17/03/2020
O
Pássaro era diferenciado? Havia tantos iguais em tão diversos aspectos que não
se poderia dizer. Era diferente por ser único, era igual quando considerado a
tantos. Quantos pássaros estão com asas quebradas e nem percebem.
Lilase
percebia.
Inicialmente
pensara, fosse o amor. Ah! O amor, capaz de inibir tanto defeito quanto qualidade.
O gostar que vai além do ‘apesar de’. Lilase gostaria que o seu fosse incondicional,
mas não alcançava a máxima. O pássaro que a cortejara mostrava-se superior na
potência fisiológica, o corpo malhado, o peitoral fortalecido, inclusive asas
bombadas. Bailava a dança do cortejo com exímia beleza, e se o terreno não estivesse
à altura, tratava logo de assear o local e deixá-lo lustroso. Imaginara para a
fêmea de sua escolha, o excepcional.
Depois
da conquista, Lilase esperava voos de afinidade. Queria voar além mar,
descobrir céus e cidades, banhar-se em riozinho escondido entre cânions e que
trazia a herança de passagens ancestrais. Que a volta ao mundo fosse o
espetáculo porque em parceria. O pássaro tratou de cortar asas de Lilase. Ela,
assim como tantas fêmeas, tinha a obrigação de reconhecer o papel do macho, escrito
desde muito, e a maioria assimilava a cultura introjetada: o papel de coadjuvante
da fêmea. Ela tinha potencial para mais, assim como tantas outras, mas.
A
veia de Lilase não era a clássica, herdada de berço, ou convencional, e aceita
por ser da cultura. Inflamava cantos de liberdade, chamariz para que outras
fêmeas escutassem e alçassem voos. Ao
podar asas, o pássaro macho decretou perda.
A
asa retomou o crescimento, Lilase voou por conta e risco. Já não dependia das
conquistas, enfatizava o novo sistema em que passarinhar, era o canto maior.
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