quinta-feira, 26 de julho de 2012

OSSOS DO VIVER!

    No domingo eu fiquei divagando sobre as questões existenciais do envelhecimento, mas na segunda feira foi que tive realmente a dimensão real da idade... Eu caí... Levei um tombo... Estatelei no chão ao pisar em falso um vão de escada. Sorte que não tive plateia. E fiquei alguns segundos rindo da estranha situação antes de me levantar.

   Está aí a dimensão fisiológica do envelhecer... Tem hora que a gente vai apenas vivendo e de repente... pensa que ainda têm vinte anos... e esquece da cautela e cuidados... mas a realidade nua e crua está aí para que não nos esqueçamos dela.

   Tive sorte, não aconteceu nada de sério... fora o inchaço e peles esfoladas na perna, mas poderia ter sido... Então, agora preciso prestar mais atenção na mudança do meu corpo, que não respondeu ao que o cérebro comandou... Que fazer???

   Estou contando porque isto me fez rir. Rir da situação e também me fez refletir... Eu acho legal estar vivenciando estas transformações e podendo compartilhá-las.  A cada dia uma novidade, uma nuance diferente... que pelo menos nos distancia do que é rotineiro. 

   Certa vez, li numa cartilha que trata das questões das quedas de idosos sobre a frequência comum de tombos... mas durante a leitura me lembro que pensei... "isso não vai acontecer comigo, pois vou ter bastante atenção". Que ironia, hein!!!

   Não se pode dizer que desta água não beberei... Se viver, beberás!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

MULHERES DE 60

   Estes últimos dias foram de reflexões... Assisti a um documentário sobre nós, mulheres. Só que a partir do olhar das mulheres de 50 anos... Como eu já passei daí... já estou quase nos sessenta... Pude fazer algumas interpretações críticas, positivas e negativas:

   Como anda a liberdade feminina hoje? 
Como os homens lidam com as nossas bandeiras femininas, que ainda hoje têm que se fazer expressivas? 
Como lidar com o envelhecimento do corpo e no espírito continuar a exalar interesse e curiosidade?
Como vivenciar a solidão do realmente estar só e o estar só mesmo quando acompanhada?
Como alcançar o respeito e a igualdade numa cultura que ainda nos vê como objeto?
Como lidar com a violência em pleno século XXI?
E os desejos? Os projetos? O amor? Existem à essa altura?

   Tais questões pautaram minhas reflexões, numa dialética que continua a evoluir na construção de respostas. Não tem jeito, o papel da mulher que luta por seus direitos é diuturnamente exigido. É construção diária e atenta! Quais são as suas dúvidas e questionamentos???

sexta-feira, 20 de julho de 2012

VISÃO POÉTICA

   Esta semana está bem atribulada... trabalho na medida certa e sem estresse. Estou tendo uma semana agradável (apesar do frio!), fui visitar na Casa Fiat de Cultura, as obras do CARAVAGGIO (1571-1610), pintor do período barroco, que usa a luminosidade como expressão. A história dele é bem trágica, viveu somente 38 anos e morreu durante fuga, devido acusação pela morte de um homem durante duelo. Obras maravilhosas!

   Também tem a exposição do pintor Giorgio de Chirico (1888-1978), grego, da era moderna, que trabalha a poética interior a partir da arquitetura, dando dimensão ao sujeito, sua vida como sujeito da cidade em que vive, da sua história. Valeu a visita!

   Quanto aos filmes, vi dois que foram ótimos e vale a pena comentar. O Último Dancarino de Mao, filme australiano de 2009. Excelente, conta a história (verdadeira) do bailarino chinês Lin Cunxin, que ao ter a possibilidade de viver nos Estados Unidos por três meses para aprimorar sua arte, vê-se envolvido com a liberdade conquistada e decide ficar. Daí vem os impasses no decorrer da história. O filme é lindo, a história cheia de emoção. É apaixonante o quanto ele transmite sentimento através da dança.

   E ontem vi o filme do Woody Allen, de 2011, Meia Noite em Paris. Lindo demais, porque além de trazer a Paris, sempre majestosa, faz uma releitura da Paris dos anos 20 e da Belle Époque (séc. XIX), a partir da visão de um personagem escritor da atualidade, que entra em contato com os grandes escritores daquelas épocas, tais como Hemingway, Fitzgerald, Elliot etc e também de grandes nomes da pintura. 

   O escritor está em conflito com a vida que leva, as insatisfações geradas pelo cotidiano, pelo trabalho e até mesmo pelo amor comum que tem pela noiva. Vai questionando sua realidade de forma fantasiosa, mas extremamente interessante do ponto de vista poético do Woody Allen. Só de assistir já se sente o aroma romântico da linda Paris. Lindo demais, repito!

   E o legal é que só estou no meio da semana... ainda tem muita coisa boa pela frente... Uau!!! É o que espero! 

domingo, 15 de julho de 2012

HIBERNAÇÃO!!!

    Esta semana me envolvi relendo dados biográficos sobre o pintor expressionista Van Gogh. Eu me sinto tomada pela leitura. E a cada leitura, novas descobertas. Van Gogh era um apaixonado pelo calor e pelo sol... Ah, como eu adoro o calor, o sol brilhante, as cores vibrantes...
Oliveiras... Mesmo local onde Van Gogh pintou... Uma amiga me repassou!


  Mas permaneci, como todos presumem, mais quieta, mais nostálgica e então, preferi colocar algumas leituras em dia, curtir alguns filmes, penso que o período do inverno é quando  eu me torno mais introspectiva, o que não é novidade para ninguém, não é! Existem pesquisas que relatam que as pessoas se tornam mais tristes, deprimidas etc quando o tempo está mais para o cinzento, o nublado.

   Bem, mas vi bons filmes durante a semana passada e o digno de nota foi o que o Clint Eastwood dirigiu, chama-se "Além da Vida", de 2010, que trabalha a questão da vida após a morte. Muito bem arquitetado, ele vem com um filme de conteúdo, mostrando como três pessoas diferenciadas, vivendo em lugares diferentes, vão ter as vidas entrelaçadas a partir de tal discussão. Muito bom!

   Hoje eu revi um filme que gosto muito e que ainda não tinha comentado sobre ele: "Fatal", com a Penélope Cruz e Ben Kingsley. Eu acho a história bem interessante, mas o que mais me atrai na tela é o estilo, o jeitão do Ben Kingsley. Acho-o charmoso e existe algo nele que me lembra uma pessoa especial. E aí, eu me ponho a pensar que sou a Penélope Cruz... quanta audácia, hein!

   Vamos à história. O personagem do Ben Kingsley é um homem maduro, professor,  estruturado na vida, com certa fama, mas tem certo ar de Don Juan. Divorciado, nunca se ligou a ninguém afetivamente, foge dos sentimentos e prefere a vida mais solta e com mulheres que também não lhe exijam nada. Eis que a aluna, Penélope Cruz, trinta anos mais nova se envolve com ele e passam a viver um romance.

   Durante a trama é muito interessante, pois podemos refletir sobre o envelhecimento do corpo, sobre a beleza, sobre o afeto, o amor e... sobre a proximidade da morte. Com o decorrer da relação, o professor quer se agarrar à juventude daquela mulher, ao mesmo tempo em que teme o envolvimento efetivo, aquele que nos desnuda... o que é ameaçador para ele, que sempre teve o controle de suas emoções.

   São lances sutis, rearranjados de maneira tão poética, que o considero um filme romântico, triste, mas delicioso de assistir... e até de se colocar na pele de ambos. Pode conferir!

domingo, 8 de julho de 2012

PRAZER À LUZ DO SOL


  "A luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas."

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa

   A poesia do Fernando Pessoa nos inspira neste tempo de inverno. Olha que reclamo das nossas temperaturas (que ficam geralmente entre 16 e 25 graus) quase que sem motivos, não é mesmo??? Talvez sejam as características do envelhecimento; velho não gosta nem do frio demais e nem do calor demais...

   Sento-me ao sol de vez em quando curtindo apenas aquele calor fresco em meu corpo, perdida em nenhum pensamento... Qual o poeta nos transmite  em seu canto.

   Mas normalmente o tempo está mais para nublado, com as nuvens escondendo o delicioso calor e raramente seu brilho consegue escapulir aos esconderijos que elas teimam em formar. Sem dúvida alguma tem certa frescura, uma aragem bem amena, mas que pra mim, neuroticamente apaixonada pelo calor, suor (menos lágrimas!), ainda é pouco... Chega logo Primavera!

   Bem, cada tempo tem seu tempo, e, suas belezas, por mais que eu reclame. É como nós, também não adianta correr demais (e nem ficar com moleza demais), pois cada coisa tem a hora certa para acontecer... Precisa-se estar pronto... É um processo. Uma etapa... Um ciclo.

   Continuo nostálgica e desejosa da luz do sol!!!   

quarta-feira, 4 de julho de 2012

MOMENTOS INTENSOS

   Considero que os momentos de reflexão (como são os que a gente têm na época do inverno) a poesia abaixo da Clarice Lispector, faz toda a diferença. Curtam os momentos, pois são únicos e não perca oportunidades - elas não costumam ocorrer mais de uma vez. Eis: 


"Há Momentos

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraça-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre."
Clarice Lispector

   Experimente todos os sabores do viver com bastante intensidade. Eu gosto do que surpreende, o que faz rir cada vez mais... Como diz uma canção do Grupo de Forró Falamansa " ...Não é que a vida seja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar. Ah! Ah! E cantando assim parece que o tempo voa, quanto mais triste mais bonito soa. Eu agradeço por poder cantar..."

   Do que faz a gente cantar também... A Clarice Lispector põe em evidência todos os aspectos. É muito intensa, né!

domingo, 1 de julho de 2012

ACONCHEGO... REFLEXÃO

   Fiquei no aconchego e preferi curtir bons filmes ontem. No frio eu realmente não sou de nada... Quero só sossego... Quem diria que um dia eu abriria mão de bons programas para ficar em casa. A velhice traz outras posturas e se pode também ficar mais eletiva - é isso, me permito escolher ficar em casa. Não me sinto obrigada a nada!

   Penso que já revi o filme Ensaios sobre a Cegueira mais de três vezes, mas sempre que revejo isso me traz bastante angústia sobre o homem, a mulher e a nossa civilização (???) que  tal qual no decorrer do filme apresenta situações em que as incoerências, as contradições vão se assomando, às vezes de forma escandalosamente não humanas.

   Como todos sabem, o roteiro vem do livro do José Saramago e vai relatando um cotidiano diferenciado na vida das pessoas, que sem qualquer motivo aparente, ficam cegas. E em tal cegueira, são alijadas da convivência das outras pessoas, até que se possa desvendar o problema do ponto de vista científico e estratégico de estado (???).

   As pessoas são jogadas em quarentena, sem qualquer explicação, como se nada significassem. Ali, apesar de todos estarem num mesmo estado (à exceção de uma única pessoa - a esposa do médico (Julianne Moore) - que é a única que não perdeu a visão) a sobrevivência atinge seu grau máximo de tudo ou nada, vida ou morte, com a carência de alimentos, água, solidariedade, carinho e respeito. 

   A convivência em tais extremos (para a gente que se encontra como espectador, então - saber que isso pode acontecer realmente??? como numa guerra???) é deprimente porque nos reconhecemos todos como seres primitivos - toda uma cultura civilizada vai para o ralo.

   Cada momento é dolorido, reconhecer-se naquela fragilidade, nada poder fazer, o caos se instala até o final do filme, com a degradação da pessoa mostrada em sua crueza. É muito triste o filme, ao mesmo tempo, necessário.

   Em sequência assisti ao gostoso relato biográfico da cineasta Agnès Varda chamado As praias de Agnès. Lindo! A própria cineasta vai nos conduzindo ao seu passado, desde a infância até os seus atuais oitenta anos de idade, mas de forma bem inusitada, com imagens mais esfuziantes, coloridas, espelhadas, com uma criatividade e domínio da arte cinematográfica de causar inveja.

   Gostei demais porque apesar de cada vivência ser única, entrelaçam-se situações às quais muitas de nós também vivenciamos. Seu olhar sobre o  a pobreza e diferenças sociais, sobre o feminismo, sobre os preconceitos, o aborto, a falta de jeito no amor, a perda do companheiro, as dores, a convivência com os filhos e netos, o envelhecer.

   A simplicidade das relações que ela cultivou por onde passou é muito bonita. A sua identificação com o mar, como não se soubesse até onde vai a pessoa Agnès e  a contemplativa praia. Neste ponto me enamorei  ainda mais... Adoro me perder a um canto... Só contemplando a beleza de uma praia e o mar. Valeu o meu aconchego!!!