sábado, 29 de abril de 2017

CÉREBRO ANDA REBELDE

 
   Três postagens atrás eu falava do James Dean e coincidência, passou o filme sobre a vida dele, Life, de 2015. O ator Robert Pattinson encenou o fotógrafo Dennis Stock que buscava a foto que o colocaria no rol das celebridades. Por aí começa a tornar conhecida a biografia do astro, que ainda não era sucesso, James Dean.

   Inicialmente encarei no ator certo pedantismo, que no decorrer das cenas foi-se desfazendo. No fundo, um adolescente às voltas com questões da juventude. Imaturidade, crise de identidade, dificuldade de crescer, relação com a mãe/pai ... e uma característica que trouxe surpresa, não afinava com as obrigações de comparecer aos lançamentos, arredio à tal convenção.

   O fotógrafo reconhece nele um artista de talento e passa a conviver com ele em situações de família e assim tem-se o registro fotográfico de momento da vida desse ator que se foi tão jovem, aos 24 anos.

    As fotos inicialmente não convenceram as revistas de que valessem a pena. Mostravam o lado simples de um jovem em busca do sucesso, mas carente da convivência junto à família e o lugar onde nasceu, Indiana. Falta da mãe que morrera cedo, lembrança da infância onde brincavam de imitar animais da fazenda, relatos conhecidos pelo depoimento do fotógrafo.

   O lado rebelde e selvagem do ator entusiasmaram, mas acidente de carro afastou fãs de conhecerem a trajetória, fez três filmes de sucesso, o mais conhecido Juventude.

   O fotógrafo, a partir do material registrado, passou a ser respeitado e fez sucesso.

   Incrível como os jovens são iguais e tão diferentes. Únicos. As crises perseguem etapas numa experimentação da vida. Jogos se iniciando e se encerrando, etapas interrompidas ou ...

   Mais uma vez, a frase veio a cabeça.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

FRASE FICOU NA CABEÇA

   

   Conheci o diretor de teatro Celso Nunes dia desses pelo canal da Cultura, Persona in foco, reprise. A experiência de pessoa ligada a arte trouxe temas interessantes, com a emoção de quem conta a trajetória.

   O teatrólogo relata a experiência nas peças encenadas, entre elas, a luta de Vlado Herzog, não poupado da violência com que encarnava os jornalistas (os considerados comunistas) durante a ditadura militar. O depoimento é tocante e resgata em mim a necessidade de pegar o livro que me espera, As duas guerras de Vlado Herzog, Audálio Dantas, Civ. Brasileira, 2012. Eis o momento, amparado por depoimentos de amigos, da esposa do jornalista, do próprio diretor. Além de conhecer a história do ponto de vista de quem presenciou o perigo de viver e morrer.

   Voltando ao assunto, Celso Nunes, numa das falas, colocou a frase, que achava ser de Stendhal, "O homem sabe que vai morrer, mas vive como se não soubesse." Relatou a dificuldade em lidar com perdas e de como tais experiências o levaram a ser um "Rolfista", trabalhando em Florianópolis.

   A frase ficou na cabeça... Pensei marcar hora na clínica dele, mas já deixou a cidade! 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

ACORDAR E ENTRAR EM FORMA

   Tomei vergonha na cara. Retornei para academia. Afinal, musculação é fundamental para quem passa dos sessenta, melhora mobilidade e flexibilidade, dizem especialistas.

   Fui paramentada para a situação. Chegando lá, observo que minha vestimenta não está atualizada para o gênero. Roupas colantes são a moda. Atenta segui orientações da professora. Em outra olhada, noto que o número de pessoas da idade é a maioria, o que me deixa animada.

   Astral do lugar é bem legal, professores antenados se a gente está corretamente seguindo as orientações. Fundamental para a era do Condor, não é mesmo!

   Não acreditei no que senti logo após primeira aula. Pessoas vão pensar, é uma exagerada, as dores que sentia desapareceram. Verdade! Três aulas depois, musculatura denunciando que estava acomodada, tamanha dor muscular.

   Começa então a concorrência, não sei se escrevo e leio, ou vou à academia. Não consegui, ainda, dimensionar adequadamente o tempo. Chego lá!

   Hoje, por exemplo, chegaram livros encomendados e isso ficou em primeiro lugar, li li li, sem descanso, quando dei por mim, passavam das oito da noite. Livros do escritor Ronald Claver me pegaram, fizeram a imaginação criar asas, domínio da linguagem e as palavras, todas ganham Arte de escrever com arte, um dos títulos. Animei e continuei a bisbilhotar outros, os infantis, os juvenis e assim, a tarde passando em ótima companhia.

   Creio que me envolvi e embaralhei tudo neste mundo e figuei a ver navios em nuvens. Até que obrigada a cair na real pelo barulho na cozinha.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

ANOS 50, TEMPO EM QUE NASCI

   O filme Brooklyn, do diretor John Crowley, de 2016, é um desses que a gente gosta tanto porque faz voltar no tempo. Relembrar o jeito da sociedade em lidar com a vida, como vêm representado o amor, a moda, a forma de falar, a educação familiar e exigências sociais e, ainda, os pecados, a fofoca entre eles.

