segunda-feira, 20 de novembro de 2017

IRONIA DUZENTOS ANOS DEPOIS

IRONIA DUZENTOS ANOS DEPOIS


25/09/2017

     Quem diria há duzentos e oito anos Brasil teria principado português com mudança da corte para cá.

     Acontece que Portugal, entre os países europeus, era o mais atrasado quanto às ideias e reformas políticas, mesmo tendo sido um dos descobridores de mares e terras. Pouca organização e muito imediatismo vêm como herança com a vinda de D. João e sua corte, em mais de 10 navios abarrotados de portugueses, e cada navio, em torno de mil pessoas sem conforto e segurança. Não fosse a mãozinha interesseira da Inglaterra, que protegeu a viagem do rei, talvez a empreitada estaria ameaçada.

     Sem planejamento, D. João resolve aportar em Salvador, fugindo ao definido em terra. Tinha lá as suas razões, além de Salvador ser uma das mais lindas cidades, os baianos estavam revoltosos da capital ser Rio de Janeiro (com 60.000 habitantes), perdendo prestígio e dinheiro que jorravam no comércio de mercadorias com países amigos da onça. A estratégia deu certo, o rei conseguiu aportar para seu lado os manda-chuvas da Bahia, ganhou apoio para governar. A população de Salvador era de 46.000 habitantes.

     Descobrimos: tínhamos um príncipe indeciso e medroso, a princesa espanhola, Carlota Joaquina, de gênio forte e mandona, a mãe do regente, maluca que só ela, e mais as confusões que reinavam nas orlas do poder, era cada um buscando amealhar apenas ao seu interesse e de sua prole.

     A corte era esperada na primavera. A maioria tinha ouvido sobre o país tropical, que com sua riqueza originária, sustentava Portugal, e além disso, também exercia curiosidade, a dita beleza da flora, fauna, lugares. Ainda não havia tecnologia e os navios demoraram quase 60 dias. Aportaram no verão de janeiro de 1808.

     D. João estupefato não acreditou que esqueceram de recebê-lo com festa, pétalas de flores, salvas de palma próprias do povo. O perfume das flores de diversas espécies embelezavam os jardins, mas que bagunça a convivência, era mesmo de assustar. Despacharam para cá, nos trezentos anos de colônia, muitos portugueses acostumados ao cambalacho e também estes jorraram no nosso sangue a característica que perdura: o jeitinho brasileiro de levar vantagem em toda e qualquer área.

     Hoje, 25 de setembro de 2017. Duzentos e oito anos depois. As cores que embalam o Brasil, não são as da primaveril época. As cores em vermelho representam o sangrante Brasil de ainda hoje, com artimanhas de causar estrago no caminhar dos séculos.

    O Brasil tem jeito, gente?



(Consulta: 1808, Laurentino Gomes)

Nenhum comentário:

Postar um comentário