INUSITADO
30/10/2018
― Oi, sou Lisboa, vizinho de cima. Vim
dar uma olhada na infiltração vinda do meu apartamento.
Quando viu o coroa que ainda não
conhecia, mas sabia ser viúvo, os olhos de Vera vidraram.
― Ah, pois não, entre.
Os dois ficaram cheios de dedos. Lisboa
providenciou o conserto e encontrou desculpa para visitar Vera e verificar
visualmente se o conserto valeu. Vera sentia a fabulosa palavrinha mágica
conhecida das mulheres se achegando e, amordaçada
e sedutora se insinuava a Lisboa.
Lisboa passou a lançar agrados na
varanda de Vera. Amarrava, ora pacotinho de amêndoas queimadas num fio de linha,
ora outros agrados, que se tornaram constantes: Balas, bombons, quitutes
embalados com afeto, Maria mole, chocolate ao leite... Às vezes equivocava-se e
errava a janela de Rapunzel. O presentinho espatifava na área do
estacionamento. Passaram dias, semanas, meses.
Coincidentemente, Vera se tornou amiga
da filha de Lisboa. Afinidade foi além e ambas apaixonadas pelo candidato que
pregava o amor, a esperança, a unidade, assistiam ao resultado das
urnas.
― Me conta como conheceu meu pai? A
filha perguntou Vera que saboreava a segunda cervejinha, já na fala mansa.
― Quando apareceu a primeira vez, fiquei
boquiaberta e me interessei. Imaginei, uau! Coroa desimpedido.
― Não sabia que tem namorada?
― Pois é, ele não comentou.
Celular toca.
― Meu pai me enviando figurinhas do
candidato dele. Filha e pai passam a se provocar via whats.
― Achei que seu pai era homem
esclarecido, me enganei.
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