem o rio...
06/11/2019
a margem aparente
e a margem submersa
e a que fascina
a submersa
é causa
é consequência
dos vários gozos
dos vários desvarios.

03/09/2019
O amor é amor quando não espera nem tormenta. O amor é fagulha no peito. A fagulha incendeia a floresta. O amor salva. O ciúme precipita a morro abaixo. O amor voa e deixa voar. O amor é livre. A posse aprisiona o ninho. O amor afaga quando se permite afaga quem se doa. O ódio censura. O amor é terno. O amor morre quando dele não se cuida. O amor alimenta a fé. O desprezo amarela. O amor é adorado. O pavor amargurado. O amor respeita enquanto o poder amordaça. O amor vê cor-de-rosa azul multicor. A ignorância é cor amarga. O amor cega. A faca cega não corta. O amor pode ser interesseiro e arteiro. O desamor nunca é arte. O amor às vezes é apaixonado. O tempo amor tira. O amor supera a dor. O amor quer viver. O amor contém amorte. 

MOMENTO CRUCIAL
13/07/2017

uivantes ventos
caminhada firme
sob luzes do farol
no qual
me enfronho


ANOITECER
03/07/2017
vou em silêncio
falei muito durante o dia
o anoitecer é sóbrio
nada a questionar
sem respostas vou
passo a passo
resignada
nada nada que ficou
tudo tudo que restou
vou em silêncio



ÉS   SOU   SOMOS
23/10/2018
Mania de dizer sou tua. És meu. Então somos uno. Enamoramento.
Marcas do tempo. E desde então. Já não somos. Tu não és. Eu não sou.
Maturidade. Somos únicos. Tu. Eu.
Maestria do destino. Fomos. Foste. Fui.
Pó.

COISAS ÚNICAS
23/10/2018
  Fim. Começo. O que poderá vir de escolhas. Tristezas. Alegrias. Orgias. Festas. Tempo de mocidade. Virilidade. Para que? Sentir o cheiro. De suor. De vento. De paixão. De narcisar. Enlear devagar inho inho inho inho. E velhinho lembrar. De trás para frente. De frente para trás. O vento no cabelo. O perfume da dama. Mãos leves de carícia. Delícia. Drumond. Moça deitada na grama. Folhas ao vento. Outono. Até chegar inverno.


CONVERSA COM MANOEL (de Barros)
09/10/2018
MANOEL, olhe
Tem mais coisa escrita
A cigarra
vive
Bem fundo
O reflexo é raio
Raio dourado
Atravessado de transparência
De asa
De luz
Desejo

ESVAZIE-ME
27/03/2018
De
Dúvidas dívidas discursos
delações despropósitos
descartes (D maiúsculo também)
domínios dores depressões
disparates desmandos

De pensar
apenas respirar
inspira expira
pensar movimento
inspira expira

Dali a pouco
operação
inspira expira
sono não vem
inspira expira

Desperta o relógio
por Caridade vida
não me esvazie de vez. 


QUE É PALAVRA?
05/03/2017
a palavra é breu
a palavra é sintoma
a palavra vegeta
segrega
laceia
a palavra marca
a palavra engasga
o nó está posto
difícil engolir
dê o pescoço
ao grito preso
ao grito seco
a garganta
difícil engolir
a palavra engata
a palavra acha rumo
embasbaca
rasga
golpeia
a palavra fálica
a palavra falha
o nó deseja
o não dito
palavra
ave

PESCADORA

21/09/2015
Ah vida
deixa eu te respirar
enquanto vida existe

abraços a leve brisa
a beira mar
cheirando a peixe

enquanto puder
deixa eu te sondar
no íntimo de mim

cavacar com mãos 
sôfregas e urgentes
labirinto em construção

FALSA NORMA FALSA


07/07/2015
falsa norma falsa
impõe como branda
suave como deve ser
gado humilde
 preso em pasto
no fundo mais fundo
voraz chifre 
cornu
transgride a cornucópia 
artigos parágrafos incisos
empurram goela abaixo
falsa modéstia
falsa vestimenta
abundantia 
de podres poderes
da fofoca ao profano
na cabeça de tolos
na assembléia eleita
enfileirada de chifres
vestindo-se ovelhas


TORRENTE DE ÁGUA

11/06/2015
a chuva cai
molha o coração
orvalhado de frieza
embotado em si mesmo
nessa dor mente ciente
mente
sobrevivente às margens
de lodo e gosma
sem sobra de nada
amarga
mente


PERTO DO MAR
06/06/2015

passos até a praia
de repente
descubro

sol brilha outono
ondas laminadas ofuscam
vento atrevido ondula

de companhia
Murilo Rubião
e coelhinho Teleco

e aquele monumento
o mar
que me detém

autômata
caminho a areia morna
molho os pés

água fria
piso a realidade
descubro

 morar perto do mar
é ser feliz para sempre
não é conto de fadas

VAPT VUPT
04/04/2015

o tempo passa
feito barco a velas
desenhado no céu
vapt vupt

e como anda depressa
a vida 
a ser vivida

Dela 
ninguém
sai vivo



DAR UM BRANCO
07/12/2014
esqueci de lembrar de esquecer
esqueci de novo


um clarão, branco lacunar


baila frente a mente


como se no Japão
lanternas amarelas em tons "cheguei"
pregassem peças pecadoras


não respeita ninguém
será veio pra ficar?
duradouro?
branco?

AINDA RESTA A POESIA
01/11/2014
morta a ilusão
o negrume da realidade
cristaliza cabeças cãs
se se perde a ilusão
a vontade de amar
a crença no compartilhar
é quando:
sozinho.

Foram-se todos
já não se vê ostra prateada
nem o brincar com bolas de neve
forasteiro de mim
encontro o destino.

Existe palavra secreta da vida?
é possível sonhar...
Ser humano é
espantar-se
com o ser humano.

FAZENDO UM POEMA PELO CAMINHO
09/09/2014
rio vai nascente abaixo
como vida de gente
desprende lama, pedras
se transforma em sete quedas
ou pororoca
buscando no passado
entendimento do curso

arranca pingos
cachoeiras
enchentes
rasgo em pedra

cicatrizes pelo caminho
que nunca
é o mesmo

AGRIDOCE
24/10/2014
Olá!
Eu tenho que ir!
A vida é tão complicada
Não!
A vida é simples
complicada sou eu
tenho que ir
encontrar rios
velejar águas
o fundo, onde está?
A vida é amarga
a vida é doce
agridoce
a vida é surpreendente
tchau!
Quero dormir até tarde 
não me acorde!
Boa noite.


DORES DE SER
12/10/2014
na surpresa do anoitecer
vem o amanhã florescer
no transformar de gestos
no aceite de gostos

cada hora com su' aura
vezes enfumaçada e turva
noutras tão vivaz e pura
nem criança em candura

que trazes algozes notas?
acabrunhados tons cinzas
no devir de névoas viventes
a cortar o silêncio errantes


 
TEIMAR

17/07/2014
caimos nas ruas e vielas
nos abandonamos
nas idas e
necessidades
meio às conotações e
ambiguidades
à miragem de um
sentido 

 SINTOMAS

07/07/2014
Não há manhãs
tarde levanta
inverno
sintomas
de quando

quando a
primavera
chegar
quando o
sol
raiar

tarde cai 
cinzenta a
emolumentar
a
paisagem

RETRATOS ANTIGOS

08/03/2014
retratos antigos
figuras em transe
perene
lembrança
quadro na moldura
pendurado na parede
mofando em armário
enfeite em cristaleira
natureza morta
déjà vu

PAPAI (diálogo com Ferreira Gullar)

11/03/2014
Meu pai foi para o hospital
se tratar do diabetes
que o estava matando
(e matou) eu junto com ele
embalando
perdi a sua dentadura
além do dia betes
(diabo em vestes)
não pôde comer
de três em três horas
destarte a filha avoa
da dentadura
não se lembrava
Eis o protético
uma outra veio fazer
com dentes novos
e betes em dia
tudo foi alegria.

EPIFANIA
07/03/2014
Somos nada
Somos bosta.

de repente essa clareza
descerra verdadeira
no caminho entre a casa
e o fora dela

o demoníaco
se apodera de mim
que dizer 
a respeito do mundo

Viver é a tônica
numa relação 
escancaradamente humana

PALAVRA QUE FASCINA
24/09/2013
A palavra surpreende
aglutina o impensado
a surpresa a voracidade
pelo novo inovador.

O sair da rasa cotidianidade
às raias do que surgir
apego não mais
a rotina já o é em demasia.

Vamos às tecituras do surpreender
porque o desconhecido
a partir da palavra
Ah! Como fascina!

