CASAMENTO X POLÍTICA (gem)
03/10/2018
Eu
quero lhe falar o que vem acontecendo aqui em casa nestes últimos tempos, às
portas das eleições e, nada melhor que a velha carta.
Lembra
quando você falou que seria legal ter foto da turma com os dizeres “Ele não”? E caçoei, é bom pedir autorização a
cada um, vai que...
Creio que o feitiço virou para meu
lado.
João, de tempos para cá fala o que tem vontade, não guarda mais nada dentro de
si, e a um comentário foi logo dizendo, não vejo problema a pessoa se
manifestar. Perguntei se era impressão minha ou ele estava
a favor de Bolsonaro. Desconversou. Eu disse, se votar nele o casamento
acabou. Escutou (será?).
No
sábado da grande passeata das “MULHERES CONTRA BOLSONARO” fui contribuir
com voz feminista contra qualquer tipo de opressão e retirada de direitos. Lá
estava a formiguinha na multidão, “Ele não”, “Nenhum direito a menos”, “Ele
nunca”. Durante mais de três horas, mulheres, homens, crianças, bebês e seus pais,
avós etc infernizando o apático tom da cidade, caminhando avenidas e ruas
estratégicas do centro. Não se via início e fim da massa humana.
Quando
chegamos na área hospitalar, o comando de “psiu” em efeito dominó foi se
alastrando continuamente. Silêncio. Sentimento de humanidade,
solidariedade, respeito, convivência, contribuição, simbolismo e a certeza de estar
num lugar melhor. Emoção se propagando.
Em seguida, ouvi o comentário “o cheiro da burguesia fede”. A
juventude no jargão revolucionário, e já voltando ao mantra “Ele não”.
A
imagem surpreendia, pessoas filmando, fazendo selfies para jogar na rede
social. Estranhei jornais televisivos não veicularem notícias. A televisão é
mídia ultrapassada não é mesmo? A rede deu cobertura ao protagonismo das
mulheres.
À
noite não é que descubro João compartilhando notícias de Bolsonaro. Foi
o estopim: “Avista-se o grito da arara”.
João,
que isso no celular?
Ele
desconcertado disse: Você está bisbilhotando?
Foi
sem querer, mas li a mensagem.
Ficamos soltando rusgas. Não
consegui ficar quieta. Eu ia da sala à cozinha, ansiosa.
E
você, compartilhando as do PT, ele revidou.
Voltei
à sala. Quem disse? Entra lá e veja. Gosto de discutir política e não ficar replicando
figurinha.
Voltei
à cozinha.
Lembrei
de dizer mais e voltei voando.
Que
vergonha dos amigos vendo essas postagens.
(cozinha)
Escutei ele dizer, nem ligo.
(sala) Com raiva, mandei João
embora de casa.
(cozinha)
Ouvi João, sai você!
Minutos
depois, uma amiga pelo whats sobre Bolsonaro. Escrevi, você é apenas amiga e
pouco importa em quem você vota. Triste é descobrir o marido compartilhando. “Eita”, foi a resposta.
O
desabafo não bastou, queixei a outra amiga, e ela, pena João ter essa atitude,
faz greve de sexo. Eu mal aguentava olhar e conversar com ele.
No
outro dia ele postou no Face nova figurinha. No whats respondi. Ficamos trocando
fagulhas.
Considero ótimo João falar o que pensa. Mas as palavras que gostaria de ouvir de João não as ouço. A dor é perceber que somos
como os nossos pais. E o país mais parecido com o de 1964. Tenho estratégias de luta, vou reverter a situação. “Ele não”.
Eu
quero lhe contar tudo em detalhes pessoalmente.
Abraço!
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