terça-feira, 30 de junho de 2015

SEM TEMPO PARA TEIMOSIA

    

   
   Recebi o poema, um soneto do século XVII, eis: 

" Soneto Conta e Tempo - século XVII

Obra prima do trocadilho, escrito no séc XVII, por António Fonseca Soares. Frei António das Chagas, de seu nome António da Fonseca Soares, também conhecido por Padre António da Fonseca, (Vidigueira, 25 de Junho de 1631 – Varatojo - Torres Vedras, 20 de Outubro de 1682) foi um frade franciscano e poeta português.



CONTA E TEMPO

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo... "


   Já nos avisavam desde o século XVII e até hoje não aprendemos rsrsrs, teimosia faz parte né!

sábado, 20 de junho de 2015

O OUTONO SACUDINDO PRO INVERNO CHEGAR

   

   Finalmente ontem tive uma noite de lazer pra lá de interessante... Música, Zeca Baleiro, e a poesia das composições de Zé Ramalho cantadas por ele. Delícia sair da rotina! Como sinto falta quando as opções se escasseiam durante o tempo mais frio, porque tem que ser um programa muito bom para me tirar de dentro de casa... tempos de velhice!?

   Só de bater palma, gritar, rir, acompanhar letras musicais e deixar o corpo também ir no embalo, discretamente é claro, já se sente renovada. Alegria paira no ar com hormônios  ("outonos caindo secos no solo da minha mão..." como diz o poema de Ramalho) a dar as caras.

   O Zeca Baleiro fez uma brincadeira com o público para ver se as pessoas entendiam a poesia nas canções de Zé Ramalho. Perguntou se alguém sabia o que significava, na canção Frevo Mulher... "é quando o tempo sacode a cabeleira, a trança toda vermelha, um olho cego vagueia procurando por um...", alguns tentaram, ninguém respondeu, mas todos apaixonados pela canção poética deste maravilhoso cantor da música popular brasileira. Poesia nem precisa entender (ou precisa?), sentir é fundamental e o músico se expressa intenso.

   Saí livre, leve e solta, direitinho pra casa, fora do salão prováveis seis graus. Bom, escolhido Floripa para morar tem-se que se acostumar com os rumos do outono e inverno. Mas quando chega setembro, que lindo o sol brilhante e vai vai até pras fins de março... vale a pena. E mesmo sendo outono e inverno, o sol aparece, distante e com um calor que apenas faz cócegas. Morar próximo da área polar dá nisso. Também têm suas belezas, apenas diferente.

   No outono, no inverno, torna-se mais humano, mais interiorano para dentro de si, apercebemo-nos o sujeito que somos, vêm as tristezas, propiciadas pelo nublado do céu, vem os ares da saudade, atravessando ventos polares norte e sul e o coração, às vezes dá sinal de não querer nada com a dureza. Aprende-se a conviver!

   Hoje, o sábado está embalado por canções que saem de meus lábios automaticamente. A música de Zé Ramalho continua em show! Reacendendo sentimentos e emoções! Que coisa boa! Reacender-se.     

sábado, 13 de junho de 2015

O FANTÁSTICO E O REAL SOBRE O MORRER

   

   Que contraste com semana anterior... frio e chuva, domingo será idem e segunda prováveis 7 graus. brbrbr chegou o inverno em Floripa.

   Nem quis sair de casa ontem... que dizem ser o dia dos namorados... Hoje aproveitei a tarde pra assistir ao filme que tinha gravado da TV Cultura, Tio Boonmee Aquele que Pode Recordar suas Vidas Passadas, 2010, parceria inglesa, alemã, tailandesa etc. É, parece que saí de uma cinemateca do envelhecimento para outra que reflete sobre a questão da morte. De um modo peculiar.

   A história se passa na Tailândia e conta os últimos dias de Tio Boonmee. Ele com insuficiência renal e sua lida sendo limitada pela doença lhe sugando as energias. Eu gostei tanto do enredo porque vem recheado de contradições, de fatos e lendas, de anseios e reflexões frente a incógnita morte.

   Tio Boonmee tem o dom de, neste período, recordar suas vidas passadas e no estágio que se encontra, suscetível a lembranças que remontam histórias. E todo o relato se mistura a lendas, que suponho, tailandesas, e vão tecendo lindos contos dentro de uma realidade empobrecida pela fraqueza e dores da doença.