JUSTO SONO II
10/01/2014
estou tão cansada
quero dormir!

abandonar-me em névoas
sonolentos embalos

sonhar campos e
céus e sóis e nuvens

quero descansar
ao remanso do mar

jogada ao léu
lado a outro

neste devaneio
não quero acordar!

COMUM DIA

09/01/2014
comum dia
mão esconde
luz infinita do sol

paisagem iluminada
uma paz entre
lindas nuvens esparsas
montes em suaves ondulações
na ensolarada manhã de Belô

pensei estar no interior
estava apenas em voo

FORMAS DE AMOR
29/12/2013
amor-
daçá-la?

hora mágica

tonteia

que é isso?
que prende?
que pune?

é para ser libertador
amor-
daçada completamente
na dor de amar

DISTÂNCIA INFINITA
14/12/2013
Se a visão da desgraça nos despertasse
talvez encontrássemos a verdade
o amor que move céus e terras!

Pouco a pouco
privados de luz
transformados em algo inerte
alheios à ordem divina do universo.

Ao desviar da luz
decomposição lenta e progressiva
infalível até fundo d'alma.

Perco a capacidade de ser
você me acompanha por orgulho
nos eliminamos da possibilidade de ser humano.

E assim, embotados
seres medíocres
seres ignóbeis, abjetos.

Eu não te procuro
você não me procura
Nós não nos procuramos.


INSISTAMOS - CONVERSA COM THIAGO DE MELLO
13/11/2013
Insistamos
ainda há tempo 
amor que fervilha
na LIBERDADE
não alcançada
almejada

mesmo que inda tarde
há tempo
tempo de produzir
transformação
luta dialética
de pouco ser
de pouco fazer

coragem
a ti, a mim
meus irmãos
desejo não grassa
a graça é ação
história
em nossas
mãos

QUERO SER MAIS
29/09/2013
Quero ser pra você
amante desejada
te deixar em trapos, farrapos
amor delirante.

Quero ser pra você
torrente indolente
amor sem regras
a querer mais e mais.

Quero ser pra você
colo abrasador
aconchega seu rosto
cansaço do gozo.

Quero ser pra você
o que quiser que eu seja
na penumbra 
que se quer alante.

Quero ser pra você
mais do que sou
transparência de ser
tudo... sabendo não ser.

Ser pra você
amor e desejo!

CONTRATEMPO DO CORAÇÃO
09/09/2013
Disse que não ia ter mais ilusão...
continua a tê-la
já não tem idade para isto
mas a imaginação
clama em voz alta

reza que não termina rosário
sede que enfrenta desertos
um não sei que que motiva
luta mesmo que sem razão.

SOL ALARANJADO
26/08/2013
na primeira vez que vi
surgir do nada
surpreendente
quente
avermelhado

ainda me sentia criança
aos sons de sinos inocentes
raio luminoso
laminado
sol quente

envolvido de cor e brilho
duma tarde outonal
nos brios de
agosto
a todo gosto 

SER OU NÃO SER
25/08/2013
Ser sua alegria e sua tristeza
num contraste em bem
e mal e bom
cíclicos no domínio
do viver lamurioso
de passos passados.

Ser sua tristeza
de lembranças menores
de vivência sem cor
imiscuindo-se em
cantos nostálgicos do
rancor dor gozo.

Ser sua alegria
desdenhar prazer
expresso na pele
em gestos malabarescos
de um palhaço
que só deseja rir.


MARULHAR DAS ONDAS
25/08/2013
Orgasmos múltiplos
ao som de ondas
esvoaçantes na areia
praia sequiosa de desejos
lânguida mão
experimentando movimentos
gemidos em suave som
deixando o prazer
fazer-se por gestos.

Ouça o barulho
barulho que bate
volta e se esvanece
acalenta e enseja um gozo
busca de algo
seguramente  seu
a inspirar fome
desejosa de ser
ser inteira
no uso do sentido.

Escuta o ruído
ouvido  atento
ao grito solene
de um mar revolto
nada sóbrio
nem tenaz
mas que arde 
e queima e sequestra. 

Sinta o toque
aveludado a deslizar
ânsia do querer
som lancinante
a esvoaçar em corpo
sussurrar ouvido adentro
mostrar o sobrevivente
em terrenos férteis de
impossibilidades.

JUSTO SONO
15/08/2013
Estou exausta
não sei se
estarei aqui
amanhã!

Estou sem energia
o lodo da voz
assomou os
meus ouvidos 
cansados.

Alquebrada
de visões estonteantes
lúgubres, romanescas.
Quero dormir!

CAMPO DE TRIGO
15/07/2013
Sei que sou reles
mas quem disse
que do reles
não nasce poesias?
que dores
não são sentidas?
que a musicalidade
anda sem cor?
que amores
não são cor de rosa?
que odores
são ares comuns
e não inspiram
flores nos suores diários?
que não ambiciona
por um bom telhado,
conforto e tranquilidade?
que luta sem perspectiva
acreditando em doces impossibilidades?
Também o reles
é sonhador de campo de trigo.

IMPRESSÃO
30/06/2013

Minha Adorável Misteriosa
beach
languidez permeada de azuis e
greens
como vai você em ritmo
sunshine?
corpo samboleante em quentes
sands
suor em águas calientes de
salt
desfila na tranquila e quieta 
location
nada de sons estridentes aos
ears
excessos somente às brincadeiras
around the beach.


FACE A FACE
13/06/2013

caminhando desgringolado
por estreitas paisagens
sombrio em ébrias nuvens
solitário em mundo de sonho

duas visões se refazem
em nubladas emergências
de luz e opacidade perenes
estreitam a realidade lábil

espectro a espelhar transição
do homem-mulher trajado
delírio em rios profundos
a instalar novos moldes

some e aparece sem escolha
desconcerta a vida  reinante
duo  vivendo ao mesmo tempo
num tempo ermo desumano.


CONJETURAS
06/06/2013

símplices como o sugar  de uma bala
amargo como o fel em seu ardor bilíaco

que se dirá do que enleva o amor?
doces ou cruéis dizeres de todo amante?

o que tem você a oferecer a Ele?
prefere a ousadia do maiúsculo ou um reles

traquejo, um sei que que jorra no peito,
um frio, um grito, o horror espectro na tela

ou jaz para sempre em peito gélido judiado
pela pena de ser apenas humano?

RELES EMOÇÕES
26/05/2013

extraordinário receptáculo
cristalino brilho envolve
olhares absortos, em transe
volúpia transgride a pele
estarrece emoção sem dó.

jogos em lances geniais
retratam labirintos vis
vã façanha do grotesco
humano em inundar
a real/fantasiosa história

são ou não contos de araque
de carochinha ou vilanias?
despontam em gotas cruéis
façanha e fel por demais
como sugere Poe em ato.


RECEITA
17/05/2013

cheiro. aroma no ar
vapores penetram
nos sons da casa

trabalho de artesã
mãos amorosas
desejosas. arte
arquitetulinária

surpresa. na cozinha
vibrando  sabores
desconcertantes

deve-se obedecer
receituários vis
de outras mecenas
diabetiscinais?


ACONCHEGO
11/05/2013

Somente Freud explica
que sinto por minha mãe
dor do corte do cordão
despertar sem sua presença.

Foi-se... numa noite escura
rastros em meu coração
nas sombras de sonhos
presença de meus atos.

Sinto o cheiro carinhoso
estar com jeito matreiro
cuidado extremo presente
coragem enfrenta a lida.

Jeito seco e dificultoso
herança de difícil expressão
carinho reprimido
sedenta e fugidia emoção.


FRESTA DO EXISTIR
28/04/2013
Pela fresta
menina
imagem apagada
vestida em farrapos
agarrada à boneca
de pano

Pela fresta
inocência
doce sabor
gritos e risos
brincadeiras
junto ao bando

Pela fresta
doce lembrança
de um tempo
místico,  tímido
miúda e  atrevido
encanto

Pela fresta
mocinha
raquítica, medrosa
olhar assustado
corre pelo mundo
profano

Pela fresta
virgem ingênua
retraída
risos há de ter
candura a palpitar
canto

Pela fresta
ilusão intacta
em fotonovelas
sonhos e planos
aguçando
remansos

Pela fresta
corte fatal
vil paisagem
morte inocência
em traje banal
resvalando

Pela fresta
mulher
carne viva
transita
jogo de cartas
embaçante

Pela fresta
arte teatral
desfia risos
dança o ritual
máscara
personificante

Pela fresta
caminhada
entre perdas
e cantos
ente em combate
sedente

Pela fresta
eureka!
descoberta
do eu
escolha e voz
arfantes

Pela fresta
velhice
sulcos,  rugas
risos e cismas
peso a transitar
reinante

Pela fresta
sensatez, brilho
viva à liberdade
de um tempo
azeitado
latente

Pela fresta
muitos risos
diversos risos
contagiantes risos
rio
corrente

Pela fresta

atravessar 

porta!



