terça-feira, 29 de dezembro de 2015

AGORA É GLÓRIA!

  

   "... Sair do chão de nossas ilusões, metamorfoseando-nos rumo às alturas de nosso pleno potencial."  frase que li dia desses. Desculpe, não lembro fonte, não sei se ouvi ou li, ou de que jeito veio tombar no gosto. Me atraiu ao momento propício por qual passamos - final de ano e planos de futuro.

   Planos de futuro, que já é amanhã, precisam da crença de que somos capazes de ser e fazer melhor. Estou me saindo uma verdadeira guardiã da autoajuda, mas não é verdade. Ninguém precisa disso, todos temos potencial a nos rodear, basta abrir os olhos e ver, enxergar com a real capacidade.

   Não o extraordinário, mas a simples capacidade de dar valor ao que se é. E com isso valorizar cada habilidade e atitude essenciais ao desabrochamento do potencial. Nada de engasgar com a tal da timidez, mas desenvolver a potencialidade capaz de neutralizar os incômodos ruídos que muitas vezes ouvimos de nós mesmos, sussurros aterradores que emperram o crescimento.

   Esse é o desejo, o prazer de receber o ano que se aproxima com alma e mãos abertas, na beleza do sorriso de acreditar que é possível, e, deixá-lo vir livre, poderoso e completamente à vontade. Se é todo sorriso, a vida vem com temperança. Não o sorriso bobo, mas o que dispõe a repartir. 

   Que glória ter nas próprias mãos o poder de sentir-se útil e inteiro nas possibilidades que todo o amanhã traz. Potencializado nesta energia duvido que os caminhos sinuosos que precisamos passar interfiram no astral imanado de luz. 

   Glória ao potencial disponível a todos! 

ALELUIA, O ANO ABRINDO PORTA

  

   2016 abrindo a porta... Falta pouco! Ainda tem jeito de entrar o novo ano com outra cara: a da esperança.

   Sempre renovada a esperança transgride aqueles pessimistas de plantão que fazem questão de melar boas conjeturas. E isto aqui no Brasil parece fazer parte de complô, credo. O que o cidadão precisa é olhar-se no espelho e ver que a auto-estima anda em adequada forma e não a visão derrotista que a mídia e alguns "estrategistas do medo" querem que vigore.

   Portanto, esteja atento para não cair em derrotismos tramados pelo mercado econômico, afinal, o que importa é a rede local e esta, o povo sabe captar para fugir as raias da crise. Atenção redobrada para o controle de gastos desnecessários e atuação solidária nos grupos de troca, investimento em hortas próprias, na elaboração  de serviços que antes, por comodismo, se pagava, hoje tem que retomar as rédeas, como forma de controle do orçamento doméstico.

   Deixe vingar somente as expectativas de construção de um ano melhor, mais aguerrido e robusto, feito por credores do benfazejo bem estar pessoal, da aura esperançosa. Sem sombra de dúvida com tal astral o ano promete entrar com gamas extras de positividade e bonança.

   Aleluia é a palavra bendita para quando a porta de 2016 realmente der as caras.   

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

BEM VINDO A NOVOS DESAFIOS

 
   Chegando a hora das avaliações do projeto de vida idealizado para 2015. Será foi possível dar conta das metas a serem atingidas? E após a análise trabalhar para colocar novas ações para 2016, que se supõe ser de muita contenção já que andamos em recessão.

   Mas só consigo olhar com astral inspirador e esperançoso quando a tarefa é elaborar novos projetos e desafios. Suponho mesmo que este é o "frison" a fazer vibrar a vida. Pode crer, dá certo, quando se almeja e se persegue... pode até demorar mais que o desejado, mas o impulso inicial dá a energia para o fluir e o encaminhar. Pronto. Acontece.

   Foi assim quando começamos a planejar que iríamos morar numa cidade praiana quando da aposentadoria. Por 10 anos a meta andou nos projetos de vida. Ainda mais que meta tão radical exige diversas ações para que se torne realidade. Muitos envolvidos, a família, o trabalho, os estudos dos filhos, nova vizinhança, novos conceitos e cultura local, muita reflexão sobre se a escolha será acertada. E quando se olha para trás, descobre-se o valor da persistência, da determinação, do desejo que acompanha todas as etapas de um projeto de vida.

   Não faz parte da minha compreensão uma pessoa não possuir um projeto para a vida dela. É o que nos move, nos distancia da angústia própria das depressões, dos desânimos, e mesmo serve de remédio a muitas doenças que nos imputam paralisia. Pode não. A caminhada é pra frente e as lamentações, as lamentações existem, mas não podem ser impeditivas para ganhos lá na frente. Ao contrário, servem de alento, exigem que se some forças físicas, mentais, espirituais. Assim, emanados da fibra humana a que fomos ungidos caminhamos com a destreza necessária.

   É nesse desejo que vislumbro todas as pessoas, a caminhar sempre sugando o melhor de si e dando conta de que, apesar de tudo, vale a pena construir a cada dia o pedacinho importante para, primeiro o alicerce e em seguida, as paredes erguidas com o esforço do poder de querer.

   Que venha 2016 firme e forte! 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

APRECIANDO A FANTASIA

   

   O clima andou fervilhando semana atrás, e o que deu vontade mesmo foi colocar mordaça na boca para não desferir em vão falácias que não se pode comprovar verdadeiras ou não. E foi saudável a escolha com pausa apenas para leituras.

   E como sou péssima no quesito dos "diálogos", a sua produção, trato de aprofundar meus conhecimentos através do livro Como Escrever Diálogos, de Silvia Adela Kohan, Gutenberg, 2013, dica que recebi do grupo de teoria literária. Após a leitura já ando entusiasmada a rever todos os exercícios que me atrevi a fazer sem seguir regras básicas, quem sabe assim os escritos melhoram em coerência.

   O livro é agradável de se ler, bem objetivo e recheado de exemplos. Fala das diversas modalidades de diálogos, e das possibilidades de se poder transgredi-los também, desde que o texto o exija. Gostei da argumentação e dos toques interessantes para tais situações. Preciso lê-lo, relê-lo diversas vezes para assimilar e introjetar em meu raciocínio naturalmente tais questões.

   Além deste, o do Moacyr Scliar, contos deliciosos do livro A Orelha de Van Gogh;  os contos do Dalton Trevisan Até Você Capitu?, Duzentos Ladrões e Continhos Galantes, o livro do  Julio Cortázar O Jogo da Amarelinha e comprei mais um (acumuladora, não aguentei... mas tenho em minha defesa não ter lido nenhum livro do gênero, que não é o meu forte) Agatha Christie Encontro com a Morte. Razões de sobra para não ter tempo.

   E assim vou neste finalzinho de ano colocando em dia leituras e ao mesmo tempo prestando atenção na arte de produção dos escritores.

