sexta-feira, 13 de março de 2020

águas

10/03/2020
Abriu a porta de casa. A paisagem verde, a umidade percebida em cada inspiração, o aroma da natureza. Tirou os sapatos e as meias. Desceu quatro degraus. No caminho, escutava o som da água batendo com rebeldia nas pedras. O extrato de folhas amaciava os passos, e a pouco chegou à margem. Sentou-se.
      O rio seguia o fluxo e violentamente pequenas quedas formatavam minicachoeiras em determinados vãos de pedra. Mal se enxergava a outra margem. O rio impunha suas regras.
A solidão sem vozes humanas. A moradia protegida pela mata fechada e o vizinho mais próximo a algumas milhas. Quando vinha do trabalho passava defronte à cerca e do carro, cumprimentava-o. Não tinha família nem intenção de buscar parentes distantes.
Tirou a roupa e entrou devagar, pisando em seixos até o ponto em que, com um impulso, mergulhou, e novamente a monotonia da paisagem. Minutos se passaram.
Num estrondar de água, surgiu à tona. Passou as mãos sobre os cabelos e o êxtase aflorou, levando a misteriosa angústia que não conseguia amansar senão às águas profundas. Nadou um pouco mais. Vestiu-se. Entrou em casa e o ar impregnado pelas cinzas da memória. O vento irmanava companhia.

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