O filme é lindo, durante todas as cenas mostra uma leveza, uma delicadeza, ao mesmo tempo uma força emanada da personagem de Glória Pires, no papel de Lota de Macedo Soares, a arquiteta que criou e supervisionou o Jardim do Flamengo, no governo de Carlos Lacerda.
O filme esmiúça fatos reais a partir de cenas da vida desta arquiteta e sua convivência com a poeta Elizabeth Bishop, uma relação de amor entre duas mulheres nos anos 50. A poeta... ou poetisa, tem uma forte tendência a depressão e melancolia, é extremamente sensível, sofre de alcoolismo, forma que encontra para lidar com sua insegurança, timidez nas questões existencial e amorosa, além, é claro, da sua poesia.
Elizabeth Bishop é considerada grande poeta, ganhadora de muitos prêmios e de uma sensibilidade para captar o seu cotidiano através de seus poemas. Lindos e que durante as passagens do filme vão aparecendo, compondo de maneira lírica e belíssima a história envolvente, ao mesmo tempo triste drama.
O poema "A Arte de Perder" tem trechos lidos e soa bastante intenso na visão de quem ama e perde o amor de forma tão dolorosa:
"A arte de perder
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça
muito sério.
Elizabeth Bishop"
Linda descrição de uma triste história de amor. Adorei!