   Semana que vem já é natal e na outra acabou-se o ano. Como voou meio estropiado este ano, principalmente nestas terrinhas Brasil. Deu vontade de estar lá nos povoados portugueses com sua calmaria e culinária provinciana a fogão de lenha e deliciosos azeites e vinhos artesanais. Como viver a base de euro é impossível para qualquer brasileiro mediano, fico mesmo nas fantasias apreciativas da rede.

   Apreciando as belas flores da primavera a surgirem em beira dos meus olhos sedentos de flores. Lindas!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A DELICADA FRAGILIDADE DO SER

   
   Estou "capenga" ainda hoje. Na sexta a noite tivemos que levar o filho numa emergência hospitalar... o maxilar sofreu uma luxação (o famoso - queixo caído) e ele apareceu abruptamente na porta do quarto, sem conseguir articular palavra, com dor terrível. E ficamos até as seis da manhã aguardando atendimento. O hospital do plano de saúde foi incompetente, não tinha o profissional da área, apenas medicou para diminuição da dor. Encaminhou-nos ao sistema público, onde têm todas as especialidades. Ficaram na administração de medicamentos enquanto aguardávamos a chegada do especialista, o que parece ter sortido efeito. O médico não chegou. Quase de manhãzinha, simplesmente, o queixo voltou para o lugar. Nem acreditamos. A musculatura deve ter relaxado.O médico de plantão nos liberou, pois quando o queixo retorna já não existe dor. Agora fica é medo de abrir a boca demais e ...

   Lá vou eu dormir sete horas da manhã. E estou assim, "capenga" desde então. Os sessenta agregando valores as noites mal dormidas. Ainda sinto que preciso descansar e mesmo descansando, o corpo se esgueirando para a preguiça, o cansaço, a malemolência, claro, por necessária causa, mas como os anos vão sendo ingratos com a gente.

   Eu nesse sufoco todo, mas sufocante mesmo era a urgência médica, com problemas piores, como vítima de agressão, de acidente de trânsito, ..., a madrugada andou braba por aquele hospital geral.

   Agora que passou, aliviada por tudo ter chegado aos eixos, consegui sentar na frente do computer, ainda na moleza, o corpo a demorar responder aos esquemas de descanso. Eu que não acreditava. Vivencio.

   Fico imaginando a atriz Marília Pêra, que faleceu esta noite, de câncer de pulmão, a perda da energia se esvaindo entre as mãos. Mesmo no seu dinamismo, era visível a fragilidade em cena. Foi-se uma de minhas atrizes preferidas. Tem uma frase que ela disse num programa "eu sou adepta da esperança com humor." Conseguiu, pela arte, transformar o nosso cotidiano em cores divertidas. As personagens que eu mais gostava era onde o popular se expressava caricato. Atriz da minha infância, mocidade, fase adulta, velhice... a fragilidade vai dando o tom até minha vez de ir...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

PALPITANDO A VIDA ALHEIA

   

   É tão estranho o que está me acontecendo atualmente. Filho palpitando o que devo ou não fazer da minha vida. Eu com meus quase sessenta completados e tendo que escutar outras pessoas dando palpite sobre o que devo ou não fazer.

   Quando eu era jovem, meus pais decidiam o que era bom para mim, agora na velhice, os filhos se arvoram a saber o que é melhor. Credo! Será que a pessoa nunca vai poder decidir por si própria, sem intromissões. Que coisa mais chata. Me senti uma adolescente sem capacidade para direcionar os projetos de vida, ainda perdida no arsenal de possibilidades que os olhares e os desejos juvenis fazem com a gente. Como se precisasse de orientação sobre desejos mirabolantes e que na atual conjuntura não se adequassem. Assustei. Será que é isso envelhecer? Pessoas dando pitaco porque a fragilidade começa a assombrar o caminho?

   É tanto achismo: eu acho que você deve fazer isso... deve fazer aquilo... ou aquilo outro... Não, não dá para ficar escutando e ficar calada, não dá. O jeito é tomar uma atitude radical e colocar-se no lugar de poder sobre a própria vida. Já pensou quando e se chegar os setenta, oitenta, ... Que vai chegar um tempo de esquecimento, de fragilidade acima do normal, de impotência, vai, mas não tão cedo. Principalmente nos tempos atuais em que os velhos andam tão independentes (claro, aqueles que preservam a saúde num grau adequado e levam vida dinâmica).

   Temos ótima relação, todos os assuntos estão em pauta, vida, morte, dinheiro, cuidados, atitude pessoal, velhice, é, a velhice precisa ser tratada desde sempre para pontuar até onde vai a liberdade do idoso e o papel dos filhos, como responsáveis. Vida é troca, os pais cuidam dos filhos e é obrigação dos filhos cuidarem de seus pais. Via dupla. Mas o tiro parece estar saindo pela culatra?... espero que não. Talvez tenha sido leve preocupação, ou talvez, ponderações. Vai ver é isso.

   Na minha vida mando eu. Depois de anos de luta pela liberdade de gênero, vem agora os cabelos brancos (tingidos!) como desculpa de que "você não sabe o que faz"... faça-me o favor 

   me deixe voar, agora que chego aos sessenta tenho todo o direito de fazer o que quiser, e gritar bem alto. E sem ninguém pipocando isso, aquilo...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

ACUMULADORA

   

   Desapareci da rede e somente agora pude ficar on line. Cuidados médicos com filha após tratamento cirúrgico. Praxe de mãe e como cansa. Nada nada me fazia ter ânimo para produzir postagem. Finalmente a recuperação em andamento e eu livre para olhar outros olhares.

   E já faz um tempo depois da última postagem que queria escrever uma descoberta minha: Também SOU ACUMULADORA! (me lembrando da última postagem).

   É isso mesmo, descobri que sou acumuladora. Livros, livros e mais livros, vou comprando, vou lendo lendo lendo e já fico de olho de novo nas novidades da área literária. Os grandes escritores não saem do meu pensamento, acho que se eu ler vou ficar potencializada, energizada com tal escrita e assim, conseguir elaborar escritos fundamentados.

   No fundo adoro ser leitora. Dizia, no tempo de jovem, que se trabalhasse numa biblioteca, ou numa livraria, não largaria livro para nada... Nem sei se quem trabalha numa livraria pode se dar ao luxo de ler exemplares a espera de potenciais clientes. Mas estar perto da produção, da escrita que amplia horizontes, ah, que sonho.

   Bom, apesar da descoberta, confesso que não tem nenhum livro que eu adquira que não leia. Vão para a estante somente os que forem lidos. Depois de algum tempo, aqueles que consigo abrir mão, doo, ou levo pro sebo e adquiro outros que tenho vontade de ler e estão esgotados.

