sexta-feira, 5 de outubro de 2018

CASAMENTO X POLÍTICA (gem)


CASAMENTO X POLÍTICA (gem)
03/10/2018
           Eu quero lhe falar o que vem acontecendo aqui em casa nestes últimos tempos, às portas das eleições e, nada melhor que a velha carta.
Lembra quando você falou que seria legal ter foto da turma com os dizeres “Ele não”?  E caçoei, é bom pedir autorização a cada um, vai que...
            Creio que o feitiço virou para meu lado.
João, de tempos para cá fala o que tem vontade, não guarda mais nada dentro de si, e a um comentário foi logo dizendo, não vejo problema a pessoa se manifestar. Perguntei se era impressão minha ou ele estava a favor de Bolsonaro. Desconversou. Eu disse, se votar nele o casamento acabou. Escutou (será?).
No sábado da grande passeata das “MULHERES CONTRA BOLSONARO” fui contribuir com voz feminista contra qualquer tipo de opressão e retirada de direitos. Lá estava a formiguinha na multidão, “Ele não”, “Nenhum direito a menos”, “Ele nunca”. Durante mais de três horas, mulheres, homens, crianças, bebês e seus pais, avós etc infernizando o apático tom da cidade, caminhando avenidas e ruas estratégicas do centro. Não se via início e fim da massa humana.
Quando chegamos na área hospitalar, o comando de “psiu” em efeito dominó foi se alastrando continuamente. Silêncio. Sentimento de humanidade, solidariedade, respeito, convivência, contribuição, simbolismo e a certeza de estar num lugar melhor. Emoção se propagando. 
Em seguida, ouvi o comentário “o cheiro da burguesia fede”. A juventude no jargão revolucionário, e já voltando ao mantra Ele não.
A imagem surpreendia, pessoas filmando, fazendo selfies para jogar na rede social. Estranhei jornais televisivos não veicularem notícias. A televisão é mídia ultrapassada não é mesmo? A rede deu cobertura ao protagonismo das mulheres.
À noite não é que descubro João compartilhando notícias de Bolsonaro. Foi o estopim: “Avista-se o grito da arara”.
João, que isso no celular? 
Ele desconcertado disse: Você está bisbilhotando?
Foi sem querer, mas li a mensagem.
Ficamos soltando rusgas. Não consegui ficar quieta. Eu ia da sala à cozinha, ansiosa. 
E você, compartilhando as do PT, ele revidou.
Voltei à sala. Quem disse? Entra lá e veja. Gosto de discutir política e não ficar replicando figurinha.
Voltei à cozinha.
Lembrei de dizer mais e voltei voando.
Que vergonha dos amigos vendo essas postagens.
(cozinha) Escutei ele dizer, nem ligo. 
         (sala) Com raiva, mandei João embora de casa.
(cozinha) Ouvi João, sai você!
Minutos depois, uma amiga pelo whats sobre Bolsonaro. Escrevi, você é apenas amiga e pouco importa em quem você vota. Triste é descobrir o marido compartilhando. “Eita”, foi a resposta. 
O desabafo não bastou, queixei a outra amiga, e ela, pena João ter essa atitude, faz greve de sexo. Eu mal aguentava olhar e conversar com ele.
No outro dia ele postou no Face nova figurinha. No whats respondi. Ficamos trocando fagulhas.
Considero ótimo João falar o que pensa. Mas as palavras que gostaria de ouvir de João não as ouço. A dor é perceber que somos como os nossos pais. E o país mais parecido com o de 1964. Tenho estratégias de luta, vou reverter a situação. Ele não.
Eu quero lhe contar tudo em detalhes pessoalmente.
         Abraço!

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