segunda-feira, 18 de novembro de 2013

COLOCAR NA CESTA BONS FLUIDOS!

   

   Aproveitei para colocar em dia algumas leituras. Inventei de ler ao mesmo tempo uns cinco livros e estou nessa ladainha, tentando dar coordenadas exatas quando largo e retomo as leituras. A experiência é diferente e rende boas tentativas de exigir do cérebro o que ele pode dar. Entre os livros estão História da Filosofia de Nicola Abbagnano, Opressão e Liberdade de Simone Weil, Edusc, 2001, Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida de Thiago de Mello, Civilização Brasileira, 5ª ed., 1983, Histórias Extraordinárias de Edgar Alan Poe, Odisseia de Homero, ah! me esqueci... também Diários de Kafka.

   Quero a todo custo diminuir a montanha de livros que vem formando em minha frente e eu fissurada em lê-los. O que eu achei interessante, eu e a minha mania de associar coisas, foi que o livro do Thiago de Mello, de 1983, mesmo ano que formei em Psicologia, coincidência ou não, utilizamos no nosso convite de formatura os textos dele, do Estatuto do Homem, que são belíssimos.

   Mas importante mesmo são as possibilidades de conhecer novas aventuras e histórias que entrarão como inspiração para a escrita, além de ampliar o conhecimento. Ler é uma das formas que mais me inspira prazer, não é novidade, né?

   Eis duas citações do livro da Simone weil para reflexão:


"No que concerne às coisas humanas, não rir, não chorar, não se indignar, mas compreender."  Spinoza

"O ser dotado de razão pode fazer de qualquer obstáculo uma matéria de seu trabalho, e tirar partido disso." Marco Aurélio

   E o primeiro, segundo e último verso do poema do Thiago de Mello, escrito em 74 na Alemanha, retirado do livro mencionado acima, pág 3 e 5:

"É Preciso fazer Alguma Coisa

Escrevo esta canção porque é preciso.
Se não a escrevo, falho com o pacto
que tenho abertamente com a vida.
E é preciso fazer alguma coisa
para ajudar o homem.
Mas agora.                          
                         
Cada vez mais sozinho e mais feroz,
a ternura extraviada de si mesma,
o homem está perdido em seu caminho.
É preciso fazer alguma coisa
para ajudá-lo. Ainda é tempo.
    É tempo.                       

... 
É preciso ajudar.
Porém primeiro,                      
para poder fazer o necessário,
é preciso ajudar-me, agora mesmo, 
a ser capaz de amor, de ser um homem.
Eu que também me sei ferido e só,
mas que conheço este animal sonoro
que profundo e feroz reina em meu peito." 

Thiago de Mello

   Fiquei ou não em ótima companhia por estes dias?  

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

PERCEPÇÃO AGUÇADA

     http://oseculoprodigioso.blogspot.com.br/2007/02/escher-mc-ilustrao.html
   
   Que ótimo feriado bem no fim da semana, heim! Pelo menos aqui no Brasil, dia da proclamação da república. Por isso, estou com tempo para postar em plena tarde de sexta feira... Que maravilha!

   Ontem aproveitei e fui visitar a exposição A Magia de Escher, que está no Palácio das Artes até dia 17/11. É indescritível a experiência, pois o que vale mesmo é a percepção ao olhar cada quadro em litografia e xilogravura. Portanto, cada olhar único e particular. Achei interessantíssimo se ter que movimentar o corpo, quase que ficar dançando em frente a alguns quadros, para se ter diversas visões daquela realidade.

   Ele trabalha com o ladrilhamento, com dimensões em diversos níveis, com a ilusão de ótica, com a geometria etc e nos faz refletir sobre a existência, o infinito, a natureza, o sagrado e o profano, a possibilidade de outras verdades... Sou leiga para me atrever a ir mais além.

   Fiquei fascinada por todas as obras, mas as que me fisgaram mais firmemente foram: "Flor de Pascua" - Nunca pense antes de agir, que mostra uma pessoa caminhando numa estrada estreita, à beira do abismo com uma lanterna na mão. Daí diversos significados podem ser desenhados em nossa mente. E a obra com nome Cascata, magnífica. Olha como foi a minha experiência: olhei uma vez e vi a cascata descendo de uma altura para um moinho; depois num segundo olhar, quis descobrir como se dava a queda d'água, em quais direções; terceiro persegui cada lance de onde jorra a água e de repente, de um andar inferior inicialmente, já me surpreendi estando num andar superior. É magnifica a ilusão de ótica.

   Como disse o artista holandês M C Escher: "Talvez eu esteja sempre em busca do espantoso e, por isso, procure provocar espanto no espectador". "... Tenho grande prazer, por exemplo, em confundir deliberadamente a segunda e a terceira dimensões, plana e espacial, e ignorar a gravidade." E pensar que suas obras são a partir de 1921 a 1969 e que só agora no século XXI aparece o cinema em 3D. Era um homem muito à frente de seu tempo em suas viagens imaginativas. 

