segunda-feira, 2 de setembro de 2013

OLHAR E GOSTAR!

   

   Hoje a tarde comecei a assistir um filme enquanto almoçava. E eis que me deparo com o também apaixonante Richard Gere, com sua cabeleira já totalmente branca (provavelmente o personagem o pedia). Ele, tal qual o Morgan Freemam, parece estar aceitando os vincos que vão aparecendo com o envelhecimento. As rugas já se fazem presentes, e com o efeito da maquiagem parecem bem discretas, mas o danado continua lindo, né!

   Bom, tem dias que me olho no espelho e gosto de mim, gosto do que vejo, me tranquilizo com a figura da mulher que parece me sorrir. Um sorriso que quer me dizer para eu não ficar assustada; que é tudo verdade, que você está à beira dos sessenta.

   A imagem me parece bem real, com os vincos próprios da idade (apesar do esforço diário de cremes anti-rugas, que no fundo apenas são paliativos para minorar as perdas diárias do viço). As rugas que vejo hoje não estão tão marcadas, parecem suaves, nada exagerado nos traços que aparecem durante o breve sorriso.

   Não é o caso de outros dias, quando me pego observando a figura no espelho e vendo como está envelhecida, com um ar apagado, desenergizada, sem cor e realce. Os traços carregados e marcados, a figura estática e sem expressão. Nada de sorrisos, apenas a constatação de que ando me parecendo com a minha mãe da velhice.

   Por que será que a minha mãe na sua velhice me transmite esse perfil? Provavelmente reflexo de sua história de vida, onde no final vai sendo marcada pela dor que sempre se apresenta a todos os mortais. O brilho do olhar apagado e olha para a frente como quem necessita cumprir a jornada obrigatória sem grandes alardes. A energia torna-se fugidia, e, às vezes, necessita de forças desconhecidas para parecer normal, fazer as obrigações, dar conta do recado nas metas que lhe são cobradas. Heroicamente se levanta, enfrenta o batente, na presença de todos os seus medos e suas lembranças que acoçam-lhe incessantemente, saudades de algo que não existe mais.

   Deixa eu voltar e aterrizar. Devo estar mais leve e tranquila hoje e em outros dias me achar medonha. Deixo constatado que não é do mesmo jeito sempre. Têm dias que é ótimo, têm dias que é muito bom e têm dias bastante destemperados também, como acontece com todo mundo.

   Gosto mesmo é quando me olho e me gosto! 

   Por sinal me lembrei de passagens do livro que ando lendo Palavra por Palavra, onde a escritora Anne Lamott nos dá instruções sobre escrever e viver, escrito em 1994, mas a edição é de 2011, da Sextante, na Língua Portuguesa:


"Acho que é assim que deveríamos viver no mundo - presentes e perplexos... Qualquer pessoa que desejar pode ser surpreendida pela beleza ou pela dor do mundo natural, da mente e do coração dos homens, e pode tentar capturar simplesmente isto: os detalhes, as nuances, a essência. Se começar a olhar a sua volta , passará a ver." pág 106/107

" Às vezes fico com pena de mim mesmo. Enquanto isso, estou sendo carregado por grandes ventos céu afora."  Citando palavras ditas por um sioux (índio americano)pág 129

"Acordo. Ando. Caio. Enquanto isso, continuo dançando." Citando Hillel, pág 131

   Deve ser isso, tanto minha mãe, quanto eu, ou quem quer que seja, deve estar sendo carregado por grandes ventos céu afora e é preciso prestar atenção na vida e dançar!  

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