sábado, 11 de novembro de 2017

AURA DE INDEPENDÊNCIA

AURA DE INDEPENDÊNCIA
11/09/2017
      De onde estava meneava cabeça, olhava com atenção a festança que se fazia ao redor da Praça da Matriz. Eram tantas gentes, negros abanando damas vestidas em bonitos brocados ingleses, homens de negócios reunidos em discussão sobre novos ares da Pátria, capitães e comandantes aproveitando para conversar sobre a ordem do dia após batalha, vendedores de quitutes africanos, nas barracas armadas para a festa, gesticulando e apontando qual o interessado desejava comprar, moleques, muitos do seu grupo, admoestando os passantes, outros observavam o Barão, que lá vinha com a pança introjetada a frente, espaçoso que só ele, achando-se maioral, distribuindo moedas aos pobres e mendigos, forma de angariar, mais e mais vantagens de bonança, respeito e servidão.

    A festa confirmando que o Brasil era dos brasileiros. Bandeirolas, nos diversos matizes, sacolejando os ares, fechando quarteirão, faziam conjunto com as sombrinhas coloridas das madames e chapéus pretos dos homens, somente  as cores eram pardas nas vestes dos negros, camisas e calças largas em algodão cru, a maioria descalço ou com empobrecidas sandálias poeirentas.

      Continuou observar para onde caminhava o Barão. Passou a mão no corpo magro, vestida em floral, com ombros e braços descobertos e joelhos a mostra. Ela se modificava a mulher. Ajeitou-se provocativamente. Correu os dedos no cabelo sarará e ficou bem à frente do homem.

      — Sai do caminho moleca, que queres tu, sai?

      — Senhor Barão está procurando mucama?

      — Não tens dono? Olhar arisco para coxas e bunda quando ela revira o corpo.

    — Não, sou filha de escrava forra. Livre, Barão. Faço serviços caseiros, acompanhante e cuido de crianças, se houver.

      Ele lambeu beiços, acostumado estava às orgias entre as negras de sua senzala. Aquela ali, cor parda, abrasileirada. Seios saltavam mostrando beleza em pêssego e se emoldurava no meio da praça.

     — Vem na minha caleça. Lá no engenho arrumo bom serviço para tu na cozinha. Caminhas, sobe!

    — Sim, Senhor Barão, sim! Mostrando-se dócil aos aceites do grotesco homem que lhe enojava nos gestos, nas vestes, no tagarelar. Subiu ligeira e consertou-se no assento ao lado do homem.

     Seguiram viagem. Negros à frente da caleça. Ele aproveitando mão livre, após guardado lenço que lhe secou suor do rosto, caminhou-a vagarosamente sobre o banco até chegar ao colo da moça, introduzindo-a entre coxas, bem devagar. Ela não se mexeu. Era moça donzela.

     Barão faiscava brilho, luminosidade, imaginava chegada à fazenda com o fruto de tentação juvenil. Mão bandeava pela escuridão. A calça lhe apertando. Ardia de felicidade, além dos prestígios na corte, gozar da libertinagem que lhe aprouvesse.

     Uns vinte minutos da chegada, ela reconhecendo o lugar, disse, necessitava receber antes, em moedas de ouro, para o trabalho destinado. Valor adiantado, pois estava ao dispor do Barão. Que fosse já. Ele considerou atrevimento da moça, mas excitado, passou a mão ao bolso e escorreram dois a três saquinhos de moedas nas mãozinhas ansiosas.

   Então, em pulo ágil saltou da caleça e fugiu nos prados do Recôncavo, saltitante, balançando o dinheiro ao alto.

     — Volte aqui com meu dinheiro, atrevida!

     Ela gritando, enquanto corria:

     — Viva a Independência! Viva o Brasil! Viva a liberdade!

Um comentário:

  1. Marcia, saudades!
    Você produzindo sempre. Volta e meia passeio por aqui.
    e viva a liberdade!!!!
    ah, obrigada por visitar meu blog. bjs!!!

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