Aproveitei estes dias e li os contos de Horácio Quiroga (1878-1937), escritor uruguaio, naturalizado argentino. O livro Contos de Amor, de Loucura e de Morte, vol.31, Abril Coleções, 2010. Os contos são muito bons e até o final o escritor nos surpreende com sua habilidosa escrita. O que eu mais gostei foi o conto: Meningite e sua sombra, pág. 159, delicioso conto de amor.
Ao final do livro, encontramos o Decálogo do Contista, pág. 189, onde o escritor dá dicas de como escrever, que transcrevo aqui para seduzir os apaixonados pela escrita:
- Creia em um mestre - Poe, Maupassant, Kipling, Tchekhov - como em Deus.
- Creia que sua arte é uma montanha inacessível. Não sonhe dominá-la. Quando isso for possível, você saberá.
- Resista o quanto possível à imitação, mas imite se a tentação for muito forte. Mais que qualquer outra coisa, o desenvolvimento da personalidade exige paciência.
- Tenha fé cega não na sua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que você deseja este triunfo. Ame a sua arte como a sua mulher (como o seu homem _ grifo meu), dando-lhe seu coração.
- Não comece a escrever sem saber aonde ir. Em um bom conto, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância que as três últimas.
- Se você quiser expressar com exatidão esse fato - "Um vento frio soprava do rio" -, não há, na linguagem humana, palavras mais precisas que essas. Seja dono de suas palavras, sem se preocupar com suas dissonâncias.
- Não adjetive sem necessidade. Inúteis serão as camadas de cor adicionadas a um substantivo fraco. Se você fizer o que for preciso, ele terá, por si só, um colorido incomparável. Mas você terá de ir buscar esse colorido.
- Pegue seus personagens pela mão e conduza-os firmemente até o final, sem deixar que nada o desvie do caminho traçado. Não abuse do leitor. Um conto é um romance depurado de resíduos. Tenha isso como verdade absoluta, mesmo que não seja.
- Não escreva sob emoção. Deixe-a morrer, e depois a evoque. Se você for capaz de revivê-la, terá chegado à metade do caminho.
- Ao escrever, não pense em seus amigos, nem nas reações deles à sua história. Pense como se o seu relato só interessasse aos seus personagens, e você fosse um deles. Não se dá vida a um conto a não ser dessa maneira.
Espero que a inspiração dê as caras! Através do olhar, da música, da palavra...