Galo - ICET Arte Murano, Miranda/Venezuela |
SIMPLES ALEGRIA
04/09/2018
A
casa de construção antiga marcava o tempo. E com o tempo, pó acumulando-se
entre móveis, cortina, traça subindo parede. Até lençol, travesseiro e fronha
emanavam cheiro. A respiração fazendo-se dificultosa a cada inspira/expira.
Sentia-se pequena naquele quarto, naquela casa. Tantas histórias que não lhe
pertenciam. O sono não aderia, e a angústia do esforço à respiração dava lugar à
sonolência que não afundava no devaneio. Decidiu permanecer quieta, apenas
prestando atenção ao movimento do peito. Quem sabe se meditasse. Forçou
inspiração, aguardou dez segundos, soltou o ar devagar e aguardou outros
segundos antes da próxima. Suportou por quatro vezes e sentiu necessidade do
respirar profundo. Desistiu.
Deitara-se
tarde, passando da meia noite. Agora devia ser mais de três horas da manhã,
pensou. Ai, queria tanto dormir, essa alergia que à sombra de poeira tampona
vias aéreas. Sufocava-a. Tentava permanecer quieta, às vezes fechava os olhos à
procura de Morfeu, e lamentando-se intimamente, arregalava-os, pela dificuldade
ao respirar. Precisava dormir, queria dormir, gemia querendo dormir, não
conseguia. Foi quando longe, muito longe, ouviu um galo cantar. Por ínfimo
minuto surpreendeu-se com riso nos lábios. Galo cantando em pleno século XXI na
cidade! Nos arredores existia canto de galo amansando dor de não dormir.
Esqueceu-se da respiração e o canto do galo emanou madrugada adentro até
alvorecer. Ouvidos atentos. De manhã tomaria atitude. Agradecia aos céus a
beleza do canto de um galo.
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