segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

QUERER, PODER E SABER FAZER!

   
FELIZ ANO NOVO!

Finalmente consigo me sentar à frente do computer de novo. Dezembro finda e o ano vai-se como um "estalar de dedos", sempre tão rápido. Eu gosto desta forma de me referir ao tempo - que passa num vapt - vupt. Portanto, se não aproveitamos e não fizemos o que tinha que ser feito... ainda tem o para frente para os que estão VIVOS.

   A vida sempre permite novas chances de reformular planos, ações, metas e de tentar, tentar e ser tentado a fazer! Me lembrei de um hã... posso chamar de coaching que sempre diz que para se fazer uma coisa é necessário: QUERER FAZER; PODER FAZER E SABER FAZER.

   Conseguir apenas um dos três é questão incompleta e não se chega aos objetivos que se quer alcançar. 

   Querer fazer, faz parte do desejo, dos sonhos, dos projetos e impera a fantasia, mas já é começo, tem a chama da esperança...

   Poder fazer exige outras habilidades, exercício de poder, ter condições de alcançar o que se quer. Demanda reflexões para se conhecer as nossas fraquezas e as nossas qualidades necessárias às ações demandadas do querer fazer e  tem a chama da realidade, do pé no chão para avaliar possibilidades, traçar estratégias...

   Saber fazer é fundamental para finalmente alcançar os objetivos propostos no projeto de vida, nos sonhos, nos desejos, ancorados no poder fazer. Saber fazer tem a chama da técnica, do conhecimento do que se quer alcançar...

   Portanto, se você quiser, puder e souber fazer, os três estrelando em toda e qualquer meta, chegará ao pódio com conhecimento de causa e com preparo para os novos degraus da ambição saudável própria do ser humano que sempre hão de surgir. 

   Se ainda não existem as três coisas... é tratar de construir... enquanto estamos VIVOS!!!    

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

QUESTIONAR A SOLIDÃO

  

    Ontem uma pessoa me perguntou se eu já me senti sozinha, sem ninguém. Respondi que muitas vezes me sinto sozinha, mesmo convivendo com pessoas ao meu redor, pois o homem é um ser que tem esta necessidade - de estar só consigo mesmo.

   Rebateu, pois não gosta de ficar sozinha. Não consegue conceber duas pessoas que vivam juntas uma relação possam ser seres sozinhos. Eles não dialogam seus problemas? Não existem segredos se existem amor e diálogo. Então porque se sentem sozinhos? 

   Estar sozinho, ser solitário, solidão, estar só... diversos significados da vida do homem como ser que pensa e sente as dores existenciais.

   A solidão nem sempre é externada, nem sempre é externa, não é explicada. A solidão é sentida - como algo ruim ou acolhedor - depende em que estágio se encontra a pessoa. Na maioria das vezes, o sentimento de solidão que nos toma é advindo de resquícios vividos na infância, adolescência ou na idade adulta; em sua maioria num estágio de dependência do outro, onde se coloca a presença de um outro como fundamental.

   Este estágio de crescimento em que todos passamos por ele, que é a imaturidade - a necessidade do outro para a sobrevivência. E na evolução, vem a maturidade, a maioridade no sentido máximo da palavra, o homem saber-se o único responsável por si mesmo e ao aprendizado obtido pela vida em sociedade - ser sua responsabilidade a condição de ser feliz, sem ancorar, sem depender de um outro... como se diz popularmente "não precisar de moleta". 

   Está claro que isto não significa que uma pessoa que viva sozinha, seja uma pessoa solitária. Viver, habitar um lugar é diferente de ser, sentir. Viver sozinho muitas vezes é a opção feita através de uma escolha.

   Sem sombra de dúvida, neste mundo gestado à ansiedade, à correria, à multidão, o indivíduo pode perder seus padrões referenciais de importância e cada vez mais ser um individualista de plantão. Não é o caso que nos atenda - estamos a procura do sujeito. E o sujeito significa o engajamento do indivíduo ao social, fazer parte da sociedade em que habita; tantas são as coisas a serem feitas e uma multidão por aí que nem autômatos. Isso sim é triste...

   Interdependência - aprendizado que dignifica a relação com o outro. Neste estágio, cada um tem a sua singularidade, sua individualidade, mas compartilham um com o outro as suas experiências, enriquecendo as relações humanas, afetivas, sociais.   

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

REINVENTAR CAMINHOS

   

   Tá uma chuva que não para desde a tarde e com muita pancada. Isso não acontece só em BEAGÁ, mas por todo o sudeste do Brasil, muiiiita chuva! São Pedro parece que não quer dar moleza. Os sufocos e catástrofes já trazem bastante dores pela região.

   Bom, com esse tempinho... aproveito para contar sobre um filme que vi sábado. Quanto tempo não via um filme, não conseguia ficar sentada durante todo a rodagem, penso que ansiosa com os diversos afazeres que ando aprontando. O filme se chama "O Caminho", de Miguel Estevez, com o ator Martin Sheen. Ele, um médico que é surpreendido com a morte de seu único filho quando este começava a fazer o caminho de Santiago de Compostela, devido as fortes tempestades que abateram o local para onde seguia.

   O pai relembra flashbacks em que a figura do filho é a prioridade, focando suas desavenças por questões profissionais. Pai rígido e conservador, filho que procura mais ser do que ter. O filho quer vivenciar a liberdade e buscar encontrar-se através das viagens a que se permite. Confronta o pai exemplificando a vida que ele leva, relativamente pacata e sem aventuras e novidades.

   Essas lembranças fazem-no tomar a decisão de seguir o caminho, tentando cumprir a etapa onde o filho parou. Lá vai ele solitário, arredio às companhias, frio e distante ao contato mais afetivo das pessoas, sempre cauteloso. E no entremear das cenas vai se verificando a mudança do carrancudo para a leveza, da seriedade exacerbada para um sorriso que ainda mostra dificuldade em soltar-se. Na sequência vai caminhando e carimbando o passaporte pelos povoados simples e antigos da Espanha, cheios de história por cada canto. Viajar com ele é uma deliciosa aventura, o foi para mim que desconheço o roteiro.

   Ele consegue carimbar o passaporte completamente e o dedica ao filho. A partir daí sai para as andanças dos lugares que o filho sugeria. O final mostra que está no Marrocos. Aprendeu, a partir da perda do filho, a valorizar o olhar, os caminhos, as pessoas. Filme muito rico de significados. 

