quinta-feira, 30 de abril de 2015

EXISTIR É MAIS QUE VIVER!

 

   Parece que a vida entrou em normalidade. Nem sinto estar aposentada. As obrigações tomaram seu lugar e em cena a falta de tempo. Sentar calmamente para escrever, difícil. Como as coisas vão se encaminhando na vida até parecerem comuns. Algumas tarefas tomam lugar de outras e quando se vê...

   Acho que é isto o que acontece! As coisas vão entrando no eixo e se vive o que se tem que viver. Mas como disse uma amiga ao ler a frase sábia: "Não se deve desistir dos sonhos porque senão vamos apenas viver, sem existir", temos que correr atrás do que surpreende a gente. Cotidiano demais esgota.

   O filme que assisti ontem é bem assim: o cotidiano tradicional de uma família trazendo rotineiramente sempre a mesma coisa até um ponto em que extremas decisões culminam em atos onde se fica questionando o porque de acontecer e terminar com tantas interrogações. O filme O Sétimo Continente,  austríaco, escrito e dirigido por Michael Haneke, 1989, traz a história verídica de um casal de classe média e me trouxe essas sensações. O diretor é o mesmo do filme Amor que escrevi a respeito: 
http://www.aposentadativa.blogspot.com.br/2013/04/o-amor-existe.html

   Até onde o viver de forma convencional pode abater almas sensíveis que pedem mais do que simplesmente viver?

   E como a resposta é avassaladoramente selvagem se põe em dúvida o conceito do que é viver bem: dinheiro? posição? sociedade capitalista?

   Engendrar a trama a tal nível e colocar em cheque a instituição familiar, a cultura natal, as relações, a sociedade. Tendo todas as perspectivas nesses níveis preenchidas e ainda assim não conseguindo se livrar de uma vida vazia existencialmente. A resposta é a busca da liberdade absoluta, contraditória ao que nos é possível - a liberdade com responsabilidade e comprometimento. 

   É assim que o fato verídico do desenrolar de uma família termina em suicídio, pai mãe  filha. Destroem todos os mitos da falsa felicidade: quebram móveis, rasgam todas as roupas, fotos, rasgam e jogam na privada todo o dinheiro e deixam carta de despedida dizendo que partiram para a Austrália. É tétrico! Os corpos da família foram achados um mês depois por insistência do irmão da mulher que pediu para arrombar a porta; irmão considerado o problemático por ter depressão. É filme denso, enigmático, pra pensar muito.

   O que sei é que sempre é preciso mudar. Como disse uma amiga: "Não se deve desistir dos sonhos porque senão vamos apenas viver, sem existir", temos que correr atrás do que surpreende a gente. Cotidiano demais esgota. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

OSCILAÇÕES CULTURAIS EM PLENA SEGUNDA

 
   A segunda feira de duas semanas atrás foi autenticamente o dia preferível: compromissos e após, opções de lazer culturais em um único local - BADESC Florianópolis SC. Foi uma experiência bem legal chegar pouco mais cedo e visitar duas exposições interessantes.

   VOLVER Odete Calderan onde a autora explora o referencial terra em toda a complexa significação. O Volver a terra, remexer, revirar, situações que nos trazem reflexões sobre a dimensão do tema. Adorei!

   TOPOGRAFIA DA ALMA Radji Schucman   O jovem fotógrafo surpreende pela capacidade de captar no cotidiano diversas leituras que tencionam trazer questões como a solidão, miséria, dentre outros. Questões que vivenciamos mas que aos nossos olhares comuns não se pregam. No olhar deste fotógrafo o momento, aquele momento traz várias significações. São ótimas as fotografias. A que achei excelente e me trouxe diversas leituras foi a de um casal atravessando a rua, ela negra, ele branco. Ela de capa vermelha, ele de azul. Em frente a ela um carro preto, a ele um branco. A escrita na loja em frente a ela diz "exciting", a ele diz "erotic lifestyle" ... acesse, penso que está disponível na rede, e veja se não trazem muitas muitas significações

   Depois fui assistir a programação de abril no CINECLUBE, com o filme alemão de Rainer Simon, 1984, A Mulher e o Estranho. Excelente! Mais que isso! Bom vamos ver se consigo destrinchar a história tão bem quanto no dia que assisti.