   Este filme retrata os anos cinquenta na então Irlanda, terra do famoso escritor James Joyce.  Uma mocinha iniciando sua vida profissional e na cidade não encontra espaço. A irmã mais velha consegue que ela vá para os Estados Unidos, morar no Brooklyn, trabalhar numa famosa loja de roupas, emprego conseguido através de um religioso conterrâneo e, estudar escrituração.

   A ida é bem interessante. Ver o navio antigo e a dificuldade durante o trajeto, para quem não está na primeira classe. Inocente, alimenta-se logo que chega ao navio e a consequência, enjoos e vômitos intermitentes toda a noite. O balanço do navio tem o lado cruel. Com auxílio da colega de cabine aprende cuidados para chegar bem até o final, o macete é estômago completamente vazio e as dicas para acesso ao banheiro, dividido com outra cabine. Essa colega de bordo, também irlandesa, arrepende-se de ter voltado devido ao atraso daquela comunidade em relação ao primeiro mundo.

   É muito legal ver a personagem aprendendo com a vida, a cada experiência, vai adotando o que considera adequado à sua visão de mundo e valores recebidos. Mora numa pensão e no convívio com as moças inicia os passos ao amor, bailes, cinema, trato com clientes da loja, estudos etc. 

   Num baile conhece um rapaz que observava ela aprendendo a dançar. Começa o envolvimento, bastante recatado. É lindo ver o casal enfronhando no jogo amoroso, as iniciativas, os senões, pouco a pouco a paixão domina a cena. Eu gostei da personagem da mocinha, mas me encantei foi com o rapaz, personagem do ator Emory Cohen. Que lindo, o jeitinho dele me fez associar ao James Dean. Achei ele perfeito no papel, o andar, o vestir-se, o movimento do corpo, o rosto ingênuo, o olhar sedutor, o cavalheirismo. Ele é bombeiro hidráulico e quando se encontram fica contando as peripécias entre encanamentos e esgoto de  dejetos humanos. Tem descendência italiana.

   Após estar adaptada, feliz com o namoro, recebe a notícia que a irmã veio a falecer, deixando a mãe sozinha. Ela viaja para lá, mas antes se casa com o namorado, um segredo dos dois. No local tinha um outro casal de origem irlandesa se casando também.

   O retorno à cidade natal deslancha a ação, ela amadurecida vai ganhando a confiança do povoado, substituindo a irmã no emprego, na vida social encontra as amigas e elas lhe apresentam um rapaz de família abastada, vai à praia com maiô da moda, diferente do costume local, ainda conservador. O envolvimento vai lhe tomando os pensamentos, atos e vê-se dividida entre os estilos de vida. 

   Até que uma bisbilhoteira lhe diz conhecer o segredo. Ela finalmente tem claro que aquele lugar atrasado não lhe pertence. Diz para a mãe que já é casada e precisa retornar. No navio encontra uma marinheira de primeira viagem, indo morar no Brooklyn; ela faz o papel da antiga colega de bordo passando as orientações para sobrevivência.

   O filme termina com ela esperando pelo marido após o trabalho. Ele gostava de esperar por ela do mesmo jeito. É lindo ver os dois jovens se reencontrando e sentindo que o outro é a pessoa mais importante do mundo. Amei o roteiro, história do livro do escritor Colm Tóibin.      

domingo, 9 de abril de 2017

RELUZINDO

   Meus olhinhos estão brilhando, se é que se pode dizer que os olhos brilham aos sessenta. E por quê não?

   É que lembrei daquela canção do compositor Raul, A Noite do Meu Bem, lindamente cantada pela Dolores Duran:


"Hoje eu quero a rosa
mais linda que houver

...

Eu quero toda beleza do
mundo para enfeitar a 
noite do meu bem

Ah, mas como esse bem
demorou a chegar

Eu já nem sei se terei 
no olhar
toda ternura que eu quero
lhe dar."

   Associei a canção à frase inicial. Se o amor demorar a chegar, pode ser que a gente nem sabe se terá o brilho do olhar.

   Como diz meu professor de Literatura, tenho a mania de ficar explicando demais, o que é um defeito na escrita. Como sou leiga me permito o deslize. Mas vamos lá, meu olhar está brilhando, estou encantada com os livros do Wander Piroli e do Hemingway, segundo meu professor, ótimos em diálogos. Vou lendo e prestando atenção na elaboração.

   Do Hemingway eu só tinha lido O Velho e o Mar. Agora vou ler As neves do Kilimanjaro (contos), Ter ou Não Ter, O Sol Também se Levanta e Adeus às Armas. 

   Já o Wander Piroli, apesar de conhecê-lo como escritor da minha terra, não tinha lido ainda. Uma escrita infanto-juvenil, para jovens e velhos de todas as idades: Três menos um é igual a sete, O matador, Os rios morrem de sede, O menino e o pinto do menino. São livros com histórias simples que de súbito ganham conteúdo poético pela expressividade do escritor. Lindos. Lição de vida.

