quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

COMEÇAR O ANO BRINCANDO

   
   Parece que nem eu quero trabalhar neste fevereiro, vejam só! Para dizer a verdade, eu estou tão chateada de não ter conseguido fazer um projeto tornar-se realidade que me apresento amuada. Fazer o quê... Seguir em frente que atrás vem gente...

   Não aconteceu hoje, pode acontecer no ano que vem, quem sabe! E vão-se os projetos, outros se apresentam a tona. Não se pode querer agarrar o mundo com as mãos. Apenas eu, que sonhadoramente, sempre imagino isso possível, mas venhamos e convenhamos, este é o mundo real e se consegue o que se propôs quando a hora é de acontecer. E parece que a hora ainda não é.

   Olha eu falando em códigos, até parece que não sei que sem planejamento é muito difícil se alcançar os objetivos. Tem-se que se ter metas, segui-las com sabedoria e construindo as etapas adequadas até o momento decisivo, certeiro.

   Mas apesar das queixas, minhas, eu tenho tido momentos bem interessantes, por exemplo:   estamos em fevereiro e já consegui ler quatro livros interessantes. Terminei de ler o livro do Rubem Alves, Pimentas Para provocar um incêndio, não é preciso fogo, de 2012, Editora Planeta. São crônicas, na sua maioria deliciosas. Numa delas, o autor transcreve uma letra de música do Chico Buarque (pag. 102-104) que eu não conhecia (como o próprio autor escreveu: Que a gente nunca escutou) e que é muito bonita. Eis:

" O VELHO
Chico Buarque

O velho sem conselhos
De joelhos
De partida
Carrega com certeza
Todo o peso
Da sua vida.
Então eu lhe pergunto pelo amor.
A vida inteira, diz que se guardou
Do carnaval, da brincadeira
Que ele não brincou.
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar...
Nada.
Só a caminhada
Longa, pra nenhum lugar...

O velho de partida
Deixa a vida
Sem saudades,
sem dívida, nem saldo,
sem rival
ou amizade.
Então eu lhe pergunto pelo amor...
Ele me diz que sempre se escondeu,
Não se comprometeu
Nem nunca se entregou...
E diga agora
O que é que eu digo ao povo,
O que é que tem de novo
Pra deixar...
Nada.
E eu vejo a triste estrada
Onde um dia eu vou parar.

O velho vai-se agora,
Vai-se embora
Sem bagagem.
Não sabe pra que veio,
Foi passeio,
Foi passagem.
Então eu lhe pergunto pelo amor...
Ele me é franco, 
mostra um verso manco
De um caderno branco
Que já se fechou.
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo,
O que é que tem de novo
Pra deixar...
Não.
Foi tudo escrito em vão
E eu lhe peço perdão
Mas não vou lastimar..."

   Muito triste a letra, não é? Faz a gente refletir bem sobre a velhice e o que fazemos da vida para que valha a pena. É um caminhar comprometido com o bem estar e o bem viver ou simplesmente "vazio"? 

   Mas bonitas mesmo eu achei as crônicas que falam da Alegria e da tristeza, Saúde mental, Os Ipês amarelos, e principalmente a maravilhosa Ensinando a tristeza.

   Acontece que este livro chegou aos meus ouvidos através da fala de uma cliente. Na terapia ela me contou sobre a última crônica que é: Insulina Meio de Transporte, sendo ela uma pessoa portadora do Diabetes, a leitura a interessou. Eu comprei o livro e fui avidamente ler a última crônica, que gostei muito. Comecei então a ler este livro de trás para a frente, num movimento bem interessante e que se diferenciou. É sempre importante exigir do cérebro novas situações para exercitá-lo.

   Vou encerrar, mas eu quero dizer para o povo que eu quero amar... Me comprometer com o amor... Brincar bastante e rir muiiiiiiiiiiiiiiiiito!   