ABANDONO
13/04/2013
na eloquência da loucura
na solidão da escuridão
em qualquer esquina
como cão sem dono

quem pode dizer que não é
na busca de um dono
na incerteza de ser
cão do próprio destino

abana o rabo
deposita certeza
na incerteza de outro
que também procura
cão domado
estereotipado
para ser dono amado

abanando submissão
sem exclamação!
espera absorto
preso a convenção
do dito de uma nação

abracadabra!
nada de dono
cão abandonado
loucura é saudável
e no seu abandoar-se
procura a si mesmo



PONTE

12/04/2013
ponte que atravessa
ponto ao outro
caminho que traça
traça em miúdos
neste néctar viciado
estirpe mortal

tessitura vital
entre papéis e pés
construção de tecidos
convexos casulos
incontidos mantidos
em trechos malditos
da ilhota de cada um

curva em demasia
segmentada
desajeitados nós
geometricamente
espiralados
ponto ao outro

fechada  simples! 


ÚMIDO DIA

11/04/2013
poça d'água
brilho do chuvisco
esboça-se como
música
ritmada, no compasso
olhar paralisado
a contar rimas
brilho em faíscas

chega forte o
trem
o movimento
reinicia diferente
a música lá está
cantarolando 
outremboladas.

PROPOSTA
04/04/2013

A calda está rala
o paladar pouco aguçado
a receita não saiu como deveria.

Mas para que receita?
apenas o básico se copia
o mágico se constrói
às severas dores de parto
ou horrores de pedras
nos rins.

Assim é desde a eternidade
histórias de deuses e heróis 
de trabalho e de guerra.

Acalanta a calma
deixe-a sombreada e regozijante
oferenda de luz atravessa ar
terra água mar
transforma
angústia em poesia.



VIVÊNCIA
24/03/2013

Flor fresca
sopro de vida
inocência rebelde
transformação
diapasão do real
eterna dicotomia
entre o sim e o não
exasperantes
morfemas
em constante
elaboração
dialogação.



ABISMOS
19/03/2013

Tête à tête
eu cá com meus botões
trabalho forçado
no exílio recluso

escuridão

luta constante
mundo d'alma
padecimento malsão
triste experiência

oscura

miséria humana
pecado
vícios
abismos da luxúria

alegoria


O VOO DO PÁSSARO
05/03/2013
Titubeante, na sua incapacidade
vai cambaleante avistar o
                       abismo
abismo acima e abaixo de si.

Fortalecido do augusto tempo
criou asas íngremes e fartas
alcança a potência digna do
                                auge.

Indolente se torna na madurez
alça voos atrevidos e alvissareiros
quer a mudança ela o
                     persegue.

Há vida enquanto houver
lá está a desenhar no ar
as artimanhas do
                existir.

AUTÓPSIA*
10/03/2013
Por detrás da janela
foram-se todos os sonhos
acalantos ingênuos
desejados pela carne
alma feminina.

Foram-se todos eles
como jatos d'água
que lançados ao chão
são imiscuídos de 
sua essência.

Quão trágica a constatação
inexistência do mágico
afeto desaparecido
esquecido de seu sabor
a morte chegou finalmente.

(*autópsia: do grego literal = ver com os próprios olhos)

EM VÃO
02/03/2013
Dormir, dormir
deixar sono vir
anestesiar
meus pudores
dores
insignes valores
reles
contatar comuns
naus
que mal faz?
conduzir
a lugares lúgubres
insalubres
fundo bem
fundo
daquela escuridão.

SOMBRAS
02/03/2013
devo me
conter
con o que?
ter
mas o que?
conteúdo
proibido
para menores
não soltar
as amarras
contido
partido
subnutrido
das largas aberturas
do fenômeno alado
con quem?
devo me con ter.


SURREAL
24/02/2013
Quero morar num topo de um vulcão
plagiar Neruda
nos sentimentos, no amor
nas metáforas
que falam nas entrelinhas
que me abordam no meu "melhor".

Quero a liberdade da amplidão
olhar em volta 
ver o que outros olhos deixam de enxergar
ilusão do infinito a devanear-se
queixume da lua por apaixonar-se
que me transbordam no meu "não ser"

Quero poder ver o mar sempre longo
imaginar suas criaturas
balés inusitados na escuridão
falas das rochas imersas
que linguagem aquática
que me tragam a paz no meu "ser c'alma"

JANELA AO LADO
21/02/2013
Olha para o lado
enfeitiçado olhar
digna e imponente lua
num céu azul
que até apavora
linhas alvas
desenhos alhures
mutantes nos segundos

Olha para o lado
magia perdeu-se
azul outro
noutros tons audazes
desenhos intimidadores
dimensão voraz
tomando espaço, domando-o
comando da natureza

Olha para o lado
vento doce instiga
prazer em recebê-lo
como corpo de homem
chega, domina
declarando posse
afã do desejo
tornado único

Volta o olhar
o livro e suas páginas
aberto às descobertas
esperando ser comido
devorado com ânsia
querer mais
olhar diverso
pronto a carícias e sangue!


CIRANDA 
31/01/2013

Ciranda, cirandar...
lembranças da menina
que vive no mundo
do conto de fada


fadado aos sonhos
aos poemas
cantos 
deveras profundos


do abismo de fases
que cantam
que choram
revelam


ingênua criança
livre em sonhos
na ribalta
da sua infância.


URGÊNCIA 
08/01/2013

Que frison é este
que me amortece
me embambece 
me instiga ao novo
à mudança.

Que frio é este
na barriga
na ânsia 
na briga
por comida.

Não a comida
contida na mesa
mas a falta dela.
Sim, o desejo
o lampejo.

Por pratos de comida
devorados 
aos quatro cantos
é preciso além 
poesia. 

Que mostra
que esconde
que se pode sempre
se quiser
quando quiserem.

E a urgência
mais que profunda
se aprofunda
no mar de desiguais
em extremos.


NOVIDADE DE LA CITÉ
29/12/2012

defronte à bela arquitetura
concreto em contraste ao céu
brilho da estrela sol invade

janela através da vidraça
de um lado, projeta desejos
do outro, segredos a desvendar

tantas chances, tantos caminhares
leigo na estrada, apesar dos pesares
teima na curiosidade, imã a guiar

astros, ventos bóreas e nótus,
histórias em ricas construções
eras medievais em sua lide

pássaro em seu voo!


Arco do Triunfo - Paris



ENTRADA DE ANO
25/12/2012

Iluminada  no seu sorriso
vem alegre em dose ingênua
doce enleio a se concretizar
profana esperança, anseios.

Caminho na franca brisa
vem leve em câmara lenta
dose envolta sem covardia
profana ousadia, galanteios.

Flerte no gozo prazeroso
vem brilhoso no dom de fé
dose especular sem receios
profunda imaginação, semeia...


ÓBVIO
19/12/2012

Não é bom. Não é ruim.
Não é muito ruim. Não é muito bom.
Há! o envelhecer 
constatação em sentinela
presente nas mais simples odes
dias em que percalços se somam
entremeios de assombro,
arroubo? porque não!

Quem disse que tem que ser triste?

mesmo ao som de estralar
ossos e articulações sem óleo pungente
tambores de carmem
a ricochetear ao balanço
sabores da quarta idade.
Há que se aceitar dores
dolores deste tempo.


SÍNDROME DE MAR
12/12/2012
Acabei de dizer:
sou fissurada
em mar
em amar
e mar anhar
arranhar

fera desnuda
unhas azuis
amansar
desbravar
e mar anhado
mar!


BRANCO
11/12/2012
A página em branco não assusta
desafia a quem se banca
lisura de cor que tudo permite
leve nuance parece núbia
permissão de tudo acatar
desenhos de além mar.

Pode transmitir “um branco”
comum ou de outros meandros
como louco em sua solidão
caminhada em rabisco
dor desgarrada que lhe escapa
verdade que não tem libertação.

Branco manifesto na escolha
condição da exultante construção
ir e vir do arriscar constante
ser sozinho  sozinho fenecer
busca mundo imaginário
rebuscado de néos quilates.

Ou branco que a lembrança trai
esforço despendido sem demanda
traições da mente sem lembrança
triste sina de cabelos brancos
nuance de uma história esquecida
perdida, labirinto sem volta.


Branco?


