segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

a luz deve brilhar a todos (CENA 43)

 

16/02/2021

            A convivência com aquele homem modificara rotina de Luiza. Tem agora um amigo. Osvaldo trazia dúvidas e contradições em seu pensamento sem vislumbre profundo do amanhã. Sentada, com pés descansando no murinho da sacada relembrara velhos tempos.

 

Luiza e Fábio curtiam a natureza verdejante abaixo da grande árvore de frutos em aspecto rosáceo-avermelhado. Apaixonados, esquecidos dos compromissos e do que a sociedade esperava de cada um. Cada um de origem diferente e naquele momento em irmandade do amor. Afinal a luz deve brilhar a todos.

Ao longe apreciavam a paisagem digna de quadro divino. As montanhas cobertas em tonalidade de pincel nos verdes caminhados entre pálido e amarelo. O céu claro com leves nuvens desenhavam estradas suaves e se imaginavam naquele local livre de preconceito. A Amazônia em sua exuberância aos caprichos da paixão.

Ela vinda de indígenas ianomâmis, ao sol lançado entre folhas trazia luz à sua pele dourada. Ele cara pálida comum boquiaberto com a beleza de mulher que conhecera no local de trabalho. Uma menina-mulher, a bem da verdade. Mas o que havia nela para transformar o dia a dia ele se perguntava. A vida dá sempre chance pra gente fazer o que quer. Queria estar com ela. Ambos em sintonia com a agreste beleza e aos poucos encontrando-se um ao outro. O desejo caminhava devagar e ela sentia o medo aparecer aos toques da mão carinhosa do namorado mesclado ao interesse de conhecer a fonte incandescente. Tinham sede. Eram jovens descobridores.

A tentação surgia e permitiam-se o estado original. Tentar tantas vezes o lema humano transpassava corpos livres. Bebiam de fonte natural.

 

Enquanto isso Osvaldo levara o vasilhame calmamente. Respirava sem sofreguidão e pudera, me esqueci de fumar tantas vezes como de hábito, até nisso Luiza me ampara. A mulher fazia a vida ganhar cores as quais pensara desaparecidas de seu cotidiano. Uma amiga nesse vale longínquo vale. Não sei por que estranhar amizade entre mulher e homem. Por que será dúvida para ela?

Cuidava da lavação da louça e viajava na água jorrando.

 

Cândida levara Osvaldo a conhecer praias da ilha, a Joaquina, Mole, Galheta, Moçambique, Daniela, Campeche, Canasvieiras, Jurerê, Ingleses e tantas outras. Os banhos ao sabor das ondas jorravam e os dois riam feito criança.

Osvaldo fascinado com a namorada. Sua perfeição acima de discussão. Na realidade respeitava-a como é. O período de bulling lhe ensinara tanta coisa. E o caráter da moça impecável. Ela sofrida do tratamento agressivo do câncer e nem assim perdera a redondeza das formas.  Os dois se pareciam e se gostavam. Era incondicional a admiração de um e de outro. A paixão elevou o afeto. Casaram-se e a fase de dor passou para ambos.

Tem razão o que se diz de tentação. A permissão de tentar tantas vezes transpassa corpos livres. Jorrava água de fonte natural.

 

Assustou-se com chegada repentina de Luiza dizendo:

― Valdo, fiquei acostumada à paz, mas a obrigação me chama. Tenho de ajeitar casa e trabalhar amanhã. Está de pé nosso encontro on line na data natalina, não é?

Osvaldo fechou a torneira. Limpou as mãos, virou para Luiza e meneou a cabeça. Ela com pertences pendurados ao ombro enviou beijo entre máscara e saiu. Ele acompanhou a saída e voltou ao enxague da louça. Após apanhou cafezinho, o cigarro e se dirigiu à varanda. Vamos ver o que nos revelará 2021, disse com rosto questionador.

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