domingo, 16 de junho de 2013

VERDADE DO POETA

  


Nossa, o dia está tão claro, pouquíssimas nuvens, céu de um azul brilhoso, lindo! Fiquei até inspirada a colocar aqui o poema de Fernando Pessoa, quando travestido de Alberto Caeiro, um de seus heterônimos. 

Realmente delicioso a gente ir enfronhando na poesia que vai desabrochando de seu lirismo. Veja: 


"Guardador de Rebanhos    -  Fernando Pessoa (heterônimo Alberto Caeiro)
XLVI

Deste modo ou daquele modo,
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma cousa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma cousa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.

Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras.

Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.

E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem, ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer, ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.

Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja
Que são cinco horas do amanhecer
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
Agarrando o cimo do muro

Do horizonte cheio de montes baixos."

   Para ele a escrita transcorria com uma delicadeza que mesmo falando de simples acontecimentos, eles acabam por parecer uma grandiosidade. É a emoção falando da verdade do poeta. Lindo demais!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

NAVEGAR EU PRECISO!

  
 Ah! Que "riqueza. Veio ao meu quarto um besouro de asas verdes e ouro e fez"  de mim uma sonhadora... 

   Ah! Esse coqueiro! Balançando ao vento o seu verdume, que ao dançar vai ficando em furta cores de verdes; esperançosos balanços, fantasias desejosas de um porvir alvissareiro e brilhante. Um balançar por asas que deliram ao vento e ao se sentirem leves podem deixar-se ir ao Deus dará! Ah! Os sonhos!

   Nada de Porto, nem barco, nem vela - "Navegar é preciso, viver não é preciso". Ir sem receio ao encontro do que há por vir, com olhar poético e doçura a espalhar-se às visões, que tomam destinos incertos...

   Será o vinho?... Como o disse o sábio Dom Helder Câmara "Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, escapar do terrível perigo de, envelhecendo, virar vinagre.".

   Como não quero ficar azeda pelo rotineiro dia a dia, acalanto algumas poesias à minha prática diária. Fugas... quem não as têm. A normalidade propriamente dita é tão convencional que escapulidas são sempre providenciais.

   E, então busco a inspiração lá no Guimarães Rosa que tem me tomado nos últimos tempos. Saudades da roça???  Quem sabe!   

segunda-feira, 10 de junho de 2013

DISCUTIR A RELAÇÃO

   

   Ontem a noite eu revi o filme Um Divã para Dois, de 2012, com Meryl Streep no elenco, já tinha escrito sobre, mas naquela oportunidade alguns inconvenientes não me permitiram ser fiel ao retrato do que me tomou nas cenas. E agora eu o sei: a forma como o homem é diferente da mulher quando se trata de casamento, paixão, romantismo, sexo, discussão da relação etc.

   Razão e emoção destoam entre os sexos. O homem tem como óbvio que tudo pode ser tratado racionalmente, desvinculando o "colocar-se no lugar do outro", com relação à sua mulher. Já a mulher peca pelo romantismo demais, mas venhamos e convenhamos, nada como uma dose de romance para adoçar a realidade circundante. A questão fundamental é... só pode ser esta: DIÁLOGO. 

   No filme o casal tem que buscar uma ajuda terapêutica para colocar em prática tão necessária ferramenta para a convivência. Por que é tão difícil conversar, colocar os pontos nos "iiiiiiiiiiis"???  Para a gente ver: o casal está casado há mais de trinta anos e fica cheio de mesuras ao tratar assuntos de sexo, amor, companheirismo; claro está que a representação mostra um casal conservador, por não acompanhar a evolução, as mudanças nas relações homem-mulher, e não buscar evoluir nas formas de diálogo, deixa claro as diversas situações neuróticas em que transitam no dia a dia. Com isso acaba empobrecendo a relação a dois. Mas quem disse que isto também não ocorre com os casais modernos???

