segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

CONSTRUÇÃO DE SI MESMO POR SI MESMO


   Que sumiço me deu, hein? Rumei para outros ares... teares. É verdade, rumei para Floripa, a respirar a umidade do ar vindo do mar, que anda me resvalando desejos de paz, contemplação, calma aconchegante. Estava em outros escreveres pelo mundo, o do olhar.

   Voltei. A exuberância local de Floripa (nome carinhoso que se dá à cidade de Florianópolis/Santa Catarina) me toca fundo e restaura o fio condutor da vida que quero levar: dar tempo ao descanso em consonância com a vista sempre desnuda do amplo mar a descoberto em todo lado que se olhe; ao trabalho revigorado pela energização em ondas que não cessam de cantarolar em meus ouvidos; ao aconchegante estar com a família; ao contato com a natureza em seus primitivos fazeres. Ai... Quero morar em Floripa!

   Eu estou apaixonada com a cidade. Aqui estou eu a pensar projetos de vida. É tão bom ter projetos, né? É isso que move a gente à transformação. Lembrei que li um trecho no livro da filosofa Simone Weil, Opressão e Liberdade, que me fez pensar muito sobre os projetos. O trecho é um pouco longo, mas creio ser elucidador para aqueles que se interessem pela busca da mudança na vida. Eis, pág.111:

" ... O homem teria, então, em mãos sua própria sorte; ele forjaria a cada momento as condições de sua existência por um ato do pensamento. O simples desejo, é verdade, não o levaria a nada; ele não receberia nada gratuitamente; e mesmo as possibilidades de esforço eficaz seriam para ele estreitamente limitadas. Mas o próprio fato de nada poder obter sem ter posto em ação, para conquistá-lo, todas as potencialidades do pensamento e do corpo permitiria ao homem escapar para sempre da influência cega das paixões. (grifo nosso). Só uma visão clara do possível e do impossível, do fácil e do difícil, das dificuldades que separam o projeto da realização eficaz apaga os desejos insaciáveis e os temores vãos; daí e não de qualquer outro lugar procedem a temperança e a coragem, virtudes  sem as quais a vida não passa de um delírio vergonhoso... Nada se pode conceber de maior para o homem do que uma sorte que o confronte diretamente com a necessidade pura, sem que ele nada tenha a esperar senão a si mesmo, e tal que sua vida seja uma perpétua criação de si mesmo por si mesmo...

   Ela escreveu o texto em 1930 e permanece atual a questão da existência do homem e da mulher, onde cada um só pode contar consigo mesmo para desenvolver-se integralmente.

   Eu... continuo querendo morar em Floripa... 

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