   Acabei de ler no blog da Fátima Fonseca um poema de Cecília Meireles onde ela diz que a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. Penso que o filme quis transmitir essa poesia da Cecília Meireles. O pai descobriu um dos significados do viver a partir da morte do filho. E passou a reinventar seus caminhos (que antes eram bem monótonos e tradicionais). 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

VALER A PENA!

   

   
   Depois de uns dias meio atabalhoados, eis que retomo mais empolgada (já contei que às vezes a baixa imunidade toma conta de mim...), com mais energia. Confesso, relaxei no mês passado com a alimentação e sinto o resultado no corpo. Eu já disse " o corpo fala"... é só escutá-lo, ele dá o alarme para quem sabe ouvi-lo; se não o sabemos, virão as consequências.

   Mas nada que uma boa aventura não se sobreponha. Uma nova aventura é sempre boa para manter a chama de transformação e mudança. Projetos de vida revigoram  o meu estar no mundo. O que mais me incomoda é rotina, mesmice, cotidiano sem novidades.

   Até achei legal uma frase de propaganda que vi ontem na TV (não lembro a fonte???), "Uma pessoa com muitos interesses, torna-se uma pessoa interessante." Não está ipsis literis o que eu ouvi, mas é isso na essência. Adorei a frase e realmente acredito. É muito triste quando vemos pessoas com pobreza de interesses, que não acompanham as novidades, as mudanças ao seu redor, não buscam novos interesses. Muitos  ficam só no repertório que costumo chamar de "papo de aranha", difícil de suportar por grande período de tempo.

   Nada como conversar com pessoas que olham a vida com o olhar do novo a cada dia, amam a arte e a cultura, e até mesmo a cansativa política nossa de cada dia! Faz uma diferença quando a gente se envolve pela vida que bate à nossa volta. Uma vivacidade que transmuta qualquer ânimo. 

   Creio que entendi o "carpe diem" do momento que estou - aposentada, por escolha e opção, mas não acomodada, continuando a exercer o papel de cidadã em trabalhos voluntários como psicóloga. Vou contar o que aconteceu há muitos anos. Fiz meu obituário nos anos 90 (lá eu disse que morri com 90 anos... hoje sei que isso é impossível), durante um curso de Projeto de Vida e lá coloquei que quando aposentasse desenvolveria trabalhos para a comunidade. 

   E hoje analiso que estes trabalhos são os que dignificam minha profissão. Eu vejo como é dura a vida das pessoas que dependem exclusivamente da saúde pública (por mais que veja técnicos se esforçando para dar o melhor de si), de como a pobreza e falta de educação contribuíram para histórias de vida tão sofridas. Pessoas desamparadas. E como o poder da escuta é capaz de transformar pessoas angustiadas  que se descobrem enquanto existência, buscando forças e desejo de ser melhor, dentro de suas possibilidades. É compensador! 

   Aí, as histórias se tornam ricas, mas de detalhes que visam o crescimento de si mesmo, o autoconhecimento, onde o aprendizado do gostar de si, o investimento em si faz descobrir o verdadeiro sujeito que ali está escondido, esperando uma oportunidade para surgir em sua inteireza. É magnífico! Isso vale a pena!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

CONSTRUÇÃO DE SI MESMO POR SI MESMO


   Que sumiço me deu, hein? Rumei para outros ares... teares. É verdade, rumei para Floripa, a respirar a umidade do ar vindo do mar, que anda me resvalando desejos de paz, contemplação, calma aconchegante. Estava em outros escreveres pelo mundo, o do olhar.

   Voltei. A exuberância local de Floripa (nome carinhoso que se dá à cidade de Florianópolis/Santa Catarina) me toca fundo e restaura o fio condutor da vida que quero levar: dar tempo ao descanso em consonância com a vista sempre desnuda do amplo mar a descoberto em todo lado que se olhe; ao trabalho revigorado pela energização em ondas que não cessam de cantarolar em meus ouvidos; ao aconchegante estar com a família; ao contato com a natureza em seus primitivos fazeres. Ai... Quero morar em Floripa!

   Eu estou apaixonada com a cidade. Aqui estou eu a pensar projetos de vida. É tão bom ter projetos, né? É isso que move a gente à transformação. Lembrei que li um trecho no livro da filosofa Simone Weil, Opressão e Liberdade, que me fez pensar muito sobre os projetos. O trecho é um pouco longo, mas creio ser elucidador para aqueles que se interessem pela busca da mudança na vida. Eis, pág.111:

" ... O homem teria, então, em mãos sua própria sorte; ele forjaria a cada momento as condições de sua existência por um ato do pensamento. O simples desejo, é verdade, não o levaria a nada; ele não receberia nada gratuitamente; e mesmo as possibilidades de esforço eficaz seriam para ele estreitamente limitadas. Mas o próprio fato de nada poder obter sem ter posto em ação, para conquistá-lo, todas as potencialidades do pensamento e do corpo permitiria ao homem escapar para sempre da influência cega das paixões. (grifo nosso). Só uma visão clara do possível e do impossível, do fácil e do difícil, das dificuldades que separam o projeto da realização eficaz apaga os desejos insaciáveis e os temores vãos; daí e não de qualquer outro lugar procedem a temperança e a coragem, virtudes  sem as quais a vida não passa de um delírio vergonhoso... Nada se pode conceber de maior para o homem do que uma sorte que o confronte diretamente com a necessidade pura, sem que ele nada tenha a esperar senão a si mesmo, e tal que sua vida seja uma perpétua criação de si mesmo por si mesmo...

   Ela escreveu o texto em 1930 e permanece atual a questão da existência do homem e da mulher, onde cada um só pode contar consigo mesmo para desenvolver-se integralmente.

   Eu... continuo querendo morar em Floripa... 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

COLOCAR NA CESTA BONS FLUIDOS!

   

   Aproveitei para colocar em dia algumas leituras. Inventei de ler ao mesmo tempo uns cinco livros e estou nessa ladainha, tentando dar coordenadas exatas quando largo e retomo as leituras. A experiência é diferente e rende boas tentativas de exigir do cérebro o que ele pode dar. Entre os livros estão História da Filosofia de Nicola Abbagnano, Opressão e Liberdade de Simone Weil, Edusc, 2001, Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida de Thiago de Mello, Civilização Brasileira, 5ª ed., 1983, Histórias Extraordinárias de Edgar Alan Poe, Odisseia de Homero, ah! me esqueci... também Diários de Kafka.