   E a época em que mais consumo livros é a época do inverno. Quentura do lar, mais interioridade, ou mesmo brigas conjugais me levam a livros. Acho que li isso de Jorge Luis Borges "os livros são os bons companheiros da solidão". E estando bem acompanhada me deixo levar a mundos diferentes desfrutando novidades (nova idade?). É, pode ser, cada hora uma idade diferente, aventuras, fio da navalha, comédias, poesia, mesmo os poucos apetitosos pela aridez do tema, como política.

   Agora, por exemplo, surgiu a fase modernista de minha curiosidade. Oswald de Andrade com Memórias Sentimentais de João Miramar, Raul Bopp com sua Cobra Norato. E ouvi comentário sobre o livro "Angústia" de Graciliano Ramos, escrito no período e que traz conotações dessa fase conhecida como antropofágica. Além de divertir vou ampliando conhecimento da literatura e seu desmembramento na história brasileira.

   Estou abastecida de exemplares para o verão, primavera, outono, até o próximo inverno. Nada de novas aquisições até a leitura destes. Prometo!     

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

SAUDADE DAS VILAS E POVOADOS

   
   Estava auxiliando uma pessoa com a mudança de casa e fomos comprar alguns trecos que sempre faltam na faxina e alimentos de última hora. O guardador de mercadoria do supermercado emitiu suas considerações: Parece que é mudança ou faxina... Emendei um "os dois, a gente tem que faxinar, fazer o que!". O senhor fez outro comentário que não ouço usual: Que benção poder fazer uma faxina. Ter a casa limpinha. Minha mulher não consegue fazer mais nada, devido a diabetes. 

   Aí passei a conversar com ele como se fossemos velhos conhecidos, disse que entendia bem o que ele queria dizer, a pessoa fica fraquinha, perde a energia, a vontade, pois meu pai tinha diabetes e fazia hemodiálise. A mulher dele não tinha chegado a necessitar de um rim artificial.

   Continuando o papo eu disse que na verdade nenhuma doença é boa, pois interfere na nossa disposição para tudo e muda a realidade ao redor, infelizmente. Ele ainda disse que o pior era a esposa ser um pouco difícil, não seguir o tratamento, e ter por hábito ser acumuladora. Emendei um "é difícil mesmo!" Compras guardadas, nos despedimos e desejei que a esposa tivesse boa saúde.

   Alguns poderiam registrar a situação como trivial; perguntas, respostas, duas pessoas, sem qualquer vínculo. Mas não consegui tirar da cabeça o acontecido: 

   Primeiro, talvez uma outra pessoa achasse um atrevimento ele colocar seu ponto de vista a partir da compra feita, sendo ele o embalador.
  
   Segundo, os embaladores podem deduzir, a partir das compras feitas pelas pessoas, o significado daquelas compras: mudança, faxina, festa, churrasco, bebê a vista... a perder de vista as possibilidades.

   Terceiro, o que um senhor estaria fazendo, naquela idade (parecia ter mais de setenta), embalando compras de supermercado, aquela hora da noite? Possivelmente complementando renda, parca aposentadoria, e ainda corroída com medicamentos, tratamentos, alimentos com preço nas alturas. Ao invés de estar junto a esposa. Suposições.

   Quarto, aquele senhor, apesar da idade, está ali disposto, contribuindo com sua energia, já que a aposentadoria sem atividade também é bem chata. Qualquer trabalho é melhor que trabalho algum. O problema é se é boa a remuneração ou se é explorado. Bom, pode se supor que não tem uma qualificação profissional para exercer outro tipo de trabalho ou que por causa, exatamente da idade, ser relegado pelas empresas.

   Quinto, o embalador se apresentou atencioso e demonstrando necessidade de ser escutado. 

   Sexto, todos necessitam manter a convivência social e a cidade cada vez mais fria e distante. Esquecendo a vivência dos antigos povoados, das vilas, das pequenas localidades, onde ainda existe o elo de vizinhança.

   Sétimo, chegando em casa arrependi, podia ter conversado mais com ele, pois no trabalho voluntário com pessoas que estão com diabetes, realizei orientações sobre a convivência com a situação. 

   Oitavo, como uma pessoa pode achar fazer uma faxina uma benção? olha só que linda descrição desse trabalho desgastante e pouco valorizado.

   Nono, realmente é muito bom um ambiente arejado, cheirando a limpeza. A saúde agradece.

   Décimo, aquele diálogo se passou entre duas pessoas que se respeitaram e deram significação ao encontro.

   Acabou que as divagações tomaram ideia de mandamento. Afinal, parece que vamos nos esquecendo dele também neste mundo louco e corrido, onde pessoas se tornam cada vez mais individualistas. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A DITA CUJA DIZ PRESENTE

   

   Assisti o filme do Bergman, O Sétimo Selo, de 1957. Mesmo estando a película tão antiga, a voracidade e ânsia ao mostrar a angústia existencial do homem sobre as questões de vida e morte, sobre a existência de Deus e do diabo, dentre outras; o diretor consegue, em pleno século XXI, tornar presente em cada cena, a voracidade e ânsia que persistem hoje, onde fazemos as mesmas perguntas, temos as mesmas dúvidas, sobre religião, sobre a morte, sobre o que estamos a fazer aqui etc.

   O filme é em preto e branco e com isso, a aparição da dona Morte se faz mais tétrica, pavorosa e ameaçadoramente põe sua ferramenta de trabalho a funcionar. A foice branda sem dó. Nada de suave, macia. Fatal e na hora certa... pra ela, claro. A deixar por nossa conta, a terra estaria infestada de gente.

   E continua verdadeira a banalidade da vida, vivida e pretendida. E, ele (Bergman) se pergunta através do guerreiro que volta da cruzada, o que há a se viver, o que se pode fazer pra ter significado aquela existência antes da chamada certeira. Porque é tudo tão frívolo, tão sem consistência, tão empobrecido tudo. Como dar conta da morte, única verdade conhecida por nós e da qual nada sabemos?

   No filme, o guerreiro, nosso herói, tenta veemente encontrar a resposta pra suas angústias e se sacrifica até o último instante sem dar conta delas. Permanecem ipsis literis sem atender o chamado. Parte, contra a vontade, apesar da banalidade de vida que viveu, sem aceitação de que a morte é a verdade.

   Uma família do teatro mambembe consegue escapar da morte até aquele momento, mas a estrada é perigosa, viver é muito perigoso, como diz Guimarães Rosa. A morte estará brejeira, na hora certa. Sem choro nem vela!

   Mesmo assim, o diretor ironicamente consegue nos fazer dar boas risadas numa comicidade que nada tem de engraçada.

