sábado, 31 de janeiro de 2015

XEQUE MATE DA REALIDADE

   

   O passado ronda na busca de um sentido. Assisti a três filmes que transitam em temas do passado ou de época, que fazem relembrar fatos de nossas próprias vidas e casos de preconceitos. Álbum de Família, de 2013, com Meryl Streep, Julia Roberts ... ; Adeus à Inocência, de 1984, com Sean Penn, Nicolas Cage ... e parte  de Doze Anos de Escravidão

   O passado quer se fazer presente. A tônica do filme Álbum de Família. Filme denso, dolorido, com carga excessiva de rancores, dores no trajeto de vida de uma família. Clima pesado já que focado num momento de perda, de luto; cruel ao desnudar a realidade, a crua e nua, nem sempre cortejada de suavidade e flores.

   O passado insiste. Perturba grande parte da vivência das pessoas que de um lado poderiam caminhar mais leves, mas que gotejadas por dores que pingam e pingam no decorrer da lida, dão passos curtos de angústia, tristeza ou se transformam em piores consequências, a famosa depressão, ou doenças como câncer, ou dependência a diversas drogas, ou até os três ao mesmo tempo.

   Assim que a personagem de Meryl Streep vem trajada. Envelhecida, dependente de drogas que a fazem suportar a vida que se esvai no envelhecimento e perda do auge e energia. Assim que o personagem de Sam Shepard, seu marido, espanta com a dependência do alcoól, deixando antever um homem em deterioração, e, ao se entregar a arrependimentos, erros de um passado que não cessa, transformado em remorsos, ruma a decisiva escolha - afogamento. Entrega os pontos.

   Daí vem aparecendo o passado como agente de atitudes presentes, que através de mágoas, ressentimentos, são jogados na convivência com filhos e parentes. Passado que se impregna no tratamento cruel com filhos, desenvolvendo criaturas ainda mais inseguras em seu caráter. É assim com as filhas, é assim com um dos primos (que na verdade é fruto da relação entre o marido e a irmã da personagem de Meryl Streep, caso que vem a tona somente após a morte do marido).

   O passado não tem sentido algum. Mas a carga que a personagem de Meryl Streep carrega deixa claro que tais marcas ficam como se impingidas a ferro e fogo, deixando a mostra só o que restou: rudeza, descrença no final, percepção de pouca valia. 

   Como disse o Pedro Nava, de que a vida não tem enredo... Isso está a descoberto no filme, a realidade é mostrada sem nenhum colorido cor-de-rosa.

   Depois eu conto sobre a perda da inocência... lembrei tanto da minha...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

INSPIRE-SE EM FAZER MELHOR

   

   Ontem após dois dias diretos de caminhada pela beira mar de Floripa, durante 1 hora, animei a escrever, mas quando me dei conta já chegava uma da manhã. Credo! Tempo que voa!

   Nada como boa caminhada para inspirar os veios que abrigam o nosso sangue. Ficam acarinhados pelos diversos hormônios do prazer e nos faz ficar mais e mais animados. Que delícia a sensação, né!

   Nada de ficar parada. A vida exige atividade... sempre. E assim empolgada, olhando mais para o céu, para a paisagem, para a lua que lá estava com sua aura camuflada. Deixando um "que" misterioso pelos ares nuvescos que embalavam o céu e passava semblante interrogativo. Deve ser assim com os românticos com algo a escamotear...

  Sempre pronto a buscar propósitos para seguir a estrada, a guerra que espreita, vai o homem.  

   Falando em propósito, lembrei da frase que ouvi, do cineasta Fellini: "Sempre estou consciente de que poderia fazer melhor."

   Como soa inspiradora tal frase. Como o sujeito, o homem, consegue perseguir seus objetivos, sempre inspirando, transpirando ser melhor? Reinventando a vida nos seus diversos trajetos, aspirante que é na jornada? interrogações, prováveis ares nuvescos a embalar a caminhada humana nesta terra incógnita.

   Onde esstá mesmo a inspiração???