   Quero a todo custo diminuir a montanha de livros que vem formando em minha frente e eu fissurada em lê-los. O que eu achei interessante, eu e a minha mania de associar coisas, foi que o livro do Thiago de Mello, de 1983, mesmo ano que formei em Psicologia, coincidência ou não, utilizamos no nosso convite de formatura os textos dele, do Estatuto do Homem, que são belíssimos.

   Mas importante mesmo são as possibilidades de conhecer novas aventuras e histórias que entrarão como inspiração para a escrita, além de ampliar o conhecimento. Ler é uma das formas que mais me inspira prazer, não é novidade, né?

   Eis duas citações do livro da Simone weil para reflexão:


"No que concerne às coisas humanas, não rir, não chorar, não se indignar, mas compreender."  Spinoza

"O ser dotado de razão pode fazer de qualquer obstáculo uma matéria de seu trabalho, e tirar partido disso." Marco Aurélio

   E o primeiro, segundo e último verso do poema do Thiago de Mello, escrito em 74 na Alemanha, retirado do livro mencionado acima, pág 3 e 5:

"É Preciso fazer Alguma Coisa

Escrevo esta canção porque é preciso.
Se não a escrevo, falho com o pacto
que tenho abertamente com a vida.
E é preciso fazer alguma coisa
para ajudar o homem.
Mas agora.                          
                         
Cada vez mais sozinho e mais feroz,
a ternura extraviada de si mesma,
o homem está perdido em seu caminho.
É preciso fazer alguma coisa
para ajudá-lo. Ainda é tempo.
    É tempo.                       

... 
É preciso ajudar.
Porém primeiro,                      
para poder fazer o necessário,
é preciso ajudar-me, agora mesmo, 
a ser capaz de amor, de ser um homem.
Eu que também me sei ferido e só,
mas que conheço este animal sonoro
que profundo e feroz reina em meu peito." 

Thiago de Mello

   Fiquei ou não em ótima companhia por estes dias?  

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

PERCEPÇÃO AGUÇADA

     http://oseculoprodigioso.blogspot.com.br/2007/02/escher-mc-ilustrao.html
   
   Que ótimo feriado bem no fim da semana, heim! Pelo menos aqui no Brasil, dia da proclamação da república. Por isso, estou com tempo para postar em plena tarde de sexta feira... Que maravilha!

   Ontem aproveitei e fui visitar a exposição A Magia de Escher, que está no Palácio das Artes até dia 17/11. É indescritível a experiência, pois o que vale mesmo é a percepção ao olhar cada quadro em litografia e xilogravura. Portanto, cada olhar único e particular. Achei interessantíssimo se ter que movimentar o corpo, quase que ficar dançando em frente a alguns quadros, para se ter diversas visões daquela realidade.

   Ele trabalha com o ladrilhamento, com dimensões em diversos níveis, com a ilusão de ótica, com a geometria etc e nos faz refletir sobre a existência, o infinito, a natureza, o sagrado e o profano, a possibilidade de outras verdades... Sou leiga para me atrever a ir mais além.

   Fiquei fascinada por todas as obras, mas as que me fisgaram mais firmemente foram: "Flor de Pascua" - Nunca pense antes de agir, que mostra uma pessoa caminhando numa estrada estreita, à beira do abismo com uma lanterna na mão. Daí diversos significados podem ser desenhados em nossa mente. E a obra com nome Cascata, magnífica. Olha como foi a minha experiência: olhei uma vez e vi a cascata descendo de uma altura para um moinho; depois num segundo olhar, quis descobrir como se dava a queda d'água, em quais direções; terceiro persegui cada lance de onde jorra a água e de repente, de um andar inferior inicialmente, já me surpreendi estando num andar superior. É magnifica a ilusão de ótica.

   Como disse o artista holandês M C Escher: "Talvez eu esteja sempre em busca do espantoso e, por isso, procure provocar espanto no espectador". "... Tenho grande prazer, por exemplo, em confundir deliberadamente a segunda e a terceira dimensões, plana e espacial, e ignorar a gravidade." E pensar que suas obras são a partir de 1921 a 1969 e que só agora no século XXI aparece o cinema em 3D. Era um homem muito à frente de seu tempo em suas viagens imaginativas. 

   Gostei muito de ver visitantes de todos os níveis se interessando e interagindo com a proposta. Que bom que a cultura e a arte vêm trazendo transformações em nossa Belo Horizonte. Entrem na página mencionada e verão que maravilhas.  

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

COM O AMANTE NO CÉU NOTURNO!

   

   Hoje estou me sentindo leve, restaurada. Após ter tocado (arranhado! rsrs) violão por bom tempo; quando guardei-o, percebi que a experiência me transformou em corpo e alma. Explico, ontem e hoje não estou com cara de bons amigos. Numa irritabilidade exacerbada que vai descontada nos habitantes da casa. Coisas da vida! O tal assunto estava importunando meus pensamentos em turbulência e o exercício de cantar e tocar aliviou-me tremendamente. Voei para outros ares!

   Terminei de ler o livro do Drumond e engatei no novo amante Pablo Neruda. Adorei a orelha do livro Memorial de Ilha Negra onde ele se descreve. Tão lindo conhecer o poeta em seus traços mais profundos. Não resisti e quis logo transcrevê-lo aqui:

"Como me virar para parecer mal e ficar bem? É como quando a gente se olha no espelho (ou no retrato), procurando o melhor ângulo (sem que ninguém perceba) para constatar que continua sendo o mesmo de sempre.
Alguns se olham de soslaio, outros imprimirão a verdade daquilo que quiserem ser, outros se perguntarão: como sou?
Mas, a verdade é que todos vivemos tomando nota, à espreita de nós mesmos, declarando somente o mais visível, escondendo a irregularidade do aprendizado e do tempo.
Mas, vamos ao que interessa.
Pela parte que me cabe sou, ou acredito ser, duro de nariz, mínimo de olhos, escasso de cabelos na cabeça, crescente de abdome, comprido de pernas, largo de solas, amarelo de pele, generoso de amores, impossível de cálculos, confuso de palavras, de mãos ternas, de lento caminhar, de coração inoxidável, apaixonado pelas estrelas, marés, caminhante das areias, torpe de instituições, chileno perpetuamente, amigo de meus amigos, mudo para inimigos, xereta entre os pássaros, mal-educado em casa, tímido nos salões, audaz na solidão, arrependido sem objeto, administrador horrível, navegante na conversa, discreto entre os animais, afortunado nas nuvens, pesquisador de mercados, escuro nas bibliotecas, melancólico nas cordilheiras, incansável nos bosques, lentíssimo para responder, imaginário anos depois, vulgar o ano inteiro, resplandecente com meu caderno, de apetite monumental, tigre para dormir, sossegado na alegria, vigia do céu noturno, trabalhador invisível, persistente desordeiro, valente por necessidade, covarde sem pecado, sonolento por vocação, amável com as mulheres, ativo por sofrimento, poeta por maldição e doido varrido. PABLO NERUDA"

   O livro traz em poemas as suas memórias. Tem o poema da mãe e é tão doce! O poema do pai traz a bruteza do homem e seus vícios na bebida. Muitas reflexões e chegamos à conclusão dita por ele: "Foi impreciso nascer e foi tardio nascer deveras, lento e apalpar, conhecer, odiar, amar, tudo isso tem flor e tem espinhos..."