OLHARES
18/11/2012

Cortina ao prazer do vento
tarde sol de novembro
ousa o instante mágico

nebulosa nuvem mental
em breve lugar
que é isto, meu amigo?

sombras eternas da mente
lembranças de olhares
lendários

aquiesce desejos incendiários
devaneio sobrevivente
remanescentes idílios. 



NO MEIO DO CAMINHO – DIÁLOGO COM DRUMOND
24/10/2012
No meio do caminho da minha Itabira
tinha mais que uma pedra
pedra avermelhada por todo o caminho
era bem mais que uma pedra
tinha mais que pedra no meio do caminho.

As recordações da velha Itabira nunca morrerão
não me esquecerei daquelas pedras cheias de história
dos acontecimentos no sobe e desce da cidade
na vida de minhas retinas realistas e fatigadas.
Nunca me esquecerei de que no meio do caminho
tinha aços forjados do suor do povo itabirense
 no labor sacrificante de gente irmanada
pela conquista de vida melhor.
Tinha vida entre as pedras
no meio do caminho
da minha Itabira.

Escultura em cerâmica PIRACEMA
 Artista Maria Sílvia Boaventura

CRIATURA
26/11/2012
Oh, Criatura do mar!
me ensina a nadar
tenho medo do mar
tenho medo de amar.

Medo das profundezas
ir fundo ao insondável
respirar com sofreguidão
nadar n'água em implosão.

Depois não conseguir voltar
à superfície quando precisar
não dar conta dos volteios
das acrobacias no ar do amar!


LIVRE PENSAR
23/11/2012
A musicalidade do mar
às vezes
tem um tom grotesco
um tom de meu
de teu
de possessividade
não é novidade
é a natureza no seu grito.


ONDAS E PESCADOR
23/11/2012
A musicalidade do mar
chega aos meus ouvidos
vem e vai
uníssona.

A estrela do mar
como fone de ouvido
entoa a mesma
canção.

Canção da mulher
à espera do pescador,
dor da pequena,
pois não chega
seu amor.

Música triste
pelo que ficou no mar.
A suspirar de
amor, de dor,
 pranto, esperança.

O sussurro das
ondas 
ele não vem!
ele não vem mais!

Iemanjá mandou
dizer
ele não vem mais.
Adeus! Adeus!
Em alto e bom som.


VISÃO
22/11/2012
Eu já estou
em 2013

nos devaneios
nos enleios
na eira e 
beira

vivendo já
futuro
que furo!

Eu sou
assim
hoje
amanhã

não
contento
com
pouco!


RELAÇÃO
22/11/2012
atados os nós
o que falta?

nós com atos
acostumados
no comum dos
dias
falta o que?

ataduras
para tapar
machucados
marcados
sem cura
do que?

do perdão
difícil de
ceder

ata-se nós
mata-se ele
mata-se ela
mata-se nós
não desatados

arrastamos
nós
até o
último
ato.


DELEITE
19/11/2012
andorinhas flutuam
na veleidade do vento

coqueiros dançam
agradecem o vigor da tarde

espumas vêm à beirae
embalam doce enleio

vislumbra à poesia
amor à doce natureza

entoam vozes e músicas
cada estrofe do poema


OLHAR
18/11/2012
Esteira do pensar
livre de amarras
sonda o infinito
exposto posto
à frente

contente
risos abertos
contempla
bela imagem
à frente

mar azul
brisa suave
montanhas 
nuvens
eu!



PALATÁVEL 
15/11/2012
palavras ao vento
importam
quem? você?


para bem ou para mal
que faz
implora
perdão... Será?


tolice na arte
vanguarda non sense
o que Dadá 
te deu?

NADA.



VELHICE
10/11/2012
Em cada canto da cidade vive
pedaços impregnados
por todos os lados
que passo


passos da infância
ares da inocência
saltimbancos


passos adolescentes
pisando em nuvens
tropeços


passos adultos
domados na experiência
insistência de voz

Já a madurez
passos de lembranças
a cada passo

Sim.

Em cada canto da cidade!



ALGUNS  OUTROS 

01/11/2012
O que é o desafio?

Alguns insistem, persistem
insistem, persistem, ...
nesses tem  tem  tem  tem...
encontram o caminho
do desejo na ação
numa estratégia do sujeito
que acredita na dimensão.

Outros desistem, não insistem
nesses  tem  tem de menos
apoiam-se no fracasso aceito
transferem-se à acomodação
no convencional se sujeitam
sem acreditar na dimensão.

Alguns  Outros  Qual a diferença?

Visão de mundo
bipolar
sucesso    fracasso
  ambição  preguiça
ânimo   desânimo
saúde   doença
(re)ciclos da vida
escolha seu tipo!


MOMENTO DE POESIA 
23/10/2012
Atravesso a alameda enfeitada
de ipês em cores luxuriosas
despetalando suas flores.

O concreto toma vida
na avenida que transita horas
chão de asfalto adornado.

Pessoas em transe de afazeres
espíritos ausentes do inusitado
alheias às poesias que gotejam.

A Contorno em graça iluminada
na bucólica alameda exuberante
de lindos ipês que não vergam.

Viva entre as pedras e  flores
no burburinho da vida 
a primavera exala na Floresta.


Instituto Brennand, Recife - Pernambuco
(DESCOBERTA)?
20/10/2012
O que queres saber de mim?
estampado aqui  o está
mais do que isto que encontras
nem eu o sei o que é

Haverá mais entre as linhas?

Bisbilhote se assim o quiseres
estou nua à tua frente
nas palavras que me habitam 

sem as palavras que me transmitem 
nada mais que um corpo sem alma!

nada mais que um corpo sem quilates!


FORÇA DO DESTINO
17/10/2012
O que queres de mim, destino?
sempre a balouçar sobre transparências
voals de sonhos e possibilidades.

Que forças possuis, destino!
agarra-me de jeito constrangedor
câmbio de caminhos certos e incertos
tropeços de armadilhas diárias
no grande berço da vida.

Que forças possuis, destino!
contraste do sonho desejado
à querela geral em toques febris.

O que queres de mim, destino?


SONHAR ACORDADO

16/10/2012
Vivo de viver de sonhos
ser possível  mundo melhor
risos e olhares de boas intenções
purismo transparente de ser
verdade como instrumento de fé.

Vivo de construir castelos
além dos de areia, sempre comuns
construções de quimeras possíveis
no turbilhão do enfrentamento real.

Vivo realidade de etéreos
esperança nossa de cada dia
do bem  do bom  do mágico
corações abertos à transformação.

Vivo abduções alienígenas
fugas audazes sem culpa
paraíso de sonho de todos
transita vasto domínio.

Vivo de viver de poesia
na intensidade do desejo
de ser eu mesmo por inteiro
a permear a página em branco.



NOITE DE OUTUBRO
11/10/2012
Som de cigarra no ar
latidos de cães ecoam
início de noite lenta
suave movimento

que prediz a cigarra?
por que latem os cães?
soçobra em ondas
mar negro da noite

outubro vislumbra 
chegada de fim 
ano que ameaça
ir-se ao vento diáfano

Artista Josélio Tupi... Dimensão espiritual e divina!
ESPÍRITO

10/10/2012
Aquiete-se espírito
tamanha gana
desnecessária

sonar leve
acomoda melhor
corpo e alma

dimensão lírica
potencializa
vozes ancestrais

torrente de leis
expressando
sopro divino.


DIA POÉTICO
07/10/2012
luminosidade no decorrer do dia
horas suaves no deleite da tarde
dedos numa escrita incontrolável
expressa sentimentos

inteira e compenetrada
afã de posse de palavras certas(?)
busca amenizadora do trivial e comum
revisita o eterno embalar

poesia a imiscuir-se na roupagem
perpetra ânsia e gozo pelo significante
confronta consigo mesma sendo outra
em trajes de sanidade e loucura.

festa da primorosa data
almas em eterna harmonia
torrente de força e desejo
brinda a vida que se faz autêntica.


INTERTEXTUALIDADE

23/09/2012
eu sou eu
eu não sou eu

sou Fernando Pessoa
em sua dubiedade

sou Drumond
na crueza de suas pedras

sou Clarice Lispector
a infundir-se ao fundo de mim

sou Porfírio no seu grito
nu e cru de nossa realidade

incrustada de todos
todos incrustados em mim

assim povoo sonhos
desejos  dores  verdades

dialogação insistente
diversas vozes.

LUZ PRIMAVERIL
29/09/2012
Luminosidade brilhante e clara
liberar-se energicamente em ondas
sensível aos toques envolventes
ouriça-se e inicia a ordem de posse.

Etapa contagiante estampa cor
veleja na ardente ventania
norteia olfatos e cheiros alvissareiros
perpetua enigmas à flor da pele.