   Gostei muito de ver visitantes de todos os níveis se interessando e interagindo com a proposta. Que bom que a cultura e a arte vêm trazendo transformações em nossa Belo Horizonte. Entrem na página mencionada e verão que maravilhas.  

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

COM O AMANTE NO CÉU NOTURNO!

   

   Hoje estou me sentindo leve, restaurada. Após ter tocado (arranhado! rsrs) violão por bom tempo; quando guardei-o, percebi que a experiência me transformou em corpo e alma. Explico, ontem e hoje não estou com cara de bons amigos. Numa irritabilidade exacerbada que vai descontada nos habitantes da casa. Coisas da vida! O tal assunto estava importunando meus pensamentos em turbulência e o exercício de cantar e tocar aliviou-me tremendamente. Voei para outros ares!

   Terminei de ler o livro do Drumond e engatei no novo amante Pablo Neruda. Adorei a orelha do livro Memorial de Ilha Negra onde ele se descreve. Tão lindo conhecer o poeta em seus traços mais profundos. Não resisti e quis logo transcrevê-lo aqui:

"Como me virar para parecer mal e ficar bem? É como quando a gente se olha no espelho (ou no retrato), procurando o melhor ângulo (sem que ninguém perceba) para constatar que continua sendo o mesmo de sempre.
Alguns se olham de soslaio, outros imprimirão a verdade daquilo que quiserem ser, outros se perguntarão: como sou?
Mas, a verdade é que todos vivemos tomando nota, à espreita de nós mesmos, declarando somente o mais visível, escondendo a irregularidade do aprendizado e do tempo.
Mas, vamos ao que interessa.
Pela parte que me cabe sou, ou acredito ser, duro de nariz, mínimo de olhos, escasso de cabelos na cabeça, crescente de abdome, comprido de pernas, largo de solas, amarelo de pele, generoso de amores, impossível de cálculos, confuso de palavras, de mãos ternas, de lento caminhar, de coração inoxidável, apaixonado pelas estrelas, marés, caminhante das areias, torpe de instituições, chileno perpetuamente, amigo de meus amigos, mudo para inimigos, xereta entre os pássaros, mal-educado em casa, tímido nos salões, audaz na solidão, arrependido sem objeto, administrador horrível, navegante na conversa, discreto entre os animais, afortunado nas nuvens, pesquisador de mercados, escuro nas bibliotecas, melancólico nas cordilheiras, incansável nos bosques, lentíssimo para responder, imaginário anos depois, vulgar o ano inteiro, resplandecente com meu caderno, de apetite monumental, tigre para dormir, sossegado na alegria, vigia do céu noturno, trabalhador invisível, persistente desordeiro, valente por necessidade, covarde sem pecado, sonolento por vocação, amável com as mulheres, ativo por sofrimento, poeta por maldição e doido varrido. PABLO NERUDA"

   O livro traz em poemas as suas memórias. Tem o poema da mãe e é tão doce! O poema do pai traz a bruteza do homem e seus vícios na bebida. Muitas reflexões e chegamos à conclusão dita por ele: "Foi impreciso nascer e foi tardio nascer deveras, lento e apalpar, conhecer, odiar, amar, tudo isso tem flor e tem espinhos..."

   Amei o "de coração inoxidável". Olha só que beleza um homem que sempre tem esperança e nunca se cansa de sonhar, de ter ilusões, de acreditar sempre, mesmo que às duras penas, continua ali, com as emoções  e sentimentos à flor da pele. Bom, é a minha interpretação!

   Como me sinto restaurada, posso até pegar emprestado deste amante a sua capacidade inoxidável e seguir aberta às mudanças! 

domingo, 10 de novembro de 2013

AMANTE, EU ADMITO!

   

   Finalmente inspirada. Graças ao sebo onde adquiri o livro VIOLA DE BOLSO Novamente Encordoada, de Carlos Drumond de Andrade, Editora José Olympio. O livro teve primeira edição em 1952 e a edição adquirida é de 1955. O valor dela para mim está no conteúdo e na antiguidade e me sinto que nem a personagem da Clarice Lispector no conto Felicidade Clandestina. Antes da leitura eu fiquei a abraçar aquele livro que pelos anos de estrada entre casas e sebos sabe-se lá? Veio parar em minhas mãos. Como aquela menina, eu estava ali com o meu amante, com suas palavras em papel, e eu orgulhosa em possuí-lo.

   O livro foi cuidadosamente encadernado em capa dura e a capa original está protegida por ela. O interessante está no verso da capa no final do livro, a propaganda do Grande e Novíssimo dicionário de Língua Portuguesa que acabava de sair. Organizado pelo prof. Laudelino Freire (1873-1937), em 5 belos volumes - 5.370 páginas e o com o maior número de vocábulos registrados - 208.104, publicação póstuma.  A chamada para o livro é bem interessante: "Um grande dicionário é o primeiro livro que uma nação deve ter. E só agora - pela 1ª vez em 454 anos de vida - o Brasil tem o seu grande e novíssimo dicionário.