   O filme retrata o período da primeira guerra mundial. Mostrando no front dois soldados que preparam a barreira de defesa no solo, abrindo aquelas grandes valas para se esconder do inimigo durante o bombardeio. Vida sofrida da guerra, lembranças de casa, do aconchego do colo amado, o calor advindo do amor, do sexo, lembranças libidinais que culminam em orgasmo. Naquele ambiente talvez a solução contra a loucura.

  O soldado (Richard) relembra entra dia sai dia, sutilezas do lar, do carinho da mulher (Anna), das tarefas que sempre adiava resolver, do barulho ensurdecedor da chaleira etc. O outro (Karl), que não deixou ninguém esperando, solitário, embebe-se da história do outro. Esse soldado diz numa fala marcante: " ao invés de guerra, todos os homens deviam estar debaixo das saias de suas mulheres".

   O soldado é ferido e vai para lugar apropriado para tratamento. Ao se ver livre sai ao encontro da amada, mas é pego por um oficial que necessita de mais uma pessoa para compor a tropa. Vai ele para novo front. Enquanto isso o solitário soldado observa de longe e faz o que o outro sempre resmungava - trata de deserdar e foge buscando a liberdade até que chega a cidade, a casa do soldado amigo, até a mulher do amigo, como se fosse o próprio.

   Como viveram pouco tempo juntos, naquele tempo raras as fotografias, o povoado mal relembra seu rosto, o solitário soldado age e relembra fatos que só o verdadeiro marido conhecia. A esposa percebe que ele está estranho e diferente, mas após alguns dias, desejosa de carinho, cede e aceita viver aquela relação que vai se aprofundando. Ele de tudo faz para satisfazê-la, consertos de coisas adiadas, a chaleira que não mais apita estridente ... consegue trabalho, traz lenha para casa todos os dias etc.

   Tudo vai tão bem que a esposa almeja filho e compartilham a alegria de um casal harmônico. Até que ela recebe carta informando que o verdadeiro marido tinha sido morto.  Exige explicação do companheiro e este relata que ocorreu até encontrá-la.

   Tempo mais tarde o verdadeiro marido chega em casa bem vivo. A esposa o vê chegando e foge. Não sabe o que fazer. Ele encontra o lar arrumado, a mesa posta para jantar a dois. Quando o solitário soldado chega em casa é surpreendido com a presença do amigo do front, que alegremente elogia-o por estar naquelas bandas e ter trazido lenha. Até descobrir que ele não está ali por acaso.

   Karl conta que está com a esposa e que esperam um filho. Richard os expulsa de casa. Termina solitário em casa sem ninguém esperar por ele. Tal como disse uma vez no front a Karl após indagação de não ter ninguém a espera: "deve ser muito triste chegar em casa e não ter ninguém esperando".

   Até onde se deve falar da felicidade de ser amado e correspondido para um amigo? Até onde a inveja pode penetrar o jardim do outro que parece mais verde? Quem atiça desejos pode ser amaldiçoado por suas palavras?

quarta-feira, 8 de abril de 2015

PRIVILÉGIO VER O MAR TODO DIA

   

   Fui dizer poema quanto à beleza do céu e do mar e hoje repetiu-se o fenômeno. Caminhar a beira mar depois das cinco da tarde e nem uma nuvem, o sol acarinhando o corpo que se embebia de saúde, da famosa vitamina D. 