   Então saí da sala de cinema bastante leve e satisfeita com a boa noite que Bergman me proporcionou... mesmo em se tratando dela.   

terça-feira, 3 de novembro de 2015

ESTRADA ENTRANHADA EM NÓS

   

   Dia de Finados. E o dia mereceu o sinônimo. Nublado, com chuvinha intermitente e friozinho neste dois de novembro em Floripa. Bem que o relato só mostra o aspecto climático, básico, explicável.

   Noutra vertente, para aqueles que festejam o dia, no sentido da veneração, lembrança, saudade, recordação, dores e outros ais, o que se passa neste dia vai além da contemplação. O extremo do sentimento de perda que perpetua e a cada ano, a conversa com quem partiu ainda traz alentos para quem nesta vida veleja. É preciso navegar.

   Como suportar o fardo da não-presença do outro que significa tanto, e inclusive ainda, a cada dia, e, mais ainda no seu dia? É doloroso o sentimento que domina. O que impera é o respeito a todo e possível clero. A hora é de oração para que aquele que descansa ore por nós que ainda permanecemos até que soe a hora. Amém!

   E neste dia de Finados, feriado, o dia foi discreto nos eventos. As leituras caminham e nada de trabalho por hoje. 

   Por sinal, li o livro que traz o conto do Guimarães Rosa que se refere a questão da morte vista por sua "chapeuzinho vermelho". O livro Fita Verde no Cabelo, nova velha estória, da Editora Nova Fronteira, de 2012. Ah, quanta doçura na escrita de Guimarães Rosa, quanta simplicidade, e delícia no prosear, e do que gostei mais foi quando ele disse "...velhos e velhas que velhavam...".

   A história contada por ele desemboca com a questão da morte vista por uma criança que vê a avozinha dar os últimos suspiros.  Quanta delicadeza ao mostrar a realidade que a partir daí será a constante na vida de toda e qualquer pessoa, mas ao olhar daquela criança parece que nem um lobo. 

   Na verdade, não são só as crianças que veem a morte com tanto pavor. A nós, adultos, ainda é presente a não-aceitação desta condição sine qua non legada a todos os homens e mulheres de boa vontade (e com má vontade também). Amém!

domingo, 25 de outubro de 2015

SAINDO DA CASCA DA HIBERNAÇÃO

  

    Minha vida estava "chocha, chocha". Também pudera, mais de duas semanas só de céu nublado; chuva, chuva, chuva, ai, cansei de ver tantos dias sem graça, em plena primavera. Claro, a chuva germina, mas demais assim, dá uma canseira.

   Felizmente hoje o sol despontou que é uma beleza, nada de nuvem durante o dia, arejando o ambiente viciado. Abertas as janelas, um vento tão doce entrava voraz por uma porta, saia por outra e a casa aspirava novamente vívida.

   Assim que gosto, a vida a ter graça, poder andar de havaiana no pé, sem as pesadas roupas, óculos escuros e rumo a praia. S'embora!  Nada de pressa, obrigações, apenas o pensamento a solta. É muito bom isso! Mesmo que coisas estejam ruins, o dia iluminado suplanta tudo e passa a estar tudo bem. 

   Volta a luz do sol, a primavera, o ar mais leve com cores transbordando nas roupas, as flores, nas feições e quantos sorrisos, risos, brincadeiras ao redor das crianças. É bom isso!

   Também ando empolgada com leituras. Consegui parar de enrolar (é, o inverno faz isso, a gente fica lenta, hibernada), saí de dentro da casca e tô embalada. Terminei o Murilo Rubião que fazia coro com mais outros cinco livros que iam sendo lidos com o tempo. E finalmente consegui adquirir livros de uma lista que venho cultivando uns três anos. 

   Um dos livros interessantes está o lutar com PALAVRAS coesão e coerência, de Irandé Antunes, Parábola Editorial, 2005. Tinha anotada a dica dada pela Revista Conhecimento Prático Literatura da Escala Editorial. Bom, pensar em escrever requer estar atenta a regras básicas e o livro está me auxiliando na árdua tarefa.

   É muito legal ver ela falando (quer dizer, no texto, ela diz), e me vejo falando a mesma coisa, quando estudante, e sentia a falta de um algo mais nas aulas de português e redação. A autora faz a crítica do ensino da língua, da pouca importância dada aos aspectos de coesão e coerência e da habilidade da escrita, como fatores de descuido da escola.

   O que estou achando importante é o escrever como atividade de interação com um outro, pois assim o texto ganha nova dimensão. "Escrever para alguém, trocar com alguém alguma ideia, dizer algo, ter uma intenção, a visão da atividade cooperativa..." O livro propõe tratar a teoria com linguagem acessível, o que sempre senti falta ao ler compêndios de Língua Portuguesa.

   Hoje teve sol, mas a meteorologia prevê para amanhã, tempo nublado. Inda bem que tenho companhia, bons livros.    

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ATREVER-SE EM QUALQUER IDADE

   

   Também no feriado aproveitei para ver o filme americano Enquanto somos jovens, uma produção independente com o ator Ben Stiller e Naomi Watts, dirigido e produzido por Noah Baumbach.

   Ele (Ben Stiller) é um documentarista rígido e não concorda com uso inadequado de situações para chegar ao objetivo. Ao contrário do jovem que também pretende tornar-se um bom documentarista, mas que segue às margens da ética. Alcança o ótimo resultado, mas não contempla as linhas básicas do correto. Afinal,  o que é correto nos dias de hoje, e vindo da juventude atrevida?

   No fundo, o filme traduz o que todos nós de certa forma vivenciamos. Enquanto se é jovem, atreve-se a desmitificar algo que deveria ser de um jeito e imprime-se outra verdade porque estamos no auge da idade.

   E a partir da análise em outra posição, quando se amadurece, reconhece-se que quando se é jovem tudo é permitido e quando se tem uma idade considerada "da maturidade", os meios são outros e se torna muito mais rígido e burocrata. No fundo a aquisição de experiência torna claro que algumas coisas são permitidas aos jovens, que ainda se atrevem ao tradicional. Usam de artifícios para o alcance de seus objetivos. 

   Lá na frente, a partir de avaliação se verá que afinal aquilo foi possível porque a vertente jovem sobressaia e a índole atrevida ainda encampava.

   Muitas coisas são permitidas quando se é jovem. Porque o velho tem que manter uma certa coerência com o correto de forma extremada? Não, temos que nos atrever a ser diferente e manter o foco em nosso desejo de jovialidade! Não é porque envelhecemos que temos que adotar posturas tradicionais.

   De certa forma passamos a compreender o porquê de atitudes da juventude, onde tudo é permitido para o alcance dos desejos. Já a maturidade nos contempla com o possível. E somos amenos na compreensão.

