quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CONSIDERAÇÕES FEMININAS

   

   Boa parte das mulheres desempenha um sem número de papéis, muito maior que dos homens – trabalho doméstico, responsabilidades profissionais, cuidados com os filhos, mesmo na dita igualdade ainda bastante desigual – elevando o estresse, a ansiedade e a depressão femininas.

   As cobranças continuam enormes tendo que lidar com a administração do tempo que não corre a seu favor. São tantas regras, cânones masculinos que as mulheres ainda se veem envolvidas, haja energia vital.

   Tem hora que se deixa levar pelo atropelo das horas e se mete a dar conta de três, cinco, dez coisas ao mesmo tempo, sem se permitir parar e respirar mais intensamente... e com isso exaustão aparece para dar um aviso que nem sempre é levado em consideração, como se a mulher esquecesse seu arcabouço real - finita, mortal!

   Daí surgirem sintomas que descuidadamente avaliados, ou relegados a segundo plano, vão dando lugar a extremo cansaço, fadiga e se deixados sem um rumo planejado, vão ganhando em consequências desastrosas para o corpo físico e mental.

   Porque andamos tão rentes às obrigações que desprezamos um olhar mais voltados para nós mesmas, mulheres? 

   Porque tão difícil abrir uma fresta e desviar o olhar para si mesma, mulher?

   Não tem tempo para tanto filosofar... água está no fogo, o filho grita e corre ao socorro, o expediente anda alongado e em casa afazeres ainda esperam... Falo pra quem mesmo? 

   

   




domingo, 16 de novembro de 2014

ATIVISTA A TODO CUSTO...

 
   Assisti um filme bem legal, de grátis, na Fundação BADESC algumas semanas atrás. Levar cultura sem custo para o cidadão. O filme faz parte da mostra de filmes franceses. Este de 2010, Os nomes do amor (Les noms des gens)... do diretor Michel Leclerc.

   Os dois personagens principais, um homem e uma mulher têm histórias de descendência de países em guerra. Cada um deles buscando transpor as barreiras das lembranças e ao mesmo tempo valorizando a significação de pertencer àquelas origens.

   Ela é bem jovem e totalmente livre quanto aos conceitos da liberdade sexual. Não se importa de usar o sexo como pretexto para dominar aqueles que vão contra o seu modelo político. Assim, sente-se engajada às causas que considera serem de bons alvitres para uma sociedade melhor. Fora dos padrões usuais de moças de fino trato, o diretor foca uma personagem que transgride o usual, mas sem ser vulgar. Claro, vai além da preguiçosa realidade felizmente. Sai uma comédia deliciosamente contada por ambos os personagens que sequencialmente a vão vivendo.

   Na história inicial da personagem aparece colocada a questão do abuso sexual sofrido por ela quando criança, pelo professor de piano. Os pais só sabem quando um dia a pedem para tocar uma música. Descobrem que ela não conhece uma nota musical sequer. Ela então conta o que acontecia durante as aulas... isso não aparece falado... apenas aparece os pais e ela abraçados e tristes. Consegue tocar num tema cruel com uma nuance de tristeza e solidariedade. A compreensão através do afeto... que no fundo é o que toda a criança precisa em situações assim.

   Já o homem é um pouco mais velho que ela. Todo introvertido, metódico, tradicional, convencional, comum... o que se quiser dizer do homem obsessivo e preso aos padrões claramente convencionais. Ele tem origem judia mas receia falar sobre isso.

   E essas duas pessoas de tantos contrastes acabam por se apaixonar. Vão através de encontros descobrindo as afinidades sem a questão da posse interferir na relação... pelo menos se tenta... 

   É um filme crítico, ao mesmo tempo que faz rir, com a poesia entremeada aos ares do cotidiano de duas pessoas em busca do amor.   

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

PRIVILÉGIO DE SER OUTRO

   

   Ave! Finalmente consegui sentar para teclar um pouco. Escrevinhar se tornou uma dificuldade nestes últimos meses. Poderia dar um monte de desculpas: processo de mudança, o tênue inverno que se vai (com ele um certo desânimo advindo da época), o violão me tomando tempo maior de investimento (e eu gostando!), algumas leituras, ...

   Estou com postagens começadas e faltando tempo de burilá-las com cuidado para publicação.

   Eis que no domingo assisti a um filme dos anos 90 e ele não me sai da cabeça. Resolvi priorizá-lo então, algum motivo deve ter. O Harrison Ford está em um papel muito instigante no sentido do significado de existência... pelo menos para mim. O filme é Uma Segunda Chance.

