segunda-feira, 26 de setembro de 2016

NÃO PRECISA EXPLICAR

   

   Finalmente consegui terminar Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf (1882-1941). E quase no final marquei uma passagem que considerei interessante, do personagem Peter Walsh: 


"Quando jovem, disse Peter, a gente é demasiado excitável para que possa conhecer os outros. Mas agora, na velhice, cinquenta e dois anos, para ser exato...; agora, na maturidade, pode-se observar, pode-se compreender, sem ter perdido a faculdade de sentir, disse ele."

   Publicado em 1925, o livro já considerava velho quem se encontrava acima dos cinquenta, veja só. Hoje em dia já se compreende que a velhice chega bem depois.

   Engraçado paralisei a leitura do livro muitas vezes devido o início, não levava vontade de continuar a leitura... hoje, vencido o tempo, cheguei ao final satisfeita com o arranjo dos personagens, cada um expressando conversas interiores e a gente conhecendo os meandros da mente humana. Quando terminei senti necessidade de reler o início e como as coisas foram se concatenando, o emaranhado inicial que me afugentara tinha desaparecido. Eu via muitos falando do hermetismo da escritora e talvez isso me amedrontasse, o que não aconteceu neste momento, já mais atrevida e interessada em esmiuçar o estilo do escritor.

   E agora começando a ler Ulysses, de James Joyce, na Introdução quando Declan Kiberd explica que a recepção do livro foi difícil, explica num trecho "... O mesmo fez Virginia Woolf, ao explicá-lo como obra de um homem frustrado que sente que, para ser capaz de respirar, seria necessário quebrar todas as janelas... ela denunciou o Ulysses como a obra de "um estudante nauseado espremendo suas espinhas"." O livro foi publicado em 1922 pela Shakespeare & Co., na França. A gente conhecendo as picuinhas entre escritores.

   Mas antes da leitura me aventurei um pouco na poesia da polonesa Wislawa Szymborska (1923- ), 2011, Companhia das Letras, para arejar a mente envolta em tantas angústias do livro anterior. E adorei o poema Alguns gostam de poesia, pág. 91, eis um trecho:


"Alguns 
ou seja nem todos
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.

Gostam 
mas também se gosta de canja de galinha
...

De poesia — 
mas o que é isso, poesia.
...
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação."

   Delícia hein, assim tão simples, tão do jeito que a gente não sabe explicar, né!

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