   Quantas pessoas na praia? Alguns gatos pingados que ainda usufruem de descanso em pleno abril, sortudos. Bom mesmo é aproveitar porque estando no sul logo logo as surpresas do vento vão surgir brrbrrbrrbrr.

   Que fim de tarde! Tudo azul, céu mar eu... caminhando em ritmo de câmara lenta apreciando cada minuto. Nostálgica, é assim com a proximidade do inverno, curtindo as beiradas com muito charme... porque pode falar o que quiser... quem mora próximo ao mar é um privilegiado de mão cheia, não importa se casebre ou mansão... a praia democrática se expande! 

   Depois, estudos de música, os ritmos estão me pondo doida! Será que ser sessentona tem influência porque... que trem mais difícil esse de aprender ritmo! Reclamo mas como me faz bem, pra alma e pro coração. Nada é mais importante naquele momento e o tempo... ah! o tempo, deixa de existir por instantes. E traz assim, mais saúde mental porque relaxada, sem pensamentos invasivos que teimam aparecer... problemas! problemas! problemas! Sempre entorpecem a gente, e, música violão ritmo tudo embala a leveza e clareza da mente... dura pouco mas faz diferença! 

   Recente vizinha do mar, ainda deslumbrada, como qualquer turista! "Virge" Santa, que lugar danado de bonito! É preciso investir em saneamento básico para que as praias de Santa Catarina continuem com aroma dos deuses. Vamos ficar de olho!   

domingo, 5 de abril de 2015

O CÉU INSPIRANDO POEMA... OU O MAR?

   

   Hoje não tencionava escrever, mas cá estou eu dando uma chance ao que aconteceu.

   Caminhei muito a beira mar, dia lindo com sol ameno e vento caliente que nada incomodava. Uma boa hora de reflexão e abandono. Os festejos das ondas do mar enfeitando o caminho escolhido. Mansas, brandas e deliciosamente em torno de 27 graus. Um carinho em pleno início de outono. Algo digno de deuses!

   Ia pensando pelo caminho sobre como o tempo passou... ao ver a algazarra das crianças e o brincar com castelos de areia; a colorida alegria de jovens por coisa nenhuma, risos. Pensei... daria um poema... o tempo passou! Quando estava indo, olhei pro céu e nuvens pronunciaram um lindo barco a vela, nítido e todo branco. Parece que bailançava no mar do céu azul, vi a vela tremulando... Agora que estava voltando... O tempo passou... como um barco a vela que se esboçou no céu... e já esfumaçou-se...

   Assisti em seguida ao filme P.S. Eu te Amo, de 2007. Não tenho lembrança de já ter comentado esse filme, a impressão deixada. Já devo tê-lo assistido umas três a quatro vezes e dessa vez, algo me soou meio falso, aquele amor de conto de fadas em pleno século XXI. Não sei especificar se foi uma cena mal feita pelos protagonistas ou se até para o filme... o tempo passou.

   Ou será que sou eu que estou passada, amassada, e não consigo ver graça em amores insossos. Deve de ser. Perdeu brilho, racionalizei no tempo da filmagem e a mensagem esbarrou em momento não tão especial assim. 

   Mas apesar desse olhar arguto (que muitas vezes eu não gosto!) deixei o lado romântico caminhar na trama, tanto que assisti até o fim. Esbarrou na parte chata, mas teve lá seus momentos de doçura e cuidado que, às vezes, faltam nas relações. Os risos e exageros a parte também compensaram, não é! É muito chato uma relação sem humor.

   E na trama a moça passa por bom tempo em luto (o marido morreu jovem, com câncer, aos 35 anos e viveram juntos apenas cinco) e tenta refazer-se e descobrir como será a vida dali pra frente. Tem a ajudazinha do maridão morto que deixou cartas para momentos que considerara estratégicos e conhecedor da mulher que tinha.

   Delicadezas que são objetos de desejo para as mulheres. Ser compreendida pelo homem que se ama. Só mesmo depois da morte! rsrsrs