   Aproveite a juventude em você, seja que idade tenha!   

terça-feira, 13 de outubro de 2015

LEITURA SIMBÓLICA

   

   O feriado ganhou novas dimensões com a leitura de sonetos do simbolista Cruz e Sousa (1861-1898), poeta que sofreu tanto devido ao preconceito da cor da pele e que através da poesia manteve a meta-sonho - governar Santa Catarina. Hoje governa, não há aquele que não reconheça isso. Considerado um ativista da questão abolicionista.

   Olha só a intensidade de sua escrita em Evocações (1898), conforme descrito, pag 11, Jornal Ô Catarina, 75, 2012

" Arrependo-me do irremediável pecado ou do crime sinistro de ver, sonhar, pensar e sentir um pouco"


   
Eis um soneto de "últimos sonetos" (1905) pag 9, ibdem:


"VIDA OBSCURA

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Cruz e Sousa" 

   
O jornal só me chegou as mãos agora, em 2015, mas em 2012, visitando a cidade onde pretendia morar, destrinchei a cidade em sua história, locais, realizações, praias, museus e recebi a obra, CRUZ E SOUSA SIMBOLISTA, organização e estudo por Lauro Junkes, Jaraguá do Sul, 2008, livro que a cidade publicou em comemoração aos 110 anos de seu falecimento.

   O poeta morreu jovem, mas a sua poesia é consagrada entre as melhores.    

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

FIM DO ANO A POSTOS

   
Vegetação de Inhotim

   Você já sabe o que vou falar, né? Chegou outubro! rsrsrs

   Verdade, pode acreditar ipsis literis no que venho dizendo em todo outubro: o ano acabou. Não tem conversa, por mais que haja crise política, econômica, social etc, o ano acaba com tanta coisa por fazer. Pobreza!

   Não deixeeee que sua vida siga o mesmo roteiro e canalize seus astros interiores, mova em direção a realizações... qualquer que seja, sendo de sua vontade e envolvida em intenções dignificantes, vá em frente!

   Nesses suspiros pra chegada do fim de ano que a gente põe a cachola pra funcionar e tenta despistar a moleza rumo as ações e realizações planejadas início de ano.

   Fazer o que. Sempre adiando, procrastinando, dando desculpas. Somos tão acostumados ao estado de conforto, que acomodados a mesmice, sentimos dificuldade de mudança.

   Tá na hora do mea culpa, "tome tento", "teja tento" (, preste atenção, esteja atento... ai, o mineirês não me larga, olha eu encurtando as palavras rsrs), que é pra não chorar por lágrimas derramadas e faça o seu dever para com você mesmo, aja!

   Principalmente em situações como as que estamos passando é que precisamos ser criativos. Nessas horas é que se conhece aqueles que são resilientes e sabem aproveitar para correr em outras correntezas favoráveis. As lições de muitos estão aí para confirmar que vale o entusiasmo e a quebra de paradigmas. Em frente! 

   Porque depois vem novembro... dezembro... bummmm. "Cabô" o ano de 2015, o ano da ovelha para os orientais.

   Para o nosso lado ocidental, nada de tranquilo e parcimonioso. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ENTUSIASTA, O BOM DA VIDA

   

   Último dia de setembro, a primavera deu o toque germinativo com as frentes frias, trazem a chuva necessária ao arejamento de tudo: ar, terra, água e nós, humanos, que respiramos a vida gotejante; isto por estas bandas. Enquanto a minha querida Beagá do coração anda lá sufocante, cada vez mais embrenhada de calores, consequência de desmatamentos que vem sofrendo a tempos. Até o pobre Francisco geme em sua frágil nascente nas terras mineiras da Serra da Canastra. Uai, que trem mais triste, sô!

   Neste setembro assumem as mudanças, novas atividades, visitas esperadas transformando o cotidiano com a conversa jogada fora a quem nos quer ouvir e falar. É bem bom receber visitas. Com isso trazem um pouco do "conversê" mineiro a que sinto saudade.

   Mas me apaixonei por Floripa, meu lugar de escolha para viver e usufruir da beleza natural até que a dona morte dê as caras empapuçadas. Viver na Ilha de Santa Catarina é um privilégio.

   Aproveitei a sexta e sábado últimos para participar de deliciosa oficina de contos no SESC. Tão poucas horas e um aprendizado muito interessante acerca da incrível arte de escrever contos. A partir de imagens o professor instigava os alunos a produzir a escrita e nos entremeios, jogava as dicas fundamentais, porque afinal, não existe receita. Os toques somam na tentativa diária de melhorar textos. Experimentações que na prática ampliam as possibilidades de transformar a realidade, a nossa falta, o eterno vazio que vigora em nós.

   Conselho do professor, escrever, escrever, escrever, colocar no papel, transformando o vazio hereditário que existe em nós. Com a escrita tomamos posse desse oco que poderia redundar em solidão numa vida rica e cheia de gentes, aventuras, lugares exóticos, histórias que transformam o viver dos que aderem a necessidade da escrita.

   Porque afinal, com diz Dalton Trevisan, um bom conto é pico certeiro na veia. Ando correndo atrás da inspiração que é escrever, buscando o bom.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

PESCANDO A PRIMAVERA

   

   Que delícia de segunda feira! Meus ares já estão dando mostras de sair da hibernação que o inverno impõe. O respirar da primavera que sobrevoa faz constatar que a estação traz em seu bojo auréola de vivacidade e luz. Bendita!

   Foi um dia de trabalho normal. Que alegria ser útil, constatar que a psicologia continua a enriquecer encontros. Retornar a ativa após o merecido descanso é salutar e prazeroso. Trabalhar faz bem, principalmente quando ainda por cima pode-se ter flexibilidade e escolha de horários. Muito bom.

   Enquanto isso por aqui, Floripa, o El niño continua a influenciar o ritmo da brisa, que suave roça o rosto, alterando por completo o significado do inverno. Ontem fui à praia e me assustei com a quantidade de gente e um diferencial; muitas, mas muitas pessoas, homens e mulheres, pescando com vara e anzol. Nas camisas estava escrito clube de pescadores. Nunca vi tanta gente preocupada em lançar, recolher e caprichar na isca compenetrada na atividade.

   Fiquei a passear e molhar os pés n'água, claro, quando os pescadores assim o permitiam, pois tive que disputar espaço entre linhas para forçar uma caminhada enérgica. E como valeu, voltei pra casa reabastecida de energia e num pique de agradecer pelo dia. Igualzinho indico pros clientes, a caminhada, dentre outros esportes, alavanca a vontade, faz a respiração tomar o ritmo necessário para o saudável. Excelente.

   Aconteceu uma fatalidade na área que ouvi falar: um casal já maduro praticava exercícios andando de bicicleta pela redondeza e, de repente, o homem cai e não mais se levanta. Triste, claro. Mas achei o modo de morrer tão bom, uma boa morte. Estar praticando exercícios físicos, curtindo um lazer prazeroso e neste néctar se embebedar pra sempre e não voltar. Quantos em camas de hospitais a sofrer, aguardando a derradeira hora, meio a aparelhos limitadores, a situações de resignação que humildemente precisam ser aceitas.

