Finalmente inspirada. Graças ao sebo onde adquiri o livro VIOLA DE BOLSO Novamente Encordoada, de Carlos Drumond de Andrade, Editora José Olympio. O livro teve primeira edição em 1952 e a edição adquirida é de 1955. O valor dela para mim está no conteúdo e na antiguidade e me sinto que nem a personagem da Clarice Lispector no conto Felicidade Clandestina. Antes da leitura eu fiquei a abraçar aquele livro que pelos anos de estrada entre casas e sebos sabe-se lá? Veio parar em minhas mãos. Como aquela menina, eu estava ali com o meu amante, com suas palavras em papel, e eu orgulhosa em possuí-lo.
O livro foi cuidadosamente encadernado em capa dura e a capa original está protegida por ela. O interessante está no verso da capa no final do livro, a propaganda do Grande e Novíssimo dicionário de Língua Portuguesa que acabava de sair. Organizado pelo prof. Laudelino Freire (1873-1937), em 5 belos volumes - 5.370 páginas e o com o maior número de vocábulos registrados - 208.104, publicação póstuma. A chamada para o livro é bem interessante: "Um grande dicionário é o primeiro livro que uma nação deve ter. E só agora - pela 1ª vez em 454 anos de vida - o Brasil tem o seu grande e novíssimo dicionário.
Eis um dos poemas de Viola de Bolso, pág 31:
"LUAR EM QUALQUER CIDADE
Carlos Drumond de Andrade
O luar deixava as coisas mais brancas.
As estrêlas desapareciam.
As casas, as moitas: impregnadas
não de sereno, de luar.
Caminhávamos interminàvelmente, sem ôfego,
sem pressa.
Caminhávamos através da lua.
E éramos dois seres habituais e dois fantasmas
ao mesmo tempo.
Lá longe era o mundo
àquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que o reflexo dessa claridade.
Tão claros! Tão calmos!
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar."
Linda poesia sobre a lua. Eu transcrevi da forma idêntica à grafia dos anos de 1955. E outra coisa que me fez esboçar alguns sorrisos: o antigo dono, conforme assinado com data de 1962, ainda se permite emitir considerações acerca da poesia de Drumond.
Também li outro "A MANEIRA DE GEIR CAMPOS", pág 33, e pude, então, conhecer outro poeta interessante em seus rearranjos com as palavras (encontrei poemas dele no site do Releituras). O que a leitura nos possibilita quando abrimos caminho às descobertas, não é mesmo?
Também li outro "A MANEIRA DE GEIR CAMPOS", pág 33, e pude, então, conhecer outro poeta interessante em seus rearranjos com as palavras (encontrei poemas dele no site do Releituras). O que a leitura nos possibilita quando abrimos caminho às descobertas, não é mesmo?
Bom, larguei o livro do Carlos Drumond e peguei o do Pablo Neruda, que também adquiri no sebo, Memorial de Ilha Negra, Salamandra, 1980. Outro que adoro as palavras. Mas fica pra depois! Deixa eu trocar de amante!
Márcia,
ResponderExcluiramei! esse poema.