   Amei o "de coração inoxidável". Olha só que beleza um homem que sempre tem esperança e nunca se cansa de sonhar, de ter ilusões, de acreditar sempre, mesmo que às duras penas, continua ali, com as emoções  e sentimentos à flor da pele. Bom, é a minha interpretação!

   Como me sinto restaurada, posso até pegar emprestado deste amante a sua capacidade inoxidável e seguir aberta às mudanças! 

domingo, 10 de novembro de 2013

AMANTE, EU ADMITO!

   

   Finalmente inspirada. Graças ao sebo onde adquiri o livro VIOLA DE BOLSO Novamente Encordoada, de Carlos Drumond de Andrade, Editora José Olympio. O livro teve primeira edição em 1952 e a edição adquirida é de 1955. O valor dela para mim está no conteúdo e na antiguidade e me sinto que nem a personagem da Clarice Lispector no conto Felicidade Clandestina. Antes da leitura eu fiquei a abraçar aquele livro que pelos anos de estrada entre casas e sebos sabe-se lá? Veio parar em minhas mãos. Como aquela menina, eu estava ali com o meu amante, com suas palavras em papel, e eu orgulhosa em possuí-lo.

   O livro foi cuidadosamente encadernado em capa dura e a capa original está protegida por ela. O interessante está no verso da capa no final do livro, a propaganda do Grande e Novíssimo dicionário de Língua Portuguesa que acabava de sair. Organizado pelo prof. Laudelino Freire (1873-1937), em 5 belos volumes - 5.370 páginas e o com o maior número de vocábulos registrados - 208.104, publicação póstuma.  A chamada para o livro é bem interessante: "Um grande dicionário é o primeiro livro que uma nação deve ter. E só agora - pela 1ª vez em 454 anos de vida - o Brasil tem o seu grande e novíssimo dicionário.

   Eis um dos poemas de Viola de Bolso, pág 31:


"LUAR EM QUALQUER CIDADE
Carlos Drumond de Andrade

O luar deixava as coisas mais brancas.
As estrêlas desapareciam.
As casas, as moitas: impregnadas
não de sereno, de luar.
Caminhávamos interminàvelmente, sem ôfego,
sem pressa.
Caminhávamos através da lua.
E éramos dois seres habituais e dois fantasmas
ao mesmo tempo.
Lá longe era o mundo
àquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que o reflexo dessa claridade.
Tão claros! Tão calmos!
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar."

   Linda poesia sobre a lua. Eu transcrevi da forma idêntica à grafia dos anos de 1955. E outra coisa que me fez esboçar alguns sorrisos: o antigo dono, conforme assinado com data de 1962, ainda se permite emitir considerações acerca da poesia de Drumond. 

   Também li outro "A MANEIRA DE GEIR CAMPOS", pág 33, e pude, então, conhecer outro poeta interessante em seus rearranjos com as palavras (encontrei poemas dele no site do Releituras).  O que a leitura nos possibilita quando abrimos caminho às descobertas, não é mesmo?

   Bom, larguei o livro  do Carlos Drumond e peguei o do Pablo Neruda, que também adquiri no sebo, Memorial de Ilha Negra, Salamandra, 1980. Outro que adoro as palavras. Mas fica pra depois! Deixa eu trocar de amante!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

JANELA ABERTA ÀS MUDANÇAS

   

Quem diria ser possível começar uma carreira aos 66 anos. Isso mesmo! Dona Jandira, uma voz madura e forte entoando a nossa MPB - Música Popular Brasileira. Ela é apaixonada pelo samba, tem um repertório rico de significado. Como interprete valoriza não só as expressões da raça negra, tais como o samba Identidade que cantou um trecho, mas também aquelas que lhe transbordam em emoção. Assisti a entrevista dela no sábado no Terra de Minas da Globo.

   Não tem como não ficar com inveja da energia pulsante do "estar no mundo" dessa mulher. Aberta para as mudanças e sempre se transformando. Dizendo ter muito chão e novos caminhos e conquistas. Parece fazê-lo a partir do prazer musical. Unir uma atividade que além do prazer traz uma contribuição aos que são próximos, de forma solidária.

   Um exemplo a seguir em termos de não acomodação à zona de conforto. Aberta à contribuição que pode dar à comunidade, valorizando a cultura do local que escolheu como refúgio. Um lindo exemplo.

   Bom! Fiquei empolgada com a história dela, já que somente agora estou aprendendo violão, portanto também quero transgredir o meu status quo de aposentada e não me acomodar. Sempre é saudável se buscar um projeto de vida, algo agradável e prazeroso para se fazer. 

   Aproveitei também o fim de semana para ler o volume I do Teatro  Completo de Nelson Rodrigues - A Mulher sem Pecado; Vestido de Noiva, Valsa Nº 6; Viúva, Porém Honesta e Anti-Nelson Rodrigues. Como capta tão bem o estar neurótico e contraditório do ser humano na dimensão dos relacionamentos. Tinha visto algumas das peças. Lê-las trouxe um diferencial no conhecer a dinâmica que o autor quis transmitir. Adorei sentir a escrita daquele que chamam dono de um teatro desagradável.

   Experimentações na arte do existir que mostram diferenciais. Afinal como disse o Nelson Rodrigues "Toda unanimidade é burra." Então, nada de ser comum e deixar o tempo passar sem nada por fazer. Planos B mostram que a idade é salutar!   

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

RESGATE DO SER!

   

   Acaba outubro, fim de ano na tábua da beira... Correria, formaturas, festas, cidade cheia, congestionamento! O ano finda! 

   Li a mensagem da Cora Coralina no blog da minha amiga Fátima e que coerência e lucidez desta mulher que persegue a vida com luta e esperança em sua poesia, trouxe como reflexão neste último dia de outubro. Boa Leitura!


"O que é viver bem 
Cora Coralina

"Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.
E digo prá você, não pense.
Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha.
Eu não digo.
Eu não digo estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco.
É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida.
O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.
O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima.
Eu não digo nunca que estou cansada.
Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.
Você vai se convencendo daquilo e convence os outros.
Então silêncio!
Sei que tenho muitos anos.
Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não.
Você acha que eu sou?
Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser.
Filha dessa abençoada terra de Goiás.
Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos.
Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.
Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o DECIDIR."


Quanta força nas palavras desta mulher que carregou tantos complexos pela vida. A partir das palavras resgata sua vivência e ainda possibilita aos que sofrem, se sintam representados. Poesia construída na cultura do seu tempo e que resgata a importância do "SER" .

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A BUSCA DE INSPIRAÇÃO!

   

   Não sei o que há comigo, pois não ando conseguindo ficar muito assídua com as postagens. Quer dizer, no fundo eu sei... Excesso de coisas por fazer e tempo escasso. Mania de imaginar-se capaz de dar conta de mil coisas! 

   O que dança é a inspiração que precisa do fluir-se. Como inspirar-se sem a devida checada de atenção, o olhar solto, sem tensão e angústia, o envolvimento ipsis literis na escrita?

   Por mais que esteja sobrecarregada ainda acho bem interessante porque como alguém pode dizer que aposentada (o) não tem nada para fazer? Só rindo mesmo! Acredite o tempo para quem não deixa de ter atividades é pequeno.

   Falando em escrita, assisti o filme AS PALAVRAS, de 2012, com o ator Bradley Cooper. Nossa o filme é delicioso, pois trata da questão da  palavra, da linguagem, da habilidade de um escritor de colocar em um livro toda a sensibilidade de sua vivência. 

   A história é deveras interessante, um autor sem inspiração para a escrita resolve apossar-se de original que encontra casualmente. Com isso alcança fama, sucesso e dinheiro, mas não contava que o verdadeiro escritor apareceria cobrando-lhe respeito por sua história. 

   A fala do legítimo escritor concluindo que as palavras foram capazes de tomá-lo a tal ponto, que se esqueceu do mais importante, a mulher amada, que o deixa e segue sua vida. Mostra a que ponto um autor se concentra em seu trabalho que tudo em volta perde importância; apenas ele e a palavra fazem a cena.

   Será que existia o escritor ou também era parte da ficção??? Só assistindo.  

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ESCOLHAS DECIDINDO VIDAS

  

    Estou aqui na frente da TV vendo o filme Bem Vindo à Vida, um drama de 2012, do diretor Alex Kurtzman,, com a Michelle Pfeiffer no elenco (agora no papel de mãe). Da primeira vez peguei o filme a partir da metade e gostei tanto que pus pra gravar quando fosse passar de novo.

   E aqui estou. Já assisti até onde tinha perdido, mas com uma preguiça de sair do lugar para ir dormir. Sabe quando você não quer nem levantar do lugar onde está? Fica ali acomodado na poltrona esperando... o que? Também não sei responder!!!

   Sigo assistindo enquanto preparo esta postagem. O filme é emotivo, do jeito que gosto. Uma história que vai quase até o final com elementos de tristeza pela escolha feita no passado pelo pai da moça, que largou a família quando ela ainda era uma criança e nunca mais apareceu.

   Após morte o pai deixa pedido em bilhete onde incube o filho de procurar a irmã e o neto (que ele inicialmente não tem noção de quem são) para lhes ajudarem com herança em dinheiro, pois vivem com dificuldade.

   O pai se separou da filha por exigência da atual esposa, que o fez escolher. O triste é que a escolha maltratou os corações dos envolvidos. Sequelas nos relacionamentos que não têm jeito de ser mudados. Consequências dolorosas pela falta do afeto da pessoa significativa na vida dos dois filhos: a irmã e o irmão.

   Ao pedir ao filho para encontrar a irmã o pai tenta resgatar o erro cometido. Recebe da mãe uma fita que o pai lhe deixou. A fita mostra que de um jeito ou de outro ele esteve perto dela através do filho, quando brincavam no parque. Ao mostrar para a irmã a fita, depois da confusão, o filme encerra iluminado, com a esperança que laços sejam feitos com o calor do afeto.

   Quando escolhas envolvem um outro torna-se complexa a decisão. Há que se pensar as consequências, pois não existe volta e só o tempo será conhecedor da história. Bastante instrutivo e rica a história do Bem Vindo à Vida.

   O filme já acabou a tempos e eu ainda digitando! Agora tá na minha hora. Já é outro dia... Eis a segunda me espiando. Aaaaté!  

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

QUINTA PRIMAVERIL

   

   A quinta feira está ótima. Um friozinho gostoso, ameno, o ar puro pela chuvinha que cai. Afinal estamos na primavera e as plantas precisam estar prontas para o fenômeno estupendo do florescer. Já se olha a cidade (até a minha casa) o desabrochar de flores de todas as espécies. Linda! A primavera me fascina! A meteorologia anunciou um temporal, ainda não chegou. Quando o tempo está assim prefiro o aconchego e realmente tenho preguiça de colocar a cara fora de casa. Mal de velha?

   Revi o filme O Artista hoje. Prestei tanta atenção à beleza e trejeitos do ator Jean Dujardin porque realmente vale a pena a caracterização do personagem. Consegue, sem emitir qualquer som, levar a gente a uma avalanche de sentimentos.

   Desta vez prestei mais atenção às emoções e como estão estampadas. Aquele homem apesar de seu apego ao status quo, é de uma sensibilidade ao belo e quando está no auge, está aberto às novidades ao seu redor, como se vê com relação a Peppy Miller (Berenice Béjo). Seduzido pelo encanto e leveza da personagem, consegue desprendimento para orientá-la na carreira. Mas resiste à mudança quando o assunto é o diálogo.

   A estratégia da mudez que avassala e domina o personagem que evita perceber a necessidade de transformação é muio expressiva para se trabalhar até aspectos da pessoa que não dá conta de lidar com o que ouve e adota a postura de calar. Não dá conta de expressar-se, foge . O nó na garganta é o sintoma da angústia pelo novo, pela falta de coragem no arriscar, o medo pelo desejo de experimentar o diferente. Tantas leituras!

   Eu me entusiasmei mais a partir deste novo olhar. Mostra o homem que resiste, mas também o que dá chance à experimentação, largando o velho orgulho (que sempre é bobo e infantil) e adota uma postura reinventada a partir da dor. Adorei!

   Tive até que reler uma postagem que eu tinha feito sobre o mesmo tema em 03/03/2012, PRETO E BRANCO, onde procurei destrinchar o meu ponto de vista sobre o filme e comprovo: como o olhar muda o foco de tempos em tempos. Como muitos fatos, situações, modo de enxergar interferem em inovadoras modificações no ponto de vista. O que vem a ser a verdade dita num espaço de tempo X e outro mais adiante Y? Como podemos dizer taxativamente que uma pessoa sempre será de determinado jeito?

   Difícil responder tais questões, não é? É o tema do filme, a questão da mudança e de como atuamos com a resistência para permanecer se não no passado, mas no que nos dá segurança, apego. Como é lidar com a influência do novo que chega desbancando tudo e todos do lugar confortável. Nós que envelhecemos sabemos o que significa: a gente passa na rua, olha os jovens, chega na empresa em que trabalha, uma nova geração que se inicia, a transformação não perde tempo com chamegos - tem o seu tempo e ocupa espaço. 

   A vida morre e renasce como as estações... Transformação!!!   

domingo, 13 de outubro de 2013

ENCONTRO COM ELVIS E AMIGOS!

   

   Tive um programa incrível na quinta: fui ver Elvis Presley. Ele estava vestido a caráter, com a voz estonteantemente maravilhosa. O cover do grande astro, Guily Castro, no show Tributo a Elvis Presley, no Maria das Tranças foi demais. Além dele cantar as canções inesquecíveis do Elvis, ia entremeando contando a trajetória apaixonante do astro pela musicalidade, as suas dores e angústias e assim, a gente ia mais e mais conhecendo o universo particular da figura que mesmo não estando aqui há 36 anos, ainda continua conhecido e amado por todos.

   Foi uma ótima opção de entretenimento, além do que, assim que entrei no restaurante dei de cara com muitos amigos do trabalho, que não via a tempos. Colocamos a conversa em dia ao som nostálgico de velhos tempos, tanto da época áurea quanto dos bons tempos de trabalho.

   Todos nós envelhecidos com o passar dos anos, mas não esmorecidos. Continuando a buscar novas atrações que tornem a vida interessante. Creia, o show não deixa nada a desejar no ritmo da descontração e da autêntica fascinação do cantor por seu ídolo. Ainda terão shows em 21/11 e 12/12 no Maria das Tranças da rua Professor Moraes. Se você é um apaixonado por Elvis, não perca... A gente volta no túnel do tempo durante mais de duas horas.

   Falando em encontros tive boas horas de alegria num chá com bolo alemão com uma querida amiga, onde as horas voaram no bate papo entremeado de bons risos. É muito gostoso fazer coisas diferentes. Não consigo imaginar uma vida sem aventura, mesmo que singela.

   Portanto a semana que tinha sido cansada finalizou-se leve e  descontraída com os bons tempos do riso dando sua graça.

domingo, 6 de outubro de 2013

O DELICADO SUPLANTA TUDO!

    

Sexta à noite aproveitei enquanto fazia o lanche da noite e emendei assistindo ao filme A Delicadeza do Amor, de 2011, com a atriz Audrey Tautou, francês, direção de David Foenkinos. Durante as sequências do filme eu me sentia mais e mais surpreendida com a delicadeza (também do diretor) em retratar a conquista. Realmente eu não acreditava no que eu estava vendo - em pleno século XXI tal mostra de como vai se dando os ritmos do enamoramento até chegar às vias de fato - o amor; já que parece as pessoas têm se esquecido deste lado interessante do envolver-se. Ir no lance como em câmara lenta, sem ameaçar, apenas respeitando o momento do outro.

 E assim, devagar e também pura coincidência pela situação estressante que passa a personagem de Audrey (acabado de perder o marido com quem tinha uma relação de casamento ainda recente e apaixonada), ela tasca o maior beijo em um funcionário, colega do grupo de trabalho, deixando-o embasbacado no meio da sala sem entender bulufas que acontecia. Tal momento, faz o personagem sentir-se o homem mais desejado da face da terra, com jeito tímido, introspectivo, inseguro, de repente via-se o Don Juan da praça no trajeto a casa. 

   Foi muito legal esta cena mostrando o quanto a mente da pessoa fantasia quando a autoimagem e autoestima estão num nível pra lá de ok! Poderosa se torna, mesmo a mais patética. Claro, não era o caso do rapaz, Markus, tinha realmente o perfil tímido, nem com beleza padrão, mas detinha um cavalheirismo que estamos longe de encontrar atualmente.

   E na sua insegurança e ao mesmo tempo desejo que viu aflorado, apaixona-se por aquela mulher que lhe trouxe firmeza e aceitou-o como era. Vai construindo etapas da conquista com toda a leveza romântica, acertando os passos com cautela, procurando não ferir a moça fragilizada pelo destino. Tem tempo e não tem pressa nesta construção. 

   Diferentemente do que se vê hoje em dia, a afoiteza transpõe o carro na frente dos bois e mal se conhecem, as pessoas já estão dormindo juntas. Posso parecer careta, mas não acredito que as pessoas tenham desistido do romantismo no relacionamento, da pureza dos toques sem segundas ou milhões de intenções (mesmo que as tenha), do prazer de transpor barreiras na medida tentando adivinhar o jogo. Não estou a falar de relações calcadas apenas no apelo sexual, nos cinquenta tons de cinza (que deteriora o relacionamento ao nível de neuroses e perversões), falo de aspectos que estão a padecer da presença - relações de amor e a conquista saudável.

   Será que estou morando em Marte???    

terça-feira, 1 de outubro de 2013

NOSSA SENHORA DAS DORES NOS PROTEJA!


Escultura Rogério Joannes
 Último dia de setembro já está indo. Vocês se lembram do que eu já disse: quando chegar outubro, acabou o ano! Daí para a frente é voo rápido, por isso dê uma pausa e planeje com cuidado os próximos passos.

   Apesar de que hoje, depois do vídeo que vi, do escritor dinamarquês Knud Romer  denunciando a forma como o ser humano tem sido tratado no seu país, em particular o pai, tem-se a certeza ( e isso se constata aqui no Brasil) que o neoliberalismo mata qualquer tipo de solidariedade, esse mal ocidental imposto a nós e que todos temos que lutar contra. Veja e analise por si mesmo (a): www.youtube.com/watch?v=S09zpRXm1U8 

   Eu não consegui trazê-lo para a postagem, mas está disponível na rede. A entrevista choca pela constatação de que a solidariedade está morrendo, está no CTI e a verdade passa a nos chocar cada vez mais pelo utilitarismo que a vida e a morte vêm tomando.