Perfume a não se conter em frasco
débil fragilidade a desgastar-se 
vivência etérea comporta ciclos
radiante lide em poderosa corte.

Pequeno ser se deslumbra
entrega-se à instância do prazer
lastra poder ronda espaços
impregna invisível verdade.

Oh, radiante luz me consuma!
ao mais fundo de mim
transparente abdução iluminada
sedente e desejante traje.


LUA AZUL
31/08/2012
Eh! Lua Maravilhosa!
interrompe meu simples viver
esperança a me balançar
acalantos do viver sonhador
cheia imagem
zomba de mim, pobre humana!
deleita seu gozo em troféu prateado
magnífica a triunfar em biênios
quero-a inteira a me incorporar
ânsia do sentir-me completa
querência do poder absoluto!


TRANSGRESSÃO
21/08/2012
como não transgredir tal realidade
que a nós nos parece sempre igual?
como não buscar o indefinível
projeto arduamente almejado e leve?

cheiro de mofo e de guardado
transpira azedo o cotidiano de horas
desdenha sonhos e cantos
exigindo monta atenta vigilância

mudança da energia incorporadora
perfume do ir além de nós
escolha que beira à loucura

ânimos de possibilidades
desejos e vãs descobertas
dialéticas questões  alegre leniência.

VENTO
12/08/2012
bate gélido em instante breve
instável onda latente
fleumática ambienta-se
do sentir fresco, entregue

vem em ondas liberdade
transgredir tal realidade
afronta a totalidade
tornar-se capacidade

energia resvala olhares
sedimenta conceitos reles
movimenta auge teares
aparente constelação.

BOM DIA, VIDA!

22/07/2012
Toque singular na abertura da janela
mãos sedentas buscam a visão matutina
ruidoso barulho dá a dimensão do esforço.

Bom dia, Vida! aclamação espontânea
Lá fora cores,  luz, verde, cantar, ar
lento desenhar de novo dia em projeto.

Bom dia, Vida! pronúncia combativa
energia simbólica e desejada conquista
hoje que foi amanhã e depois será passado.

Bom dia, Vida! indescritível existir
pontua escolhas, decisão finalizada
caminhada em ardência e pontilhados.

Bom dia, Vida! Exala grande maestria
significantes linguagens do olhar
no rosto, espectro fiel da real configuração.

HIBERNAÇÃO
15/07/2012
Tempo de espera,  funda
angústia dedilha instantes
labirintos tórpidos.

Estática,  observa
translada tempo hígido
crueza dos oscuros.

Gestáltica vivência
abrir-se e fechar-se
visão totêmica, a sós.

ESTAR NUMA MANHÃ DE INVERNO

08/07/2012
Sob o sol morno quenta
pés gelados delatando o tempo
na leitura do clássico Rosa
que no seu Magma sobrevive.
Ao fundo, sons de teclado
emitem notas de um bolero
ainda meio desconcertado,
ainda no treino amoroso,
desafiante do estar juvenil.
No rádio, a música acompanha
toques de dedos emitindo notas
trêmulas  inseguras.

Doutro, jorra a água dispersante
caem no corpo indomado
traz amena a realidade entorno
fantasia de sonho se dispersa.
Vozes surpresas  risos marotos.
De repente, cantoria e diálogos
revelam o ambiente amigo
rotina caseira e familiar.

RITMOS DA NOITE 
18/06/2012
Onomatopeias múltiplas
às gargalhadas, a gritar
a contar, a cantarolar 
sons de todas as linguagens.

Algumas urgentes de medo
outras atrozes e galopes
aquelas transmitem um doar
gemidos de todas as espécies vêm.

Solidão da noite multiplica
todas as notas estremecem
sintonia macabra e escura
amedronta almas em aragens.


FILHOTE
18/06/2012
Esparramada no sofá deleita-se
sabor do sono bom e tranquilo
figura inocente, pequenina.

Ali, doce imagem de um bichinho
sonha, observa-se através de sons
saborosa mamada.

Aconchega-se, aproxima
contato quente do carinho
a cadelinha reina na família.


MUNDO PARALELO
02/06/2012
Eis o mundo paralelo
tão próximo da estratosfera
envolvido em brancas figuras
diferentes e recheadas brancuras

Eis a imaginação no domínio
alvos formatos e quimera
trafegando em fantasias
recheia o turbilhão de auras

Neste mundo vivem anjos
na mente imaginativa
de cristãos envoltos em ilhas
navegam pelos ares em paralelas

GLOBO TERRESTRE - NA TRILHA DA VIDA
15/05/2012
histórias contadas da História...
histórias de milhões de vidas
histórias de milhões de não vidas
histórias de poder e soberba
num vai e vem cronológico
do mundo mágico ao mais realístico dos mundos
do trágico envolto às mais sórdidas decisões
do perverso mundo em contradição ao possível
da luta incessante de mártires loucos e visionários
da épica montagem que acena a estórias da carochinha
verdadeiro,
corações que batem em diversidade de compassos... no tempo.

SER DIFERENTE
11/05/2012
o que ser diferente transmite
a quem nos olha disfarçadamente
diretamente
enviesadamente
que seja! que queira!
depende do desejo, do despeite
Uau!

pra que disfarçar
realces do olhar
verdadeiro olhar

pra que ligar
pelo lance do outro
seja você mesmo
com todas as dores
e seus fundos amores
que você não diz
nem a si mesmo

prefere o que corrói
que sangra
que transmuta
no seu corpo
pobre, humano, doente!


DECIFRE
07/05/2012
O enigma está lançado
na esteira de toda rede
será homem? será mulher?

tem a cor de referência
intensamente almejada
lança-se ao virtual

questões vão além
subscrito define-se
misto de riso e prazer

linhame indecifrável
marcada condição
que subjaz em outro

SONETO ANGELICAL
01/05/2012
perfume invade
cada canto da casa
deixa no ar
o exalar perfumoso.

Angélica transpira
cheirosa e doce
aroma essencial
enfeitiça olfatos.

Mulher expande
levemente
inebriada catarse.

Adocica detalhes
perfume delicado
florisbela cativa.

ANGELICAL (PRIMEIRA VERSÃO)
01/05/2012
Perfumes a inundar toda a casa
na cozinha, afazeres fluem
com vagar e tamanha leveza
ao fundo o exalar perfumoso.

Angélica suspira em respingos
doces e cheirosos caminham pela casa.
À mesa, natureza morta em esplendor
essência aguça o olfato em êxtase.

Transforma o cotidiano em doce letargia
cada suspiro a envolver o anoitecer
debates d'alma se tranquilizam.

Perfume a inundar todo o jardim
Dama da Noite dá ares de chegada
aflora novos deleites do espírito.


BELÔ
19/04/2012
Oh! Belo Horizonte!
cidade de entranhas
testemunha de meu nascer,
de meu viver...
provavelmente do meu morrer!

Oh! Belo Horizonte!
das antigas tradições 
serpenteando a cidade,
dos verdes ...
a acalentar belas tardes!

Oh! Belo Horizonte!
Onde estão seus belos horizontes?
Tilintam em mãos de mineradoras.
O povo, que vê...
olhar que mais nada vê.

Oh! Belo Horizonte!
Cadê o brilho que reluz?
de vagão em vagão,
esvai... vai...
até o mundo chinês.

INFÂNCIA
12/04/2012
Meninice a saltar por Santa Teresa
bairro de minha infância, das peraltices
das brincadeiras na praça, dos jogos
a deliciar o momento da  criançada.

Rua Salinas, primeira estação
o beco, o cortiço do Seu Manoel, 
vidas em trânsito, crianças eletrizantes
pobreza ao derredor e muita falação. 

Rua Professor Raimundo Nonato
barraco mui simples e amado
historietas de cinco criaturinhas
despontando para a vida que acena.

Mãe com jeito protetor
animal arisco protege sua prole
bravura destemida em índole nortista
sensível no coração de grande mulher.

O pai, longe, labor bem distante
toque narcísico de sua existência
permeia as terras das Geraes,
amoroso no jeito doce de ser.

Gritaria da turma na "gran" barroca
buraco fundo, terra rosada
restos de construção, cacos de vidro,
criançada em auge aposta que voa.

Festas animadas na casa simples
reunião dos verdadeiros amigos,
Titia e Almir, risadas em êxtase
borbulhar dos infantes.

Jogos de baralho, casa do Zé Moreira
fumaça embaçante dos cigarros no ar
gritos entusiasmados... TRUCO!
meninada a comer bananada, a farrear.

Caminho para a escola, descida
chororô da mais nova
caminho de brita, casas amigas
caminho de volta, subida.

Sandoval de Azevedo... feijão azedo
Dona Ondina com sua braveza
Professora Natália com sua brandura
tirou o melhor de mim... E eu me achei!


