sábado, 11 de maio de 2013

VIVENCIAR DORES HUMANAS

   

   Assisti, o documentário brasileiro de 2012, da cineasta e atriz Petra Costa, ELENA, além de ser seu primeiro longa, ganhou prêmios no Festival de Brasília de Cinema, no Cine Belas Artes. Gosto muito de documentários, pois eles se aproximam à nossa realidade; constatamos histórias que se assemelham às nossas, com suas dores e angústias, como também, seus risos e alegrias.

   Aconteceu algo diferente comigo depois do filme. Eu preciso de um tempo de amadurecimento ao nível do pensamento sobre a película antes de poder discernir sobre ela. Neste documentário eu não consegui reunir de forma rápida, considerações a respeito do tema proposto. A nuance da angústia vivenciada pela narradora, Petra, com relação à história de sua família e especificamente de sua irmã, que teve morte trágica aos 21 anos, me impossibilitou da leitura imediata para descrição aqui.

   A narração traduz uma vivacidade de sentimento à flor da pele, ela é e está presente durante toda a verdade traduzida pela fala, que deixa a cru a dimensão do vivencial. A história de Elena perpassa o período em que vivemos a ditadura (no Brasil) e ela, e sua família, precisam ficar no anonimato para terem chance de sobrevivência, pois os pais são ativistas políticos.

   Do além da hereditariedade, focalizada na história, poderia aquele momento complexo de nossa história ter trazido resultados tão tristes??? Vemos e ouvimos sempre relatos de famílias esfaceladas por aquele momento de nossa história política que foi extremamente cruel. Fica a hipótese...

   Tanto a mãe, quanto Elena, e Petra, demonstram  tendência para a reflexão existencial, e que traduzem em suas crises, aspectos relevantes de cunho intenso, que se eleiam entre angústias, tristezas e depressão. Chegando Elena à percepção desesperadora de não encontrar saída. E a perda vivenciada pela mãe (e por Petra) é sentida no aqui e agora por todos que estão atentos à tela. A dor multiplicada pela perda de um filho é nossa experiência compartilhadora.

   Eis que descobri porque foi tão difícil concatenar sobre os sentimentos que o filme me trouxe. As perdas de minha irmã, aos seus 26 anos (1983), devastada pelo lúpus que agressivamente lhe deu o veredito; a morte trágica por acidente de trânsito sofridos por minha mãe, dois sobrinhos e minha madrinha (1990); além de deixar dois sobrinhos em coma, que felizmente estão bem. Esses momentos de minha história eu senti como uma cruz que teria de carregar por toda a vida. Indizível e devastador.

   Eu saí do filme pensando porque temos que traduzir as nossas dores, seria tão mais simples encerrá-las em um esconderijo, ou algum labirinto,... e tratar apenas das alegrias e felicidades. Mas não vivemos contos de fada e a vida é feita de contradições. Somente ao ser humano é dada a possibilidade de saber que vai morrer e sofrer com a morte de um ente querido. E, com as graças do tempo, conseguir o enfrentamento necessário a cada dia.

   A história é triste, humanamente reconhecida, mas traz a esperança na luta pelo viver o dia após dia, encarnando a coragem necessária, no refazimento de projetos e dialogação com a morte. Valeu a pena ter sentido e revivido tais dores, apesar de doloroso. Boa reflexão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário