terça-feira, 27 de agosto de 2013

PERSONAGEM APAIXONANTE!

  

    Dias destes assisti o filme com o ator americano por quem sou apaixonada, Morgan Freemam, Reencontro, de 2012; deliciosamente apreciado por mim, por estar cheio de poesia, com seus lamentos irônicos e as novas chances de transformações do ser. Morgan Freemam envelhece e a cada vez nos surpreende com seus personagens, cheios de veracidade, espontaneidade, de uma leveza que nos faz apaixonar pelo sujeito que transmite em suas atuações.

   É assim que o escritor retratado na fita me fitou de forma mágica, em seus constantes e insistentes sofrimentos até o desabrochar do que estava escondido, apenas a espera de inspiração. Sofrido e revoltado com as perdas em sua vida (paraplégico, perda da esposa), o escritor passa os dias em lamentos, em desdenhosos gozos de sofrimento, entre o beber compulsivamente, a tristeza, a ociosidade. Sem a perspectiva de novos projetos e interesses.

   Até que surge a amizade entre ele e uma garota. A família, composta da mãe e três filhas, torna-se sua vizinha. E daí nasce uma amizade pura entre um homem e uma criança em sua inocência e amor às leituras, dona de uma sensibilidade pouco apropriada a uma criança. Uma das irmãs menores pede que ele escreva uma história sobre elefante e  ele direto diz que não gosta de histórias de elefantes.

   Mas eis que ao desabrochar de um relacionamento com a mãe, recentemente divorciada, onde aos poucos os sentimentos de dor vão se tornando visíveis aos olhares e pensamentos de ambos e sonhos e quem sabe... ele se vê retomando a máquina de escrever para a produção literária.

   Lindo mesmo é o seu diálogo com a menina interessada em aprender como se escreve histórias. Ele lhe dá dicas: descrever o que ela não vê para onde estiver olhando, deixando a imaginação fluir a partir das vivências. Muito rica a contribuição para os desejosos da escrita. Adorei o filme e ainda ver o ator cada vez mais em auge... É de invejar! Quero ver de novo, tentar captar coisas que me escaparam.    

REALIDADE QUE ME FAZ LEMBRAR ALGUÉM...

  
    Estava lendo na Revista Florense nº 36, verão de 2012, nas pág. 12-17, o texto sobre o escritor Rubem Braga que me capturou em seus trechos, principalmente pelas citações do escritor, vindas de suas crônicas que tão apropriadamente falam  de nós, seres existenciais complexos como:


"Cada um de nós tem, na memória da vida que vai sobrando, seu caminhão de lixo, que só um dia despejaremos na escuridão da morte. Grande parte do que vamos coletando pelas ruas  tão desiguais da existência é apenas lixo; dentro dele é que levamos a joia de uma palavra preciosa, o diamante de um gesto puro." (O Motorista de 8-100, março de 1949)

"Cada um de nós, quando criança, tem dentro da alma seu sino de ouro, que, depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão." (O Sino de Ouro, março de 1951)

"Eu poderia mudar de cidade, mas afinal eu não mudo de pessoa; tenho de carregar esta minha pessoa, com seus cabelos, seus pés, joelhos, cotovelos, suas longas memórias." (O Sono, abril de 1952)

"Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procurem esse mistério, enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem mais profundas." (O Mistério da Poesia, fev de 1949)

   O escritor das deliciosas crônicas escritas sem os rebuscamentos desnecessários, contam da realidade inscrita na vida de cada um e que nos fazem deliciar com a verdade que também é dos leitores. Achei interessante conhecer um pouco mais do tipo característico do escritor: carrancudo, mau humorado, estilo desengonçado, matuto, que adorava o mar e o sol, que resmungava mais do que falava, reservado e que se mostrava apenas após certa convivência. Engraçado... Me fez lembrar alguém...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

QUE FRIO!


    Li uma frase do escritor de Ivanhoé, Walter Scott:

"Os homens costumam responsabilizar 
sempre o destino
pelas suas próprias paixões"

   E outras de Voltaire:

"A felicidade é um estado de espírito;
por conseguinte, não pode ser duradoura.
É um nome abstrato
composto de algumas ideias de prazer."

"O homem é o único
animal que sabe que deve morrer.
Triste conhecimento,
mas necessário porque ele tem ideias."

   Está um frio de rachar aqui em Belô, em torno de 16 graus. Não tive nem coragem de enfrentar o frio lá fora e desisti de atividades de hoje, trocadas por boa leitura sobre os filósofos acima. Scott do século XIX e Voltaire do século XVIII. Eu era aficionada nas séries IVANHOÉ, deliciosas, muita ação num tempo medieval. 