   Admito, olhinhos é demais. Os olhos brilham a cada virada de página.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

CUIDE BEM DOS DENTES

   Assisti ao filme Aprendendo com vovó, 2015, americano. Em inglês o título é Grandma. Eu adorei a tal avó, nada de tradicional, antenada e feminista. O foco é a neta que procura a ajuda da avó após o namorado não aceitar a gravidez dela e desaparecer. A garota anda perdida, sem o apoio da mãe no momento. 

   É uma família diferenciada: a avó assumidamente lésbica, viveu muitos anos com uma companheira até a morte. Elas tiveram uma filha, que é a mãe da moça grávida e aparece como uma bem sucedida mulher. Essa mulher, de seu lado, teve uma gravidez independente, a partir de inseminação artificial e nunca aceitou revelar à filha quem foi o doador, sabe apenas que tem cabelo crespo. 

   Ao buscar a ajuda da avó, a neta vai aos poucos conhecendo características e posturas desconhecidas por ela. A avó aparenta um mau humor generalizado, um pouco porque ainda vive um luto e também por ter encerrado uma nova relação. É respeitada pela escrita e durante o filme aparecem fãs com algumas citações, mas ela perdeu o pique de escrever devido às crises.

   A questão que permeia o filme é que as duas vão manter um relacionamento estreito, definido pela necessidade de conseguir dinheiro para um aborto. Legal onde moram, mas ainda assim, alguns não aceitam e lutam contra.

   A avó quer socorrer a neta, mas não tem a grana. Começam a fazer uma via crucis onde encontrar quem lhe emprestasse. Acontece que o mal humor da avó atrapalhou muitas relações de convivência, as quais tenta procurar agora, como tábua de salvação.

   Primeiro tentam com o rapaz que é o pai da criança. Um jovem adolescente sem nenhum interesse pela situação. Conseguem tirar dele uma ninharia. Seguem na busca. E vão encontrando pessoas que andam sem condições, mas que não deixam de dar uma espezinhada na forma como a avó se relacionou com elas tempos atrás.

   O mais interessante foi quando a avó buscou a ajuda de um homem, um amigo que não via a mais de dez anos, mas que na verdade foi seu marido por pouco tempo. Ele ainda tinha mágoa por ela não ter tido um filho com ele e sim com um desconhecido. E também por ter feito um aborto quando esperava um filho dele sem ao menos lhe dar conhecimento. Não concordou em emprestar quando soube o objetivo do dinheiro. Quando vão embora, a avó explica para a neta o por quê dele estar tão magoado, é que ela não contou que era lésbica e viveram juntos, ele queria uma esposa, ela não queria um marido.

   Durante o encontro com o tal homem, ele comentou com a mocinha a importância de se cuidar muito bem dos dentes, pois é a única coisa que fica após a morte, o esqueleto e os dentes. Um humor ácido, mórbido, mas interessante e que nos leva a pensar.

   Como as opções de ajuda da avó encerraram-se, buscam auxílio com a mãe de sua neta. Ela acaba concordando em dar o dinheiro e lá se vão as duas. Antes do processo, a neta passa por atendimento psicológico para ter a certeza do que fazia, e explicou que um dia queria ter uma família e filhos, mas no momento não tinha preparo.

   Ainda, lembrei de uma dica muito legal que escutei da personagem vovó, num comentário sobre escrita, ela disse que a escrita é de melhor qualidade quando se está amando alguém, a produção fica mais rica, sem dúvida nenhuma, fala dela.

   Cada uma escutando a outra e cada uma descobrindo-se a partir da convivência. Muito legal o enredo.

sábado, 1 de abril de 2017

GATOS PARDOS

   Adoro caminhar ou correr na praia descalço. Vem a brisa, levanta a areia, ameaça o olhar, é o tempo que muda com as estações. O pé na beira mar chutando a água e internamente a infância tamborilando vão dar uma trégua nas brincadeiras.

   Agora quando dou umas corridinhas na praia, aquelas tipo trote, tenho de fazê-las completamente vestida, por que é tanto balança mas não cai, só com traje de banho não dá mais. Quando arrisco a tal gafe pode saber está anoitecendo e todos os gatos são pardos. Falo isso sem mágoa alguma e nem economizo ironia a respeito. Afinal fico feliz por saborear tal atividade em boa saúde.

   Mas este ano está bem diferente dos anteriores com relação aos desejos de caminhar diariamente na praia. Sei que os compromissos estão colados aos horários e mal sobra tempinho extra. Ainda não consegui concatenar pausas para o lazer.

   Apesar da semana atribulada devo confessar que amei. Saí todos os dias de casa. Recomendação benéfica dita por um médico a minha sogra: "morra, mas saia de casa." Certíssimo. Adianta se tornar um vivente preso entre quatro paredes? Vi lances do cotidiano que acenderam meu cérebro às novidades, e que não aconteceria se não tivesse posto o pé fora de casa. O direito de preferência.

   Fiz outros tipos de exercício físico, outras tarefas e a cabeça no travesseiro foi pro sono no zapt zupt. Nada como viver, mesmo sendo parda!