segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

BENDITO TIO AMADO

   
Finalmente saí do meu sumiço. Estava tão atarefada com as confusões do fim de ano e ano novo que fiquei sem pique. Precisei de um descanso, ficar no marasmo. Não é que o carnaval me deixe assim, apesar de geralmente detestar por os pés para fora de casa nessa época. Como desde pequena a minha mãe nos levava (toda a família) para curtir os rios e as roças de Barão de Cocais, em Minas Gerais (e eu a agradeço por isso!); o carnaval não me traz nenhuma necessidade.  

   Aproveitei de verdade colocando leituras em dia: li José Paulo Paes, Olavo Bilac e Gil Vicente. Foi muito legal reler Olavo Bilac. Ganhei o livro do meu Tio Amado em 1970... É isso mesmo, este era o seu nome. Ele, apesar de levar uma vida de dificuldades, enviava para os seus sobrinhos muitos livros... clássicos. Considerava (mesmo na sua simplicidade de tocador de acordeon) que a leitura era o caminho do conhecimento. Fazia parte da filosofia/religião Seicho-no-iê e foi para São Paulo ainda moço. Sempre carimbava nos livros que enviava o seguinte: "VISITE PORTO NACIONAL, CIDADE CENTENÁRIA DAS BOAS AMIZADES. (GENTILEZA) MOURA MARTINS - VETERANO DE GOIÁS - ". Naqueles anos, Porto Nacional era Goiás, hoje faz parte do estado de TOCANTINS. Grande tio amado, por me ensinar a gostar de ler, minha paixão!

   Eis dois dos sonetos de OLAVO BILAC (1865-1918), Poesia, 4ª edição, 1970, págs. 93 e 94 que me fascinaram:
" FOGO FÁTUO

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espírito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De ideias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista;

Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança
Para querer o que não há na vida!"

"MILAGRE

Depois de tantos anos, frente a frente,
Um encontro... O fantasma do meu sonho!
E, de cabelos brancos, mudamente,
Quedamos frios, num olhar tristonho.

Velhos!... Mas, quando, ansioso, de repente,
Nas suas mãos as minhas palmas ponho,
Ressurge a nossa primavera ardente,
Na terra em bençãos, sob um sol risonho:

Felizes, num prestígio estremecemos;
Deliramos, na luz que nos invade
Dos redivivos êxtases supremos;

E fulgimos, volvendo à mocidade,
Aureolados dos beijos que tivemos,
No divino milagre da saudade."

   Eis aí os motivos pelos quais  fiquei fascinada, a visão do amor, dos sonhos, mesmo com cabelos brancos... Simbolizando que a todos é permitido... Não importa a idade! Continuar a ter sonhos e a amar!

   Olavo Bilac não se casou. Ficou noivo da irmã de seu amigo, mas a família dela não deixou que a relação fosse avante, devido ele não ter futuro (sic). Eis que criou para nós a musa inspiradora que nos enaltece a alma quando lemos. Bendito tio amado!


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