sexta-feira, 7 de setembro de 2018

SIMPLES ALEGRIA

Galo - ICET Arte Murano, Miranda/Venezuela
SIMPLES ALEGRIA
04/09/2018

A casa de construção antiga marcava o tempo. E com o tempo, pó acumulando-se entre móveis, cortina, traça subindo parede. Até lençol, travesseiro e fronha emanavam cheiro. A respiração fazendo-se dificultosa a cada inspira/expira. Sentia-se pequena naquele quarto, naquela casa. Tantas histórias que não lhe pertenciam. O sono não aderia, e a angústia do esforço à respiração dava lugar à sonolência que não afundava no devaneio. Decidiu permanecer quieta, apenas prestando atenção ao movimento do peito. Quem sabe se meditasse. Forçou inspiração, aguardou dez segundos, soltou o ar devagar e aguardou outros segundos antes da próxima. Suportou por quatro vezes e sentiu necessidade do respirar profundo. Desistiu.
Deitara-se tarde, passando da meia noite. Agora devia ser mais de três horas da manhã, pensou. Ai, queria tanto dormir, essa alergia que à sombra de poeira tampona vias aéreas. Sufocava-a. Tentava permanecer quieta, às vezes fechava os olhos à procura de Morfeu, e lamentando-se intimamente, arregalava-os, pela dificuldade ao respirar. Precisava dormir, queria dormir, gemia querendo dormir, não conseguia. Foi quando longe, muito longe, ouviu um galo cantar. Por ínfimo minuto surpreendeu-se com riso nos lábios. Galo cantando em pleno século XXI na cidade! Nos arredores existia canto de galo amansando dor de não dormir. Esqueceu-se da respiração e o canto do galo emanou madrugada adentro até alvorecer. Ouvidos atentos. De manhã tomaria atitude. Agradecia aos céus a beleza do canto de um galo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário