domingo, 1 de julho de 2012

ACONCHEGO... REFLEXÃO

   Fiquei no aconchego e preferi curtir bons filmes ontem. No frio eu realmente não sou de nada... Quero só sossego... Quem diria que um dia eu abriria mão de bons programas para ficar em casa. A velhice traz outras posturas e se pode também ficar mais eletiva - é isso, me permito escolher ficar em casa. Não me sinto obrigada a nada!

   Penso que já revi o filme Ensaios sobre a Cegueira mais de três vezes, mas sempre que revejo isso me traz bastante angústia sobre o homem, a mulher e a nossa civilização (???) que  tal qual no decorrer do filme apresenta situações em que as incoerências, as contradições vão se assomando, às vezes de forma escandalosamente não humanas.

   Como todos sabem, o roteiro vem do livro do José Saramago e vai relatando um cotidiano diferenciado na vida das pessoas, que sem qualquer motivo aparente, ficam cegas. E em tal cegueira, são alijadas da convivência das outras pessoas, até que se possa desvendar o problema do ponto de vista científico e estratégico de estado (???).

   As pessoas são jogadas em quarentena, sem qualquer explicação, como se nada significassem. Ali, apesar de todos estarem num mesmo estado (à exceção de uma única pessoa - a esposa do médico (Julianne Moore) - que é a única que não perdeu a visão) a sobrevivência atinge seu grau máximo de tudo ou nada, vida ou morte, com a carência de alimentos, água, solidariedade, carinho e respeito. 

   A convivência em tais extremos (para a gente que se encontra como espectador, então - saber que isso pode acontecer realmente??? como numa guerra???) é deprimente porque nos reconhecemos todos como seres primitivos - toda uma cultura civilizada vai para o ralo.

   Cada momento é dolorido, reconhecer-se naquela fragilidade, nada poder fazer, o caos se instala até o final do filme, com a degradação da pessoa mostrada em sua crueza. É muito triste o filme, ao mesmo tempo, necessário.

   Em sequência assisti ao gostoso relato biográfico da cineasta Agnès Varda chamado As praias de Agnès. Lindo! A própria cineasta vai nos conduzindo ao seu passado, desde a infância até os seus atuais oitenta anos de idade, mas de forma bem inusitada, com imagens mais esfuziantes, coloridas, espelhadas, com uma criatividade e domínio da arte cinematográfica de causar inveja.

   Gostei demais porque apesar de cada vivência ser única, entrelaçam-se situações às quais muitas de nós também vivenciamos. Seu olhar sobre o  a pobreza e diferenças sociais, sobre o feminismo, sobre os preconceitos, o aborto, a falta de jeito no amor, a perda do companheiro, as dores, a convivência com os filhos e netos, o envelhecer.

   A simplicidade das relações que ela cultivou por onde passou é muito bonita. A sua identificação com o mar, como não se soubesse até onde vai a pessoa Agnès e  a contemplativa praia. Neste ponto me enamorei  ainda mais... Adoro me perder a um canto... Só contemplando a beleza de uma praia e o mar. Valeu o meu aconchego!!!

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