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A RESPONSABILIDADE PELA ESCOLHA

  
    No fim de semana assisti a um filme bem legal, Os Descendentes, de 2011, filme americano com o George Clooney. Bem, legal em termos, porque quase todo o filme está entorno do coma  ao qual se encontra a esposa do personagem de Clooney, que sofreu um acidente batendo a cabeça num barco; e lidar com a proximidade da morte não é algo que se ache agradável. Mas me refiro ao conteúdo que vai desembocando para análises mais interessantes a respeito do papel de cada um nesta vida.

   No caso da esposa, a partir de relatos, toma-se conhecimento de atos anteriores ao acidente e do quanto tais situações vão modificar a vida das pessoas que são próximas a ela.  No decorrer é traçado o seu perfil de pessoa alegre, aventureira, atrevida, que ultrapassa o convencional em diversas situações e, numa delas - a traição presenciada por uma das filhas traz a nuance definitiva do que será tratado. 

   O marido (George Clooney) é um advogado de renome, mas um relapso pai e marido, dando mais tempo ao trabalho. Têm duas filhas, uma de 10 anos e outra de dezessete que passam pelas crises próprias da idade. A mais velha por ter presenciado a cena que envolve a mãe, passa por momentos de ódio/amor, que são aliviadas a partir do momento em que conta ao pai sobre o ocorrido. É aí que ele cai na real e vai começar a pesquisar o que aconteceu que ele não prestou atenção.

   Ela, a esposa, sentia-se sozinha, abandonada num casamento que não ia bem e segundo a melhor amiga; ia pedir o divórcio por estar amando outro.

   O local do filme é paradisíaco, Havaí, principalmente quando mostra o lado mais primitivo da região, onde a praia preservada, sem a estrutura do urbano é realmente divina. Muito cobiçada por empresários atentos ao lado econômico. Os parentes do marido são donos daquela região por herança há mais de 150 anos e vêm traçando as negociações para a venda. Agora, pasmem, o tal agente de imóveis é o sujeito com quem a esposa estava tendo o caso, o que nos leva a associações sobre tal relação, o que é negado pelo sujeito.

   Bom, a família terá que se despedir da mulher, pois o coma é definitivo e ela deixara um testamento que lhe dava o direito dos aparelhos que a ligam à vida serem desligados, o que acontece no final. Seus amigos, seus pais, as filhas, o marido se despedem dela com seus monólogos. É tão triste quando se vê o pai tendo que se despedir de sua filha (a mãe tem Alzheimer). Perder um filho é algo incomensurável, indizível, e tem-se presente aquela dor.

   Quando chega a vez do marido, este já refeito da mudança em sua vida, tanto no aspecto traição, quanto como pai, emocionado, conversa com ela, posicionando-a como seu sofrimento, sua alegria, seu amor. 

   É muito triste constatar que  um ato de uma pessoa pode transformar a vida das pessoas que ama para sempre. Do quão egoístas somos ao pensarmos somente em nossos desejos, sem levar em conta as consequências que virão, apenas por meros prazeres. Eis aí um filme que traz essa clareza.

   Me fez lembrar do livro do Gustave Flaubert, Madame Bovary, onde os atos da esposa vão desvencilhando na ruína de uma família que era normal, comum. Não somente quem protagonizou o ato sofre, sofrem todos os envolvidos e todos vão pagar a cota que lhes "cabe neste latifúndio", como diz a canção.  Por isso é importante saber dosar emoção e razão, pois somos homens, mulheres, aos quais foi dado o poder de decidir. Passemos à reflexão!      

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

AH! O AMOR E SUAS DORES

   
   Já que enrolei tanto, agora estou na sede. Continuando sobre as leituras, tudo aconteceu porque fui ler o livro de Português do meu filho: Português: Contexto, Interlocução e Sentido, Maria Luiza Abaurre et all, 2008,  como já é hábito. Lendo sobre o trovadorismo, classicismo, barroco, neoclassicismo, romantismo etc, ia lendo e na menção de autores daquelas épocas, ia na estante procurar o que eu tinha. 

