domingo, 10 de novembro de 2013

AMANTE, EU ADMITO!

   

   Finalmente inspirada. Graças ao sebo onde adquiri o livro VIOLA DE BOLSO Novamente Encordoada, de Carlos Drumond de Andrade, Editora José Olympio. O livro teve primeira edição em 1952 e a edição adquirida é de 1955. O valor dela para mim está no conteúdo e na antiguidade e me sinto que nem a personagem da Clarice Lispector no conto Felicidade Clandestina. Antes da leitura eu fiquei a abraçar aquele livro que pelos anos de estrada entre casas e sebos sabe-se lá? Veio parar em minhas mãos. Como aquela menina, eu estava ali com o meu amante, com suas palavras em papel, e eu orgulhosa em possuí-lo.

   O livro foi cuidadosamente encadernado em capa dura e a capa original está protegida por ela. O interessante está no verso da capa no final do livro, a propaganda do Grande e Novíssimo dicionário de Língua Portuguesa que acabava de sair. Organizado pelo prof. Laudelino Freire (1873-1937), em 5 belos volumes - 5.370 páginas e o com o maior número de vocábulos registrados - 208.104, publicação póstuma.  A chamada para o livro é bem interessante: "Um grande dicionário é o primeiro livro que uma nação deve ter. E só agora - pela 1ª vez em 454 anos de vida - o Brasil tem o seu grande e novíssimo dicionário.

   Eis um dos poemas de Viola de Bolso, pág 31:


"LUAR EM QUALQUER CIDADE
Carlos Drumond de Andrade

O luar deixava as coisas mais brancas.
As estrêlas desapareciam.
As casas, as moitas: impregnadas
não de sereno, de luar.
Caminhávamos interminàvelmente, sem ôfego,
sem pressa.
Caminhávamos através da lua.
E éramos dois seres habituais e dois fantasmas
ao mesmo tempo.
Lá longe era o mundo
àquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que o reflexo dessa claridade.
Tão claros! Tão calmos!
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar."

   Linda poesia sobre a lua. Eu transcrevi da forma idêntica à grafia dos anos de 1955. E outra coisa que me fez esboçar alguns sorrisos: o antigo dono, conforme assinado com data de 1962, ainda se permite emitir considerações acerca da poesia de Drumond. 

   Também li outro "A MANEIRA DE GEIR CAMPOS", pág 33, e pude, então, conhecer outro poeta interessante em seus rearranjos com as palavras (encontrei poemas dele no site do Releituras).  O que a leitura nos possibilita quando abrimos caminho às descobertas, não é mesmo?

   Bom, larguei o livro  do Carlos Drumond e peguei o do Pablo Neruda, que também adquiri no sebo, Memorial de Ilha Negra, Salamandra, 1980. Outro que adoro as palavras. Mas fica pra depois! Deixa eu trocar de amante!

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