   Eis um dos poemas de Viola de Bolso, pág 31:


"LUAR EM QUALQUER CIDADE
Carlos Drumond de Andrade

O luar deixava as coisas mais brancas.
As estrêlas desapareciam.
As casas, as moitas: impregnadas
não de sereno, de luar.
Caminhávamos interminàvelmente, sem ôfego,
sem pressa.
Caminhávamos através da lua.
E éramos dois seres habituais e dois fantasmas
ao mesmo tempo.
Lá longe era o mundo
àquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que o reflexo dessa claridade.
Tão claros! Tão calmos!
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar."

   Linda poesia sobre a lua. Eu transcrevi da forma idêntica à grafia dos anos de 1955. E outra coisa que me fez esboçar alguns sorrisos: o antigo dono, conforme assinado com data de 1962, ainda se permite emitir considerações acerca da poesia de Drumond. 

   Também li outro "A MANEIRA DE GEIR CAMPOS", pág 33, e pude, então, conhecer outro poeta interessante em seus rearranjos com as palavras (encontrei poemas dele no site do Releituras).  O que a leitura nos possibilita quando abrimos caminho às descobertas, não é mesmo?

   Bom, larguei o livro  do Carlos Drumond e peguei o do Pablo Neruda, que também adquiri no sebo, Memorial de Ilha Negra, Salamandra, 1980. Outro que adoro as palavras. Mas fica pra depois! Deixa eu trocar de amante!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

JANELA ABERTA ÀS MUDANÇAS

   

Quem diria ser possível começar uma carreira aos 66 anos. Isso mesmo! Dona Jandira, uma voz madura e forte entoando a nossa MPB - Música Popular Brasileira. Ela é apaixonada pelo samba, tem um repertório rico de significado. Como interprete valoriza não só as expressões da raça negra, tais como o samba Identidade que cantou um trecho, mas também aquelas que lhe transbordam em emoção. Assisti a entrevista dela no sábado no Terra de Minas da Globo.

   Não tem como não ficar com inveja da energia pulsante do "estar no mundo" dessa mulher. Aberta para as mudanças e sempre se transformando. Dizendo ter muito chão e novos caminhos e conquistas. Parece fazê-lo a partir do prazer musical. Unir uma atividade que além do prazer traz uma contribuição aos que são próximos, de forma solidária.

   Um exemplo a seguir em termos de não acomodação à zona de conforto. Aberta à contribuição que pode dar à comunidade, valorizando a cultura do local que escolheu como refúgio. Um lindo exemplo.

   Bom! Fiquei empolgada com a história dela, já que somente agora estou aprendendo violão, portanto também quero transgredir o meu status quo de aposentada e não me acomodar. Sempre é saudável se buscar um projeto de vida, algo agradável e prazeroso para se fazer. 

   Aproveitei também o fim de semana para ler o volume I do Teatro  Completo de Nelson Rodrigues - A Mulher sem Pecado; Vestido de Noiva, Valsa Nº 6; Viúva, Porém Honesta e Anti-Nelson Rodrigues. Como capta tão bem o estar neurótico e contraditório do ser humano na dimensão dos relacionamentos. Tinha visto algumas das peças. Lê-las trouxe um diferencial no conhecer a dinâmica que o autor quis transmitir. Adorei sentir a escrita daquele que chamam dono de um teatro desagradável.

   Experimentações na arte do existir que mostram diferenciais. Afinal como disse o Nelson Rodrigues "Toda unanimidade é burra." Então, nada de ser comum e deixar o tempo passar sem nada por fazer. Planos B mostram que a idade é salutar!   

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

RESGATE DO SER!

   

   Acaba outubro, fim de ano na tábua da beira... Correria, formaturas, festas, cidade cheia, congestionamento! O ano finda! 

   Li a mensagem da Cora Coralina no blog da minha amiga Fátima e que coerência e lucidez desta mulher que persegue a vida com luta e esperança em sua poesia, trouxe como reflexão neste último dia de outubro. Boa Leitura!


"O que é viver bem 
Cora Coralina

"Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.
E digo prá você, não pense.
Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha.
Eu não digo.
Eu não digo estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco.
É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida.
O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.
O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima.
Eu não digo nunca que estou cansada.
Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.
Você vai se convencendo daquilo e convence os outros.
Então silêncio!
Sei que tenho muitos anos.
Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não.
Você acha que eu sou?
Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser.
Filha dessa abençoada terra de Goiás.
Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos.
Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.
Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o DECIDIR."


Quanta força nas palavras desta mulher que carregou tantos complexos pela vida. A partir das palavras resgata sua vivência e ainda possibilita aos que sofrem, se sintam representados. Poesia construída na cultura do seu tempo e que resgata a importância do "SER" .