quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

IDADE DE SENHORA III

IDADE DE SENHORA III 
15/01/2019

   Retornei ao ortopedista, desta vez o marido acompanhou até a sala de consulta. O médico, cuidadoso, fez um apanhado dos dados e disse:

   ― Ah, estou vendo aqui a sua data de nascimento, 1966.

   ― Engano seu, é 1956.

   ― Todos os meus pacientes ganham de brinde dez anos a partir do momento que entram por esta porta.

   ― Cada vez que venho aqui, eu me surpreendo!

   ― Isso é um estímulo aos que buscam o cuidado e a prevenção, algo muito importante para preservar os ... trinta e sete anos, não é?

   ― Daqui a pouco será.

   ― Então vamos cuidar para que chegue bem.

   ― O corpo fala e a gente procura ajuda, não é, doutor?

   ― Não podemos esperar o corpo falar, pode ser tarde demais. Precisamos agir antes que ele nos diga qualquer coisa. ― E seguiu na análise dos exames.

   ― Vamos ver aqui: realmente um dos discos quebrou. Não tem mais jeito. Demorou em buscar ajuda, e mais o tempo com exames e retorno, lá se vão mais de quatro meses, o que tinha de acontecer, já aconteceu, nada se pode fazer. Quando um disco da coluna vertebral se quebra é semelhante ao que acontece quando a gente amassa um tomate: o tomate pode amassar bastante, mas não respingar. Ou pode ser que o tomate amasse até o final, e espalhe resíduo para todo lado. No seu caso, o tomate amassou, mas não esparramou. Complicado seria se o trauma esmigalhasse pedacinhos de ossos e atingisse a medula espinhal.

   ― Então posso começar com exercício físico? Terei sessões de fisioterapia? Pode musculação?

   ― Calma, calma. Vamos devagar. A senhora não pode fazer nada que sinta dores. Fazer exercício físico e sentir dor, é ruim. Fazer um exercício que gosta e sentir dor, é ruim também. Fazer um exercício que é bom, mas não gosta, e sentir dor, também é ruim. Enfim, tudo que faça sentir dor, é ruim. E deve ser evitado. Os exercícios têm que ser feitos com cautela. Comece devagar até as dores passarem e depois com exercícios que exijam um pouco mais. Pilates é o indicado.

   ― Então vai prescrever fisio?

   ― Precisará do pedido para iniciar as sessões. Mesmo eu prescrevendo aqui o que tem de ser feito, saiba que um fisioterapeuta vai querer mudar e fazer diferente. É uma situação comum de acontecer.

   ― Depois poderei fazer musculação?

   ― Estou preocupado com o que diz aqui, ― leu o diagnóstico ― olhe... a senhora está com hipotrofia da musculatura. Isso é muito preocupante, já que os músculos são o que sustentam a coluna. Se estão flácidos, isso é um dos dificultadores. Se quer fazer musculação, exercícios para as coxas, panturrilhas, e braços até pode, mas não pode levantar peso de forma alguma. O sinal sempre deve ser: sentiu dor, não pode. Prefira o pilates, no andar da carruagem, é o melhor.

   ― E alongamento?

   ― O sinal é: sentiu dor, para. Tanto a senhora, quanto o marido têm de estar bem. A senhora deve se cuidar, para cuidar dele. Ele precisa se cuidar, para cuidar da senhora. Os dois se cuidando, poderão cuidar um do outro com qualidade de vida. 
   
   Continuou:

   ― Vou pedir exames para acompanharmos o cálcio, vitamina D etc. Está comprovado, a falta de vitamina D pode causar diversos problemas... e especificou todos. É muito importante acompanhar no período entre a primavera e o outono. Quando chegar o inverno vai estar com reservas. 

   E finalizou:

   Creio que devemos nos acautelar para evitar osteoporose. Muito pior quando se descobre após um tombo. Até mais, e nada de ficar sentada muito tempo, deitada muito tempo, deitar de bruços e de barriga para cima está proibido. O cuidado começa desde agora para curtir os trinta e sete. E o senhor quantos anos têm?

   ― Trinta e três. ― disse o marido.   

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