segunda-feira, 11 de novembro de 2013

COM O AMANTE NO CÉU NOTURNO!

   

   Hoje estou me sentindo leve, restaurada. Após ter tocado (arranhado! rsrs) violão por bom tempo; quando guardei-o, percebi que a experiência me transformou em corpo e alma. Explico, ontem e hoje não estou com cara de bons amigos. Numa irritabilidade exacerbada que vai descontada nos habitantes da casa. Coisas da vida! O tal assunto estava importunando meus pensamentos em turbulência e o exercício de cantar e tocar aliviou-me tremendamente. Voei para outros ares!

   Terminei de ler o livro do Drumond e engatei no novo amante Pablo Neruda. Adorei a orelha do livro Memorial de Ilha Negra onde ele se descreve. Tão lindo conhecer o poeta em seus traços mais profundos. Não resisti e quis logo transcrevê-lo aqui:

"Como me virar para parecer mal e ficar bem? É como quando a gente se olha no espelho (ou no retrato), procurando o melhor ângulo (sem que ninguém perceba) para constatar que continua sendo o mesmo de sempre.
Alguns se olham de soslaio, outros imprimirão a verdade daquilo que quiserem ser, outros se perguntarão: como sou?
Mas, a verdade é que todos vivemos tomando nota, à espreita de nós mesmos, declarando somente o mais visível, escondendo a irregularidade do aprendizado e do tempo.
Mas, vamos ao que interessa.
Pela parte que me cabe sou, ou acredito ser, duro de nariz, mínimo de olhos, escasso de cabelos na cabeça, crescente de abdome, comprido de pernas, largo de solas, amarelo de pele, generoso de amores, impossível de cálculos, confuso de palavras, de mãos ternas, de lento caminhar, de coração inoxidável, apaixonado pelas estrelas, marés, caminhante das areias, torpe de instituições, chileno perpetuamente, amigo de meus amigos, mudo para inimigos, xereta entre os pássaros, mal-educado em casa, tímido nos salões, audaz na solidão, arrependido sem objeto, administrador horrível, navegante na conversa, discreto entre os animais, afortunado nas nuvens, pesquisador de mercados, escuro nas bibliotecas, melancólico nas cordilheiras, incansável nos bosques, lentíssimo para responder, imaginário anos depois, vulgar o ano inteiro, resplandecente com meu caderno, de apetite monumental, tigre para dormir, sossegado na alegria, vigia do céu noturno, trabalhador invisível, persistente desordeiro, valente por necessidade, covarde sem pecado, sonolento por vocação, amável com as mulheres, ativo por sofrimento, poeta por maldição e doido varrido. PABLO NERUDA"

   O livro traz em poemas as suas memórias. Tem o poema da mãe e é tão doce! O poema do pai traz a bruteza do homem e seus vícios na bebida. Muitas reflexões e chegamos à conclusão dita por ele: "Foi impreciso nascer e foi tardio nascer deveras, lento e apalpar, conhecer, odiar, amar, tudo isso tem flor e tem espinhos..."

   Amei o "de coração inoxidável". Olha só que beleza um homem que sempre tem esperança e nunca se cansa de sonhar, de ter ilusões, de acreditar sempre, mesmo que às duras penas, continua ali, com as emoções  e sentimentos à flor da pele. Bom, é a minha interpretação!

   Como me sinto restaurada, posso até pegar emprestado deste amante a sua capacidade inoxidável e seguir aberta às mudanças! 

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