domingo, 19 de outubro de 2014

"PERDER TODOS OS DIAS"

   
   Comentei anteriormente sobre tristeza e durante a sequência do filme Flores Raras, de 2013, do diretor Bruno Barreto, o tema está tão presente na vivência das personagens que não resisti comentá-lo.

   O filme é lindo, durante todas as cenas mostra uma leveza, uma delicadeza, ao mesmo tempo uma força emanada da personagem de Glória Pires, no papel de Lota de Macedo Soares, a arquiteta que criou e supervisionou o Jardim do Flamengo, no governo de Carlos Lacerda.

   O filme esmiúça fatos reais a partir de cenas da vida desta arquiteta e sua convivência com a poeta Elizabeth Bishop, uma relação de amor entre duas mulheres nos anos 50. A poeta... ou poetisa, tem uma forte tendência a depressão e melancolia, é extremamente sensível, sofre de alcoolismo, forma que encontra para lidar com sua insegurança, timidez nas questões existencial e amorosa, além, é claro, da sua poesia.

   Elizabeth Bishop é considerada grande poeta, ganhadora de muitos prêmios e de uma sensibilidade para captar o seu cotidiano através de seus poemas. Lindos e que durante as passagens do filme vão aparecendo, compondo de maneira lírica e belíssima a história envolvente, ao mesmo tempo triste drama. 

   O poema "A Arte de Perder" tem trechos lidos e soa bastante intenso na visão de quem ama e perde o amor de forma tão dolorosa:

"A arte de perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. 
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente 
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero 
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império 
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça 
muito sério.
Elizabeth Bishop"


   Linda descrição de uma triste história de amor. Adorei!
   

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

TRISTEZA E SAMBA

   

   Olha só a poesia na letra da música do Vinicius de Moraes,  O Samba da Benção, composta por ele e Baden Powell. Sinta a beleza da tristeza, do samba, da cadência e me diga... não é que faz falta um bocado de tristeza (como diz o poeta)?



"Samba da Benção
Vinicius de Moraes e Baden Powell

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
senão não se faz um samba não.

Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não.

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração."


   Peguei na rede este link da cantoria do Vinicius. De todas que assisti achei a melhor, já que se escuta de muito, muito perto a voz do poeta: 

   
Estou no treino difícil de tocar esta música no violão, respeitando a cadência, é claro! Mas como é preciso persistência, porque não é fácil, não!

   Esta música do Vinicius me fez pensar no sentimento TRISTEZA, que faz parte do cotidiano de nós humanos. Alguns a sentem de menos e outros tantos demais... como é complexa e única em cada pessoa. Não existe a mesma medida para duas pessoas.

   E quando ela vem e domina, é preciso humildade para aceitá-la, entendê-la, para então, compreender o significado... E lutar... não para domá-la de todo... mas tê-la como companheira dentro do suportável. 

   Recebi um vídeo contendo provérbios e lá consta esse: "A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. Provérbio Espanhol" ... Lutar... Quem têm atividades ocupa o tempo, já que a ociosidade é campo minado em tais situações.

   Como diz o poeta Vinicius... Saravá... numa saudação "Salve sua força", "bem-vindo" ... 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

TER UM TRABALHO E SENTIR PRAZER NAS COISAS QUE FAZ

   
A Sesta - Van Gogh

   Como prometi fazer um resumo da palestra do psicólogo cognitivo Paul Bloom, que participou do Fronteiras do Pensamento, em 27 de agosto de 2014, aqui em Florianópolis, com o tema do seu livro de mesmo nome: O que nos faz bons ou maus, BestSeller, 2014, devo fazê-lo logo, antes que a palestra se vá desaparecendo do meu referencial cerebral.

   O psicólogo trabalha com a Psicologia do Desenvolvimento e faz pesquisas com crianças com o objetivo de descobrir se a criança reconhece o que é bom ou mau, se é correto afirmar que este aprendizado é aprendido a partir da convivência e educação. Como sempre as pessoas dizem que as crianças são más quando pequenas, quis comprovar tal assertiva do senso comum.

   Concluiu após muitas experiências que as crianças têm introjetado a questão do que é bom e do que é mau desde sempre, quer dizer, é inato, mesmo antes de falar e andar, os bebês julgam a bondade e a maldade das ações dos outros, sentem empatia e compaixão, agem para acalmar os que estão angustiados e têm senso rudimentar de justiça, como se estivesse inscrito em seu código genético, e que, prefere o que é considerado bom. 