   Ainda hoje também vi no blog do Pedro Porfírio uma reflexão dele sobre o envelhecimento e de como o sistema cada vez mais corre à busca de cortes de direitos dos aposentados, dos velhos, dos idosos, porque se vive mais. Não se pode mais envelhecer e ter a certeza de que se terá uma política social ética para os velhos, idosos, terceira idade, o que quiserem chamar. O alerta está gritando em nossos ouvidos, olhos, bocas, narizes, sangue... por onde quer que passe a dignidade humana. O que será de nós velhos brasileiros??? 

   Enquanto ainda se tem pique, é tudo mil maravilhas, mas vai chegar a hora em que a energia se esvairá, faltará força para os passos. Vamos exigir políticas públicas verdadeiras para este grupo que um dia não mais terá voz e que se você estiver vivo (a), será você amanhã!

   A solidariedade precisa ser resgatada para que a existência do homem e da mulher não tenha sido em vão... mas como tenho mania de dizer... pelo andar da carruagem...

   Que Nossa Senhora das Dores nos proteja!

domingo, 29 de setembro de 2013

IMAGENS DE EMBASBACAR

  
   Finalmente está caindo uma chuvinha boa para os nossos lados, quase três meses sem um pingo, haja fôlego para respirar com umidade a 30%. Até me alegrei com o sotaque que a batida da chuva está fazendo, música para os ouvidos.

   Ontem me entusiasmei ao assistir o filme Deus é Brasileiro de Cacá Diegues, 2003, baseado num conto do João Ubaldo Ribeiro, O Santo que não acreditava em Deus. Deliciosas as paisagens do Jalapão - retornei ao local  através do filme, lindas falésias, dunas luminosas, cachoeira da Velha em sua beleza espumante. Lindas imagens do local, de dar água na boca.

   Também senti isso hoje ao ver As Aventuras de Pi. Paisagens e fotografias de embasbacar, verdadeiras pinturas da natureza em exibição durante toda a filmagem. Como pode haver imagens tão maravilhosamente expostas e trazidas a nós pela captação de uma câmera. Fiquei completamente enamorada diante da tela. Vi o céu e o mar de Van Gogh em seus tons de cinza diversos... O pôr do sol em seu brilho fulgurante em diversos matizes... Eu poderia ficar por muito tempo hipnotizada, descrevendo as belas imagens, que mereceriam um oscar (não sei se ganhou neste quesito). 

   O filme também me surpreendeu através da história do adolescente e das constatações de que os ensinamentos são de grande valia nos momentos de crise, momentos em que a vida e a morte estão na berlinda, e a coragem e o arriscar-se são determinantes para a sobrevivência. E ainda as belas descrições dos diversos deuses, de como a fé revigora as forças e dá energia para as diversas surpresas que o destino nos apronta.

   Fico agora com o aconchego da chuva fina que cai no telhado e que está propício a leitura de um bom livro. É o que pretendo agora! Boa semana!

APRENDIZ DO VIVER

   

   Ufa! Nesta semana eu corri muito... deu uma moleza geral pela necessidade de dar conta do recado. Mas hoje, hoje está sendo só alegria por ter tempo para fazer o que mais estou gostando: tocar violão... e já estou conseguindo ir ora bem, ora malzíssimo (neologismo que inventei, graças a Saramandaia); escrever; ler. São assim as aprendizagens, não é? Eu quero sempre estar neste lugar como uma aprendiz, disso não abro mão!

   Até me lembrei do que li do Fernando Sabino, 1998: 


"Hemingway (escritor americano , autor de O Velho e o Mar, Prêmio Nobel de Literatura) se suicidou. No seu necrológio a revista Time escreveu: "Vivia olhando tudo como se fosse a última vez". Estava sempre se despedindo — um suicida em potencial. Resolvi fazer exatamente o contrário: estou sempre chegando. Não aceitei a imposição de um caminho que não era meu, e procuro olhar tudo como se fosse a primeira vez". 

   Penso que a gente deve aproveitar a oportunidade para verdadeiramente enxergar a largos olhos, com a essência da alma e satisfazer o espírito. Como o Fernando Sabino, eu até hoje não paro de sonhar e me permitir a isso — nada de ficar com o pensamento no comodismo, no jeito sempre comum de ser... Extrapolar, pois a idade me permite sempre buscar o riso, a alegria. E já ouvi dizer que alegria é felicidade! Mas calma aí... sempre buscando não magoar o outro que não é culpado pelas minhas insatisfações e riscos.

   Outro escritor que estou lendo e me apaixonei pela escrita foi do Ronald Claver - na novela Lua Cheia de Sol, RHJ, 2004:

"É preciso ler. Ler o mundo, ler as esquinas. Ler as pessoas. É preciso ler os pobres e com eles aprender um pouco da humildade, tolerância e sabedoria. Ler os jornais, revistas, esquinas e bares. É preciso ler os poetas e aprender com eles um pouco de rebeldia e ternura. É preciso ler as mulheres e conhecer um pouco das artimanhas do mundo. É preciso ler os lábios e decifrar palavras que possam modificar nossas vidas. É preciso ler o cotidiano para tirarmos lições para o futuro. É preciso ler a letra que demarca as margens do coração e aponta para os horizontes impossíveis, improváveis, mas encantadores e mágicos. É preciso ler...


   É assim, como aprendiz, estou sempre chegando e buscando ler... querendo ver, experimentar, rir, gostar de viver para mim é isso!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

MÁSCARA HUMANA

   

Não sei que revertério me deu, ou aconteceu... Só hoje consegui me sentar à escrivaninha e ter um tempinho para escrever. Bem, a verdade verdadeira mesmo é que também aquele espírito alado chamado inspiração fez a graça de desaparecer justo quando eu estava assoberbada com visita em casa. Pode ser isso, a gente tem que estar disponível para ciceronear, principalmente quando é alguém especial, e um novo amigo argentino mereceu o meu tempo e de minha família.

