segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

MONSTRO QUE ENGOLE O CIDADÃO

 
   Assisti dia desses o filme Leviatã, de 2014, do diretor Andrey Zvyagintsev, russo, ganhador do melhor roteiro do Festival de Cannes em 2014.

   Inicialmente eu não me recordava do significado de leviatã, então "chutei" que era aquele que se presume estar além do bem e do mal e pode tudo, como um grande pai. E foi com essa impressão que todo o filme foi assistido.

   E a cada momento, cada sequência da fita me deixava com náuseas, repugnância, todos os sentimentos que se têm quando se vê a corrupção embrenhada por todos os cantos, recantos, e palavrórios. E as pobres pessoas, cidadãs locais, vivenciando a impotência, eu sentindo na pele a impotência junto com elas, frente a um sistema estruturado desde velhos tempos e tendo munição para além dos séculos atuais.

   O filme se passa na Rússia, mas como serve de parâmetro para qualquer país que frequenta o rol de corruptos no mundo. E, o meu Brasil no meio, infelizmente.

   Na película, um trabalhador vê o sonho por um lugar onde viver e morrer, trazer os olhos agourentos do poderoso prefeito local, interessado em usar o local para fins imobiliários com benesses financeiras. Lança com astúcia para cima do simples cidadão que busca, ainda esperançoso, conseguir através da justiça, permanecer com o bem. Contrata um advogado em que credita dispor de conhecimento de deslizes do dito cujo, senhor prefeito, mal sabendo que estão lidando com monstros fabricados desde tempos pregressos.

   Por mais que tentem usar dos conhecimentos a respeito daquele homem que detém o poder, o que conseguem é ver reverter todo o mal para todos que deliberadamente tentaram massacrá-lo. Consegue, com a frieza dos poderosos e cruéis ditadores, eliminar cada um que ousou atravessar o seu caminho, o seu mando.

   Utiliza-se das fraquezas humanas como arma certeira que desestrutura a vida em família, como a traição da esposa com o advogado. Assim a culpabilização vai recaindo em cada um, apenas um reles ser, que ousou passar por cima de sua ordem. Vai eliminando um a um como pisando em cima de uma guimba de cigarro, um inseto, e esfregando com força até esfarelar.

   E o final é nada surpreendente, os podres poderes continuam dar as cartas. O filho do trabalhador termina sozinho e desamparado, nas mãos de propagadores de fofoca e mal alheio, completamente perdido e sem compreender o que se passa na visão dos adultos.

   O filme é um soco na boca do estômago, pior, dita a verdade que mina em vários lugares dessa terra; onde quem tem o poder, mesmo o mau poder, se sobressai perante os direitos do cidadão comum.

   Depois do filme fui pesquisar se o meu chute soou adequado. O significado de leviatã é um monstro marinho de proporção gigantesca, comum no imaginário dos navegadores da idade média, como o engolidor de navios nos grandes mares desconhecidos.

   Apesar do chute impreciso, o significado tem parecências.

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