   Portanto, pode deduzir que uma pessoa, já que as experiências são com crianças, tem na moralidade o aspecto positivo, ao invés do negativo. E que através de sua vivência, pela capacidade de razão e reflexão, vai ampliando sua potencialidade, o que faz dos homens/mulheres mais do que apenas bebês, mas seres com capacidade de julgar a injustiça, transcendendo o sentido de moralidade.

   Foi muito interessante a sua argumentação já que tinha como comprovar, através de experiências, que as capacidades rudimentares de moralidade são inatas do ser humano, desvencilhando da noção errônea de que todas as crianças são más.

   Uma fala dele que gostei muito foi quando perguntado sobre o que julga ser felicidade. A resposta foi que o homem não precisa ser feliz. Que essa felicidade mistificada que tanto se procura não existe. Afirmou que o homem precisa somente de duas coisas na vida: ter um trabalho e sentir prazer nas coisas que faz. O resto, os problemas, ele vai dando conta de resolver durante o trajeto de vida se têm essas duas coisas fundamentais - Ter um trabalho e sentir prazer nas coisas que faz

   O último parágrafo valeu muito. E a questão da moralidade... as experiências continuam ...    

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

NOTURNO-DIURNO

   

   Preciso fazer um texto noturno... eis a orientação do professor de oficina literária. Então vi que era hora de eu deixar a enrolação de lado e tentar um texto, mas no blog. Só que já não há mais noturno e sim diurno... são quase uma da manhã.

   Assunto é que não falta: outubro rosa; o estudo que comprova que o envelhecimento da população só aumenta; a busca pelo trabalho flexível como opção desejada por trinta por cento dos profissionais do século XXI; filmes do Woody Allen - Tudo que você sempre quis saber sobre sexo (mas tinha medo de perguntar), de 1972, uma comédia ou o drama Blue Jasmine, de 2013 que assisti recentemente; show de jazz que me tomou, com uma banda ótima e um violinista melhor ainda; sobre a frase interessante que li na rede:"você não é feliz por causa do casamento, você é que faz feliz o casamento"; ... não, sobre eleições, não... na rede já tem notícia demais, algumas que dão vontade de vomitar, argh!

  Quem sabe deixar de lado o tal texto noturno-diurno e refletir  sobre o texto do Millôr Fernandes:

"Desculpe a meninada, mas fomos nós, da nossa geração, que conquistamos a permissividade. Claro, vocês não têm a menor ideia de como isso era antes. O que se fez, depois de nós, foi apenas atingir a promiscuidade, o ninguém é de ninguém, o não privilegiamento de nenhuma pessoa como ser humano especial (amor). Mas, quando qualquer um vai pra cama com qualquer um, sem nenhum interesse anterior ou posterior (no sentido cronológico!), uma coisa é certa reconquistamos apenas a animalidade. Cachorro faz igualzinho. E não procura psicanalista."

   Pensando bem, não é preciso dizer mais nada, o Millôr disse tudo, né mesmo!   

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

URGÊNCIA E INVASÃO

   

    Último dia de setembro... as pancadas de chuva umidificam o solo para as belas florescências da primavera. Tô pensando aqui em como devem estar lindos os ipês em Beagá, né! Já por aqui flui uma temperatura amena, em torno de 21 graus, e vi na reportagem que Beagá está com 31 graus... uau! 10 graus de diferença. Ai, que saudade do calorzinho!

    Por essas bandas o tempo só vai melhorar lá pela quinta feira. O negócio é agradecer por se respirar uma umidade saudável que, graças a ela, eliminou em quase 100% meu desconforto nasal, tão comum nas geraes nesta época.

   Outubro já está aí e com as eleições então, o ano vai a galope. Finda com uma urgência e deixa a desejar. Agora mesmo é natal, ano novo rondando a porta.

   Para arejar a mente nada como um pouquinho de poesia e Caio Fernando Abreu me invadiu:


"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida , que me queres assim, porque assim que és..." Caio Fernando Abreu

   Nada como um pingo de poesia para encerrar setembro... mesmo que insatisfeito o desejo... aceitar como tem de ser. 

   Tem hora que um pouco de fantasia arrefece a crueza dos dias. É quase outro dia.

   Bom dia!