quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O BALANÇAR DA GANGORRA

O BALANÇAR DA GANGORRA
15/08/2017

    “Ande devagar, se você quiser chegar mais cedo para um trabalho bem feito”. Foi beliscando a frase do Imperador Júlio César, lida no suplemento do jornal, enquanto passeava pela vizinhança.

    No meio do quarteirão, observou que o lote vago de estilo excêntrico — sem nenhuma construção, mas bem cuidado, com gramíneas cobrindo todo espaço e ao entorno da frondosa árvore de onde descia gangorra em corda e assento em madeira, um arrendondado em brita fina — recebera visita.

    Estranhou, pleno agosto, visse e ouvisse algo oriundo do lugar. É tempo de boas novas, pensou. Gostosa risada se punha ora ao alto, ora abaixo com o desenvolver do balanço. A mocinha completava, Mais alto, pai, mais alto. O pai obediente e o corpinho ascendendo e baixando.

    O som do riso e o matraquear entre pai e filha fez que desanuviasse pensamentos.

    Aposentado, com dificuldade de libertar-se ao doce sabor do ócio, não se tranquilizava com a brandura e flexibilidade do novo tempo. Acostumado, ainda, à agitação, à ansiedade, às cobranças que a vida produtiva lhe exigiu.

    Iniciava o anoitecer, quando se recordou da cena da manhã entre pai e filha. Caminhou até o lote. Ia se aproximando e o som audível. À gangorra, o esqueleto de ralos cabelos esvoaçantes ia ao alto e abaixo em forte gargalhada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário