07/09/2020
Com a saída de Dodô, a solitária
vida de Osvaldo retornou. Olhou para a janela e viu a aura fosca com pingos de
chuva. Gosto dessa frescura do inverno, esse ventinho na cara me faz tão bem. Também
com esse excesso de peso quem suporta calor, minha saúde agradece quando está
mais frio. Pena Dodô não ficar mais tempo, queria contar o sonho que tive, que
loucura, eu completamente perdido em algum lugar do Brasil, só pode, claro, e
de repente, percebi todo mundo andando sem máscara em plena infestação do
coronavírus. Num primeiro momento nem atinei que também estava no rol daqueles
malucos andando pela cidade desamparados, sem proteção alguma. As pessoas
riam, se aglomeravam, estavam tête-à-tête
por todo lado sem qualquer preocupação. Quando eu realmente abri os olhos, os
de dentro e os de fora, foi que surtei de vez, e me percebi sem proteção no
rosto, e nesse mesmo instante, tasquei a mão na boca tentando me proteger, como
se isso adiantasse já que o nariz continuava a respirar gotículas no ar que se
assomavam à minha frente com aparência do coronavírus, credo viu, que angústia,
comecei a fugir para outro lugar que fosse seguro e não encontrava espaço vazio,
a dificuldade de respirar, e sufocado, vivi intensa realidade. Deve ser por
isso que acordei tão repentinamente, estava uma situação insuportável. Após Osvaldo
memorizar o ocorrido, falou a si:
―
Nem em sonho mais a gente se permite andar sem máscara, credo!
Lembrou
que o dia de hoje é especial para seu grande amigo que aniversaria. Realmente é
indesejável a distância quando se quer abraçar amigos. Nem mesmo essa pandemia
iria me afastar de comemorar com ele, tomar uma boa dose de cachaça mineira com
torresmo crocante. Huuum! Além de
palrar por bastante tempo colocando nossa prosa em dia, a gente ia aproveitar e
ler poemas que adoramos. Ah, os amigos são insubstituíveis. Quando terminar de
escrever a carta que me prometi a dias para a turma, vou ligar pra ele. Caminhou
até a escrivaninha, pegou caneta e papel, espero que a turma ainda esteja no
endereço que tenho, espero. Sentou-se e deixou o pensamento divagar buscando
inspiração. Como a gente adorava escrever carta e nos escritos pontuávamos citações
e poemas. Tenho de encontrar alguma coisa original. Vejamos!
O
homem e seu silêncio. É quando afloram tantos pensamentos. Seu rosto foi
dominado de intensa ação ao lembrar dos tempos de então, a expressividade aflorou.
Em algum momento criança, noutro corria atrás da bola e jovem sacava de seu
tempo ao redor de assuntos de interesse da turma. O namoro, procurava quem era a garota e não
via o rosto, depois olhou a mão, como passou tão rápido. Como se a vida
tivesse corrido feito estalo de dedos.
Quando
olhou o relógio passava das dez da noite e ainda as ideias para a carta não
vinham. Levantou e pegou o fone. Discou e o som de espera acelerou o coração,
consequentemente a respiração. Veio a tosse repentina por ter quase se
engasgado. Conheceu a voz do outro lado e aprumando o corpo em alegria, disse:
― Fessor, que dia estupendo hoje. Ouvir sua voz é como arte e nada mais que arte, meu bom amigo, atleticano. Viva você! Viva o Galo! ― A voz do outro lado correspondia em festa. Entre os dois janelas se abriram.
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