RANCHO QUE DÓI FUNDO
01/04/2012
Tem horas que vivo do passado
e que o passado vive em mim
(sintomas de quem envelhece),
passado de minha infância
tempos de pura inocência
que vivi em Congo do Soco
pedaço da querida Barão de Cocais. 

Ai, que saudade me dá!

Das terras vermelhas, dos caminhos
que levavam à Fazenda Rancho Fundo,
terras dos avós, a perder de vista 
delicioso riacho a trepidar
meu coração a palpitar...
nas alegres travessuras que fazia lá.

Ai, que saudade me dá!

Do grande moinho a cantarolar
envolvendo as águas de modo circular,
da gigante máquina de moagem de cana
preparando a doce e escura garapa,
tacho de cobre, melado de rapadura
salpica borbulhas, tão quente está.

Ai, que saudade me dá!

Dos alqueires com plantação
escondidos entre montanhas virgens
vistos pelo olhar infante
mundo tão vasto, sem vizinhos
na estrada, cobras de vidro encontrar
à noite, fogueira, causos de arrepiar.

Ai, que saudade me dá!

Da tão desejada festa em família, 
festa dos aniversários de vovó,
família a cantarolar,
petiscos a saborear, 
hinos de alegria e graça
no arrasta pé, sem hora de acabar.

Ai, que saudade me dá!
Da Estrela D'alva no céu a despontar!

CANÇÃO EM DÓ
31/03/2012
O que faz estremecer este meu coração
na presença do que me consome
lastra por todo o meu corpo e irriga
cada componente de minha teia.

De rica essência e numa constância
acelerada, dando ares às pontadas
de meu fragilizado sistema
transgredido em seu interior nó.

Canção asfixiante e dolorida dor
martelada em tons vorazes urgentes
escondida entre os quatro ventos em dó.

Agonizante segredo enredado
entre meus seios volumosos e ofegantes 
cantarolando tão mística voz.
LUZES CÂMERA AÇÃO
31/03/2012
cortina fechada para o ato
curiosidade aguça
na visão que virá 

sequências de cenas 
cores fortes e vibrantes
realça o abre e fecha da cortina

atores em movimento
vai e vem de ação em ação
montam o quebra cabeça

praxis encena a fantasia
revela familiaridade real
numa visão surreal

o pano novamente se fecha 
luzes    câmera     ação
o teatro escurece.


AGRESTES
31/03/2012
solo árido e dolorido 
queima a planta do pé
de rostos molhados de rios
num sol a sol a sofrer

trincas do chão poeirado
marcas do destino malvado
daquelas terras e gentes agrestes
selvagens na maneira de ser

o sertão vai virar mar, seu doutor?
esperança sempre rebate no peito
daquela nação deserdada
perdida no vasto mundo

que não é só de Raimundos...
nem de Zés ou outros quaisquer
é terra de sofrimento quente
a marcar as peles das gentes.

ATO FALHO
28/03/2012
Dizem que palavra é doce
mas para ter sabor
custa muito elaborar. 
Procura-se por ela
e na hora H
ela se esvai, não condiz 
com a necessidade.
Noutra hora significa uma coisa
e sai uma outra.
Eis o que me aconteceu:
Estava olhando uma siriema
a palavra saiu
"siriguela"...
risos gerais e a constatação
de que palavra evocada
pode sair falhada.
Mero esquecimento
envelhecimento
ou lapsos banais...
Só sei que dela preciso
pra adoçar o navegar
com mais e melhores risos.

OUÇA O SEU CORAÇÃO
25/03/2012
Cada dia sinto sua verdade
na busca e no encontro
quem fala fundo
toques sui generis.

Dor que nos acomete
sempre expondo fundo
ardor profundo
toques ipsis literis.

Simples e complexo no seu viver
toques mágicos a dizer
singela condição do ser.

Ouça que tem ele a dizer
espere um pouco o calar
no silêncio seu pronunciar.

AMOR LOUCO
23/03/2012
Você minha droga mais poderosa
qual cocaína, heroína, maconha
extasia minha mente.

Você me deixa dependente
deste amor louco e potente
não consigo raciocinar 
quão dolorosa
é sua ausência.

Você me capturou
nas teias inexplicáveis
sou possuído   destituído

Você minha overdose
cicuta que não mata
que inflama o core
do sujeito alucinado
sem rumo

Você me deixa em ecstasy
quero mais e mais doses
aniquilante coquetel químico.  

TARDE DE PRAZER
23/03/2012
A tarde está gostosa
ao calor de corpos nus
branco lençol promíscuo
goles de champanhe  pura leveza. 

Amantes brindam o prazer
simbiótica figura.

A tarde foi gostosa
cenário guardado em nus
entardecer profícuo
aromas de fina beleza.

Apenas o primeiro ato 
de teatral encenação
de uma tarde de amor.

 
CRISE???
18/03/2012
O cotidiano, às vezes, é tão banal!
                                    tão pobre!
                                          tão sem graça!

               Que lançamos mão do ideal.
                                                 do nobre.
                                                             da grande graça.

Mas tal fantasia não supre o que é normal.
                                                    coerente.
                                                          a real graça.

    Será que há tempo de viver em real,
                                                                                e interessante
                                                                                                                     graça???
Seja simplesmente integral!
                                                                 surpreendente!
                                                                                                                    com risos na praça!

ACREDITAR
17/03/2012
Por que acreditar no amor?
Por que cantar o amor?
Por que procurar o amor?
Por que sofrer por amor?

Insondáveis porquês
sem respostas palpáveis
apenas dores inconsoláveis
de um peito sentidor.

Será o amor para poucos?
O que será para mim?
Tão subjetivo, tão diferente!

Vive-se na sua busca 
como agulha no palheiro
aos esperançosos: avante!

MANHÃ DE MARÇO
16/03/2012
Barulho da chuva fina
cai cai pela manhã
embala sono preguiçoso
acalenta sonhos ao despertar.

Vem, chuva, vem fininha!
cantarolar ritmos aos meus ouvidos
nesta manha ociosa
alegra meu acordar.

Aconchego de coberta fina
e cantiga de ninar
me deixam dengosa
com moleza de levantar.

Vem, chuva, vem fininha!
adentra chão sedento
para vida gostosa
dos breves germinares.


MOMENTO
12/03/2012
Chuva cai forte
 forte fala nas batidas
entoa sons orquestrados
num batuque natural.

Noite de mudanças
passar das horas a tiquetaquear:
não deixe a oportunidade passar...
Nada de querelar.

Dicionário diz coisas
todo tipo de entrada
manha da doce poesia
das palavras que  existem lá.

O riso voltou!
Quem sabe retorna também
chamas ainda guardadas
espontaneidade loquaz.

SER MULHER
11/03/2012
Livre
das amarras da história
a mulher vê diante de si.

Questões
a serem resolvidas, vivendo
tateando a liberdade tão recente.

História
feminina de submissão
numa cultura machista.

Resgatar-se
dos anos de jugo masculino
sem esquecer a feminilidade.

Ser
pessoa como qualquer
igual e independente
dona de seu próprio corpo.

Livre.


ACADEMIA FÍSICA
06/03/2012
Música eletrônica barulhenta
incomoda aos ouvidos.
Arranhar de passos rápidos
correm nas esteiras.
Rapazes ocupados 
olham narcisos no espelho.
Pessoas maduras e ativas
saúdam a disposição.
Criançada em farra
faz festa na piscina.

Uma greta e a imagem deslumbrante
majestosa lua cheia
emoldura a etapa de exercícios
que parece não findar.

Em plena academia
hipnotizada pela joia no ar.


PENSE
05/03/2012
nas mulheres
a primeira delas
sofrida e resignada
pela perda de seu filho

 nas mulheres da minoria
sacrificadas em seus rostos
lutas diárias 
que teimam em não cessar

nas mulheres assassinadas
por seus pares animalescos
feras famintas
aniquilam o homem civilizado

nas mulheres famintas
a zelar pelos filhos raquíticos
olhares doces e maternais
na crueza que teima em não cessar

nas mulheres do lar
a dedicarem suas vidas
naquele pedacinho de mundo
sem nunca acordar

nas mulheres lascivas
que do deleite sobrevivem
sem o carinho daqueles
que teimam ali estar sem cessar 

nas mulheres trabalhadoras
mães ausentes dos lares
buscando o pão das crianças
cotidiano suado

nas mulheres diversas
cidadãs do mundo
sem respeito   sem dignidade
dor que teima em não cessar

nas mulheres aguerridas
luta teimosa sem cessar
sem nunca deixar de acreditar
na justiça e bem-estar.