   Quando eu vejo esse tipo de situação me volta sempre à cabeça a música dos Titãs - ISSO (Isso que acontece com a gente, acontece sempre com qualquer casal. Ataca de repente. Não respeita cor, credo ou classe social. Isso... Parecia que não ia acontecer com a gente, nosso amor era tão tão firme, forte e diferente...). Eu fico querendo crer (assim mesmo!) que a música não fala a verdade, que não vai acontecer isso com o casal apaixonado, mas vira e mexe, os casais estão em crises, nas quais têm que aprender a administrar. É a vida!

   Eu acho um saco as tais crises, agora só não vale deixar de avaliar o que está acontecendo e já partir para a separação, o que é comum hoje em dia entre as celebridades. Qualquer coisinha, lá vem a notícia, empobrecendo a visão de família e o companheirismo. Família é sinônimo de conflito, mas também de resolução de problemas. Isso só acontece com bastante conversa e transparência, evitando assim deixar muitas zonas escondidas no não dito eterno. O que é muito triste.

   Tratar de colocar em prática o que o terapeuta sugeriu ao casal não é má ideia!

domingo, 9 de junho de 2013

AMOR DE ARTISTA

   

    Esqueci de comentar que também vi Os amores de Picasso, filme de 96, com Anthony Hopkins, Julianne Moore dentre outros. Não lembrava que já o tinha visto, e no decorrer das cenas foi-se tornando claras as lembranças. Nada de amores verdadeiros; seu único e verdadeiro amor foi a pintura para qual deslocava toda a energia criadora; as mulheres serviam, ao que parece, como musas para iniciais inspirações que aos poucos se esvaiam e eram trocadas.

   Sujeito excêntrico; com muitas manias; sovina; carinhoso e logo depois, rude e agressivo; instável nos amores, via as mulheres como objeto que servia à sua arte e a ele sem questionamentos, passivamente. Dizia que preferia as menos inteligentes, pois assim não questionavam suas ordens. E ele conseguiu fazer delas receptáculos de seus desejos. Ao que parece apenas Françoise Gilot conseguiu escapar de suas garras e constituir-se como pessoa independente.

   Sujeito contraditório; de um lado atuante da esquerda, filiado ao partido comunista até o fim de seus dias, por outro, tratava os empregados de forma exploradora, mas conseguia cativar quando era de interesse. Lembro que li um artigo que entre ele e Gertrude Stein (anos 20/geração perdida) houve muito quiprocó, sendo os dois narcisistas de primeira linha, batiam de frente e não aceitavam que um se sobressaísse ao outro. Ele chegou a pintar quadro dela (que ela destestou!). 

   Os gênios são pessoas complexas e que fascinam onde são verdadeiros; na arte, e na arte cubista consagrou-se em toda sua potência. Interessante filme para quem gosta de conhecer o sujeito incrustado no artista, porque querendo ou não, sempre há contradição.

   Gostei muito do filme no sentido da possibilidade de leitura da personalidade do pintor retratada nas cenas de seu cotidiano. Aos setenta e quatro anos, lá estava ele iniciando nova relação amorosa. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

AMOR E MUDANÇA!

   

Estou muito, mas muito preguiçosa. Comecei a escrever no domingo passado e cá estou eu tentando terminar... Coisa que mais gosto de falar é de amor. Amor como miolo de pão, de luz, a ser distribuído a todos, aos quatro ventos, a todos os seres presentes; tal qual o Senhor na multiplicação e distribuição dos pães. É isso! O que falta é o amor, daqueles que esquentam o coração, como um livro de reza.

   Neste momento, sinto que " O Amor" está no ar. O amor me seduziu após a última postagem. Só de falar dele já venho com a minha pieguice, e mais uma vez dizer que acredito!!! E foi nesse envolto amoroso que me vi assistindo aos filmes: Tous les Soleils   e Romeu e Julieta , de 1968, de Franco Zeffirelli. Em pleno século XXI eu me sentindo seduzida por amores medievais, à sombra de Shakespeare, até em sua linguagem de época, como respeitado pelo mestre Zeffirelli. Rever Romeu e Julieta, que assisti aos, sei lá, doze, treze anos de idade, no Cine Horto (atual Cine Galpão), pelos idos dos anos sessenta; além das fotografias e roupas de época, a beleza dos jovens atores, tudo me faz entrar em um labirinto de memórias.

