quinta-feira, 29 de setembro de 2016

EU SÓ QUERIA ENTENDER



   Eu só queria entender que andam aprontando com a primavera, porque lendo os poemas de Pessoa, do Drumond, do Mário Quintana, da Cecília Meireles entre outros por quem sou ficcionada, quando falam a primavera de outros tempos, esta me parece mais bela do que as que andamos tendo nos últimos tempos. Será que El Niño e La Niña estão soprando ferozes desfolhando todas as flores, modificando o calendário das chuvas, atrasando a vinda dos botões tímidos por aparecer?

   É força de expressão eu sei, inda mais que tudo o que está acontecendo tem um culpado, o bicho homem, que interfere em tudo quanto é cadeia, modificando o rotineiro tempo das estações climáticas com o seu agressivo desejo de destruir a natureza com vistas em cifrões. Já nos cobram o vil metal por toda e qualquer coisinha e daqui a pouco vamos pagar até o ar que respiramos, mal e porcamente respirados a base de poluição e ainda assim será cobrado... vil capitalismo.

   Eu quero a primavera de volta, os belos ipês floreados no seu devido tempo, não tão antes e nem tão pouco floridos pela escassez d'água. Ai que saudade dos quarteirões e quarteirões de flores espalhadas pelo chão e nas copas, como ficam belas as manhãs, as tardes e o entardecer, os cantos dos passarinhos a entoar por todo o pedacinho de chão. Agora essa secura freando a ânsia do desabrochar.

   Faltando as cores amarelo, rosa, lilás e outras tantas floríferas que embelezam o arco-íris da primavera. O visual colorido traz uma bonanza acalmando ânimos e os corações ansiosos, ou perdidos, ou deprimidos na falta da egoica primaveril do furta cor em demasia.

   
   É culpa do Temer, por isso digo Fora Temer!


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

NÃO PRECISA EXPLICAR

   

   Finalmente consegui terminar Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf (1882-1941). E quase no final marquei uma passagem que considerei interessante, do personagem Peter Walsh: 


"Quando jovem, disse Peter, a gente é demasiado excitável para que possa conhecer os outros. Mas agora, na velhice, cinquenta e dois anos, para ser exato...; agora, na maturidade, pode-se observar, pode-se compreender, sem ter perdido a faculdade de sentir, disse ele."

   Publicado em 1925, o livro já considerava velho quem se encontrava acima dos cinquenta, veja só. Hoje em dia já se compreende que a velhice chega bem depois.

   Engraçado paralisei a leitura do livro muitas vezes devido o início, não levava vontade de continuar a leitura... hoje, vencido o tempo, cheguei ao final satisfeita com o arranjo dos personagens, cada um expressando conversas interiores e a gente conhecendo os meandros da mente humana. Quando terminei senti necessidade de reler o início e como as coisas foram se concatenando, o emaranhado inicial que me afugentara tinha desaparecido. Eu via muitos falando do hermetismo da escritora e talvez isso me amedrontasse, o que não aconteceu neste momento, já mais atrevida e interessada em esmiuçar o estilo do escritor.

   E agora começando a ler Ulysses, de James Joyce, na Introdução quando Declan Kiberd explica que a recepção do livro foi difícil, explica num trecho "... O mesmo fez Virginia Woolf, ao explicá-lo como obra de um homem frustrado que sente que, para ser capaz de respirar, seria necessário quebrar todas as janelas... ela denunciou o Ulysses como a obra de "um estudante nauseado espremendo suas espinhas"." O livro foi publicado em 1922 pela Shakespeare & Co., na França. A gente conhecendo as picuinhas entre escritores.

   Mas antes da leitura me aventurei um pouco na poesia da polonesa Wislawa Szymborska (1923- ), 2011, Companhia das Letras, para arejar a mente envolta em tantas angústias do livro anterior. E adorei o poema Alguns gostam de poesia, pág. 91, eis um trecho:


"Alguns 
ou seja nem todos
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.

Gostam 
mas também se gosta de canja de galinha
...

De poesia — 
mas o que é isso, poesia.
...
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação."

   Delícia hein, assim tão simples, tão do jeito que a gente não sabe explicar, né!

