terça-feira, 29 de abril de 2014

O TEMPO E AS HISTÓRIAS

   

   Como ando malandra hein gente! Devo confessar que a inspiração (apesar de leiga na escrita) anda escassa. Ou talvez o excesso de paisagens que venho vislumbrando estejam embaçando meu foco na construção da escrita.

   Olho para um lado, o mar... olho para outro lado, o mar, a praia... para onde quer que se olhe, água, ondas, marulhar em suaves vozes, o mar em sua imensidão, as praias sequiosas pelos corpos, a areia moldando-se a cada caminhar... Tantas belezas me traz a Ilha de Santa Catarina que aqui, em Florianópolis, ando pisando em nuvens. Até me fez lembrar o título do livro do Rubem Alves - Ostra Feliz não faz Pérola. Isso é verdade! Ando bem feliz de poder realizar um projeto de vida feito há muitos anos e finalmente isto ser a realidade! Nada de sonho.

   Ando ainda que nem turista, nas descobertas, nos encontros, nas novidades de caminhos que ando como criança - na incerteza de saber se ando pelos rumos certos. 

   Compromissos... ainda em construção, sem a pressa delirante dos primeiros anos da vida adulta e profissional; sem o stress arquejante da ansiedade pelos prazos e metas a cumprir. É muito bom ser dono do próprio tempo!

   Revi bons filmes: um do Truffaut, O Homem que Amava as Mulheres, de 1977; Antes de Partir com o Morgan Freeman e Jack Nicholson, de 2007, entre eles. Ando lendo bons livros e praticando violão todos os dias... não acredite ipsis literis no que digo, porque ando enforcando até mesmo atividades ditas prazerosas.

   Mas o filme do Truffaut, como já faz tempo que vi, gostei de ter revisto e novos tons ele adquiriu. Esbocei bons risos com relação as filmagens de algumas cenas, pois as técnicas ainda engatinhavam em comparação com hoje. Mas o engraçado mesmo é o personagem principal, um sedutor inveterado pelas mulheres que se vê com novos interesses ao querer deixar registrado todos os seus típicos casos desde quando ele se entende por gente, através de suas memórias.

   Teima em escrever um livro contando sua história de vida de forma sequencial. Contrata uma datilógrafa que logo se cansa de repassar a escrita, o que ele considera como um ponto negativo, quase desistindo da empreitada. Aí que está o interessante: começa a querer entender como se escreve, qual a metologia correta, como tem que ser feito. Pesquisa diversos escritores e chega a conclusão que não existe uma forma única, perfeita e que cada um pode escrever do jeito que lhe satisfaça. Descobre que a escrita as vezes flui tão automaticamente que se sente dominado e o tempo passa a inexistir, ficando por horas entregue aquele comando mágico relatado por muitos escritores.

   Seu registro sobre as mulheres e a extensão de todos os atos e fatos a que se referem a elas: pernas torneadas, o modo de andar, o rebolado, a simples maneira de tocar em algo, as transparências, tudo o excita a tal ponto que o deixa completamente desconcertado. Suas aventuras nunca ultrapassam a encontros que beiram a compromissos sérios. Nada de aceitar que a companhia durma em sua casa, já entrevendo a constância como aumento de intimidade. 

   De tão obcecado por elas, o sedutor sofre acidente grave causado pela sua desatenção ao que está em volta e no final essa obsessão é causadora de sua morte. Mesmo em pleno 2014, Truffaut continua reinando!  

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O NÃO DITO DO OLHAR

   
   O Segredo dos seus Olhos. Não há verdade maior que esta como o bem demonstra o filme de 2009 de Juan José Campanella. A história de um profissional apaixonado pela chefe e que desde o início os olhares marcantes diziam tudo... não dito em palavras. 

   Assim durante vinte e cinco anos de convivência. Chega a aposentadoria. Resolve que vai escrever um romance... sobre um caso de assassinato que ambos estavam desvendando. As rememorações trazem o fato acontecido, ao mesmo tempo é mote para que ele reflita sobre o seu envolvimento com a melhor amiga que a chefe se tornou...

   O filme é trágico, o assassinato perverso de uma moça recém casada por um admirador, colega de ambos (dela e do marido). Ela fora estrangulada e estuprada antes de morrer. Simplesmente porque ele a desejava e sentia-se desprezado por ela. Um espírito perverso.

   Eis que no processo, o marido fica a par da dimensão do problema e contribui para ajudar na busca do criminoso. Como nem sempre a justiça é justa, o bandido consegue safar-se com a própria ajuda de comandos institucionais.

   Agora, vinte e cinco anos depois o profissional já aposentado procura o ex-marido da moça e descobre que ele nunca mais se casou. Mudou-se para local afastado. Ao se despedirem percebe algo errado a partir do olhar. Resolve retornar e segui-lo. Eis que descobre que o psicopata estava enjaulado há vinte e cinco anos pelo ex-marido e nunca obteve resposta a nenhuma de suas perguntas.