   Largando as memórias de lado, que no atual estágio do meu envelhecimento, têm se feito mais constantes, que fazer?... Respeitar e seguir as histórias. Lembrei-me do que disse James Laughin na apresentação do livro de Sylvia Beach (in Shakespeare and Company, Sylvia Beach, 2004, RJ, Casa da Palavra, pág. 11), quando conta que os editores perseguiam o escritor Pound para que escrevesse sua autobiografia, e ele dizia que quando um homem escreve suas memórias é sinal de que está acabado. E ele arremata dizendo, acho que estou acabado. As tentações da memória são demasiado grandes para eu resistir...

   Posso dizer a mesma coisa - concordando com ele que se torna demasiadamente grande a recordação e assumir que também estou acabada! As tentações da memória me assediam e querem se tornar presentes. Largando mais uma vez as memórias...

   Tous les Soleils, 2011, francês, diretor Philippe Claudel, o filme conta a história de um professor  sonhador, e ao mesmo tempo, convencional e prático. Vivencia a fase do luto pela perda da esposa, que se prolonga até que a filha chegue à  adolescência e exija a sua individualidade. Ele alienou-se como homem, dedicando-se inteiramente à criação da filha até um ponto X em que se põe a questão: "E agora José?" (Olha eu usando o trocadilho do poema  do Drumond!). 

   Pois é, a gente vai vivendo a vida tão sem pensar, sem refletir, e quando vê, está vivendo a vida dos filhos e se esquecendo de si próprio. Aí se pergunta: o que vou fazer desta vida, já que os projetos estão embasados nos projetos dos filhos. Muitos pais se perdem no meio do caminho, e de tão perdidos, entram em fases de tristeza e depressão, na tão famosa fase do "ninho vazio", onde esquecem que são sujeitos, e que precisam pensar em seu próprio projeto de vida e deixar o filho livre para realizar voo solo. É mesmo muito difícil assimilar tantas mudanças nas fases em que se está mais frágil, por isso a importância de se preparar para a aposentadoria e a velhice em contrapartida.

   Oh! Eis o oriente! Eis o meu amor! (Olha eu imitando a fala do personagem de Romeu e Julieta!). Sou mesmo pretensiosa rsrsrsrs.  

sábado, 1 de junho de 2013

PAUSA PARA AMOR E POESIA

   

Aqui estou eu fazendo um lanche e aproveitando para postar algo. Eu disse a mim mesma que faria pelo menos oito textos e não menos que os dos meses anteriores e hoje, finda maio e não cumpri a promessa.

   Isto de estudar inglês e tocar violão toma um tempo danado da gente. Estou tendo que rebolar para dar conta do que me atrevi a ficar responsável... Está sendo uma correria. Ufa! E eu achando que a aposentadoria ia ser calma; que nada, está no pique, como eu gosto. Nada de morosidade, acomodação, desânimo, mas ritmo, frequência, sintonia... No novo e nas obrigações convencionais.

   Não estou reclamando do violão, até já estou começando a tocar a minha primeira canção, de forma desengonçada, mas já está dando para sentir poesia em minha vida advinda da musicalidade. 

   Mas hoje me permiti um relax e eis que abro um caderno com algumas poesias e me deparo com uma linda, traduzida pelo poeta Thiago de Mello (in Presente de um poeta, 2003, pag.74), do poeta Pablo Neruda, falando do amor, o soneto:


"AMOR
Pablo Neruda

Não te quero a não ser porque te quero
e de te querer a não te querer chego
e de te esperar quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Só te quero porque é a ti quem quero,
sem fim te odeio, e com ódio te peço,
e a medida do amor meu, viageiro,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consuma a luz de janeiro,
seu raio cruel, meu coração inteiro,
de mim roubando a chave do sossego.

Nessa história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo."

   Como diz o grupo Teatro Mágico, "A POESIA PREVALECE", e é graças a ela que se vê o mundo com novos contornos, na busca do desejo de a vida ser mais e melhor do que o possível.