segunda-feira, 12 de agosto de 2013

PENSAMENTOS AZUIS

  

    Sei que ando meio sumida, mas anda faltando inspiração, além do que eu não sabia que estudar violão tomasse tanto tempo da gente. É que para conseguir pequenos progressos necessita-se de muitas horas de estudo. E mesmo assim custa-se a ver evolução. 

   Mas, mudando de assunto, estes dias fiquei conversando com um amigo que se casou há dois anos e ficamos a filosofar sobre a difícil e longa trajetória para que a relação se encaminhe para um relacionamento profundo, onde os dois saibam viver sua vida individual e em casal, pois são coisas bem diferentes. Quantas pessoas se anulam como indivíduos e se dedicam quase que exclusivamente ao outro. Com certeza vai chegar o tempo em que verá que se subtraiu de outras situações de vida a que tinha direito, sem que isso ameaçasse a relação, pelo contrário, só iria enriquecê-la. 

   Às vezes, durante o amadurecimento da relação, deixamos de lado a nossa opinião e passamos a transmitir a opinião do outro. Isso acontece muito com nós, mulheres, numa postura mais submissa e estreita. Eles se vangloriam disso até certo ponto; mas quando se submete em excesso, a mulher perde o glamour do "surpreender o outro" com sua característica única de ser dona da própria vida. O homem gosta de autonomia, aqueles que não se dão conta disso, não querem uma mulher, querem outra coisa, com diversos sinônimos: secretária, dona de casa, lavadeira, passadeira, tantos eiras que muitas já estão acostumadas.

   O importante de uma relação é a construção diária, árdua na verdade, pois não se vive só de amor, mas de convivência com um outro que é diferente de nós. Onde pensamos que ele pensa que pensamos que ele pensa... Muitos jogos até que se encontre o diálogo verdadeiro e que valha a pena. É assunto por demais complexo, hein!

   Vou para outro mais ameno agora. Terminei o Livro Shakespeare and Company, que iniciei a algum tempo e não encontrava tempo para encerrar. Mas adorei saber das "fofocas" sobre os diversos escritores dos anos 20 que andavam por Paris e na livraria de Sílvia Beach (que existiu até 1941).

   Suas descrições são gostosas, num modelo autobiográfico que me agradou e fala do prazer da boa literatura e da convivência com escritores que antes do sucesso, "comeram o pão que o diabo amassou". Hemingway, James Joyce, Paul Valéry, André Gide etc, em descrições tão pessoais e onde se percebe as dificuldades e alegrias de um grupo que se embebia com as palavras e sons, onde a genialidade e o constante e necessário prazer criativo estavam presentes. 

   Interessante foi a relação dela, como editora, de James Joyce, descrito por ela com bastante carinho e deixando claro que ele era um sujeito excepcional  ao lidar com o outro. Sempre atento a tudo que ouvia e a todos considerava seus iguais. Tinha olhos de um azul profundo, mãos que chamavam a atenção, com grandes anéis com pedra nos dedos médios e anular da mão esquerda. Ele dava a impressão de sensibilidade que superava qualquer pessoa que ela já conhecera. 

   Sílvia Beach ficava encantada com a bela voz de Joyce, que era um excelente tenor, com dicção excepcionalmente clara, ela o disse. Ao se expressar, ele o fazia em termos bem simples, mas com grande cuidado com as palavras e os sons. Falava e entendia nove idiomas e antes do sucesso, dava aulas de inglês para sobrevivência sua e de sua família (esposa e dois filhos). Conta também da peripécia de produzir o livro do escritor, Ulisses, que teve sua obra proibida em muitos países de língua inglesa.

   Triste é a sua descrição sobre o problema que ele tinha desde criança: a deficiência na visão, no final já bem difícil; tanto que ela orienta quem vá ler o livro  Finnegans Wake, de James Joyce, que deva ser ouvido, pois nesta época Joyce já estava bem mais atento aos sons, devido a precariedade visual. Na página 60 ela diz: "Fiquei imaginando quando Joyce encontrava tempo para escrever. A noite... O esforço já estava começando a se fazer sentir  sobre os olhos... onde se converteram num grave glaucoma. Foi a primeira vez que ele ouviu falar nessa doença, com seu belo nome. "Os olhos cinzentos de coruja de Atena", suspirou." (Na referência traz a palavra glaukos, do grego, cinza).

   Os relatos do período das grandes guerras trazem grande desespero a todos que viviam na Europa. Enfim, uma mulher dedicada a arte literária, com felling e que chegou a ser chamada por um deles de "Bluestocking: termo usado para designar uma mulher que se envolve em reuniões ou debates literários. Segundo Samuel Johnson, a palavra deriva das meias azuis de uma certa senhora stillingfleet, participante ativa dos colóquios intelectuais do século XIX."

Meu início de semana será bem melhor com remanescências da leitura a povoar meus pensamentos. 

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