DOMINGO DE VERÃO
04/03/2012
Leveza da tarde acalma os ânimos
desenhos no céu anil
o sol forte contrasta com o relógio
vento não para de agitar

O inesperado tem charme
inspira  novas possibilidades
avante    ir em frente
não deixe a vida te levar

A construção nunca termina
obra inacabada até a morte
veja só que sorte
poder vivenciar

Começo?    fim?
nunca se sabe!
Por enquanto hoje...
levar a vida a valsar.


FIM DE TARDE
03/03/2012
Barulho vibra aos ouvidos
jatos de água 
germinando possibilidades

Pensativa imagino detalhes
jogo por trás das cortinas
janela e suas grades

Disperso na rotina
caminha entre afazeres
da falta do discurso ativo

Silêncio moroso
invade e colore
nuances de fim de tarde

Vento invade e espanta
repassa as páginas do livro
numa leitura dinâmica.


CISMA
29/02/2012
Sinto no peito
malsinar
trompetes que arrebentam
sinais... 

Arrebentação
ondas violentas
sem piedade
agem ferozes

ação malfadada
no fundo
instilam gotas
venenosas e que ferem

Sinais...
trompetes que arrebentam.
Sinto no peito
malsinar.

DATA FESTIVA
27/02/2012
Aconteceu de novo
tornou-se um hábito
esquecimento premeditado
simplesmente para ferir.

Fingir que não é nada
que o dia não importa
sinais repetitivos
algo termina.

Isso, que acontece com a gente
acontece por acontecer
ou por 
deixar acontecer?
BODAS
21/02/2011
Não lembrou
Foi dia comum, nada de comemoração.
O que traz o desenrolar do cotidiano?
Falta de prosa?
Falta de riso?
inquietude  frustração  mesmice
Será que tudo acaba com o tempo?

Eu sei!  Não queria sabê-lo.
Queria continuar a pensar...
Povoar de sonho a realidade a dois
Transitar alegremente por entre os dias
Fantasiar desejos e deleites
Mesmo velha, acreditar:
Que o tempo no amor não existe!!!

FAZ DE CONTA
16/02/2010
Solidariedade deixou de ser usada
passou-se a usar neoliberalismo
nele poucos podem
nele poucos têm tudo
nele a questão do coletivo não tem vez
nele impera o poder da elite!

O povo sofrido brinca o carnaval
a lavadeira cansada canta o samba
o lixeiro passa, apesar do feriado
o homem na construção peleja ao sol ardente,
apesar da calmaria.

O telefone toca
ninguém atende. 
É feriado nacional.
Viva o Carnaval!


O SIMPLES QUE ME FAZ FELIZ
11/07/09
Acordar preguiçosamente
espreguiçar generosamente
energia para o dia.

Abrir a janela
sentir o ar que perpassa
meu corpo  minha alma!

Apreciar o jardim
por mim teriam apenas floríferas
aquelas cores me inundam.

Algazarra dos filhos
entre si
vida de irmãos.

Às 18 em ponto. Ave Maria!
Soam na Igreja do Horto.
Igreja da minha tia...

Aquela bela macarronada
estilo italiano
sugo e manjericão.

Amenizar o cansaço
naquele travesseiro
na delícia da minha cama.

Aumentar o prazer de viver
lua cheia  noite de estrelas
céu muito azul  chuva necessária.

Almejar algo em que acredito
mesmo que outros
nada deem.

Amar  rir  sorrir  cantar
gritar  por língua pra fora
ler  escrever  dançar.

II Parte

A mina d'água jorrando
os peixes na bela Bonito
natureza natural.

A simplicidade
o jeito caboclo de Pena Branca e Xavantinho
o amor Brasil de Boldrin.

A bela canção de Almir Sater
andar devagar
gostar do que se vê.

Auscultar o Gonzaguinha
no fundo da alma
entranhado nas canções.

Aquele "pé de valsa"
que te agarra pra valer
orgasmo na dança.

A beleza do sorriso
criança  moço  velho
esperança na criação.

Aurora  esperança
Brasil mais irmão
gente do Brasil.

TEMPO
30/09/09
TEMPO

                                  SEM TEMPO

                                   COM TEMPO

TEMPERO

                                  TEM TEMPO

                                    EM TEMPO

CONTEMPLO

                                       O TEMPO

                     TEMPESTUOSO TEMPO.

NOVO ANO
02/01/07
Assim vai seguindo o homem
no continuum de seu destino:
jogo seguido de forças
livres e em desatino.

Novos projetos 
emergem na margem:
exigem doma
das ondas que vêm.

Assim recomeça energizado,
 buscando bons ventos:
sonho de novo ser
no alvorecer.

Repicam os sinos interiores
que transmitem o desejo do ser:
de ser outro
nesse novo amanhecer.

NATURALMENTE 
23/04/06
Beijar-te é natural
sentir teu lábio ao meu, é natural
fremir meu coração,
é natural.

Minha boca caminha na tua
encontramo-nos a todo instante
nas sequências desse desenhar
natural...

ACORDES
15/12/06
Silêncio.
Apenas acordes de um violão
cada pulsar de notas
rebate no peito emocionado.
No pensamento
aqueles sons
traduzem em formas
na memória
retrospectivas
análises
links em
silêncio.

 O ENCONTRO
21/12/05
Se este corpo te afeta
dele faça a tua casa
use,
abuse,
permita a tua avidez.
Até quando???
enquanto durar
contentamento.

Claro  escuro
céu poente... 
Luz!


INDAGAÇÃO
19/12/05
Queria saber o que é certo
verdade.
Isto  ou  aquilo?

Queria não ter dúvidas
indecisões.
Isto?    aquilo?

Queria o poder do decidido
sagrado.
Nada de isto ou aquilo

Queria ter a certeza
clareza.
Isto.  Aquilo. 



BANHO DE CHUVA
02/11/05
O refrescar da chuva a cair
corpo nu correndo na relva
alegria de criança a sentir
o calafrio no corpo infantil
pingos delirantes fantasias
a roçar nossa mente adulta
presa às convenções atuais
sem exprimir em vontade.


O VERDADEIRO PALHAÇO
12/11/05
Há um ano não falo com ele
mas nesse ano, não o esqueci
penso n'ele e isso me alegra
revejo seu jeito, seu trejeito
sua maneira única de estar
neste mundo,  com sotaque
de sambista, que canta a dor,
o amor, a amizade, o gosto bom
do estar junto daqueles que
elegemos.
Há um ano não percebo
sua irreverência a espalhar-se
nas atitudes, nas falas,
no jeito de andar.
Que falta faz a sua presença.
Seu jeito "sui generis" faz falta
sua jinga é sua sensualidade
e isso também faz falta.
Seu sorriso, suas bobagens
sua marca, fazem falta.
Mas ele soube viver
o tempo que era seu,
se deu por inteiro 
em todos os papéis.
E, por isso, talvez  se bastasse
e bastasse a Deus, acaso exista.
Mas ele não era só alegria, 
era também transparência de alegria,
sofria, refugiava-se, às vezes, 
no fundo da capela, na solidão
ali, chorava a sua dor, sua
e só a ele permitida.
Quando falava dessa experiência
percebia-se a dor presente
aquela dor humana,
sempre a nos perseguir.
A angústia era reconhecida
e compartilhada comigo.

SILÊNCIO
12/11/05
O silêncio.
Tão bom de se ouvir
quando sozinhos estamos.
Só ouvir tranquilos
os gemidos da noite
e com eles nos acalmar.
Os chiados dos grilos,
o arfar das asas dos morcegos,
os latidos dos cães ao barulho
que vem de fora da casa.

Esse silêncio.
 É doce de se escutar
transmite a paz n'uma alma
em guerra, em constante combate
que tal silêncio é a droga eficaz.

O silêncio insiste.
Durante o dia, ali presente
torna o cotidiano suportável,
observável e contemplativo
dá chances ao corpo que reage
busca forças a apaziguar.

COMPASSO
12/11/05
Ouço a minha respiração
o arfar de meu peito 
em compasso natural.

Só ouvir, só sentir, ambos.
Não necessito mais.
Isso me consola, me distrai
da semana cansada.

Por que insisto em tal dor?
Por que tanto egoísmo?
Quem penso que sou?
Perguntas...

DOR II
13/11/05
Fui circuncidada por ela
desde que do ventre de minha mãe
escapuli (se é que é verdade,
pois com fórceps fui forçada)
ungida desde o nascimento.
Ei-la, a partir de então
marcada para sempre.

 Humana e marcada
até que a morte nos separe.

Permiti sua presença constante
calada aceitei o escrito
fiz o que se comprometeu - 
segui vivendo
corroída  sofrida não concordante
lutava, luto, lutarei,
pois com ela ninguém pode
só a morte é sua dissolução.