   A vida de tais personagens da história filosófica valeu a tarde em termos de conteúdo e me entusiasmou a novas leituras de seus escritos, além das reflexivas frases. Bom proveito!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O CORPO FALA!

 
   Esta semana fiquei tão cansada que teve um dia que ao me deitar tive a sensação de que não acordaria. Acho que muitos de nós temos essa sensação às vezes. Um cansaço pelas atividades da semana, que por serem boas, ruins ou qualquer que seja o nome pejorativo que queiramos dar, nos tiram energia física e/ou mental... Principalmente quando se chega pra lá dos enta, começa-se a sentir os pesos dos anos em qualquer atividade que aos vinte fazíamos num "zapt... zupt...".

   Lembrei-me de um cunhado que sempre que eu reclamava do peso dos anos ele me dizia: deixa chegar os setenta e verá o que é o verdadeiro peso. E a cada década, não... a cada ano que passa, o roteiro tem que ser mudado, pois nada é mais igual.

   Então, antes de dormir, me veio um poema bem centrado aos sentimentos do momento...

   Bom, morrer desse jeito deve ser bom. Conheci poucas pessoas que tiveram esse privilégio, muitos sofrem em camas de hospitais, ligados por aparelhos traqueodolorosos (inventei!) aos montes.

   Mas também, quem manda eu querer agarrar o mundo com as mãos. Invento "n" atividades que me agradam e não consigo lidar com a questão tempo. Nada exagerado, somente coisas que amo fazer... a questão é que me esqueço de que sou humana e limitada em muitas situações. 

   Estou precisando de descanso! Relaxa Marc Gogh!

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

DÊ O AR DA GRAÇA, RELAXE!


   
   Tem horas que me pego admirando as fotos que ando colocando no blog para dar um toque às postagens. Desde que decidi fazer isso, porque queria algo original, vindo de uma receita caseira, o pessoal estampado nas falas, não paro de correr em busca de novas fotos.

   Eis que vivo pedindo help para os amigos, no sentido de me guarnecerem com tal mercadoria, pois já disse: eu sou uma negação no quesito.

   Nada como fotos da natureza para nos levar para longe da sofreguidão do dia a dia, da correria, do esquecimento do respirar corretamente por causa das ansiedades que se vai carregando.

   Aproveita-se a bela paisagem e mãos a obra às contemplações e relaxamentos. Falando em relaxamento, é o que há de melhor quando se está no caos, qualquer que seja. Alivia, acalma, melhora a capacidade cardiorrespiratória, retira de nós aquela preguiça básica que costuma dar as caras.

   Tenho um exercício básico que passo para os pacientes e que usufruo para ficar mais liberada e leve. Vou transcrever aqui, quem sabe é possível dar uma paradinha e enquanto admira as belezas das paisagens, exercita a respiração de forma prazerosa. 


  RELAXAMENTO

   1 - Sentar corretamente em uma cadeira, procurar ficar com a coluna ereta e colocar ambas as mãos sobre os joelhos;

   2 - Respirar o mais profundo que puder (puxar o máximo de ar possível), de forma lenta, segurar a respiração contando até dez;

   3 - Expirar (soltar o ar), de forma lenta, de preferência pela boca, bem suavemente. Retirar todo o ar que sentir. Após isso, contar até dez antes de tornar a respirar novamente;

   4 - Repetir o exercício quantas vezes quiser e sentir que precisa, mas se fizer pelo menos umas quatro vezes, já sentirá uma harmoniosa energia dando o ar da graça.

   Este exercício não é meu. Utilizo-o com pessoas em fase de luto, tristeza, depressão e no dia a dia dos ansiosos (me incluo!) que esquecem até de respirar. Está registrado no livro do psicoterapeuta Alexander Lowen, O Corpo em Depressão.

   Relaxe e dê o ar da graça em sua vida!

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MADAME BOVARY SOB O MEU PONTO DE VISTA


Enquanto Ema Bovary vivia fantasias de amor pelo interessado rapaz, eu vivia também o suspense que aquela situação estava causando em mim, que me perdoe Gustave Flaubert, mas eu tinha que fazer alguma coisa. De certa forma, me agradava as sensações que Ema vivenciava; nada de rotineiro, nada de doses corretas daquele casamento morno, apenas sonhos de ser feliz para sempre com o tal do príncipe encantado, que por simples capricho da natureza feminina ainda não encontrado em seu marido, médico dedicado e envolvido com a comunidade.