  Seu personagem é um advogado bem sucedido que visa apenas o sucesso acima de qualquer ética. Preocupado com aparência frente a uma sociedade interesseira e financista. Na relação familiar o vínculo com a mulher e a filha beiram ao necessário, num estar superficial e pouco envolvimento afetivo. 

   Eis que sai para comprar cigarros e seu futuro dá uma reviravolta surpreendente. O dono da loja de cigarros está sob ameaça de assalto, e, ele não percebe o que está ocorrendo, insiste em ser atendido. Recebe um tiro na região do ombro; continua insistindo e recebe outro tiro na região da cabeça. Consegue fugir dali naquele estado, caindo ao chão logo à saída.

   A única estratégia possível - sobreviver. Assim ele se encontra por bom tempo. Quando se restabelece, as lembranças se foram, não consegue articular palavras, nem ler, nem caminhar etc.

   Um longo período de recuperação, a área afetada do cérebro vai necessitar de tempo e muito trabalho fisioterápico para que novas sinapses sejam possíveis e ainda uma incógnita de qual alcance de sucesso no restabelecimento de habilidades anteriores.

   Um novo homem vai surgindo a partir das tentativas de se reconhecer pessoa, marido, pai, profissional. E é a sua filha que recorre para reaprender a ler e a convivência emocional traz um  ganho a existência. Uma relação de afeto, de tolerância, de respeito vai, dia a dia, intensificando o papel pai-filha.

   Com a mulher se passa semelhante. Acha que não sabe o que fazem um homem e uma mulher na relação afetiva-sexual. Com o carinho incondicional da esposa transpõe a barreira com sucesso. Retorna ao trabalho, apesar da restrita capacidade intelectual do momento. Vai compreendendo aos poucos através das perguntas que tipo de homem era e não gosta do que descobre.

   Atento a tudo que vem vivenciando descobre que a esposa tinha um caso com um amigo do trabalho; descobre que ele próprio tinha uma amante e que iria pedir o divórcio. No trabalho descobre as suas estratégias para vencer acima de tudo e todos.

   Nesse conhecimento estupefato de uma existência pobre, medíocre, sem significado, rompe com o homem que era. Tem uma segunda chance de viver em família, dar valor ao que realmente merece ganhá-lo, ser uma pessoa integral no amplo sentido do conviver.

   Que privilégio deste homem: esqueceu o tipo que era e pode reconhecer-se um homem melhor a partir de fatalidades da vida.  Segunda chance acho que só em filme mesmo! 

sábado, 1 de novembro de 2014

AVENTURAS COM BICICLETA SEM RODINHAS

   

   Semana passada assisti no canal Cultura uma entrevista onde o tema ócio, tédio e stress eram a base, e o profissional convidado (? não anotei o nome, desculpem-me) discorria sobre o que é pior: uma pessoa com tédio, ou uma pessoa com stress... ele foi claro e rápido na resposta. Ninguém merece viver estressado, não vale a pena. Mil vezes preferível o tédio. Por quê? Uma pessoa com stress não encontra tempo de pensar na vida, vegeta, vai levando, sem um momento de reflexão do que faz com a vida.

   Já o tédio, por mais que seja triste, a pessoa entra em sintonia com o vazio, com o nada, um passo para analisar existencialmente o que quer da vida. E inda possível uma transformação.

   Claro, enfatizou que os dois tipos: tanto stress, quanto o tédio, o saudável fosse que nenhuma pessoa sequer sentisse, mas estão aí, que seja então o tédio algo para possibilitar uma mudança.

   Gostei bem da investida sobre o tema. Tanto que associei logo a uma leitura que fiz: sobre a tal bicicleta com rodinhas. O artigo do coach Homero Reis, no Diário Catarinense, domingo passado, onde ele explicita o significado de acomodação (uma bicicleta com rodinhas) ao invés de partir para a mudança, o arriscar-se a fazer diferente, isto é; ter a coragem de tirar as rodinhas da bicicleta e levar alguns tombos até o aprendizado. Afinal, diz... o importante é fazer parte do jogo.

   Eu vi a bicicleta com rodinhas como o tédio ou o stress... acomodação ao papel e dificuldade de vivenciar novos aprendizados.

   Mesmo quando se está velha (ou velho) não se deve associar  a preguiça, a falta do que fazer... não se acomode... aprenda sempre a tirar as rodinhas da bicicleta. Aventuras são necessárias em todas as idades, todos os dias de vida...