   Me lembrei do filme de animação que assisti chamado Festa no Céu, 2014, de Jorge R. Gutierrez, excelente, e lá a dona morte aparece zombeteira e pregando peça num argumento bem interessante, o triângulo amoroso. Gostei do jeito da heroína, fazendo valer a igualdade de gênero. Vale a pena curtir e com certeza, passar a encarar de forma diferenciada a questão morte na nossa existência. A leveza com relação ao tema traz um aspecto lúdico que dificilmente se consegue em muitas películas.

   As coisas vão acontecendo na vida da gente sem que a gente possa intervir, às vezes, podemos, como meros espectadores, ver e viver a situação inusitada, e só podemos desejar o que diz a música dos Titãs, Epitáfio, pedir que o acaso nos proteja.      

domingo, 13 de setembro de 2015

TODO DIA É DIA DE DANÇAR E REZAR

    

   Estou leve agora, depois de uma semana promissora. Ares de novos compromissos e ocupação do tempo com algo que o mereça. Mesmo assim ainda encontrei prazo para rever o filme com o Richard Gere, Dança Comigo, que revi não sei quantas vezes e o ator, sempre que aparece em algum lance, deixa qualquer uma embasbacada, que delícia, que maravilha é aquela (repara não, coisa de mulher mesmo). 

   Sei bem, filme é sonho e naquela hora, deixa eu sonhar rsrsrs. Sei que já comentei a respeito deste filme, nem sei mais o título da postagem, mas penso que não prestei atenção para o que comento agora, quando ele disse à esposa o motivo de ter escondido que fazia dança de salão. Ele disse que era feliz, que tinha um casamento feliz, mas que era infeliz às vezes, sem saber porque, e ela não tinha culpa disso. Com medo de estragar o que era perfeito para ele evitou contar como se sentia.

   Parece que certa insatisfação no trabalho somou-se às questões existenciais e por uma sequência de acontecimentos, adicionaram lenha à fogueira do desejo, do prazer por fazer algo que deixa corpo, mente, coração, em estado de graça.

   Como é complicada a danada da relação a dois. Como não se dialoga nos momentos necessários e quantos silêncios vão se formando, como trabalhos de Sísifo, não conseguem chegar a bom termo sobre "n" interrogações, que vão crescendo, crescendo, e é preciso constante retomada. Como se começo fosse sempre começo, sem fim, sem meio, sem início, ah, que loucura, me perdi.

   Entenderam, espero. É preciso rezar, rezar pedindo socorro para entender o que se passa na cabeça de mulher, de homem, de um casal. Socorro! 

  Nem Sísifo com sua inteligência conseguiu ficar livre do castigo. Nenhuma relação sem diálogo também não. Cria musgo!    

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

BAIXOU O SANTO

   

   Vez em quando leio algumas postagens antigas, sei lá o porquê, acho que para procurar erros ortográficos, dar uma melhorada na linguagem, ou mesmo simples olhadela sem qualquer intenção.

   Começo a ler uma delas e me deparo com algumas perguntas que passo a me fazer. Ou, após a leitura eu me pergunto se fui eu mesma que escrevi, sei lá o quê, o conteúdo, naquele momento, estava servindo para eu me antenar e refletir sobre determinado tema que incomodava. Foi o que aconteceu hoje.

   Estava a cata de erros ortográficos e o título de uma postagem me arrebatou. RETRATO DO ENVELHECIMENTO. Passei à leitura do texto que traz uma riquíssima poesia da Cecília Meireles. De repente tudo, tudo ali descrito é como estou a perceber: a perda do brilho do olhar, as mãos frias, a perda do viço, o riso que não desabrocha, a espontaneidade indo, a não aceitação de que tudo está passando rápido demais, em que espelho eu me perdi etc. 

   Atinei. Meu próprio texto sendo salutar pra mim. Verdade! Naquele momento eu estava a precisar daquelas palavras, pois era como eu me sentia. De vez em quando baixa o santo, a realidade se torna cruel além da conta, as cobranças que se faz... 

   Sei que o envelhecimento, suas marcas, pesaram de repente, me tontearam, e humana me senti entendida nas palavras ali deixadas. Dei um suspiro e me aliviei. Alguém sabia como era estar naquele estágio.

   Nunca é tarde para se prestar atenção em si mesma. E noutras palavras, de outro escritor, me botaram o prumo, "o primeiro amor tem que ser amor por si mesmo". Roberto Assagioli (1888-1974), psiquiatra, fundador da Psicossíntese, no livro "O Ato da Vontade" expressou a importância desse aspecto, muitas vezes, deixado de lado por nós na corrida vida.

   Queremos abarcar o mundo e quando percebemos as forças se esvaem, a gente está cansada, cansada segue em frente. Afinal atrás vem gente. 

   É preciso uma vontade forte, forte mesmo. Voilá!   

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O HOMEM É O LOBO

   

   Chegou setembro! Adoro o mês que inicia a primavera e já vou fazendo contagem regressiva. É verdade que este inverno não está lá essas coisas, não se pode reclamar. Temperaturas acima dos 20 graus e até semana com 30 graus diariamente. País tropical, sabe como é! Apesar do El niño interferir em todos os lugares da terra é provável que até em zonas geladas haja novidade.

   Está muito difícil ultimamente ter inspiração poética com as catástrofes que são de conhecimento. O sofrimento dos refugiados, mortes por descaso político, a crueza no tratamento de pessoas que nada têm, e, mesmo assim, a corrupção e o querer levar vantagem com a desgraça alheia em alta. Somos mesmo o lobo do homem. Fazemos mal a nossa própria raça. Desanimador. Detritos pelo caminho. Não se salva nem governantes que deveriam erguer a tocha da tolerância. Argh, dá nojo.

   A foto daquela criança que foi manchete. Triste, muito triste. Quantos africanos também perderam a vida e de suas crianças nessas travessias. Triste, muito triste que a miséria exista e persista em pleno século XXI e os imperialistas nada forjam para o desaparecimento.

   Forjam barras de ouro, forjam diamantes, o rico petróleo, mas forjar mudanças, ah, longe de acontecer. Vidas ceifadas de dignidade e sob o olhar do mundo mega ultra globalizado. E lideranças... mega ultra cegas globalizadamente?

   "O homem é o lobo do homem". As manchetes estão aí pra ninguém duvidar. 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

VAMOS FLOREAR A RELAÇÃO

   
É preciso florear!