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

FORMIGA ASSUSTADA

   Queria ter assunto interessante a postar hoje, a inspiração faltosa ao cotidiano de fim de domingo é a única que deu as caras. Têm dias que é assim mesmo, são de uma mesmice sem tirar nem por... como deve ter sido na vida de alguma ou qualquer pessoa nos séculos aC e dC... lendo o livro de James Joyce, O retrato do artista quando jovem, ele relata isso, as mesmas dúvidas, queixas, interrogações, e o homem ainda carrega consigo hoje, em pleno século XXI, todas as sequelas. Ele diz num trecho que somos um monte de estrume de gado, numa epifania, e a vivência segue mostrando que ele não está de todo errado.

   Longe de ser pessimista, ao contrário, creio no homem e mulher de bem e esperançosamente acredito na capacidade de doar-se, mas não se pode deixar de observar que vivemos olhando tanto pro umbigo, um individualismo mostrando dentes carnívoros, como se estivéssemos vivendo o próprio ensaio da cegueira previsto por Saramago, que horror!

   Quantas pendengas, competições, guerras, trapos, desconfianças, desânimo, tantas palavras com tão péssimos caracteres.

   Não me permito continuar no ritmo, mas concatenando acontecimentos, como a união da Monsanto com a Bayer por exemplo amedronta qualquer homem que necessita alimento, que futuro nos reserva? a que ponto chegaremos?

   Juntam-se aspectos geopolíticos, crises econômicas, migrantes fugidos em busca da sobrevivência, já que países guerreiam sem trégua... o fundo do poço do século XXI? 

   Como sair do emaranhado gigantesco que vai se formando e nós como formiguinhas amedrontadas, tanto são os problemas nos cercando, cerceando a verdadeira índole humana de viver em paz entre irmãos?

   Walter Benjamin se suicidou no aeroporto de Paris ao saber que não seria aceita a sua entrada no país... Ele um intelectual, hoje quantos são os mortos por enfrentarem os bravios mares a busca de socorro? sequer sem saber se serão aceitos?

   O existencial baixou de vez, entrego os pontos, haverá amanhã e será melhor.   

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

DIÁLOGO E INTENSIDADE

   Fui ver os "trens" de Minas, a Beagá (Belo Horizonte) do coração e estive bom tempo por lá, mas não foi fugida do inverno do sul não, as temperaturas em Floripa estão bem agradáveis este inverno.

   Fugidia eu fiquei ao ver como anda mal a terrinha, embaçada, ofuscada, emaranhada numa secura de dar dó... Cadê aquela BH tão famosa, do clima úmido de antes? as matas desapareceram e deixaram um clima árido e ressequido que faz muito mal a  respiração de qualquer um.

   Fugi para o cinema, lá dentro o ar, mesmo que condicionado, traz um pouco da fantasia às histórias que perfilam na tela sob olhar atento. E foi que me surpreendi com os dois filmes que assisti no Cine Belas Artes: Café Society, do Wood Allen e Aguarius, nacional, do Diretor Kleber Mendonça Filho.

   Wood Allen traz na história um ótimo diálogo que enriquece cenas, mesmo sendo comuns de histórias do tipo. O diálogo nos prende e nos aproxima dos personagens, faz que a gente sinta na pele estar lá, em foco, é muito doido mesmo, mas Wood Allen é capaz disso. Delícia de filme que traz a paixão embrenhada no âmago do ser, mesmo que a vida dê guinadas de trezentos e sessenta graus.

   Kleber Mendonça Filho traz uma Sônia Braga, a personagem principal, amadurecida como atriz e consegue pontuar tão bem todo o espectro de intensidade ao contar a história de Clara, uma mulher intensa, feminista, de esquerda e com uma determinação admirável. Eu fiquei tão feliz de ver um filme brasileiro com tão boa consistência, enredo, atores compenetrados aos personagens. 

   Eu fiquei mais feliz ainda, de reconhecer, como mulher, no perfil da Clara, a luta pela igualdade de direitos a toda e qualquer pessoa, a resistência no que considera direito e justo, e o mais forte do meu ponto de vista, o enfrentamento do que podemos chamar de falso poder, aquele arraigado na herança brasileira de coronelismo, do elitismo hipócrita que se julga acima da lei. Excelente filme que traz chama de esperança na solidariedade entre as pessoas. Eu bati palmas no final do filme, empolgada com as emoções que me fizeram reagir. Merecidamente.

   Quando cheguei em Floripa, o céu nublado, e o ar úmido agradável à respiração.