Humana e marcada
até que a morte nos separe.


INSANA
07/11/05
 Sou um ser errático
que vive a esmo
me arrisco além do possível
atravesso as raias da loucura.

Como o louco, estou sem censura
ele o está por inconsciência
eu, por escolha impensada, louca já
desdenho da minha consciência.

Até onde eu irei? Quem sabe.
O trajeto dessa caminhada terá volta?
Lanço-me mesmo assim, quem sabe
se nesse abandonar-me, me encontro.

Mas quanto mais caminho
Mais me afundo no lodaçal
De um espírito desalmado,
Desesperançado  desesperado   livre de regras.

CHORORÔ
01/11/05
Choro copiosamente,
as lágrimas rolam em minha face.
Sinto seu gosto salgado
e o conforto em dissipá-las.
Uma leveza ressurge em mim.
É bom chorar!
Termino de cortar a cebola.

DOR
30/10/05
Ser uma pessoa triste
 não contar pra ninguém
guardar apenas a si.

A cada dia se armar
de forças   caminhar
sem assim  se perder.

Insistir   nesse gozar
de esperanças  persistir
assumir as contradições.

Senão o que seria da vida
se fugaz   se na letargia
abrindo mão de toda a poesia?

NUBLADO
30/10/05
O tempo acontece nublado
eu pareço assim o estar
nuvens escuras, tristes
num amuado  não fazer.

Não se percebe espaço ao Sol
eu não encaro espaço interior
um não sair   não brilhar
estar fechado   infestado.

O dia de hoje    não vinga
eu insisto manter sem jinga
sem raios reluzentes  de luz
nada querer     inerte jogo.

O Sol não sai   entardece
eu não saio      esmoreço
chega a noite    escuridão
como uma doença empalideço.

O tempo permanece nublado
eu teimo em assim o estar
as nuvens se espalham escuras
a dor se esvai    dissemina.


CHUVA
30/10/05
Chuva tão fina e grata
chuva batendo no telhado
chuva que amolece o chão
chuva esperada no sertão.

Chuva doce pra quem espera
chuva melada de muito olor
chuva amarga que destrói
chuva azeda de poluição.


Chuva mimada molha as plantas
chuva sincera traz lampejos
chuva zangada quer maltratar
chuva traiçoeira faz confusão


Chuva dela se sente falta
chuva necessária e bendita
chuva querela e fala mansa
chuva mentirosa foi-se em vão.


 SOLIDÃO
30/10/05
A solidão está recôndita n'alma
tradução do ser que somos
livres e presos,  seguimos
trilhando  nesse especular.

Cicuta do homem em seu ser
veneno presente em suas veias
não mata   deixa cicatrizes
só na morte encontra deleite.

Indolente, intrigante, aproxima
nada escancarada, arguta esconde
percebida por quem tem semente
brotando nos esconderijos da mente.

Pesarosa paralisa corpo/mente
instigante desafia a cada instante
generosa pode deixar que o ente
dela se estabeleça e se lance.

Traduzindo o ser que somos
intenso, latejante o bastante
pra usufruir desse colorir
tatuado no corpo invisível.

Essa marca é homo sapiens
bebida para embebedar-se
embriagar-se, por necessidade
dela a sensação do volátil.

Essa força que tanto domina
entregar-se e fortalecer-se
alimento da nossa natureza
mais humana, desconheço.


FUGAZ ILUSÃO
15/10/05
Senti seu coração descompassado
sobre minhas costas nuas
momento de prazer intenso
coração a saltar apressado.

Nossos corpos quentes
unidos em um só
catarse de dor do amor
expressão em gemidos calientes.

Momentos  instantes  segundos
passam breves ao nosso redor
sem pensarmos no mundo
importa é o aqui e agora.

Fulgaz situação
afugenta a razão
momento da imaginação
 livre daquela que angustia.

Vívida ilusão
dela precisamos para navegar
neste cotidiano infestado e cru
razão da dor que se faz anunciar.

A composição de nossos corpos
unicidade cúmplice
até a falta se torna sublime
ilusão da totalidade liberta.

Aos poucos as batidas vão
Arrefecendo  voltando ao natural
cai-se na vida para o viver cão
não é só de amor que se vive não.

EXPRESSIONISMO
30/10/05
Vermelho, cor de sangue, todos os matizes
nos vários tons o amarelo faz brilhar
verde musgo, bandeira, pistache
o preto não existe, só variedades de cinza.

Tonalidade forte, expressionismo
realidade inscrita com marca pingente
pintura amostra de emoção
vestida das cores viris.

Van Gogh se apresenta em meu espírito
suas cores também minhas o são
transformo minhas dores
num cotidiano fortemente colorido.


JARDIM
30/10/05
Corro para o jardim
ali   livre pra pensar
calor  verde  cor  
encontro liberdade pra expressar.

Observo as plantas
me envolvo na beleza das flores,
das pequeninas árvores  bonsais,
que embelezam os cantos.

Quando percebo, já estou 
a retirar ervas daninhas
que teimam 
em qualquer lugar fazer de seu.

Sigo na limpeza do jardim,
sabendo que assim
encontro a paz em mim
preciso, do perfume do jasmim.

PASSAGEM
30/10/05
Passei em frente ao colégio
o passado veio à mente
em lances rápidos, como fita de cinema
passando continuamente.

Sinal fechado. 
Trânsito caótico.
Impossibilidade de seguir.
Lembranças.

Fase da juventude,
histórias,
experimentações,
memórias no tempo.

Sinal aberto.
caminho livre.
Apenas lembranças
de um caminhar.


MANHA DE ANGÚSTIA
27/10/05
tento envolver num invólucro
fechando bem todos cantinhos
para que não haja espaço
dela fugir de mansinho

Mas a danada é tinhosa
quer se queira ou não se queira
anjo da treva
maligna esgueira

Espreita  beira  faceira
ali  está ela zombeteira
rindo dos artifícios que faço
pra me livrar do embaraço.

TEMPO DE ESPERANÇA
07/11/05

Esperançar

renasça em mim

que vivo

cada dia

a soluçar

vida

 que existe para ser vivida e sentida presente

às vezes aos trancos e barrancos, ao atropelo

mas vivida por inteiro

com momentos contagiantes ou

não, intensa e cheia de novidades ou

não, mas vida de esperança e crença

no seu potencial, na sua capacidade criadora

na energia vital

que reflete o poder existente em cada um

e que move este mundo cão, mas mesmo assim bão!



ACONTECIMENTO À CLARICE LISPECTOR
08/11/05
Uma situação chamou minha atenção
um sujeito conversando com uma mulher.
Falou queixoso pra ela:
  Porquê na vida tem mais coisa triste que alegre?
A mulher, olhou pra ele, apenas disse:
 Não sei porquê não.
Continuaram a seguir, em silêncio.

ENTARDECER
16/11/05
Medo de envelhecer
traço de minha adolescência
tipicamente narcísica.
Aterrorizava-me rugas, debilidades
apavorava-me o caminhar do relógio.
Eis-me aqui!
Aprendi a seguir
sabedora que o tempo vai prevalecer.


ESCOLHAS
19/11/05
Escolhas.
Em nosso percorrer,
fazemos.
Nem sempre acertando,
fazemos.
Escolhas feitas impulsivamente,
neuroticamente.
Escolhas delineadas dedo a dedo,
metodicamente.
Escolhas pautadas no desejo,
esperançosamente.
Escolhas, sempre elas,
definindo destinos e caminhos,
deixando desconcertados
os traçados, apenas pontilhados...
da vida a ser vivida.

RIR DE SI MESMA
30/11/05

alcancei tal estágio

talvez a idade favoreça

talvez a idade seja salutar

achar graça até do que deixa a gente sem graça

e sentir feliz apenas com a graça

de estar presente

no acontecer da vida

pronta para o que der e vier

velha moça

de riso coquete

no rodagira 

do giramundo


Revisão em 27/01/2021

rir de si mesma


que terei querido dizer

rir de si mesma

pesquiso em torno

e me pergunto

será a idade salutar?

o envelhecer escancara

a realidade em si

o que realmente sou.

antes

no bem ou mal  juvenil

sustentei outra

eu de mentira

fui socialmente apreciável

aceita

no espelho grupal

ao qual optei adaptar-me

moldar-me

lancei mão de arte e manha

defeito visto era negado

defeito à sombra mascarado

defeitos visto e negado

eram mascarados.

o que realmente sou?

envelheci

aceitei defeitos

ri de ter escondido

algo tão banal

escancarado

imaginado que

não tivessem acesso

como é tola a vacuidade

dos vinte anos

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