Josué
colocou a furreca para fora, levou os apetrechos para limpeza. Olhou o céu e
estranhou o anil de maio, o tempo ameno. Uma esguichada rápida com a mangueira
e ensaboou a lataria do fusquinha, os pneus, a parte interna. Ao finalizar,
enxaguou o carro, e a água escorrida formou pequena poça, da qual passarinhos
vinham beber. Depois alguns batiam asas e remexiam patinhas aproveitando o banho
e a cada minuto chegava mais outro, outro, outro, eram tantos
passarinhos que Josué estranhou, de onde estarão vindo? Nunca tinha visto algo
assim.
Quando
novamente volveu o olhar para apreciar a cena, os passarinhos já não estavam em
prazerosa euforia, alguns agonizavam e outros desfalecidos à beira. Mais
passarinhos vinham e pareciam exaustos. Josué gritou Toninho,
e Lurdinha veio junto. Toninho, preocupado com o que presenciava, tomava cada
um em sua mão e ficou sem entender.
Foram
pedir auxílio aos vizinhos, mas fechavam a porta quando se aproximavam e se
enclausuraram dentro de casa, se afastando do problema, enquanto eles,
sufocados, viam os animaizinhos indefesos necessitando cuidado. Toninho ligou
para um amigo que o orientou, os animais estavam doentes e deveriam ficar em
gaiola separada, e alguma distância. O médico avisou que pesquisaria os manuais para tentar descobrir o que enfraquecia os bichinhos.
Toninho
e Lurdinha correram para comprar gaiola. E colocaram cada um em uma, mas eram
tantos, tantos passarinhos, que Lurdinha ficou baratinada, vendo muitos morrerem à periferia, à margem da poça antes de socorridos. Josué largou o que fazia e aflito ajudou o filho e a nora, trançavam de fora para dentro do terreno, com agilidade, trazendo os que viviam. Mas quanto mais passarinhos acudiam, mais apareciam em desfalecimento. As gaiolas insuficientes, teriam de adquirir mais. Onde colocar em tão pouco espaço?
Josué ficou ansioso e com dificuldade de respirar ao ver tamanha confusão, e ao virar o corpo na cama, percebeu a narina
bloqueada.
―
Pior foi ver as portas dos vizinhos se fechando. A gente não
acreditava. É difícil eu lembrar sonho, costumo dormir profundamente, mas
esse...
― Pesadelo, Josué! ― Disse Bia, que escutava à mesa do café da manhã. ― Pesadelo, pandemia, pandemônio, assim estamos vivendo. Para onde vão os sonhos?
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