O que fazer com os sentimentos pitorescamente românticos que surgem na mulher em sua carência afetiva. Romantismo este advindo de sua vivência ingênua, somente limitada a casa, àquele mundo de quatro paredes em pleno século XIX. Também culpa de um tempo em que o homem de senso prático, pouco atentava pela necessidade da mulher de ser reconhecida como sujeito que deseja ardentemente ser amado, desejado, ser inteiramente mulher.

Claro que o lapso do capricho da natureza feminina deva ser explicitado. A mulher desde tempos remotos se coloca como aquela que se submete às autoridades do masculino e devido à fragilidade de seu corpo frente aos perigos vê a proteção como um compromisso do provedor... que ainda costuma puxá-la pelos cabelos.

Mas como interferir nos sentimentos que Ema vem vivenciando, todos de uma característica nunca antes imaginada em relação ao seu casamento? Será o proibido capaz de dar-lhe tais dimensões? Ou é apenas o ímpeto feminino querendo aflorar sua libido massacrada desde tempos antigos?

Onde está o marido que nem se apercebe de sua presença, intensamente feminina e de índole docemente romântica. Enquanto isso, eu vejo Ema vivenciar suas fantasias sem capacidade de pensar o lado racional das coisas. E claro, com a escolha feita de modo egoísta, sem a clareza de como aquela situação interferirá em seu ambiente familiar.

A cada encontro novos lances de sensações indescritíveis, movimentos que interligam mente e corpo numa amplitude capaz de cegá-la à comum realidade. Prazeres desejados e vivenciados e reconhecidos apenas naqueles instantes. Como simples presentes, dados de modo interesseiro pelo galanteador, são capazes de tirar-lhe o senso necessário? Como suas carências não reconhecem as regras a que está sujeita?

Eis que chega a resposta de um prazer vivenciado em apenas um dos lados – o emocional. Encontra-se angustiada, o prazer e o desejo inconsequentes dos primeiros tempos transformam-se agora em tragédia familiar. O marido descobre a aventura amorosa e num momento de fraqueza, suicida-se. Eis agora a mulher e a filha sozinhas sem nenhum responsável pelo sustento. Ela agoniza já consciente de seus atos mesquinhos e provocativos e a dimensão que tomaram. Definha até a morte e deixa a filha sozinha, responsável por uma conta que não era dela, sujeitada à pobreza e necessidades.


Mas o que eu poderia fazer? Ema viveu o que teve que viver. Flaubert estava querendo nos dizer algo e conseguiu: nenhum prazer vale a pena se existe um outro a quem magoamos. O prazer fundamental é o do conhecimento de si mesmo (a), onde as escolhas são feitas de modo racional e emocional em harmonia, em condições de equilíbrio, pois experimentar isso significa maturidade e nesses casos; o prazer e a emoção são compensadores por estarem livres de agonia e tragédia.

LIVRO: MADAME BOVARY - Flaubert, Gustave 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

PENSAMENTOS AZUIS

  

    Sei que ando meio sumida, mas anda faltando inspiração, além do que eu não sabia que estudar violão tomasse tanto tempo da gente. É que para conseguir pequenos progressos necessita-se de muitas horas de estudo. E mesmo assim custa-se a ver evolução. 

   Mas, mudando de assunto, estes dias fiquei conversando com um amigo que se casou há dois anos e ficamos a filosofar sobre a difícil e longa trajetória para que a relação se encaminhe para um relacionamento profundo, onde os dois saibam viver sua vida individual e em casal, pois são coisas bem diferentes. Quantas pessoas se anulam como indivíduos e se dedicam quase que exclusivamente ao outro. Com certeza vai chegar o tempo em que verá que se subtraiu de outras situações de vida a que tinha direito, sem que isso ameaçasse a relação, pelo contrário, só iria enriquecê-la. 

   Às vezes, durante o amadurecimento da relação, deixamos de lado a nossa opinião e passamos a transmitir a opinião do outro. Isso acontece muito com nós, mulheres, numa postura mais submissa e estreita. Eles se vangloriam disso até certo ponto; mas quando se submete em excesso, a mulher perde o glamour do "surpreender o outro" com sua característica única de ser dona da própria vida. O homem gosta de autonomia, aqueles que não se dão conta disso, não querem uma mulher, querem outra coisa, com diversos sinônimos: secretária, dona de casa, lavadeira, passadeira, tantos eiras que muitas já estão acostumadas.