   É interessante ver como cada nacionalidade tem o seu modo diferenciado. Como as lendas são únicas e ao mesmo tempo críveis e parecidas com a de outros países, como o Brasil, por exemplo.

   Eu gostei de quando ele era um peixe, um bagre, e pode saciar, através do ato sexual, uma princesa envelhecida que não se aceitava, só ao reflexo das águas via-se rejuvenescida para a mocidade. Aquele orgasmo trouxe a ela a felicidade que jazia extinta. Um momento muito bonito que deve fazer parte do folclore local. Assim como nós temos aqui a lenda do boto cor de rosa que seduz moças e as engravidam.

   Também gostei da aparição da esposa morta a mais de seis anos, acompanhando o marido nos últimos instantes. Ele aproveitava então para saber o que iria encontrar no caminho derradeiro com perguntas enigmáticas à esposa que também respondia da mesma forma. As questões da proximidade da morte colocadas com poesia e trazendo conotações que pessoas devem sentir quando se aproximam dela (a morte). A perda da energia, o desfalecimento, o desapego, as lembranças de entes queridos que já se foram e a mescla de fantasia/realidade enredando.

   O fantástico também se incorpora no filho que tinha desaparecido a muitos anos e retorna como macaco. Vai se despedir do pai contando a sua história do desaparecimento.

   Chega o momento de afastar-se para a floresta e encontrar a noite incerta.

   Eh a derradeira chega, vai se aprochegando de mansinho ou bruscamente... quem o saberá... "Então, devemos partir? Sim, vamos." Esperando Godot.!?

     

segunda-feira, 8 de junho de 2015

MEDO DE ENVELHECER?

   

   Desde sexta feira os dias estão lindos. Sol perene durante manhãs e tardes de outono. Nada de céu cinzento. Boa respirada para aguardar o inverno que já está para tocar a campainha. Segundo estimativa até quarta feira teremos essa alegria.uh uh!

   Astral dentro da normalidade e o pique para as atividades remoçado, felizmente. Mas o ritmo o ritmo está sendo reconstruído com novas questões, afinal o segundo semestre exige nova postura, chega de regalias.

   Com o sábado tranquilo animei a ver uma comédia, acho até que já a tinha assistido, mas a lembrança estava longe longe (agora dei pra isso!). No filme americano, Última viagem a Vegas, de 2013, o tema do envelhecimento foi trazido por quatro atores de naipe: Morgan Freeman, Michael Douglas, Robert De Niro, Kevin Kline.

   Gostei porque ri um pouco coisa que ultimamente escasseava. O personagem de Michael Douglas, quando pressionado pelo destino, num velório de um amigo, pede a namorada em casamento. Daí busca encontrar três amigos antigos para uma despedida de solteiro em Las Vegas. E todos arrumam motivos para buscar algo de interesse pessoal, somente o personagem do Robert De Niro é mais realista, do tipo "turrão", não se deixando sugestionar por meras questões: mulheres, jogos, bebida etc.

   E durante a peça a questão interessante é a dificuldade do personagem de Michael Douglas lidar com o envelhecer. Pede em casamento uma mulher com a metade de sua idade, ele que já está beirando os setenta. Nunca se casou e expressa a dificuldade em aceitar-se velho. E durante a estadia dos quatro amigos acontecem travessuras que também trazem questionamentos,  o que considero tenha salvo o filme no seu propósito.

   Michael Douglas se apaixona pela cantora de uma boate, uma mulher madura com idade que se aproxima da dele. Os rolos continuam até que ao final, após pressão dos amigos que exigem que ele responda se realmente ama a mulher que pediu em casamento, e com a chegada dela para as núpcias, revela que não a ama o suficiente para se casar.

   Assumir o envelhecer parece difícil a todos, homens e mulheres. Em especial para aqueles que teimam em permanecer com aura adolescente, muito mais difícil. O tema ficou potencializado ao meu ver por estarem os atores vivendo esse drama real. Estão com rostos marcados pela idade e assumindo as rugas e limites impostos do corpo. Deu caráter reflexivo ao tema que tanto amedronta. Uma delícia de película!