sábado, 17 de novembro de 2018

ENTRELINHAS


ENTRELINHAS
            05/11/2018
Na rota de voo, asa quebrada. Você começa bisbilhotar meu íntimo com uma intimidade que nem a mim permito. Queria, juro, dar permissão de forma livre e desimpedida, mas o tempo é cruel e as marcas, marcam tanto que maceram, fingindo-se esquecidas.
Mascarar como? Nada de máscara, nem isso se deve dar o direito. Viveu, viveu. Aconteceu. Aconteceu. O que se foi, não é mais. Tudo passa.
O friozinho da mão, o calor do abraço, a voz que desaparece quando vê o desejo, se foram ou se não se foram, não tem espaço. A racionalidade do tempo encontra bom argumento para que não se repita.
Os dois à mesa, bom vinho e bruschettas.
― Então você não teria coragem?
― Não tenho idade para aventura.
― Qual o problema: Kubitschek traiu, Drumond traiu.
― Os homens se dão às aventuras de forma imatura, não envelhecem nunca.
― Velho tem direito de amar também.
― Está falando de encontro amoroso. Existem elos.
― Quanta exigência.
― E você me parece com os rapazes dos contos de um dia de Santo Antônio, conhece?
― Lembranças rondando a memória?
― Que tal um iogurte agora? Lembra da Rose di Primo apresentando aquele comercial de iogurte nos anos setenta?
― Iogurte não combina com vinho.
― Verdade. Vou pedir assim mesmo. Desejo.
― A gente tem que ser inteligente.
― Concordo.
Os dois sorriem e continuam a conversa.

https://www.youtube.com/watch?v=nVQNR4l6f-I

Nenhum comentário:

Postar um comentário