   Assisti a peça de teatro Insólito. Parece que é de um grupo de estudantes de teatro e as melhores peças são levadas ao público por preço razoável. O tema era relacionamento a dois e como o distanciamento e a frieza vão marcando os relacionamentos mais antigos, onde as pessoas passam apenas a aceitar o estado de coisas e não questionam mais nada.

   Diversos são os motivos para isso. No início da peça, um casal com muitos anos de casamento, um deles pergunta ao outro: "o que você estava fazendo a trinta e sete anos atrás?" Questão que fica sem resposta e a cena evolui com falas e questionamentos sobre o relacionamento a dois. E quem está vivenciando tal situação (de verdade) entende o que é dito, e na forma jocosa, uma comédia, alivia pelo menos um lado - o riso desestressa. Ou ri pra não chorar.

   Depois de uma viver mais de trinta anos juntos, muitos casais se encontram e se sentem velhos, infelizmente; deixam de usufruir outras e novas descobertas porque estão na idade que estão; ou o corpo não permite; ou não têm pique para começar de novo... ou, e acomodados vão levando a vida... que segundo o escritor Roberto Freire, já seria morte. Que triste! Pensando bem deve dar preguiça mesmo.

   E lá na peça não é diferente. Lá está o casal de velhos odiando o domingo, a espera da visita dos filhos que já não vêm, sem nenhum propósito de vida, a mesma mesmice de sempre e assim termina a peça, com a mesma pergunta: "o que você estava fazendo a trinta e sete anos atrás?" A peça escancara a terrível realidade imposta pela convivência de anos e anos, foi-se embora a paixão, a tesão, o elan que valia a relação. Sem tais coisas, aquilo que resta, que será?

   Lembrei do Jack Nicholson, no filme As Confissões de Schmidt, onde o filme inicia com ele levando um susto com aquela mulher, a esposa da convivência de muitos anos, que dorme ao seu lado e que ele não reconhece, uma estranha. Parece que o convencional adere a pele e, por comodismo ou que seja, se vai levando.

   A dupla de atores representou de forma dinâmica e nada convencional o que agradou a toda a plateia que se levantou ao final e aplaudiu.

   Eu estou beirando os trinta e dois anos de casada, saberei o que estava fazendo tempos atrás? rsrsrsrs

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O AMOR CONTRACENA

vermelho como a paixão!

   "É o amor, não a vida, o contrário da morte." Frase do escritor Roberto Freire (1927-2008). Que ótima visão da vida, o amor. Realmente é através desta força que emana em nós que faz vivências valerem a pena. Sentimento que em sua grandiosidade abarca todos os tipos de relacionamento, a dois, o amor fraternal, universal, ao próximo...



   Infelizmente também no rol existem outros menos gloriosos, o amor egoísta, o amor exagerado por si mesmo onde o outro deixa de ser importante - narcísico, classificados em outro degrau.


   Mas é importante se amar num nível saudável, pois com a auto-estima em situação equilibrada a pessoa pode construir um projeto de si consistente.


   No fundo tudo é desculpa para dar uma brecha e abordar tema que anda nas cabeças. Por sinal ontem vi uma reportagem sobre o dia do solteiro. O mercado é ótimo, institui dia para todo tipo de coisa visando o bolso dos consumidores. Um dos entrevistados se vangloriando de não ter e nem querer vínculo, mas correndo atrás de companhia para não se sentir sozinho (sic). Vai entender.


   Como disse o poeta Roberto Freire, o bom mesmo é estar apaixonado, nada vale sem tesão (o título do seu livro já o diz, "Sem Tesão não há Solução").


   Retornando à frase inicial que traz reflexões importantes neste nosso mundo atual voltado aos tristes índices de pessoas com depressão, onde a concentração de amor não consegue avançar além de si mesmo. A solidão do amor por uma única pessoa (ela mesma) com incapacidade de ramificar o sentimento para outros. É preciso buscar ajuda terapêutica para sair dessa morte.


   Que a frase do mestre do prazer seja alentadora na busca.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

CHEGA DE APOSENTADORIA!

 
   BASTA! A aposentadoria chegou ao fim. 

   Após tanto tempo de trabalho desde os dezoito, quando da aposentadoria resolvi - o blog, por exemplo - deixar que a vida fluísse ao bel prazer do simples cotidiano e deixar rolar a tão mal conhecida ociosidade.

   LÁ SE VAI TEMPO! Admito, chegou ao fim o descanso. É hora da batuta, do esforço do corpo e da mente. Mereci o intervalo, ah, como é saudável perceber que foi necessário o tempo de hibernação, reflexões e atividades na via do prazer e se permitir a. Mas chega ao fim. Necessário partir para a realidade pois compromissos estão postos e não se pode safar. 

   RADICALIZOU. Nem pensem que radicalizei, não. Apenas sou exemplo dos muitos que se têm por aí, e, depois de um tempo não conseguem mais ficar com a bunda na cadeira. Certa vez falei pro médico que ao aposentar iria me dedicar às atividades que dessem prazer. Ele foi logo, autoritário, dizendo, atividade assim não é suficiente, tem que existir o trabalho. Verdade. Cá estou eu sentindo falta do que mais gosto de fazer, trabalhar. As férias chegaram ao fim.

   E... Outra opinião veio de um aposentado que decidiu apenas ficar viajando com a companheira, depois cansou e viagem virou rotina e não férias. Cansou do cotidiano da zona de conforto. Pôs lenha na fogueira e voltou a ativa com atividades que pôde escolher. Saiu do único olhar do dia a dia da vida de casal para o olhar aguçado ao mundo em volta.

   VÁ SELETIVA. Nem vem com nada radical. Investimento em trabalhos voluntários, gastar tempo com o que a experiência me deu. A pausa foi salutar, mas vida é trabalho, então é viver a vida com opções qualitativas de contribuição social.

   SER! O importante é ser o que se é. Ler mais, ver além, querer mais além. O cotidiano simples não me adere a pele. Quem sabe a preguiça que tanto combati agora não me permita sossego. Não correr demais, nem ambição tenho,   correr o suficiente, quanto dou conta, pois os sessenta se intromete, imprimindo sua face. Apesar de me esforçar por despistar rsrsrs.    

domingo, 9 de agosto de 2015

VER COM A ÍRIS DA ESPERANÇA

   

   Como as amizades trazem a esperança de volta! 

   É como estou me sentindo depois que uma amiga, dos tempos que tínhamos vinte anos me encontrou no Face. Eh, agora os amigos se acham no Face.

   A vida vai no agitamento das coisas e as amizades, apesar de contínuas, vão tendo vida própria. Se se encontram ótimo. Se a distância faz rarear, o coração do que houve de mais profundo continua instilando secretamente gotas de esperança.

   Ah, que delícia poder falar, e não calar. Poder falar de esperança nesse ruidoso momento. Existe luz no fim do túnel... eca, que coisa mais comum e piegas rsrsrs.

