16/02/2021
A convivência
com aquele homem modificara rotina de Luiza. Tem agora um amigo. Osvaldo trazia
dúvidas e contradições em seu pensamento sem vislumbre profundo do amanhã. Sentada,
com pés descansando no murinho da sacada relembrara velhos tempos.
Luiza e Fábio curtiam a natureza verdejante abaixo da
grande árvore de frutos em aspecto rosáceo-avermelhado. Apaixonados, esquecidos
dos compromissos e do que a sociedade esperava de cada um. Cada um de origem
diferente e naquele momento em irmandade do amor. Afinal a luz deve brilhar a
todos.
Ao longe apreciavam a paisagem digna de quadro divino. As
montanhas cobertas em tonalidade de pincel nos verdes caminhados entre pálido e
amarelo. O céu claro com leves nuvens desenhavam estradas suaves e se
imaginavam naquele local livre de preconceito. A Amazônia em sua exuberância
aos caprichos da paixão.
Ela vinda de indígenas ianomâmis, ao sol lançado entre
folhas trazia luz à sua pele dourada. Ele cara pálida comum boquiaberto com a beleza
de mulher que conhecera no local de trabalho. Uma menina-mulher, a bem da
verdade. Mas o que havia nela para transformar o dia a dia ele se perguntava. A
vida dá sempre chance pra gente fazer o que quer. Queria estar com ela. Ambos em
sintonia com a agreste beleza e aos poucos encontrando-se um ao outro. O desejo caminhava
devagar e ela sentia o medo aparecer aos toques da mão carinhosa do namorado
mesclado ao interesse de conhecer a fonte incandescente. Tinham sede. Eram
jovens descobridores.
A tentação surgia e permitiam-se o estado original.
Tentar tantas vezes o lema humano transpassava corpos livres. Bebiam de fonte natural.
Enquanto isso Osvaldo levara o vasilhame calmamente.
Respirava sem sofreguidão e pudera, me esqueci de fumar tantas vezes como de
hábito, até nisso Luiza me ampara. A mulher fazia a vida ganhar cores as quais pensara
desaparecidas de seu cotidiano. Uma amiga nesse vale longínquo vale. Não sei
por que estranhar amizade entre mulher e homem. Por que será dúvida para ela?
Cuidava da lavação da louça e viajava na água jorrando.
Cândida levara Osvaldo a conhecer praias da ilha, a
Joaquina, Mole, Galheta, Moçambique, Daniela, Campeche, Canasvieiras, Jurerê,
Ingleses e tantas outras. Os banhos ao sabor das ondas jorravam e os dois riam
feito criança.
Osvaldo fascinado com a namorada. Sua perfeição acima de discussão. Na realidade respeitava-a como é. O período de bulling lhe ensinara tanta coisa. E o
caráter da moça impecável. Ela sofrida do tratamento agressivo do câncer e nem
assim perdera a redondeza das formas. Os
dois se pareciam e se gostavam. Era incondicional a admiração de um e de outro.
A paixão elevou o afeto. Casaram-se e a fase de dor passou para ambos.
Tem razão o que se diz de tentação. A permissão de tentar
tantas vezes transpassa corpos livres. Jorrava água de fonte natural.
Assustou-se com chegada repentina de Luiza dizendo:
― Valdo, fiquei acostumada à paz, mas a obrigação me
chama. Tenho de ajeitar casa e trabalhar amanhã. Está de pé nosso
encontro on line na data natalina, não
é?
Osvaldo fechou a torneira. Limpou as mãos, virou para
Luiza e meneou a cabeça. Ela com pertences pendurados ao ombro enviou beijo
entre máscara e saiu. Ele acompanhou a saída e voltou ao enxague da louça. Após
apanhou cafezinho, o cigarro e se dirigiu à varanda. Vamos ver o que nos
revelará 2021, disse com rosto questionador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário