quarta-feira, 29 de abril de 2015

OSCILAÇÕES CULTURAIS EM PLENA SEGUNDA

 
   A segunda feira de duas semanas atrás foi autenticamente o dia preferível: compromissos e após, opções de lazer culturais em um único local - BADESC Florianópolis SC. Foi uma experiência bem legal chegar pouco mais cedo e visitar duas exposições interessantes.

   VOLVER Odete Calderan onde a autora explora o referencial terra em toda a complexa significação. O Volver a terra, remexer, revirar, situações que nos trazem reflexões sobre a dimensão do tema. Adorei!

   TOPOGRAFIA DA ALMA Radji Schucman   O jovem fotógrafo surpreende pela capacidade de captar no cotidiano diversas leituras que tencionam trazer questões como a solidão, miséria, dentre outros. Questões que vivenciamos mas que aos nossos olhares comuns não se pregam. No olhar deste fotógrafo o momento, aquele momento traz várias significações. São ótimas as fotografias. A que achei excelente e me trouxe diversas leituras foi a de um casal atravessando a rua, ela negra, ele branco. Ela de capa vermelha, ele de azul. Em frente a ela um carro preto, a ele um branco. A escrita na loja em frente a ela diz "exciting", a ele diz "erotic lifestyle" ... acesse, penso que está disponível na rede, e veja se não trazem muitas muitas significações

   Depois fui assistir a programação de abril no CINECLUBE, com o filme alemão de Rainer Simon, 1984, A Mulher e o Estranho. Excelente! Mais que isso! Bom vamos ver se consigo destrinchar a história tão bem quanto no dia que assisti.

   O filme retrata o período da primeira guerra mundial. Mostrando no front dois soldados que preparam a barreira de defesa no solo, abrindo aquelas grandes valas para se esconder do inimigo durante o bombardeio. Vida sofrida da guerra, lembranças de casa, do aconchego do colo amado, o calor advindo do amor, do sexo, lembranças libidinais que culminam em orgasmo. Naquele ambiente talvez a solução contra a loucura.

  O soldado (Richard) relembra entra dia sai dia, sutilezas do lar, do carinho da mulher (Anna), das tarefas que sempre adiava resolver, do barulho ensurdecedor da chaleira etc. O outro (Karl), que não deixou ninguém esperando, solitário, embebe-se da história do outro. Esse soldado diz numa fala marcante: " ao invés de guerra, todos os homens deviam estar debaixo das saias de suas mulheres".

   O soldado é ferido e vai para lugar apropriado para tratamento. Ao se ver livre sai ao encontro da amada, mas é pego por um oficial que necessita de mais uma pessoa para compor a tropa. Vai ele para novo front. Enquanto isso o solitário soldado observa de longe e faz o que o outro sempre resmungava - trata de deserdar e foge buscando a liberdade até que chega a cidade, a casa do soldado amigo, até a mulher do amigo, como se fosse o próprio.

   Como viveram pouco tempo juntos, naquele tempo raras as fotografias, o povoado mal relembra seu rosto, o solitário soldado age e relembra fatos que só o verdadeiro marido conhecia. A esposa percebe que ele está estranho e diferente, mas após alguns dias, desejosa de carinho, cede e aceita viver aquela relação que vai se aprofundando. Ele de tudo faz para satisfazê-la, consertos de coisas adiadas, a chaleira que não mais apita estridente ... consegue trabalho, traz lenha para casa todos os dias etc.

   Tudo vai tão bem que a esposa almeja filho e compartilham a alegria de um casal harmônico. Até que ela recebe carta informando que o verdadeiro marido tinha sido morto.  Exige explicação do companheiro e este relata que ocorreu até encontrá-la.

   Tempo mais tarde o verdadeiro marido chega em casa bem vivo. A esposa o vê chegando e foge. Não sabe o que fazer. Ele encontra o lar arrumado, a mesa posta para jantar a dois. Quando o solitário soldado chega em casa é surpreendido com a presença do amigo do front, que alegremente elogia-o por estar naquelas bandas e ter trazido lenha. Até descobrir que ele não está ali por acaso.

   Karl conta que está com a esposa e que esperam um filho. Richard os expulsa de casa. Termina solitário em casa sem ninguém esperar por ele. Tal como disse uma vez no front a Karl após indagação de não ter ninguém a espera: "deve ser muito triste chegar em casa e não ter ninguém esperando".

   Até onde se deve falar da felicidade de ser amado e correspondido para um amigo? Até onde a inveja pode penetrar o jardim do outro que parece mais verde? Quem atiça desejos pode ser amaldiçoado por suas palavras?

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