   O importante de uma relação é a construção diária, árdua na verdade, pois não se vive só de amor, mas de convivência com um outro que é diferente de nós. Onde pensamos que ele pensa que pensamos que ele pensa... Muitos jogos até que se encontre o diálogo verdadeiro e que valha a pena. É assunto por demais complexo, hein!

   Vou para outro mais ameno agora. Terminei o Livro Shakespeare and Company, que iniciei a algum tempo e não encontrava tempo para encerrar. Mas adorei saber das "fofocas" sobre os diversos escritores dos anos 20 que andavam por Paris e na livraria de Sílvia Beach (que existiu até 1941).

   Suas descrições são gostosas, num modelo autobiográfico que me agradou e fala do prazer da boa literatura e da convivência com escritores que antes do sucesso, "comeram o pão que o diabo amassou". Hemingway, James Joyce, Paul Valéry, André Gide etc, em descrições tão pessoais e onde se percebe as dificuldades e alegrias de um grupo que se embebia com as palavras e sons, onde a genialidade e o constante e necessário prazer criativo estavam presentes. 

   Interessante foi a relação dela, como editora, de James Joyce, descrito por ela com bastante carinho e deixando claro que ele era um sujeito excepcional  ao lidar com o outro. Sempre atento a tudo que ouvia e a todos considerava seus iguais. Tinha olhos de um azul profundo, mãos que chamavam a atenção, com grandes anéis com pedra nos dedos médios e anular da mão esquerda. Ele dava a impressão de sensibilidade que superava qualquer pessoa que ela já conhecera. 

   Sílvia Beach ficava encantada com a bela voz de Joyce, que era um excelente tenor, com dicção excepcionalmente clara, ela o disse. Ao se expressar, ele o fazia em termos bem simples, mas com grande cuidado com as palavras e os sons. Falava e entendia nove idiomas e antes do sucesso, dava aulas de inglês para sobrevivência sua e de sua família (esposa e dois filhos). Conta também da peripécia de produzir o livro do escritor, Ulisses, que teve sua obra proibida em muitos países de língua inglesa.

   Triste é a sua descrição sobre o problema que ele tinha desde criança: a deficiência na visão, no final já bem difícil; tanto que ela orienta quem vá ler o livro  Finnegans Wake, de James Joyce, que deva ser ouvido, pois nesta época Joyce já estava bem mais atento aos sons, devido a precariedade visual. Na página 60 ela diz: "Fiquei imaginando quando Joyce encontrava tempo para escrever. A noite... O esforço já estava começando a se fazer sentir  sobre os olhos... onde se converteram num grave glaucoma. Foi a primeira vez que ele ouviu falar nessa doença, com seu belo nome. "Os olhos cinzentos de coruja de Atena", suspirou." (Na referência traz a palavra glaukos, do grego, cinza).

   Os relatos do período das grandes guerras trazem grande desespero a todos que viviam na Europa. Enfim, uma mulher dedicada a arte literária, com felling e que chegou a ser chamada por um deles de "Bluestocking: termo usado para designar uma mulher que se envolve em reuniões ou debates literários. Segundo Samuel Johnson, a palavra deriva das meias azuis de uma certa senhora stillingfleet, participante ativa dos colóquios intelectuais do século XIX."

Meu início de semana será bem melhor com remanescências da leitura a povoar meus pensamentos. 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

DOMINGO MUY BUENO!

  

    Hoje, domingo, foi um dia atípico aqui em casa. Meu cunhado chegou com um vinho e em plena onze horas da manhã estávamos saboreando um bom vinho. Agora ele deu pra ficar exigente quanto à safra e  o sabor dos vinhos. E assim ficamos, curtindo o prazer de uma boa conversa, os causos de família que não poderiam deixar de existir e as risadas, as boas risadas salutares à saúde.

   Claro que regados a boas doses de água também. E lá se vão três garrafas sem nenhum problema, principalmente porque eu, experiente no atendimento de alcoolistas, não convivo com os excessos. Sempre acompanhado por alimentação, água e glicose. É inconcebível que não tenhamos um determinado controle dito racional. Não é o que acontece com as pessoas com dificuldade na ingestão de bebidas. E na minha vida como especialista presenciei situações onde o simplismo não pode ser discriminado como o faço aqui. É uma outra história.

   Mas, conversa vai, conversa vem, a gente acaba sabendo histórias antigas e conheci algumas novidades da família. Como por exemplo, a chatura do meu marido, quando jovem, aos cuidados destemperados com o seu carrinho. Ninguém podia entrar no carro sem limpar bem os pés. Eu vivi as tais situações e rimos muito desse tempo. Só melhorados com a experiência e a maturidade, com a vinda dos filhos onde se vai exercendo a tolerância e aprendendo a ser mais acessível. Também a importância da complementariedade: eu ajudei-o a melhorar como pessoa e ele fez o mesmo por mim. Essa reciprocidade nos relacionamentos é o lance que vai sendo construído no cotidiano.