   Agora não tenho mais desculpas, vamos às novidades. Consegui por em dia a leitura de três livros, conseguindo cumprir meu projeto de leitura de pelo menos um livro a cada quinzena. Assisti também a bons filmes, revi outros tantos, fui assistir a Hannah Arendt, a famosa filosofa alemã de origem judaica. Adorei o filme e pelo conteúdo o diretor conseguiu nos mostrar que aquela mulher é um diferencial.

   Uma inteligência instigadora, perspicaz, crítica, voraz em buscar respostas às questões quanto ao sentimento do medo, do mal, da mediocridade humana na análise do julgamento de um nazista; tentando entender erros cometidos pelo ser humano ao aceitar cumprir ordens sem o necessário questionamento, apenas agindo como fantoche, um ninguém. A filósofa e escritora coloca em prática a capacidade de pensar e deixa claro que nós, na sua maioria, não  pratica. Por isso está longe de ver... de realmente conhecer em profundidade as muitas ideias e atos e fatos... e se vê solapada à mediocridade.

   O filme dá uma pincelada em sua vida pessoal, profissional e como escritora. Um espírito crítico que não arreda pé de sua verdade. Admirável a coragem no enfrentamento da verdade que considera ética. Vale conferir!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

EU REVIVI COM A PALAVRA!

   

   Esta semana eu vi um capítulo de Saramandaia, mini série da Globo, e adorei uma palavra dita pelo professor: DESVIVER. Eu gostei tanto da palavra que me soou mais doce do que morrer. E também quando a Dona Redonda diz que está fazendo bodas de pratismo. É incrível o poder da palavra, como ela nos toma, nos envolve, nos faz caminhar por outros rumos que não os que a realidade daquele momento comporta. Voamos aos sons, rearranjos das palavras, dá para poetizar a vida em palavras, sair da aridez, da crueza de uma realidade nem sempre tão poética assim, mas as palavras, há!... Elas nos dão a chance de ter esperança a partir da poesia.

   Como disse uma escritora é só você olhar que passará a ver. Eu estou crendo que ela tem razão no que diz, pois vira e mexe eu vou me surpreendendo com o uso interessante de uma palavra.

   Outra coisa que me aconteceu hoje ao ouvir a conversa de dois mendigos e um deles disse: “Não tem a ver. Para que servem os amigos”... Eu estava passando pela rua e essa preciosa frase saiu da boca de um morador de rua, ou mendigo ou um pedinte que naquele momento estava falando com o outro sujeito.

   Eu passei por eles e continuei intrigada com a beleza da frase (acho que o ouvido está mais atento ao que se passa ao redor). Tão comum, mas que trouxe impressa na fala a questão do humano. Quando se pensa que a humanidade está perdida, que as pessoas vivem egoícamente só pensando e olhando o próprio umbigo, não tem como não ficar surpreendida. Isso, foi isso que aconteceu comigo, de onde menos se podia esperar saiu esta frase regada à esperança. De uma pessoa que vive na falta constante de tudo, sem um elo com a realidade social... um momento de lucidez em que a palavra abarcou a dimensão do que ali estava inscrito.

   Aquela frase me soou como um hino a inspirar que ainda existe possibilidade salutar nos seres humanos. Ou será que me engano???

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

OLHAR E GOSTAR!

   

   Hoje a tarde comecei a assistir um filme enquanto almoçava. E eis que me deparo com o também apaixonante Richard Gere, com sua cabeleira já totalmente branca (provavelmente o personagem o pedia). Ele, tal qual o Morgan Freemam, parece estar aceitando os vincos que vão aparecendo com o envelhecimento. As rugas já se fazem presentes, e com o efeito da maquiagem parecem bem discretas, mas o danado continua lindo, né!

   Bom, tem dias que me olho no espelho e gosto de mim, gosto do que vejo, me tranquilizo com a figura da mulher que parece me sorrir. Um sorriso que quer me dizer para eu não ficar assustada; que é tudo verdade, que você está à beira dos sessenta.

   A imagem me parece bem real, com os vincos próprios da idade (apesar do esforço diário de cremes anti-rugas, que no fundo apenas são paliativos para minorar as perdas diárias do viço). As rugas que vejo hoje não estão tão marcadas, parecem suaves, nada exagerado nos traços que aparecem durante o breve sorriso.

   Não é o caso de outros dias, quando me pego observando a figura no espelho e vendo como está envelhecida, com um ar apagado, desenergizada, sem cor e realce. Os traços carregados e marcados, a figura estática e sem expressão. Nada de sorrisos, apenas a constatação de que ando me parecendo com a minha mãe da velhice.

   Por que será que a minha mãe na sua velhice me transmite esse perfil? Provavelmente reflexo de sua história de vida, onde no final vai sendo marcada pela dor que sempre se apresenta a todos os mortais. O brilho do olhar apagado e olha para a frente como quem necessita cumprir a jornada obrigatória sem grandes alardes. A energia torna-se fugidia, e, às vezes, necessita de forças desconhecidas para parecer normal, fazer as obrigações, dar conta do recado nas metas que lhe são cobradas. Heroicamente se levanta, enfrenta o batente, na presença de todos os seus medos e suas lembranças que acoçam-lhe incessantemente, saudades de algo que não existe mais.

   Deixa eu voltar e aterrizar. Devo estar mais leve e tranquila hoje e em outros dias me achar medonha. Deixo constatado que não é do mesmo jeito sempre. Têm dias que é ótimo, têm dias que é muito bom e têm dias bastante destemperados também, como acontece com todo mundo.

   Gosto mesmo é quando me olho e me gosto! 

   Por sinal me lembrei de passagens do livro que ando lendo Palavra por Palavra, onde a escritora Anne Lamott nos dá instruções sobre escrever e viver, escrito em 1994, mas a edição é de 2011, da Sextante, na Língua Portuguesa:


"Acho que é assim que deveríamos viver no mundo - presentes e perplexos... Qualquer pessoa que desejar pode ser surpreendida pela beleza ou pela dor do mundo natural, da mente e do coração dos homens, e pode tentar capturar simplesmente isto: os detalhes, as nuances, a essência. Se começar a olhar a sua volta , passará a ver." pág 106/107

" Às vezes fico com pena de mim mesmo. Enquanto isso, estou sendo carregado por grandes ventos céu afora."  Citando palavras ditas por um sioux (índio americano)pág 129

"Acordo. Ando. Caio. Enquanto isso, continuo dançando." Citando Hillel, pág 131

   Deve ser isso, tanto minha mãe, quanto eu, ou quem quer que seja, deve estar sendo carregado por grandes ventos céu afora e é preciso prestar atenção na vida e dançar!