terça-feira, 29 de novembro de 2016

ENCONTRO COM O CONTO

   Quero contar como foi o Encontro sobre o Conto que houve no Sesc da Prainha, em Floripa, semana passada, com um professor bem diferenciado, animado e estimulador... suas colocações faziam que a aula passasse voando e nós, pelo contrário, queríamos que as horas não se escorressem, afinal um encontro de poucas horas, mas vá lá... muito proveitoso!

   As dicas que ouço durante tais exposições são a marca fundamental para um vapt vupt de final de semana. E uma bem legal que o professor colocou e que deve estar claro na cabeça de quem escreve, ninguém é obrigado a gostar do que você escreve, e que se deve agradar a si mesmo.

   Enfatizou que na verdade as oficinas literárias ensinam mesmo é a LER poesia contos romances novelas ... n leituras. Fez uma crítica aos que olham de olho torto quando alguém diz que leu Sidney Sheldon (li muito na adolescência), considerando-o excelente em montar uma estrutura: as contradições dos personagens, conflito, tensão etc... dá para se aprender muito com ele.

   Para quem gosta de escrever disse que é importante ter leitores muito bons, aqueles críticos que vão ler inicialmente e criticar, fazer a interpretação, deixar rolar a paixão e certa ingenuidade, bem legal se o escritor tem um leitor assim para avaliar o material... é muito importante ter alguém em quem se confia.

   A importância de um bom título, de um drama mais intenso já no início, afinal disse, quem lê quer ver o que nunca viu antes. Importância de mesclar entre leituras do clássico ao contemporâneo, pois tais dicções se somam. E sintetiza, Machado de Assis já fez tudo... mesmo assim, novas experiências acrescentam.

   Das emperrações que inibem a aura criadora e criativa de escritores, considera o mais difícil é tentar negociar com os fantasmas, se deve ter determinação, soltar-se. Afrouxar o superego na criação, se divertir (ser criança), importante é achar o tom. O escritor tem de acreditar no que escreve para que ocorra o mesmo com o leitor. Deixar para as revisões finais o lado adulto entrar, não antes.

   Falou muito para quem quer editar a criação, publicar, deu o caminho das pedras, bem complicado... 

   Falou dos temas narrador (1ª - dizem gerar mais empatia, 2ª, 3ª - funciona como câmera objetiva, onisciente, olhar intruso, seletivo); personagens (rasa ou profunda, protagonista, antagonista); trama (conflito); lugar; tempo; ... linguagem (ter voz própria... não imitar algum escritor, da narrativa ficar em segundo plano e sobressair a linguagem...) ... citando os temas mais importantes. E ainda, o tamanho da prosa, se conto, novela, romance... diz que quando chegar um ponto em que o escritor diz que podia chegar isso deve ser respeitado.

   O conto, em específico, considerado curto, deve-se atentar para o núcleo dramático (pequeno), ter coesão, tensão, estranheza, mostrar a história aparente e ao mesmo tempo existir uma história oculta (questões que importam), estas não se encontram, não se tocam,; outras se encontram em determinado trajeto quase lá no final; outras vem em onda e a oculta corta a aparente em certo trecho e novamente se separa e de outras possibilidades de processo, até de uma história aparente e outras duas histórias ocultas se duelando; etc... pode-se ter diversas intenções, a depender do criador , e encontrar um fim , de forma que feche o círculo.

   A novela, narrativa média, poderão ter distintos núcleos dramáticos que poderão se relacionar e/ou vão se relacionar.

   O romance tem grande núcleo dramático e pode ter outros que se relacionem com ele e finalmente...

   ... que se deve cortar, cortar, cortar... muito cuidado com os adjetivos...

   Sugeriu muitas opções de leitura durante toda a aula, listei: Machado de Assis, Falkner,Ricardo Piglia, César Aira, Luisa Geisler (Quiça, Contos de Mentira), Raimundo Carrero, Caroline Rodrigues, Joca Reiners Terron, Juliana Amato (conto Crianço), Carol Bensimon, Paul Scott (Itaca Road), José Castelo, Andrea del Fuego (Malaquias da língua geral), J. M. Coetzee (Desonra), João Gilberto Nool (Mínimo Múltiplo Comum), Céline (Viagem ao fim da noite) etc etc, o importante é ler ler ler se se quer escrever melhor, clássícos, contemporâneos, revista em quadrinho, poesia etc etc.

   Em seguida o Festival do Conto apresentou dois painéis com a presença de autores e experiências na feitura da escrita... é papo pra próxima!

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

UM ANO DE LUTA E DOR - ATINGIDOS PELA LAMA DE MARIANA

Bento Rodrigues, 05/11/2016
   
   Participei na primeira semana de novembro da MARCHA DOS ATINGIDOS PELA LAMA DE MARIANA e o que se encontrou pelo caminho são tristezas, perdas, dores, lama, muita lama, desrespeito às pessoas tornando-as invisíveis quanto aos seus direitos básicos e tantos outros termos que poderia listar até a última linha desta postagem e ainda assim seria insuficiente.


Foto tirada em 05/11/2016, Bento Rodrigues, tudo continua do mesmo jeito, só destruição!
   UM ANO DA LAMA. UM ANO DE IMPUNIDADE. UM ANO DE LUTA. Veja bem, eu participei da marcha um ano depois da tragédia sem precedentes ocorrida em Mariana, no distrito de Bento Rodrigues, completamente destruído pela lama da barragem de Fundão, causadora de vinte e uma mortes e outras em sequência e consequência, além de a partir daquele distrito a lama ir solapando tudo que encontrava pela frente, outras cidades, rios da bacia do Rio Doce, quintais, ribeirinhos atingidos no que de essencial à sobrevivência, um rio fértil com peixes para o sustento e sobrevivência familiar. Até chegar ao mar. Poluindo a areia a beira mar e o mar a quilômetros de distância. Infestando todo o caminho com o que há de putrefação causada pela mineração desvairada nos lucros e dividendos da extração do minério de ferro.


   "VALE dessas lágrimas, SAMARCO dessas lamas,
o povo não esquece, Mariana ainda chama.
(o povo organizado, a empresa não engana)
Jadir Bonacina"

   E os que estão vivenciando desde aquele dia, o dia 05 de novembro de 2015, data do rompimento da barragem de Fundão, e continuam a vivenciar, dia após dia, toda a lama jorrando como se a cada dia o jorro perdurasse?

   Apenas os atingidos na pele no corpo na alma são capazes de dimensionar o sofrimento, o efeito trágico na vida de milhões de atingidos que passam obrigatoriamente pela experiência quando expulsos do seu lugar para dar acesso a barragens e hidrelétricas ao redor do mundo.

   Mas que não desistem e insistem:

"Se é pra ir a luta, eu vou
Se é pra tá presente, eu tô
Pois na vida da gente
o que vale é o amor.
Zé Vicente"

   Vamos à luta, SOMOS TODOS ATINGIDOS. 

   Oxalá eu pudesse escrever ao que propus de quando da criação do blog, inspiração literária ao cotidiano. Oxalá nada tivesse acontecido e fosse apenas um pesadelo que ao acordar desaparecesse. Oxalá o tilintar do níquel não afetasse tanto as mentes de governantes, instituições, empresários, que existem com o propósito de zelar pela vida plena em sociedade. Oxalá tenhamos aprendido a defender nosso pedaço de chão da ambição descabida em detrimento às pessoas, cidadãs de toda e qualquer parte onde exista água, energia, aliás, ÁGUA ENERGIA NÃO SÃO MERCADORIAS!