   Acabei também lendo um jornal do meu bairro, após a ida do cunhado, e me deliciei com as lembranças de uma pessoa sobre os tempos de construção do bairro e sua transformação. Contou sobre a criação de cabras em plena rua Pitangui (próximo onde hoje é o Estádio do Independência, também chamado de 7 de setembro). Das visitas bem de manhãzinha do leiteiro com o leite recém retirado e a fila de pessoas com o litro na mão à espera de atendimento. E a farra da criançada, as brincadeiras, os muitos risos, gostei tanto porque me fez também relembrar que no bairro em que eu morava era tal e qual. Agora, lá se vão sessenta anos como ela o disse e as transformações estão aí. Como é característico de nós, que envelhecemos, sempre gostamos de recordar velhos tempos.

   E assim a história vai se fazendo, com as histórias contadas pelos que passaram por tais momentos e que vão enriquecendo-as ainda mais pelo contexto da particularidade que cada um lhe dá. Aí junta-se a verdade da vivência daquela pessoa, com o acontecido propriamente dito. É muito bonito esta construção da história do homem.

   Vinho, boas recordações, prazeres salutares da convivência entre as pessoas. É o que vale nessa vida, os encontros e o diálogo, sempre possibilitando o reconhecimento do outro. "Gracias a la vida"!!!

domingo, 4 de agosto de 2013

SILÊNCIO É TIGRE DOMADO!

   

   Fiquei sozinha por algum tempo em casa. Que delícia sentir o silêncio a permear cada canto da casa e respirar sossego, calma, contemplação da aparente leveza momentânea. Digo isso porque numa cidade grande é difícil ficar completamente num silêncio.

   A tarde estava começando a findar-se, e ao fundo, a canção da Ave Maria dava a graduação ao estado d'alma. Muito bom! Eu adoro ficar sozinha quando é possível, para sentir-me inteira e comigo mesma. Repensando coisas ou não pensando em nada! Sem compromissos.

   Fiquei quase o dia inteiro a preocupar-me em limpar livros da estante, que andavam me pedindo limpeza. E a cada cuidado com determinado livro, lá ia eu folheá-lo e aquela escrita tomava novo sentido à leitura que no passado fiz. E assim, as horas voaram e não dei conta de terminar a encomenda. Enquanto fazia a faxina, descobri um texto bem legal que tinha retirado da revista Bem Viver da Gol, que não anotei a data, mas já tem muito tempo.

   O artigo é de Márcia De Luca e fala sobre o sofrimento. Gostei da temática e como já pontuei sobre o silêncio, dar continuidade com o tema do sofrimento pode ser salutar. Ela enfatizou que abraçar nossos medos em vez de fugir é uma boa maneira de acabar com eles. E contou a história de um grande sábio indiano, que de tão interessante para análise e reflexão, vou transcrever: "Um grande sábio indiano disse uma vez: se você conseguir enfrentar o tigre da vida, poderá conseguir tudo o que quiser. Mas o que é esse animal feroz, que ao ser domado nos garante o bem viver? É o sofrimento, que precisa ser encarado de maneira saudável e positiva."

   Quantas vezes fugimos da necessidade de enfrentar os sofrimentos, principalmente os que nos afligem existencialmente. Pensamos que estando longe eles nos darão sossego, e eis que: mesmo longe, nos acossam, trazendo grande angústia e ansiedade ao nosso bem estar diário. 

   Eu valorizo muito o sofrimento, por mais doloroso que seja, o seu enfrentamento traz à pessoa ao real comprometimento com a vida, com a maturidade. A autora diz que trazê-lo para junto de si vai fazê-lo desaparecer: "...Apenas quando aceitamos nossos medos e inseguranças é que eles desaparecem...". 

   Como podemos chegar a isso? Buscando o autoconhecimento vamos estar mais próximos de analisar o que nos causa dor, através da sua compreensão seremos capazes de entender o que se passa e tomar novas atitudes frente a realidade, se terá novas ferramentas para a sua neutralização que não seja a fuga. O medo acompanha o homem em sua existência e só o seu enfrentamento torna-o um animal de estimação.

   Aí sim, vai entender o ficar em silêncio, em paz com os deuses e consigo mesma (o)!!!