   Assim, retomei o barroco, no considerado criador do teatro em sua potência, em Portugal - GIL VICENTE (1465-1470 - 1536-1540 - datas aproximadas), em suas obras: Auto da Barca do Inferno (1517), Farsa de Inês Pereira (1523) e Auto da Índia (1509), Editora Parma, Série Bom Livro, 2003: nas quais o autor expressa em forma de comédias, farsas e moralidades... mas pasmem... Estas peças teatrais continuam atuais como nunca e provavelmente (e infelizmente) o seu conteúdo nunca vai morrer: corrupção; o clérigo e seus vícios (estamos vendo-os aí escancarados, veja o Blog do Pedro Porfírio -www.blogdoprofírio.com para saber mais); vícios dos homens e da sociedade, estão aí em forma de denúncia para a reflexão sempre necessária.

   Ao falar do amor, no período romântico, os autores citam uma poesia de Pablo Neruda (pág. 65), em fragmentos:


"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
[...]

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei, e às vezes ela também me amou.

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
[...]

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
[...]

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
[...]

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame.
É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo."

(Neruda, Pablo, Antologia Poética. Tradução de Eliane Zagury, 19 ed., RJ, José Olímpio,2004 - p. 57 a 59)

   Como pode uma pessoa falar tão bonito sobre o amor e em metáforas tão deliciosas??? É dos deuses mesmo!   

BENDITO TIO AMADO

   
Finalmente saí do meu sumiço. Estava tão atarefada com as confusões do fim de ano e ano novo que fiquei sem pique. Precisei de um descanso, ficar no marasmo. Não é que o carnaval me deixe assim, apesar de geralmente detestar por os pés para fora de casa nessa época. Como desde pequena a minha mãe nos levava (toda a família) para curtir os rios e as roças de Barão de Cocais, em Minas Gerais (e eu a agradeço por isso!); o carnaval não me traz nenhuma necessidade.  

   Aproveitei de verdade colocando leituras em dia: li José Paulo Paes, Olavo Bilac e Gil Vicente. Foi muito legal reler Olavo Bilac. Ganhei o livro do meu Tio Amado em 1970... É isso mesmo, este era o seu nome. Ele, apesar de levar uma vida de dificuldades, enviava para os seus sobrinhos muitos livros... clássicos. Considerava (mesmo na sua simplicidade de tocador de acordeon) que a leitura era o caminho do conhecimento. Fazia parte da filosofia/religião Seicho-no-iê e foi para São Paulo ainda moço. Sempre carimbava nos livros que enviava o seguinte: "VISITE PORTO NACIONAL, CIDADE CENTENÁRIA DAS BOAS AMIZADES. (GENTILEZA) MOURA MARTINS - VETERANO DE GOIÁS - ". Naqueles anos, Porto Nacional era Goiás, hoje faz parte do estado de TOCANTINS. Grande tio amado, por me ensinar a gostar de ler, minha paixão!

   Eis dois dos sonetos de OLAVO BILAC (1865-1918), Poesia, 4ª edição, 1970, págs. 93 e 94 que me fascinaram:
" FOGO FÁTUO

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espírito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De ideias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista;

Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança
Para querer o que não há na vida!"

"MILAGRE

Depois de tantos anos, frente a frente,
Um encontro... O fantasma do meu sonho!
E, de cabelos brancos, mudamente,
Quedamos frios, num olhar tristonho.

Velhos!... Mas, quando, ansioso, de repente,
Nas suas mãos as minhas palmas ponho,
Ressurge a nossa primavera ardente,
Na terra em bençãos, sob um sol risonho:

Felizes, num prestígio estremecemos;
Deliramos, na luz que nos invade
Dos redivivos êxtases supremos;

E fulgimos, volvendo à mocidade,
Aureolados dos beijos que tivemos,
No divino milagre da saudade."

   Eis aí os motivos pelos quais  fiquei fascinada, a visão do amor, dos sonhos, mesmo com cabelos brancos... Simbolizando que a todos é permitido... Não importa a idade! Continuar a ter sonhos e a amar!

   Olavo Bilac não se casou. Ficou noivo da irmã de seu amigo, mas a família dela não deixou que a relação fosse avante, devido ele não ter futuro (sic). Eis que criou para nós a musa inspiradora que nos enaltece a alma quando lemos. Bendito tio amado!