quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MADAME BOVARY SOB O MEU PONTO DE VISTA


Enquanto Ema Bovary vivia fantasias de amor pelo interessado rapaz, eu vivia também o suspense que aquela situação estava causando em mim, que me perdoe Gustave Flaubert, mas eu tinha que fazer alguma coisa. De certa forma, me agradava as sensações que Ema vivenciava; nada de rotineiro, nada de doses corretas daquele casamento morno, apenas sonhos de ser feliz para sempre com o tal do príncipe encantado, que por simples capricho da natureza feminina ainda não encontrado em seu marido, médico dedicado e envolvido com a comunidade.

O que fazer com os sentimentos pitorescamente românticos que surgem na mulher em sua carência afetiva. Romantismo este advindo de sua vivência ingênua, somente limitada a casa, àquele mundo de quatro paredes em pleno século XIX. Também culpa de um tempo em que o homem de senso prático, pouco atentava pela necessidade da mulher de ser reconhecida como sujeito que deseja ardentemente ser amado, desejado, ser inteiramente mulher.

Claro que o lapso do capricho da natureza feminina deva ser explicitado. A mulher desde tempos remotos se coloca como aquela que se submete às autoridades do masculino e devido à fragilidade de seu corpo frente aos perigos vê a proteção como um compromisso do provedor... que ainda costuma puxá-la pelos cabelos.

Mas como interferir nos sentimentos que Ema vem vivenciando, todos de uma característica nunca antes imaginada em relação ao seu casamento? Será o proibido capaz de dar-lhe tais dimensões? Ou é apenas o ímpeto feminino querendo aflorar sua libido massacrada desde tempos antigos?

Onde está o marido que nem se apercebe de sua presença, intensamente feminina e de índole docemente romântica. Enquanto isso, eu vejo Ema vivenciar suas fantasias sem capacidade de pensar o lado racional das coisas. E claro, com a escolha feita de modo egoísta, sem a clareza de como aquela situação interferirá em seu ambiente familiar.

A cada encontro novos lances de sensações indescritíveis, movimentos que interligam mente e corpo numa amplitude capaz de cegá-la à comum realidade. Prazeres desejados e vivenciados e reconhecidos apenas naqueles instantes. Como simples presentes, dados de modo interesseiro pelo galanteador, são capazes de tirar-lhe o senso necessário? Como suas carências não reconhecem as regras a que está sujeita?

Eis que chega a resposta de um prazer vivenciado em apenas um dos lados – o emocional. Encontra-se angustiada, o prazer e o desejo inconsequentes dos primeiros tempos transformam-se agora em tragédia familiar. O marido descobre a aventura amorosa e num momento de fraqueza, suicida-se. Eis agora a mulher e a filha sozinhas sem nenhum responsável pelo sustento. Ela agoniza já consciente de seus atos mesquinhos e provocativos e a dimensão que tomaram. Definha até a morte e deixa a filha sozinha, responsável por uma conta que não era dela, sujeitada à pobreza e necessidades.


Mas o que eu poderia fazer? Ema viveu o que teve que viver. Flaubert estava querendo nos dizer algo e conseguiu: nenhum prazer vale a pena se existe um outro a quem magoamos. O prazer fundamental é o do conhecimento de si mesmo (a), onde as escolhas são feitas de modo racional e emocional em harmonia, em condições de equilíbrio, pois experimentar isso significa maturidade e nesses casos; o prazer e a emoção são compensadores por estarem livres de agonia e tragédia.

LIVRO: MADAME BOVARY - Flaubert, Gustave 

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