10/03/2020
Abriu
a porta de casa. A paisagem verde, a umidade percebida em cada inspiração, o
aroma da natureza. Tirou os sapatos e as meias. Desceu quatro degraus. No
caminho, escutava o som da água batendo com rebeldia nas pedras. O extrato de
folhas amaciava os passos, e a pouco chegou à margem. Sentou-se.
O
rio seguia o fluxo e violentamente pequenas quedas formatavam minicachoeiras
em determinados vãos de pedra. Mal se enxergava a outra margem. O rio impunha
suas regras.
A
solidão sem vozes humanas. A moradia protegida pela mata fechada e o vizinho
mais próximo a algumas milhas. Quando vinha do trabalho passava defronte à
cerca e do carro, cumprimentava-o. Não tinha família nem intenção de buscar
parentes distantes.
Tirou
a roupa e entrou devagar, pisando em seixos até o ponto em que, com um impulso,
mergulhou, e novamente a monotonia da paisagem. Minutos se passaram.
Num
estrondar de água, surgiu à tona. Passou as mãos sobre os cabelos e o êxtase
aflorou, levando a misteriosa angústia que não conseguia amansar senão às águas
profundas. Nadou um pouco mais. Vestiu-se. Entrou em casa e o ar impregnado
pelas cinzas da memória. O vento irmanava companhia.
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