ENTRELINHAS
05/11/2018
Na
rota de voo, asa quebrada. Você começa bisbilhotar meu íntimo com uma
intimidade que nem a mim permito. Queria, juro, dar permissão de forma livre e
desimpedida, mas o tempo é cruel e as marcas, marcam tanto que maceram,
fingindo-se esquecidas.
Mascarar
como? Nada de máscara, nem isso se deve dar o direito. Viveu, viveu.
Aconteceu. Aconteceu. O que se foi, não é mais. Tudo passa.
O
friozinho da mão, o calor do abraço, a voz que desaparece quando vê o desejo,
se foram ou se não se foram, não tem espaço. A racionalidade do tempo encontra
bom argumento para que não se repita.
Os
dois à mesa, bom vinho e bruschettas.
―
Então você não teria coragem?
―
Não tenho idade para aventura.
―
Qual o problema: Kubitschek traiu, Drumond traiu.
―
Os homens se dão às aventuras de forma imatura, não envelhecem nunca.
―
Velho tem direito de amar também.
―
Está falando de encontro amoroso. Existem elos.
―
Quanta exigência.
―
E você me parece com os rapazes dos contos de um dia de Santo Antônio, conhece?
―
Lembranças rondando a memória?
―
Que tal um iogurte agora? Lembra da Rose di Primo apresentando aquele comercial de
iogurte nos anos setenta?
―
Iogurte não combina com vinho.
―
Verdade. Vou pedir assim mesmo. Desejo.
―
A gente tem que ser inteligente.
―
Concordo.
Os
dois sorriem e continuam a conversa.
https://www.youtube.com/watch?v=nVQNR4l6f-I