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O ENFARTO COMO LUZ

   

   A pessoa vai vivendo a vida, apenas vencendo os trancos e tropeçando em afazeres, que pela correria sempre se parecem maiores do que são.

   A vida a dois não flui com a leveza desejável, parece que os problemas, em círculo vicioso, vão dominando todo os pensamentos e atos e, o outro, o companheiro, os problemas do outro não são levados em consideração, não existem.

   A filha não o encontra nas reuniões escolares, uma pessoa não disponível para ouvir as poesias da filha e nem conhecê-la melhor.

   Como se não chegassem, o enfarto emplaca, a partir de estresses, a pessoa se vê envolvida em nós não desatáveis nas diversas áreas da vida.

   Uma história cotidiana de muitos de nós, homens e mulheres, mas no caso específico, o roteiro característico pertence ao personagem de Ricardo Darín, ator argentino, no filme O Filho da Noiva, de 2001, do diretor Juan José Campanella.

   O personagem vive uma vida estressante e de tão envolvido com os próprios problemas, se esquece de viver plenamente os diversos relacionamentos: profissional, familiar, social.  

   Seu pai, idoso, e 44 anos depois, apaixonado pela mãe, que vive em um asilo devido a doença Alzheimer, decide que deseja realizar o casamento religioso, que à época, ele não tinha interesse e ela acatou. Agora, acha que ao realizar esse desejo, em algum lugar, a esposa irá se lembrar. O mais importante, ele se lembra, sente que vai satisfazer um desejo dela que tanto satisfez os seus. É lindo como é retratado o cuidado do marido com a mulher.

   E o pico, o enfarto, faz que este sujeito se volte a olhar e se questione que tipo de existência aceitou viver até aquele momento e entende que pode querer mais, pode exigir mais de si para ser melhor pessoa, não só consigo mesmo, mas para as outras pessoas que giram ao seu redor, que o amam.

   Entende que todos têm problemas e que tem que aprender a conviver não só com os seus, mas com os problemas das pessoas que ama, conscientizando-se de seu egoísmo e dando uma reviravolta em sua, antes, medíocre vida. 

   Lições aprendidas à força... porque é preciso isso ainda, por quê?   

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

SEGUINDO AS ESTAÇÕES DO TEMPO...

   

   Escafedi-me por bom tempo né... sabe o que é estar com a internet péssima e travando... a gente fica meio desanimada. Talvez a culpa nem seja da operadora, seja o meu equipamento pedindo help. Provável!

   Vamos lá, dias desses ouvi uma fala de uma produtora de artes, não sei se na TV Cultura ou Brasil: "O mundo muda sozinho, independe da arte para isso." Arte é transformação, atua na existência do indivíduo através da emoção, dos sentimentos, expressão do sujeito na sociedade em que se insere. Contribui para o expurgo de dores, anseios, fantasias e com isso torna o ambiente salutar.

   Mesmo sabendo que o mundo muda sozinho, muda para melhor com a contribuição da arte, inspira o humano em sua força desconhecida.

   Quando se lê biografias têm-se muito claro a expansão do sujeito dominado pelo estético em sua existência. Terminei de ler o livro de memórias de  Gerson Pessoa, "Antes que se percam nas brumas do tempo", do autor, 2014. Que delícia ir conhecendo a extensão do sujeito a partir de sua história e vendo o amadurecimento expressando-se,  seja em sofrimento, em questionamentos febris sobre a existência e o que fazer dela, a expansão da arte na vida, transformando e burilando. 

   Reverter a vida, considerada medíocre, em um ambiente de metas, objetivos, busca insaciável pelo melhor de si através da musicalidade, da voz, da fotografia, da escrita etc... ao mesmo tempo mostrando o quão se é exigente e rígido consigo mesmo nas cobranças pela perfeição.

   Entender que cada um vai viver o que tiver que viver, a partir de escolhas, redesenhar o destino a cada virar de página, de idade, de pensamento. Até conseguir se apaziguar em paz com o que se tornou, aceitar  a eterna insatisfação humana.

   Como o autor cita Pedro Nava (1903-1984), encerro com frase do poeta: "A vida é um romance sem enredo."