   Depois de tomar um vinho no almoço à macarronada italiana, bem, nem sei se seria permitido estar aqui teclando. Mas antecipei o Dia dos Pais e estou a brindar. 

   E brindo, on line, via Face, à minha amiga, que me mostrou que o Face não é tão comum assim... Que trouxe de volta um passado que alegrou minha alma. Tem-se sempre o lado positivo e negativo da rede. E o lado positivo transita muito além, acabei de crer. Sempre ouço dizer "veja no Santo Google", agora, também "Santo Face". Não tem como comparar a inexistência de barreiras ocasionada pela rede virtual. E por mais que hajam limitações, o lado afirmativo se vinga. Que bom reencontrar, ver com a íris dos olhos atentos que... por mais percalços da vida, a amizade existe protegida de todos os agouros. Falo das verdadeiras.

   Louvar o que existe de melhor neste mundo, uma relação sem cobranças e que respeitosamente sobrevive. A vida é sempre mais interessante.

   Bem me disseram que eu iria ficar viciada... na rede... acredito não ser verdade, ainda no rol dos moderados, se exacerbo às vezes, faço uma faxina e a leveza volta a reinar, assim como a vida, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Mas encontrar a íris não tem preço!

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

SIMPLICIDADE É O LEMA

   

   Entramos em agosto com astral de verão por esse Brasilzão a fora. As temperaturas teimam continuar altas apesar do inverno. Dizem, é culpa do "El Niño", vi em uma reportagem que é o inverno mais quente em 56 anos. O que está por vir?

   É difícil começar esta postagem depois de ter lido o Pedro Porfírio, figura emblemática pra mim quanto a questão visão crítica da política. Ele, apesar de cansado, não pode se dar o direito da vida tranquila junto aos seus, o compromisso, em clarear as nossas mentes obcecadas pelas falsas ideias, normas, jargões, não cessam e é ainda mais premente no atual estágio. Esperamos não ter desgostos. Mas já se vê muita cilada pelo caminho. Cruzes!

   Me permito sair dessa encruzilhada e andar em corda bamba, com o pé  entre o senso da realidade e o dos delirantes. Continuar fingidora, a procura de uma inspiração que não torne a vida cotidiana tão áspera e pobre em poesia.

   Para isso os intervalos permitem a fuga momentânea desse brasão que ameaça ruir. Semana passada fui ao Show do Almir Sater, cantigas regionais transpassadas de poesia e o instrumental, a deliciosa viola a dar as pontadas no coração da gente. Quanta simplicidade no decorrer da apresentação, causos e conhecimento das terras do interior, do Pantanal e a noite voou sem a gente sentir. Música boa tem disso. Eu precisava.

   Também me arejou a mente, os olhos, ter assistido o filme Samba, de 2015. Não posso me atrever a descrever as cenas senão vão me matar já que ele ainda está em cartaz. Do mesmo diretor de Os intocáveis, utilizando o ator desse filme e a atriz de Ninfomaníaca, e durante as cenas vão aparecendo toques sutis como se estivéssemos em tais fitas. Engenhoso. Crítico com relação as questões de viver em outro país e não conseguir cidadania. A descoberta do amor, lindo, seja transvestido do que for. A escolha, ou a impossibilidade da escolha quando surge tal sentimento. Vale a pena assistir, despretensioso e simples, alcança o pódio. Delícia.

   Acaba que a simplicidade vem dando formas amenas ao meu envelhecimento, que, às vezes, nada tem de simples, né? Que o digam os, as que se encontram no estágio.  

segunda-feira, 20 de julho de 2015

FANTASMA PARA SEMPRE

 
   "Um fantasma não chora." A frase norteou as últimas falas da mãe, dada como morta e que reaparece como fantasma para uma comunidade onde a crendice e a loucura permeiam o cotidiano. 

   Antes a mãe tivesse voltado para alegrias. Angústias com acontecidos fazem que ela repense as filhas, uma sofrida mais que outras porque vítima do próprio pai, dá a luz uma criança que é filha e também irmã. 

   A perversão é conhecida, mas não aparece em cenas, o que traz para a tela são as dores de personagens envolvidos por ela. Agora a mãe que tem a filha/irmã sabe por esta que acaba de matar o próprio pai, alcoolizado, por querer sexo com ela, alegando não ser o pai verdadeiro. Essa mulher calejada por ter vivido tal situação age heroicamente em defesa da filha e assume a responsabilidade pelo crime. 

   Sem saber que fazer, limpa toda a cozinha, local do acontecido. Embrulha o corpo em cobertor e o coloca num freezer. O freezer se encontra no restaurante de um amigo que tenciona vender o local mas precisa viajar e confia a mulher, Raimunda, as chaves para mostrar o local aos interessados.

   Vai daí que um grupo que filma perto dali procura um restaurante para servir  comida aos participantes durante as filmagens. Ela aceita a incumbência, tem que sobreviver a sua conta desde a morte do marido, Paco. Tem-se a impressão durante o serviço do restaurante, quando ela serve bolo de carne que algo está estranho, quem conhece a história do barbeiro que matava os clientes e produzia tortas entenderá. Tal não ocorre, ela enterra o corpo a 180 km de onde morava.

   Raimunda é a personagem de Penélope Cruz no filme VOLVER, de Pedro Almodóvar, 2006. Uma mulher fortalecida pelo destino cruel de ser violentada pelo próprio pai e enfrenta a batalha da vida nos cuidados da filha adolescente. Ironicamente, seu companheiro Paco tem a intenção de cometer o mesmo erro, a menina se defende. 

   Paralelo aos seus problemas, existem os da mãe, que supostamente morreu com o marido em incêndio quatro anos antes. Fofocas da vizinhança dão a entender que ela reaparece, conversa com as pessoas. Na realidade ela encontra o marido e a amante, enquanto dormem e põe fogo no local, desaparecendo em seguida, sem saber o que fazer, vai visitar a irmã para se despedir, e ao encontrá-la debilitada, cuida dela até a morte. O mesmo faz com a filha da amante do marido, quatro anos depois, sozinha e com câncer, como forma de compensar o erro cometido.

   O desencadear do filme é belíssimo, como só Almodóvar é capaz. Juntando os fios, tantos, se descobre as diversas faces de "o inimigo que mora ao nosso lado". Raimunda relembra a dor que passou e a raiva que teve da mãe por não ter percebido nada. Essa mãe sofre por ter sido cega com relação ao homem que amava.

   E no retorno a mãe tenta apaziguar dores, tantas, as quais não tinha percebido ao redor e a seu modo procura restaurar laços partidos. E aqueles segredos vão sendo resolvidos por seus participantes sem a necessidade de dar a conhecer a deus e o povo. Lindo filme.