   O profissional aposentado sai daquele local compreendendo a loucura humana em sua dimensão doentia. A que ponto é capaz de chegar um homem que se deixa levar pela exaustão de escolhas neuróticas por falta de coragem de enfrentar a realidade, até mesmo a verdadeira felicidade de estar junto à pessoa que ama, que é o seu caso.

   Finalmente toma a atitude que demorara vinte e cinco anos fermentando em seu âmago - assume o amor pela chefe e se abre ao destino e suas provas.

   O enfrentamento dos problemas exige assumir a condução pela própria vida e não deixar o barco à deriva - desperdiçando os anos que se consomem em vão. Linda lição, poderosa, e na perspectiva da intensidade do olhar - Quem sabe lê-lo aufere muitos ganhos!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

DELICIOSA NOITE!

   

   Meu dia foi estupendo. Depois de ter ralado atrás de cartórios na arrumação de pendengas da vida civilizada - a longa caminhada entre um e outro foi salutar para o bem estar físico - apesar do cansaço. Esse movimento do corpo, o sacolejar as cadeiras que teimam enrijecer, uma musculatura que entra em atividade, nossa, isso faz qualquer hormônio entrar em produção e a saúde dá as caras.

   Aí na aula de literatura discutindo e trabalhando temas do Modernismo (e seus diversos movimentos: dadaísmo, surrealismo, cubismo, concretismo... esses muitos ismos) a divertida metodologia de nosso professor somou detalhes e interesses a mais.

   Depois de um bom café entre amigos, fomos assistir ao filme do Igmar Bergmam, O Ovo da Serpente, que retrata a época do nazismo. Em seguida saímos correndo para não perder a noite que se prenunciava cheia de novidades.

   Assistimos o poeta Ferreira Gullar em sua expressividade durante bom par de horas. Nada ficou a desejar nesta noite. Ele ali contando de sua história e dos encadeamentos dos poemas que foram surgindo de acordo com o acontecido da hora. Revela que nunca planejou, cogitou ser diferenciado - a única coisa que sempre desejou ardentemente era escrever e viver poesia. Porque segundo ele, a poesia é o inventar a vida. E é isso que somos, seres diferenciados e especiais, por todos os dias inventarmos a vida ao nosso derredor.

   Da sua fala, sempre generosa, mas firme e corajosa, que marcou presença num simbolismo extremamente  voltado à humanidade - "eu não quero estar certo, eu quero é ser feliz".

   Ao responder uma pergunta da plateia sobre o porque do Poema Sujo ter esse nome já que é um poema tão bonito. Ele explicou com tranquilidade que no poema tem a poesia do bom e do sujo. A proposta foi ao expor a sujeira, conseguir a limpeza do  poema. 

   E pra finalizar ainda consegui o seu autógrafo. A noite foi deliciosamente curtida!

sábado, 5 de abril de 2014

REMENDAR PALAVRAS

   

   Como a Internet interfere na nossa comunicação, hein? Perdi alguns trabalhos pois não consegui o suficiente para salvá-los... Estarei refém desta máquina?... Ou as provedoras não estão nem aí quando a cota acaba - um cliente deixa de ser importante quando termina??? - e tal potência só é restabelecida quando se opta por cota extra com altos preços - Um absurdo!

   Bom, mas agora parece que normalizou. E já está passando da hora de retornar à ativa, né! Parece que meu início de ano andou meio tumultuado e tarefas sobrando no novo cotidiano. 

   Tenho assistido ótimos filmes e lido deliciosos livros. Agora estou com o autor alemão Heinrich Heine, com seu relato "Viagem ao Harz". Eu adoro os relatos de viagem porque mantém com o leitor uma proximidade e linguagem demarcada por tons corriqueiros e, em particular esta obra, tem me feito esboçar sorrisos pois a ironia beira a singeleza e escrita marcante.

   Esses dias assisti os filmes Ela vai e Fhilomena. Os dois filmes trazem atores que se encontram na terceira idade e a experiência desses atores ainda melhor. Catherine Deneuve, em Ela vai, encontra-se perdida após rompimento de relacionamento. Sai de carro e começam experiências que só são possíveis porque ela saiu do lugar comum - no fundo isso se chama MUDANÇA - deixou a zona de conforto e, apesar de desorientada os rumos a levaram a situações esperançosas.

   Já em Philomena, a atriz Judi Dench (que sempre me faz relembrar a beleza - o envelhecimento chegou para ela, mas a beleza de seu perfil continua radiante). Bom, a história é deveras triste, muito triste, porque traz em seu bojo a dor e a angústia que é guardar um segredo doloroso por mais de cinquenta anos.

   Quando jovem teve um filho e foi colocada em um orfanato, relegada pelos pais. O filho foi doado a uma família sem seu consentimento pelas freiras do lugar. Durante toda a existência dessa mulher esse sofrimento vai transbordando, até que dá conta de contar a verdade para a filha e reconstruir a sua história. 

   Os tempos antigos eram cruéis com as crianças, os jovens, vindos de família extremamente rígida e seus códigos excessivos. O filme é quase que um documentário, já que realmente aconteceu. O importante é não se deixar dominar pelo sofrimento; foi o que finalmente aprendeu Philomena.

   Que alívio poder estar na rede, remendando palavras e desejos diários!